segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A Evolução do Ser Humano / Parte I (Antroposofia)







ESTADOS PRÉ-TERRESTRES

Conhecemos agora o ser humano como um ser desmembrado em quatro elementos constitutivos, que toma consciência de si num universo perceptível formado pelos três reinos inferiores e elevando-se "para cima" a planos superiores habitados por seres que lhe são imensamente superiores.

Tendo-se já mencionado o princípio da evolução que domina todo ser, cabe-nos estudar agora o caminho percorrido pelo homem até atingir o seu estado presente.

Uma observação superficial nos mostra que, das quatro partes da entidade humana, o eu é o mais imperfeito, uma vez que o homem só desperta de vez em quando para a verdadeira autoconsciência e atua só em casos excepcionais com verdadeira reflexão e livre arbítrio.

Mas também o corpo astral com seus desejos e paixões desenfreados, suas cobiças, seus instintos viciados, está longe da perfeição.

Já as funções vitais, e mais ainda, os processos puramente físicos, estão-se desenrolando em relativa harmonia, a não ser que sofram os reflexos de uma vida anímica e espiritual defeituosa.

Daí podemos inferir, com uma certa probabilidade de razão, que o eu é o elemento mais novo, enquanto o corpo físico é o mais velho.

A investigação esotérica confirma plenamente essa suposição, mas para bem compreender a situação presente é necessário conhecer algo da evolução que a ela conduz.

Antes, porém, de expô-la em suas linhas gerais, cumpre fazer algumas observações.

Em primeiro lugar, convém frisar desde já que o homem atual é o produto de um trabalho efetuado pelas hierarquias superiores.

Foram elas que formaram e plasmaram todos os membros da sua entidade.

As forças que assim atuaram sobre ele nem sempre emanaram de entes favoráveis que quisessem influenciá-lo de modo harmonioso. Havia forças contrárias e opostas aos seres favoráveis, e cujas influências se revelaram perturbadoras. Veremos mais tarde que o homem é o produto do combate entre essas forças antagônicas.

Tendo que voltar a épocas remotíssimas, onde as condições exteriores eram totalmente diversas das atuais, existe o risco de provocar mal-entendidos ao empregarmos termos tirados da nossa vida atual, como "espaço", "tempo", "calor", etc. Mas não há outra solução, e devemos estar cônscios desse perigo.

Uma primeira pergunta será sem dúvida levantada pelo leitor atento:

Mesmo admitindo que a vidência permita observar fatos não-físicos atuais, como é possível que o iniciado possa descrever o que se passou em épocas remotas, quando nada era parecido com o mundo atual?

Lembremos que a memória do homem individual "reside" em seu corpo etérico.

Pois bem: assim como os fatos vividos pelo homem estão "gravados" em seu corpo etérico, assim a substância etérica cósmica recebe a "impressão" de todo e qualquer fato que ocorre no mundo. O clarividente pode, a um determinado grau do seu desenvolvimento iniciático, dirigir o seu "olhar" espiritual para esse mundo etérico como o dirige para o corpo etérico de uma planta ou de outro homem. Ele poderá então "ler" nessa memória cósmica as impressões feitas em tempos passados. Sendo essa memória etérica denominada pelo velho termo hindu de Akasha, o esoterismo moderno diz, empregando uma imagem bastante pitoresca, que o vidente está "lendo a crônica do Akasha".

Convém lembrar que muitos fenômenos de telepatia, ou de observação de fatos a grande distância, explicam-se pela existência desse "meio" supra-espacial onde tudo deixa o seu vestígio.

A história, a paleontologia e a geologia revelam-nos fatos valiosos do passado; mas mesmo as teorias cosmogônicas mais ousadas não estendem o campo da sua observação (ou especulação) além de fenômenos materiais, físicos.

A Antroposofia, empregando os meios de observação aludidos, remonta muito mais longe, descrevendo estados pré-materiais durante os quais já existia o homem, ou antes, precursores do homem.

