terça-feira, 30 de novembro de 2010

As Doenças (Do ponto de vista Esotérico) / Parte 2/2 Doenças por Congestão e Inibição




DOENÇAS POR CONGESTÃO


O fenômeno da congestão verifica-se quando um indivíduo, por uma razão qualquer, não utiliza as energias, qualidades, potencialidades que já possui e estão prontas para ser usadas.


Não se trata de um fenômeno inconsciente como a inibição, que, como veremos, deve-se a fatores precisos como, por exemplo, traumas, complexos, sentimento de culpa, etc, mas de um fenômeno consciente, ainda que involuntário, devido não somente a causas externas como também a causas internas.


Antes de mais nada, examinemos as causas externas.


Devemos, em primeiro lugar, lembrar que a nossa personalidade é composta de três aspectos ou veículos:


o físico-etéreo,

o emotivo e

o mental,


veículos que são campos de energias. Estes três aspectos, ao se desenvolverem, reclamam expressão, pois representam "funções" (como as chama Jung) que, se não usadas, provocam bloqueios, distúrbios e mal-estares.


E como isso acontece? As vezes, é a própria vida que não nos concede a possibilidade de exprimir as nossas faculdades. Por exemplo, pode acontecer que o trabalho que desenvolvemos, que a profissão que escolhemos absorva somente uma ou duas de nossas funções, deixando a terceira, que na maioria das vezes e' a emotiva, sem ação.


Outras vezes, pelo contrário, um indivíduo desenvolve uma atividade prática em função da qual emprega os aspectos técnicos da mente, deixando de lado todas as outras possibilidades que, como a inteligência e a intuição, existem no corpo mental.


Em outros casos ainda, é a criatividade, a sensibilidade artística e a imaginação que são relegadas por uma atividade que nos absorve completamente numa dada direção já predeterminada.


A vida moderna freqüentemente obriga o homem à unilateralidade. A especialização em determinados campos é a característica dominante desta época, e se é que tal concentração sobre uma única linha chega a ser frutífera para o aprofundamento daquele setor específico, beneficiando portanto a sociedade, por outro lado não é benéfica ao desenvolvimento e à saúde do indivíduo.


O homem, como já dissemos, é um ser complexo, composto de muitos aspectos. É uma unidade que resulta do conjunto de muitas energias e funções, daí ser o caminho de sua harmonização e de seu bem-estar a integração e o uso coordenado destas energias.


Se uma pessoa é obrigada, sem o querer, a servir-se por um período consideravelmente prolongado de apenas uma de suas funções, todo o organismo físico-psíquico se ressente disso.


Um homem de negócios, por exemplo, também pode ter tendências afetivas ou artísticas, caso tenha desenvolvido também o lado emocional e sensitivo de sua personalidade, mas o que quase sempre ocorre é que ele "não tem tempo" de cultivar e exprimir tais tendências, pois a sua vida prática o absorve completamente, não lhe deixando a possibilidade de desenvolver a sua natureza emotiva, que assim permanece comprimida e congestionada. Visto que o lado emotivo tem como seu correspondente no corpo etéreo o plexo solar, e este, por sua vez, o aparelho digestivo, é óbvio que mais cedo ou mais tarde se verifiquem distúrbios e doenças neste lado físico, a princípio exclusivamente funcionais e a seguir "orgânicos".


São freqüentes os casos de úlcera péptica nos homens de negócio, fato que foi também comprovado pela medicina psicossomática, que acompanhou a formação de hipersecreção gástrica em indivíduos em quem a necessidade afetiva é continuamente frustrada pelas circunstâncias externas.


A medicina psicossomática interpreta esta correlação entre a necessidade de afeto e as funções digestivas como um fenômeno regressivo. Em outras palavras, o desejo de ser amado não é satisfeito e "regride" ao desejo de ser nutrido.


Para a medicina esotérica, entretanto, esta é uma explicação demasiado simplista e genérica, pois não leva em conta o conteúdo energético e dinâmico da afetividade, ignorando, como é óbvio, a existência de "centros de força" que acumulam e exprimem as diferentes energias do homem.


