domingo, 31 de outubro de 2010

Transferência das Energias do Plexo Solar ao Centro do Coração




Os distúrbios, desarmonias e eventuais doenças relacionados à natureza emocional podem ser superados somente se conseguirmos canalizar corretamente as energias emotivas, freando-as e controlando-as caso o Plexo Solar esteja congestionado (isto é, muito ativo) ou, então, desbloqueando-as e usando-as corretamente se ele estiver inibido.

Quando conseguimos isso, o corpo emotivo revela a sua verdadeira essência divina, a sua função real, e então, espontaneamente, as energias emocionais sobem para o Centro do Coração.

Dessa maneira, os nossos sentimentos e desejos pouco a pouco perdem o seu egoísmo, a sua tendência para a separação, e se transformam em Amor altruísta e desinteressado, e a dualidade, o conflito entre o modo humano e o espiritual de amar desaparecem.

Assim, chegamos a compreender como a dualidade que há em nós, é que se justifica também pelo fato de que existem centros superiores e centros inferiores perfeitamente correspondentes entre si, como se cada qual tivesse a sua "réplica", a sua sombra, é somente temporária e ilusória.

De fato, ela desaparece automaticamente se conseguimos encontrar a essência espiritual latente no aspecto inferior.

Na realidade, não existe um amor inferior e outro superior, mas um só Amor: aquele que brota da Alma, da centelha divina que em nós possui a consciência da unidade.

Aquele que se manifesta a nível pessoal não é amor, mesmo que assim o consideremos...

É afeição, é necessidade de superar o sentimento de solidão, é projeção de exigências inconscientes de realização, é necessidade de contar com um apoio, mas não é amor.

Somente quando, nem que seja por um breve instante, conseguimos sentir a natureza do Verdadeiro Amor, então temos a revelação de que todos os outros estados emotivos, sentimentos e afetos que havíamos experimentado anteriormente e julgado ser "amor", na realidade não o eram absolutamente.

O homem poderá experimentar o Verdadeiro Amor somente quando estiver auto-realizado espiritualmente, quando for capaz de "ficar a sós".

Isso pode parecer um paradoxo mas não o é, pois a capacidade de ficar a sós é o sinal do alcance de um equilíbrio, de uma realização interior, de um contato com o nosso Eu Real, que trazem consigo, juntamente com um sentimento de autonomia e autosuficiência, também um estado de consciência mais amplo, mais livre, mais abrangente, que nos torna capazes de amar os outros realmente por aquilo que são em si mesmos e não por aquilo que podem nos dar.

Diz Maslow, psicólogo americano contemporâneo, que observou e analisou muitos casos de pessoas realizadas:

"A pessoa, ao tornar-se pura e simplesmente o que ela é em si mesma, torna-se mais capaz de comungar com o mundo...".

E acrescenta:

"... A máxima identidade, autonomia e identificação consigo mesmo constitui por si só um transcender-se a si mesmo, um ir além e acima da identidade consigo mesmo..." (p. 111 de Para uma psicologia do ser).

E isso nos revela a natureza transcendente e divina do nosso Eu, a origem espiritual de nossa essência profunda, de modo que o indivíduo, quando se torna realmente "homem", reencontra em si o sinal de Deus, que é Unidade e Amor.

Por isso, para amar realmente, é preciso ter passado pelo despertar do Si, pois somente ele conduz à completa superação do egoísmo e da tendência para a separação.

Todavia, este despertar não pode ser verificado se antes não nos tivermos preparado interiormente através da sublimação e da transmutação gradativa das energias, que também se pode verificar por estágios, através de sucessivas superações e separações, aberturas de consciência e amadurecimentos interiores.

Não é possível, repentinamente, por um simples ato de vontade transferir as energias de um centro inferior para um superior, para tanto fazendo-se necessária uma nova orientação interior, um desenvolvimento de atributos e faculdades que nos façam mudar totalmente de atitude para com a vida, que nos façam descobrir a verdadeira escolha dos valores e, pouco a pouco, nos ajudem a passar da identificação com o eu egoísta e relativo para a revelação do Eu Superior e Divino.

O primeiro passo que podemos dar visando a algo de útil, em qualquer estágio evolutivo em que nos encontremos, será alcançar a calma e a estabilidade emocionais com práticas e atitudes oportunas, para livrar o Plexo Solar de eventuais obstruções e distúrbios; em seguida, desenvolver as qualidades emocionais positivas e construtivas para devolver a este centro a sua justa função.

Quando o plexo solar está congestionado, pode ser que seja preciso "esvaziá-lo" primeiramente, descarregando pelo menos uma parte das energias bloqueadas, o que pode ser conseguido através de uma descarga que pode ser:

a) verbal 
b) e escrita

Todavia, a descarga é somente um método de "higiene psíquica" que precede os avanços posteriores, possibilitando um alívio apenas temporário, servindo somente para "descongestionar" o plexo solar num dado momento.