Seria absurdo querer remontar ao "começo dos começos".

A Antroposofia tem por objeto o homem, e assim procuraremos descobrir o momento do passado onde aparece o primeiro vestígio do homem.

Isso nos faz voltar a um tempo onde nada, mas absolutamente nada do nosso mundo atual existia. O que havia eram as entidades das hierarquias superiores, que também não haviam atingido o seu grau de evolução atual.

Foi então criado, por um ato que pode apenas ser comparado a um auto-sacrifício, o primeiro germe do corpo físico humano, graças a uma emanação, da sua própria substância, produzida pelos Tronos, ou Espíritos da Vontade.

Esse corpo era como que uma massa ainda não individualizada de matéria, e essa matéria era tão sutil que poderia lembrar apenas o que chamamos hoje de "calor".

Já o estado gasoso, e muito mais os estados líquido e sólido, eram inconcebíveis nesse cosmo de extrema sutileza.

"Vontade sob forma de calor" eis o primeiro estado do nosso "mundo".

Outras hierarquias começaram então a atuar; sob sua influência, a massa informe começou a diferenciar-se numa infinidade de pequenas partículas.

Para caracterizar esse estado, Rudolf Steiner emprega a imagem de uma gigantesca amora, onde cada pequena esfera seria um precursor de um corpo físico humano atual.

Esse precursor de "nós" não tinha ainda vida própria; seu grau de consciência (se é que podemos falar de um símile de consciência) era equivalente àquele dos atuais minerais.

A um dado momento, começou a existir nesse corpo cósmico uma espécie de vida, reflexo da atividade exercida "de fora" por certas hierarquias; mas ainda não era vida própria. Depois de mais um lapso de tempo (devemos imaginar que essa evolução se verificou em períodos de tempo muito longos), essa esfera de calor começou a luzir. Para um espectador "de fora" ela se teria apresentado como uma grande esfera de calor resplandescente, percorrida por correntes de calor e dividida em inúmeras pequenas esferas que eram as precursoras dos nossos corpos físicos.

Esse antigo estado, espécie de primeira encarnação cósmica do nosso sistema solar, tem no ocultismo o nome de Velho Saturno.

Decorrido um certo tempo, esse cosmo se desintegrou, tudo voltando para um estado puramente espiritual.

Essa "noite cósmica", comparada a uma sístole universal, é designada pelo nome hindu de Pralaya.

Após um certo lapso de tempo, nasceu um novo Universo.

Primeiro houve uma espécie de recapitulação da época anterior. Formou-se novamente um corpo de calor. Mas em dado momento, e novamente como resultado da atuação das hierarquias superiores, os precursores do nosso corpo físico receberam um corpo etérico e começaram a aparentar formas rudimentares de vida própria.

O corpo físico passou ao estado gaseiforme, embora contivesse também o elemento de calor ou fogo. Nesse estado, "nós" tínhamos, portanto, o grau de evolução de uma planta (corpo físico e corpo etérico) tendo a substancialidade de um gás.

O "nosso" grau de consciência naquela segunda encarnação da nossa Terra também era aquele de uma planta, isto é, de sono profundo.

Houve no Velho Saturno entes que não atingiram o ponto final previsto para a evolução saturnina.

Esses seres não puderam acompanhar, na segunda encarnação, a evolução dos demais, tendo, ao contrário, que recapitular o estado que seus irmãos mais avançados já haviam terminado no Velho Saturno.

Havia, pois, no Antigo Sol (pois é esse o nome que se dá à segunda encarnação desse Universo) dois reinos: um evoluído, tendo o grau de desenvolvimento de uma planta, e possuindo um corpo físico e um corpo etérico; e outro atrasado, que ainda percorria - pela segunda vez - a existência equivalente à de um mineral, sem corpo etérico.

Em determinada época dessa evolução, certos espíritos das hierarquias superiores, os quais não puderam suportar a densificação progressiva do ambiente, retiraram-se do corpo do Velho Sol e constituíram um corpo celeste à parte, repetição do Velho Saturno.