Já a explicação esotérica, pelo contrário, é muito mais clara e satisfatória, já que visualiza o homem como um agregado de energias, e a saúde como o funcionamento correto, harmonioso e coordenado destas energias sob a orientação do autêntico centro de consciência: o Si.


Voltando ao tema da congestão, as causas externas, portanto, são as geradas peias circunstâncias e pelo ambiente, impedem um equilibrado uso de todas as nossas faculdades, obrigando-nos à unilateralidade.


As causas internas, pelo contrário, são de natureza psicológica e se acham na dependência dos nossos defeitos de caráter, da nossa índole, das nossas próprias deficiências (preguiça, falta de vontade, egoísmo, desilusão, medo etc).


Pode acontecer, por exemplo, que uma pessoa seja muito sensível, afetiva, capaz de amor e de altruísmo, mas não se sirva destes dons por preguiça, falta de confiança em si mesma ou timidez. Ou então, é possível encontrar um indivíduo muito inteligente, com notáveis faculdades mentais, mas que não aproveita este seu desenvolvimento intelectual, por ser uma pessoa indecisa, débil, desconfiada...


Todavia, estas faculdades estão presentes, sob forma de "energias" que correspondem a ambos os veículos sutis do homem e tendem continuamente à expressão, pois a própria palavra com que as indicamos (energias) significa que não são passivas ou estáticas, mas vivas e dinâmicas.


Quero lembrar aqui que os três veículos da nossa personalidade são simplesmente instrumentos que devem receber e utilizar energias que provêm do Si e, de fato, refletem os três aspectos espirituais do Si, Vontade, Amor e Inteligência Criativa, justamente como os três centros superiores do corpo etéreo que examinamos no capítulo dois. E esta é a razão pela qual estes três corpos são também chamados veículos de expressão.


Portanto, quando estão suficientemente desenvolvidos e organizados, exigem a sua utilização.

Freqüentemente, o homem se sente infeliz, insatisfeito, deprimido sem saber por quê. Atribui a sua infelicidade a causas diversas e procura de qualquer maneira um remédio: porém, não consegue a tranqüilidade, ao passo que, se "conhecesse a si mesmo", no verdadeiro sentido da palavra, isto é, se soubesse efetivamente o que vem a ser o homem, a sua constituição psíquica, as verdadeiras exigências que o pressionam de dentro, poderia encontrar o verdadeiro remédio e evitar angústias e sofrimentos, que podem redundar em doenças físicas reais.


Uma pessoa que tem "congestões psíquicas" está sempre tensa, irritadiça e agitada. As regiões psíquicas onde as energias estão bloqueadas inflamam-se e esta inflamação vai se descarregar sobre as áreas físicas correspondentes, produzindo uma hiperatividade dos órgãos ou das glândulas envolvidas.


A hipertensão, por exemplo, é provocada pela congestão, como também o hipertireoidismo, a hipersecreção gástrica, a hiperglicemia, o hipersupra-renalismo ... São todos efeitos do mesmo erro.


À medida que o indivíduo progride e os centros etéreos começam a se tornar mais ativos em decorrência do contato com as energias da Alma, é possível que sobrevenham congestões devidas a assim chamada "estimulação". Este é um fato que deve ser levado em consideração, pois acontece com bastante freqüência naqueles indivíduos que gradualmente vão se tornando receptivos às energias espirituais, as quais, em virtude de uma lei oculta, ao afluírem para a personalidade, acabam por rejuvenescer todos os centros, a começar pelos inferiores.


E por que isso acontece?


Porque as energias espirituais individuais tornam a percorrer o mesmo caminho percorrido pelas energias emanadas do Absoluto no momento da manifestação, constituído por uma descida, a involução, e depois por uma subida, a evolução. Não devemos esquecer a verdade esotérica fundamental de que o homem é um microcosmo que reflete o macrocosmo, logo reflete e repete as mesmas leis universais do cosmo.