É uma espécie de válvula de segurança que pode ser acionada espontânea ou deliberadamente. Neste segundo caso, é preciso levar em consideração que se trata somente de um "paliativo" e não de uma cura, pois as vantagens obtidas produzem um alívio temporário, mas não um bem-estar permanente e duradouro.

Os verdadeiros remédios são a transmutação e a sublimação.

Estas duas técnicas diferem entre si, pois representam dois modos de operação diversos.

A primeira serve para elevar as energias de um nível mais baixo para outro mais alto, permanecendo, porém, sempre no âmbito de um determinado veículo.

De fato, todo veículo da personalidade se compõe de sete níveis vibratórios, que manifestam faculdades e atributos cada vez mais elevados do mesmo tipo de energia.

Assim também, no corpo emotivo, existem sete níveis com comprimento de onda diferente, e que exprimem qualidades e faculdades emocionais desde as mais baixas até as mais altas.

Os níveis mais baixos exprimem os sentimentos, desejos, emoções negativas, egoístas e impuras, enquanto os níveis mais elevados exprimem os aspectos emotivos mais altos, refinados e positivos...

Por exemplo, as emoções estéticas, místicas, os sentimentos de simpatia, compaixão, o entusiasmo por um ideal, etc, são todos aspectos emotivos elevados, que provocam vibrações nos níveis mais altos do corpo emocional.

Dessa maneira, através do processo evolutivo, à medida que amadurecemos transferimos espontaneamente as energias emotivas de um nível para outro e nos aproximamos da vibração do nosso Si.

Forma-se, então, uma "sintonia vibratória" entre o Si e o veículo purificado e refinado, através do qual a energia espiritual pode se manifestar.

Transmutação, portanto, significa procurar a expressão, na vida, de sentimentos, afetos e emoções que tenham perdido a sua impureza e que, mesmo no plano pessoal, nos aproximem da beleza, da luz e do amor do Si.

Portanto, chega-se à verdadeira sublimação por sucessivos estágios e aperfeiçoamentos interiores.

De fato, a sublimação, ao contrário da transmutação, não é somente uma "elevação" de vibração, mas uma mudança de estado, uma verdadeira "transubstanciação".

É um processo de "alquimia" interior por meio do qual o homem obtém, através de sucessivos estágios de refino e purificação, o Ouro puro do Espírito.

O "fogo sob o cadinho", utilizado pelos antigos alquimistas para cumprir a opus, é representado pela fervorosa aspiração que sentimos quando chega o momento evolutivo e desejamos ardentemente nos reunir à natureza divina e reencontrar a nossa realidade espiritual.

Esta analogia com o processo alquímico não é somente simbólica e poética mas efetiva e real, já que os antigos alquimistas, talvez sem o saber, nada mais faziam do que projetar no exterior um processo que, afinal, se passava interiormente, sendo que os seus pacientes, exaustivos e repetidos esforços para levar a termo a obra de transmutação dos metais em ouro produziam amadurecimentos interiores, dos quais os gestos representavam somente um ritual.

O homem que procura operar em si a sublimação das energias inferiores e "redimir", portanto, a matéria, age de acordo com uma intuição precisa: é na própria matéria que se encontra latente a força espiritual; é preciso apenas libertá-la, despertá-la através de sucessivas transformações e purificações.

Deve haver também, no entanto, uma ajuda do alto, o que é representada pela força do Si que age como ímã e alavanca interior, pois o homem pode iniciar a obra de sublimação somente quando nele começa a despertar a consciência de sua essência espiritual.

Como dissemos acima, com referência ao desenvolvimento do verdadeiro Amor, é preciso ter alcançado um certo grau de maturidade para manifestá-lo.

De acordo com as doutrinas esotéricas, o processo de sublimação passa pelos seguintes estágios:

1. Radiação ativa do centro inferior
(de fato, se o centro inferior ainda está inibido ou inativo, as energias estão latentes).

2. Resposta do centro inferior à atração magnética do centro superior
(que também começou a despertar juntamente com o despertar da consciência do Si).

3. Consequente relação recíproca entre o centro superior e o inferior, condicionado, num primeiro momento, por um movimento de atração e repulsão rítmico.

4. Concentração da energia inferior no centro superior.

5. Controle do centro inferior por parte do superior e sua harmônica relação recíproca.

6. Absorção completa das energias do centro inferior pelo centro superior.

Todas estas fases do processo, como é fácil deduzir, nem sempre se desenvolvem de maneira cômoda e harmônica, podendo gerar sofrimentos e perturbação interior e, conseqüentemente, também distúrbios e doenças do veículo físico ou da psique.

Durante a fase de radiação do centro inferior, por exemplo, que se manifesta pouco antes da elevação da energia, pode-se verificar uma temporária congestão, seguida de distúrbios que afetam, como vimos no capítulo precedente acerca do Plexo Solar, toda a área do sistema digestivo e de suas funções.