Havia, pois, dois corpos possuindo configuração e características diferentes, e que atuavam um sobre o outro. Devemos imaginar esses corpos permeados e atravessados pelas hierarquias e suas influências, sob cuja ação o precursor do homem evoluiu, até que tudo voltou novamente a um pralaya, ou noite cósmica. Antes disso, os dois corpos se tinham reunido novamente. Convém frisar que esses dois estados planetários não tem nenhuma semelhança com o Saturno e o Sol atuais.

Emergindo do estado puramente espiritual, o nosso Universo iniciou sua terceira fase: a Velha Lua.

Após nova recapitulação dos estados anteriores, a condensação progrediu até a inclusão do elemento líquido, dando à matéria mais densa a forma de uma neblina ou de um gel.

Novamente as hierarquias mais sutis, não podendo acompanhar essa densificação, formaram um novo corpo equivalente ao Sol. Originaram-se daí certos movimentos rotativos e estados alternados de irradiação.

Sob a influência de determinada hierarquia, o "homem" passou a adquirir um precursor do nosso corpo astral, atingindo um estado semelhante ao dos nossos animais, com a consciência de "sonho".

Em baixo dele havia dois reinos; aqueles que haviam recapitulado no Velho Sol, com sucesso, a evolução proto-saturnina, e que nessa altura atingiram o nível de planta; e aqueles que também no Velho Sol não conseguiram progredir, tendo que percorrer agora, mais uma vez, um estado de mineral.

Também entre os seres das hierarquias superiores havia evoluções anormais. Em dado momento, vários dentre eles se "revoltaram" contra a evolução geral, procurando um desenvolvimento diferente.

A interação de todas essas influências fez com que o mundo se diversificasse ainda mais: houve até a formação de outros "planetas", centros de atuação espiritual dos vários grupos de hierarquias.

Em meio a esse mundo vivia o "homem".

O corpo astral já lhe proporcionava sensações, instintos, antipatia e simpatia, mas sem a faculdade de livre-arbítrio e sem o raciocínio, apanágios da plena consciência que nasceriam apenas com o eu.

Outrossim, a "forma" exterior do homem, como aliás, o aspecto de todo o mundo ao redor dele, não podiam ser comparados a nada do que atualmente existe.

No momento da sua maior concentração, a Velha Lua, com os germes dos homens, não passava de uma massa úmida ou viscosa com inclusões gasosas. Nesse mundo viviam, além dos seres das hierarquias, os homens, cujo membro mais elevado era um corpo astral; e, abaixo deles, aqueles que haviam ficado para trás, constituindo dois reinos equivalentes às nossas plantas e minerais. Processos semelhantes à respiração e circulação já existiam, e os estados de consciência mais ou menos clara alternavam, de acordo com as circunvoluções dos corpos celestes, sedes das hierarquias em seus vários agrupamentos.

No fim dessa evolução, os vários corpos celestes se reuniram novamente.

Um terceiro período de involução (Pralaya) fez voltar toda a diversificação a um estado puramente espiritual do qual emergeria, como quarta fase, a nossa Terra atual com o sistema solar que ela integra.

Toda a evolução anterior é, pois, caracterizada:


*pela atuação das hierarquias superiores que nos criaram e nos fizeram evoluir;

*pela densificação progressiva;

*pelo despertar paulatino da consciência;

*pelo acréscimo de novos "membros superiores" e seu aperfeiçoamento sob a influência de seres superiores;

*pelo desenvolvimento que fez ficarem para trás os seres que não se desenvolveram de acordo com o "programa" cósmico. Todavia, não foi por culpa ou mérito próprio que ocorreu essa desclassificação pois, por enquanto, o "ser humano" ainda não era responsável pelos seus atos;

*pela mais absoluta dissemelhança entre as condições "exteriores" das anteriores "encarnações" da Terra entre si e em comparação com o nosso mundo atual.

Fonte:
Texto de R. Lanz
Sociedade Antroposófica Brasileira