Portanto, as energias espirituais provenientes do Si "descendem" e vão reavivar os três centros inferiores, tornando-os mais ativos e radiantes, de modo que o homem não somente percebe a sua existência como também a sua força, sendo levado, pela aspiração para o alto que o move, a sublimar estas energias, visando a fins mais elevados e espirituais. Nesse ponto, as energias "ascendem" e são canalizadas para a sua verdadeira finalidade.


Dessa forma, no início do curso espiritual é possível verificar a existência de fenômenos de congestão devidos a este rejuvenescimento dos centros, especialmente se a transferência das energias encontra dificuldades ou se desenvolve lentamente, provocando a formação de bloqueios.


O estímulo pode se verificar em qualquer um dos centros e produz distúrbios diversos, dependendo da área atingida. Às vezes, isso pode acontecer até mesmo como resultado de uma meditação bem-sucedida, pela proximidade de uma pessoa altamente evoluída que irradia energias poderosas, ou em determinados momentos de nossa vida, quando conseguimos entrar em contato com o nosso Si.

O estímulo, e a conseqüente congestão, indica, por outro lado, que a purificação da personalidade ainda não se completou, que ainda persistem impurezas, defeitos e obstáculos internos, sendo por isso que se diz que a luz do Si pode inicialmente também evidenciar negatividades, produzir crises e sofrimentos. De fato, nada mais se pode esconder quando começa a afluir na personalidade a vibração poderosa e esclarecedora de nossa Essência Divina.


Quando se verifica este fenômeno de "estímulo" de qualquer um dos centros, a conseqüência não é geralmente uma obstrução ou um bloqueio de energias, mas a sua utilização excessiva, a sua dissipação e, portanto, uma "hiperatividade" desse aspecto.


Por exemplo, se o centro "estimulado" é o plexo solar e, conseqüentemente, o aspecto emotivo, o indivíduo que sofre esse estímulo sentirá aumentar a sua emotividade, a sua sensibilidade. Nunca será capaz de se controlar e terá reações emocionais súbitas e descontroladas, desproporcionais à causa ocasional que as produziu. Ele próprio se surpreenderá com esse seu estado de excitação, de hipersensitividade, de reação emocional anormal, que o manterá em constante estado de agitação e tensão. Todos os sentimentos parecem aumentar de intensidade e o indivíduo se sentirá como uma panela de pressão prestes a explodir...


Se, ao contrário, o centro estimulado é o mental, a mente estará em constante e excessivo movimento, agitada por uma idéia após a outra.

Os pensamentos se amontoarão uns sobre os outros e o próprio indivíduo terá a impressão de que é capaz de pensar mais, de que tem maiores possibilidades de gerar idéias e projetos, mesmo originais e novos, muito embora a velocidade excessiva da mente os torne caóticos e desordenados e, portanto, quase sempre inutilizáveis.

Além disso, esse estado de "congestão" e estimulação mental comunicar-se-á ao cérebro físico, provocando vários distúrbios, como hemicrania, insônia, distúrbios circulatórios e sensação de calor na cabeça.

Com o passar do tempo, se esse estado persiste ou se repete com freqüência, pode haver um agravamento dos distúrbios, os quais poderão tornar-se crônicos e por conseguinte gerar uma doença circulatória ou renal. Se um determinado centro está continuamente congestionado, ele passará a funcionar de maneira desordenada, podendo ocasionar até mesmo uma "proliferação" de células em toda a área circundante, isto é, um tumor.


Portanto, se as energias não forem corretamente utilizadas e direcionadas, elas poderão se tornar um perigo para o homem; daí, a necessidade de nos conhecermos, de alcançarmos a harmonia e exercermos um certo controle sobre a nossa personalidade.


O homem tende a atribuir os seus males e sofrimentos a forças exteriores, ou então a um destino adverso ao qual a humanidade estaria condenada, ignorando (ou não querendo saber) que, na maioria das vezes, é ele mesmo o artífice de seus males e que o destino nada mais é que a manifestação de uma lei de equilíbrio, por ele mesmo acionada. Além disso, desconhece que os homens, na realidade, estão todos relacionados por fios invisíveis, por correntes de energias que fluem de um para o outro, e que, portanto, o mal de um é também o mal de outro, e que o erro de um indivíduo pode contagiar os outros, pois na realidade não há separação no campo das energias sutis, mas um contínuo intercâmbio.