Na fase da relação recíproca entre o centro inferior e o superior, os distúrbios e mal-estares se acentuam, especialmente no que diz respeito ao processo que ora examinamos, de transferência das energias do Plexo Solar para o Centro do Coração, pois tal transferência implica necessariamente, a nível psicológico, diversos conflitos e crises e inúmeras superações.

O livro Iniciação Humana e Solar, de Alice A. Bailey, traz a esse respeito o seguinte:

"A transferência do Fogo do plexo solar para o centro do coração é causa de muitos sofrimentos. Não é fácil amar como os Grandes Seres: um amor puro, que nada pede em troca; um amor impessoal, que se alegra na correspondência mas não a procura, um amor que se exerce com constância, silenciosa e profundamente, através de todas as aparentes divergências, sabendo que quando cada um encontrar o próprio caminho de volta para Casa, julgará a própria Casa o local da reconciliação" (pp. 98-99).

Desse modo, a nível psicológico experimenta-se um doloroso sentimento de renúncia, de aridez e até mesmo de "morte", e a nível físico mal-estares e doenças temporárias, que revelam o processo em curso de alquimia interior.

Quanto ao significado de "morte", é preciso dizer que não se lhe deve dar importância, pois ele deriva do eu inferior que não quer se desfazer de sua presa, que sente que deve "terminar" para dar lugar à consciência mais ampla e abrangente do Eu Superior.

Na realidade, o eu inferior não morre, mas se amplia e se eleva, se enriquece e, sobretudo, se reconhece naquilo que na realidade.

Todavia, a dor da renúncia e o sofrimento do significado da orte são necessários, pois são exatamente eles que constituem o fogo purificatório, o meio técnico que provoca o desencadeamento da energia oculta na matéria.

É isso que devemos levar em consideração quando sofremos.

Desse modo, nos desidentificamos do próprio sofrimento, objetivamo-lo e passamos a encará-lo somente como uma perturbação necessária, um processo evolutivo de aperfeiçoamento que nada tem de dramático ou pessoal.

De fato somos nós que fazemos aumentar a dor, imergindo-nos nela, revestindo-a de emotividade e de um sentido de "tragédia" e colocando-nos em estado de rebelião ou de autocomiseração.

O sacrifício é necessário para a sublimação, mas somente quando entendido no seu verdadeiro significado etimológico de "sacrum facere", isto é: tornar sagrado, e não dolorosa renúncia.

Além disso, quando a energia transferida se concentra no Centro Superior, pode haver um estado de temporária congestão e ativação (neste caso, do Centro do Coração), acarretando eventuais distúrbios cardíacos.

A única saída é, mantendo as energias firmes e "congestionadas", irradiá-las e utilizá-las em atos de Amor altruísta.

Também podem se verificar distúrbios "reflexos" no aparelho respiratório, os quais, em geral, estão relacionados com o Centro do Coração.

Resulta claro de tudo o que foi dito, ainda que a partir de breves indicações, que o processo de sublimação está continuamente em ação dentro de nós, pois é o próprio mecanismo evolutivo.

À medida que amadurecemos e saímos de nosso estado de desordem e inconsciência, as energias começam a se deslocar dos centros situados abaixo do diafragma para os de cima, e então ocorre em nós uma mudança, uma nova orientação que nos leva a desenvolver novas qualidades e nos possibilita entender o verdadeiro sentido da vida.

Especialmente no que diz respeito ao centro do Plexo Solar, se conseguirmos acalmá-lo e entender a sua verdadeira função, automaticamente passamos para um nível superior a esse, nos desidentificamos do egocentrismo do eu inferior, dos seus apegos, dos seus desejos, e conseguimos perceber a essência espiritual oculta também no aspecto inferior.

Esta, efetivamente, é a descoberta mais importante, como que a chave para a sublimação, também aceita pelos psicanalistas mas não compreendida em sua efetividade: a descoberta do espírito oculto na matéria.

Em conseqüência dessa revelação, a obra de sublimação se torna mais fácil, pois é possível perceber que os obstáculos são constituídos somente por hábitos errados, por condicionamentos e falsas identificações que se instalaram em nós.

E quanto à natureza emocional e ao seu centro de expressão, o Plexo Solar, como dissemos no início do capítulo anterior, constatamos que ela é somente um reflexo do aspecto Amor da Alma, e não algo que se lhe oponha, mas que "engendra uma relação", que une e pode refletir e canalizar as energias espirituais correspondentes, tão logo tenha se libertado do único obstáculo verdadeiro: a inconsciência.

"Não devemos destruir nada, eliminar nada... A única coisa que deve ser eliminada é a nossa inconsciência". (Sri Aurobindo, Síntese da loga, vol. II.)

O verdadeiro Amor, que se manifesta através do centro do coração, já está presente em nós, trata-se somente de libertá-lo e evocá-lo, afastando-nos da falsa identificação com o eu exclusivista e egoísta e nos encaminhando alegremente de encontro à nossa realização.

Fonte:
Medicina Psico Espiritual
Capítulo XI
Ângela Maria La Sala Bata
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