Retornando agora ao exame desse assunto, podemos concluir dizendo que a tendência a sofrer fenômenos de congestão depende, conforme mencionamos em outras oportunidades, da tipologia psicológica característica do indivíduo; nesse ponto, delineia-se o problema, enfrentado até mesmo pela medicina psicossomática, da correlação entre personalidade e doença. Podemos dizer que, genericamente, os extrovertidos são mais inclinados à "congestão" e os introvertidos à "inibição".


O remédio quase sempre é alcançar o equilíbrio e a harmonia e a sábia utilização de todas as energias que temos à disposição sob a orientação e o controle do Si.


Para chegar a isso é preciso passar por três fases:


1) o conhecimento de si mesmo;


2) a posse de si mesmo;


3) a transformação de si mesmo.


[Esta é a fórmula da técnica básica da Psicosintesi do Dr. Roberto Assagioli.]


A saúde física também é resultado desta harmonização, derivando do perfeito equilíbrio de todos os aspectos e energias entre si e com o centro.


A doença, como qualquer outro sofrimento do homem, é, portanto, um "sinal de alarme" que deveria ser examinado e estudado sobretudo como um fator indicativo de imaturidade de nossa parte, de um problema que precisamos resolver, e como uma possibilidade de purificação e de progresso.


Os distúrbios que derivam da "congestão", especialmente, revelam que não usamos as nossas energias de maneira correta e equilibrada, que há em nós funções já prontas para o uso que, no entanto, sufocamos e negligenciamos, ou então forças preciosas que desperdiçamos; e tudo isso porque não nos conhecemos ou não desejamos nos conhecer, já que estamos constantemente solicitados pela vida externa e continuamente voltados para o mundo objetivo: em outras palavras, somos demasiado extrovertidos.


É preciso, portanto, que nos habituemos a regular o movimento de progressão e regressão das energias que rege a vida psíquica, que mencionamos já no segundo ou terceiro capítulo, e a não nos excedermos de forma alguma, pois, como veremos, podemos incorrer também no erro oposto, o de ser por demais introvertido e produzir um outro tipo de distúrbio: o que deriva da inibição das energias.


DOENÇAS POR INIBIÇÃO

Antes de aprofundar-me na descrição dos vários distúrbios, mal-estares e doenças que podem ser causados pela inibição das energias, gostaria de me deter, ainda que brevemente, na palavra "inibição", a fim de tentar esclarecer satisfatoriamente o seu significado e as implicações nela contidas.


A definição dada a este termo pela Medicina esotérica é, conforme já mencionamos em outro capítulo, a seguinte: "Inédia psíquica, acúmulos de forças subjetivas que bloqueiam acorrente vital..." Todavia, como costumamos fazer, gostaríamos de relacionar a interpretação esotérica com a psicológica, para o que julgamos ser útil examinar também o ponto de


vista da psicanálise sobre o assunto. De acordo com a psicanálise, a inibição é um fenômeno que se verifica sob a camada da consciência, sendo por isso chamada de "inibição inconsciente" e definida como segue:


"Impedimento ou obstrução de origem psíquica, do qual o eu consciente não tem noção, de funções psíquicas e psicossomáticas."A inibição inconsciente de determinadas funções psíquicas tende a proteger o indivíduo de situações perigosas e, portanto, a preservá-lo do medo. A situação que gera medo pode também ser irreal ou não ser mais atual; nesse caso, a inibição inconsciente já não visa a uma finalidade racional. O perigo que se pretende evitar provém normalmente do Superego. Um instinto atingido pela inibição inconsciente não é mais percebido como tal. As representações e as lembranças que se relacionam ao instinto inibido permanecem no inconsciente: este fenômeno é denominado repressão." (De Princípios da psicanálise, de E. Weiss, p. 227.)


De acordo com o esoterismo, no entanto, a inibição tem um significado muito mais amplo, não resultando apenas dos mecanismos inconscientes de defesa ou dos temores relacionados a algum trauma do passado, mas podendo ser provocada pela tendência errada do indivíduo em reprimir-se, em controlar-se demasiadamente, seja por temperamento, seja por uma educação errada, seja por uma atitude imatura para com o ambiente...


Dissemos, num dos capítulos precedentes, que as pessoas introvertidas, por exemplo, são mais inclinadas à inibição do que as de outros temperamentos, justamente porque tendem a viver no mundo subjetivo, a evitar tudo o que significa exteriorização e expressão externa e, desse modo, a dirigir energias para o interior, num movimento de regressão.


De qualquer forma, seja qual for a causa da inibição, as conseqüências são sempre as mesmas, isto é, auto-intoxicação, perda de vitalidade ou bloqueio de energias que impede a função e a atividade de um órgão físico ou de uma faculdade psicológica.

Ao contrário da congestão, que ocasiona a hiperatividade de uma determinada função psíquica ou de um órgão físico, a inibição produz um estado de inércia, de frieza, de hipotonia geral e astenia. De fato, enquanto a congestão deriva de uma dissipação das energias ou da inutilização de uma faculdade já pronta para ser expressa, a inibição deriva de um "bloqueio" de energias e da manutenção de uma função, uma faculdade, um impulso para o estado imaturo e estático, impedindo o seu crescimento e a sua evolução


Não devemos esquecer que a inibição produz "regressão", ou seja, fuga para o inconsciente, e, portanto, eventualmente uma volta ao passado, como acontece com todos os distúrbios relacionados ao parassimpático, por isso os mal"estares e doenças provocados por esta atitude errada interessam sobretudo à vida vegetativa, à função da alimentação e à eliminação e digestão.


A anorexia nervosa, por exemplo, que é uma inapetência de origem psíquica, podendo ser ligeira ou então muito grave, é provocada por uma forma de inibição. Vejamos agora o que a medicina psicossomática tem a dizer a esse respeito. Alexander reconhece na anorexia nervosa "impulsos inconscientes de inveja e de ciúme inibidos pela consciência", devido a um forte sentimento de culpa que todos carregamos e que leva em seguida a uma espécie de auto-punição, que se exprimiria através do jejum.


A função da nutrição acha-se fortemente carregada de implicações simbólicas e de energias afetivas, pois na infância ela se relaciona com a necessidade de ser amado, protegido, curado. Além disso, pode haver em nosso inconsciente muitas lembranças traumatizantes que ainda exercem certa influência negativa, originando distúrbios não apenas na função de nutrição orno também na de eliminação, que, como se sabe, também se relaciona a estados afetivos. De fato, numa criança que acredita que não é amada pela mãe pode instaurar-se a prisão de ventre que tem um significado simbólico de protesto e rebelião. Tais distúrbios podem permanecer sem conseqüências graves, mas se se tornarem crônicos, poderão provocar verdadeiras doenças. A anorexia, por exemplo, quando demorada, leva a um estado de profunda astenia à anemia, a estados de desnutrição que podem desembocar na tuberculose, ou em outras doenças graves. Assim também a alteração das funções normais de eliminação pode levar à auto-intoxicação, a doenças do fígado e do pâncreas, a formas de colite etc.


De qualquer maneira, o processo de inibição de uma energia ou de uma função sempre gera uma profunda sensação de astenia, de abulia, de depressão, com ressentimento sobre o organismo físico, que o médico não sabe explicar, pois são somente funcionais... Tais ressentimentos são hipotensão, hipoglicemia, bradicardia, propensão para o cansaço etc.


É interessante observar o que se passa no sistema nervoso quando um dado impulso sofre inibição inconsciente. As várias fases do processo podem ser descritas da seguinte maneira:

1) Nos centros inferiores do cérebro (tálamo, hipotálamo e corpo estriado, que correspondem ao inconsciente) surge uma pulsão, isto é, um impulso instintivo que tende a chegar até o córtex cerebral, sede da consciência.


2) Uma barreira moral opõe-se a esta pulsão; reflexos condicionados inconscientes provocam o desvio dos impulsos nervosos (elétricos).

3) Tais impulsos elétricos nunca chegam, assim, ao córtex cerebral, e o sujeito não se dá conta deles.

4) Os impulsos, que atingem agora um formidável potencial, são então desviados para o sistema nervoso simpático, que passa a ser submetido a contínua excitação.


5) Entretanto, o impulso nervoso, cuja descarga consciente se vê impossibilitada, continua a pressionar o inconsciente. Provoca, então, novos impulsos, que são também recalcados... e que, por sua vez, são causadores de novas pulsões, novamente recalcadas.

Configura-se, assim, uma tensão interior. O sistema nervoso simpático é perturbado e provoca mal-estares a nível fisiológico (De O que é a psicologia, de Pierre Daco, p. 322).


Assim é o processo, tal como descrito pela medicina psicossomática. Segundo a medicina esotérica, a inibição, pelo contrário, atingiria não somente os impulsos instintivos inconscientes, mas também as faculdades de nível médio, e até mesmo as qualidades e energias de nível superior e espiritual, isto é, pode ser que ela venha a impedir a expressão não somente dos aspectos negativos da personalidade, mas também dos aspectos e energias inofensivas e lícitas, ou mesmo as de caráter elevado.


De fato, como já expusemos anteriormente, a doença pode-se instaurar em um organismo até mesmo em conseqüência da "inibição da vida da Alma".

E como pode se dar isso?

Isso acontece porque o indivíduo se identificou com o eu superficial e ilusório, tendo formado uma personalidade forte e integrada, que tem vontade própria e não abre mão do seu domínio às energias espirituais, à Vontade da Alma que tende sempre a fazer com que o eu inferior supere o egoísmo, a ambição, os interesses limitados e pessoais, e o levam a separar-se, a "sacrificar" o que é inferior pelo que é superior e universal...


Tal separação aparece como uma dolorosa renúncia à personalidade, quase como uma "morte".

Por isso, ela se rebela e se opõe encarniçadamente, sem compreender que não se trata de morrer, mas de nascer uma segunda vez. De fato, aqueles que despertam para a consciência do seu verdadeiro Eu, são os que se poderia chamar "nascidos duas vezes".


Mas o homem imerso na inconsciência prefere voltar as costas para a Luz, calar o apelo do Si e inibir os impulsos superiores, deixando-os cair no inconsciente.

Pode parecer estranho, mas existem pessoas que são mais maduras do que pensam e não querem aceitar essa maturidade, pois aceitá-la significaria mudar de vida, fazer escolhas, modificar atitudes, operar transmutações, renunciar ao orgulho pessoal...

Coisas que o eu pessoal, conforme já foi dito, recusa-se a fazer, pois, segundo as palavras de Sri Aurobindo formou-se já "o nó de obstinação do ego" (eu inferior), que opõe a maior das resistências à morte.


Assim são determinados conflitos internos, crises, com conseqüentes distúrbios e doenças, que se podem tornar também extremamente graves, a ponto de causar, em determinados casos, a morte, pois a Alma decide abandonar aquela forma que se opõe a sua evolução e que, portanto, não serve para as suas finalidades.


Podem-se portanto verificar:


I. Inibições de energias e aspectos inferiores;


II. Inibições de energias e aspectos de nível médio;


III. Inibições de energias e aspectos superiores.


A essa altura, nos perguntamos:


"A tendência à inibição indicaria um grau evolutivo superior ao das pessoas que têm tendência para a congestão?"

Não é nada fácil responder a essa pergunta, dada a dificuldade de julgar o grau evolutivo real de um indivíduo.

Além disso, existem aspectos inferiores e aspectos superiores tanto na inibição como na congestão.


Por exemplo, se a inibição se opõe aos instintos inferiores, é preciso saber se isso se deve a um mecanismo inconsciente de defesa e medo, portanto a um processo neurótico, ou então a uma escolha "consciente" do indivíduo, que reprime a exteriorização de determinados desejos e impulsos julgando-os negativos e nocivos à sua vida espiritual.


No primeiro caso, isto é, a inibição inconsciente devida à neurose, revela-se uma imaturidade, enquanto que, no segundo caso, a tentativa de superação, mesmo que parcial, indica um esforço evolutivo e aspiracional sem dúvida positivo.


Assim, no que diz respeito à congestão, se ela surge em conseqüência da utilização descontrolada e excessiva de energias e da incapacidade de autocontrole, indubitavelmente eta é sinal de um estágio evolutivo inferior; enquanto que se se verifica por um processo de "estimulação", de afluência de energias espirituais para um centro após uma meditação bem-sucedida ou um momento de grande elevação, ela indica que o canal está aberto, isto é, que o indivíduo se acha suficientemente evoluído por determinados amadurecimentos, necessitando somente de maior purificação e disciplina.


Portanto, há aspectos negativos e aspectos positivos tanto na inibição como na congestão, não sendo fácil dizer qual das duas indica maior maturidade espiritual.

Não devemos esquecer que a principal causa destas duas tendências, embora não a única, é o temperamento, o tipo psicológico a que o indivíduo pertence; este pode ser predominantemente extrovertido, com preponderância do consciente e do simpático (tipos simpaticotônicos), ou então predominantemente introvertido, com acentuação do inconsciente e do parassimpático (tipo vagotônico).


Esta subdivisão dos tipos psicológicos em duas únicas categorias, poderá parecer a alguns demasiado esquemática e simplista. De fato, ela deve ser encarada com certa elasticidade, pois existem também indivíduos, que poderíamos chamar "mistos", nos quais as duas tendências principais se alternam, com maior ou menor equilíbrio, além de "subtipos" difíceis de se catalogar, já que não têm um caráter bem definido por estarem ainda na fase de amadurecimento inconsciente...


O homem é um ser extremamente complexo, jamais estático; ele se acha continuamente em movimento, evolução e mudança, portanto também pode, no decorrer da própria vida, passar de uma tendência à outra.


De qualquer maneira, o único critério que, com amplas generalizações pode ajudar a nos entendermos e a resolver os nossos conflitos e problemas interiores, é o do movimento de introversão e extroversão da energia psíquica, que se baseia na polaridade psicológica do homem e reflete uma realidade universal.

A polaridade, de fato, pode ser encontrada em todos os níveis de manifestação, do microcosmo ao macrocosmo, e nos revela que tudo no universo corresponde a um grande ritmo, que é a batida do Coração do Cosmo, o "sopro de Brahma", como dizem os hindus.

O homem revive em si, psicologicamente, esta polaridade, experimenta-a, primeiramente com conflito e sofrimento, depois com equilíbrio e harmonia, alcançando a integração e a Unidade. Voltando agora à Inibição, é preciso considerar que:


a) a inibição pode ser consciente e voluntária, ou então inconsciente e involuntária;

b) a inibição pode atingir somente faculdades, energias e aspectos já ativos e desenvolvidos.

A inibição voluntária é a ação da vontade que explicita a sua faculdade inibidora, caso este em que ela deveria se chamar, para não ser confundida com a inibição inconsciente, "repressão consciente".


A inibição inconsciente, pelo contrário, é o efeito indireto dos mecanismos inconscientes de defesa, e instalou-se devido ao hábito da repressão, que pouco a pouco se tornou um automatismo inconsciente.


Freqüentemente, porém, pode acontecer que a inibição voluntária ou a repressão consciente se transforme em inibição inconsciente, justamente pela tendência inata da nossa psique de transformar toda ação repetida em hábito.


O que resulta destas noções sintéticas e incompletas sobre este erro na utilização de energias? Resulta que também neste caso, a origem do erro é a "falta de consciência", isto é, o fato de se julgar real o que é fictício, de se julgar autêntico o eu superficial, a máscara, que é justamente a personalidade, e confundir a falsa consciência deste eu, feita de condicionamentos e hábitos, com a "verdadeira consciência".


Por esse motivo, julgamos oportuno nos demorarmos no exame do complexo mecanismo da nossa consciência, a fim de tentar entender as relações que existem entre a região consciente da nossa psique e as suas áreas inconscientes razão porque dedicaremos o próximo capítulo a esse assunto.

Fonte:
Angela Maria La Sala Bata
Medicina Psico-Espiritual
Capítulo IV e V
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