segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Transferência de Energias do Centro Sacral para o Centro da Garganta





Na origem da criatividade humana, que se exprime a nível físico pelo instinto de reprodução a nível mental pela criatividade no campo artístico, intelectual, social etc, está o fogo Divino da Criação, o Terceiro Aspecto da Divindade, o Espírito Santo, energia eminentemente criadora e inteligente, sem a qual nada poderia existir.

É o poder que Deus tem de criar as formas em todos os níveis: é a criatividade Divina.

A finalidade primeira desta energia é, portanto, a "criação".

No homem, esta força se exprime por dois centros: o centro chamado "sacral" e o Centro da Garganta.

No primeiro, manifesta-se ainda a nível instintivo enquanto "sexualidade", e no segundo, após um processo interior de transformação e sublimação, enquanto  criatividade mental e              espiritual, retornando assim à sua verdadeira e justa função de energia divina.

Todavia, antes de falar da sublimação, convém examinarmos atentamente o aspecto humano da força criativa, procurando compreender o verdadeiro significado da sexualidade.

Este é um assunto muito importante e, ao mesmo tempo, extremamente complexo.

Importante porque a energia expressa através do Centro Sacral é uma das mais poderosas que existem no Universo.

Complexo, por estar relacionado com muita emotividade, preconceitos, superestruturas, originando, portanto, perturbações e confusões.

É preciso, então, que o enfrentemos com serenidade e imparcialidade, a fim de chegarmos a uma visão clara e objetiva do significado verdadeiro e profundo, oculto sob a manifestação inferior desta energia, detendo-nos em alguns pontos fundamentais, cujo conhecimento nos poderá ser útil.

Antes de mais nada, devemos entender por que existem dois sexos no reino humano.

Esta divisão deve ser reportada à polaridade universal que encontramos em todos os níveis.

O primeiro par de opostos formou-se no seio do Absoluto, tão logo Ele deixou o estado de repouso para se manifestar.

De fato, ele exprime:

"... a Vontade positiva — princípio expansivo — como Espírito,
e a Vontade negativa - princípio restritivo - como Matéria,
as duas colunas do Templo Universal...

Desse par primordial derivarão todos os opostos que a criação manifestará: mais exatamente, todos são Ele e nada mais, os múltiplos reflexos deste duplo aspecto da Vontade criadora sobre o espelho móvel da Maya universal". (Chevrier: Doutrina oculta, p. 41.)

O Fogo da Criação, o Terceiro Aspecto da Divindade, também é bipolar, pois todos os atributos de Deus refletem, ao mesmo tempo, a sua Unidade e a sua dualidade.

Portanto, mesmo a nível humano, a criatividade, reflexo do Terceiro Aspecto, necessita de dois pólos, o homem e a mulher, para se manifestar.

A nível espiritual, essa divisão inexiste, porque o Si, que em relação à personalidade representa o aspecto transcendente e divino, é, bisexual, por assim dizer.

Ou seja, traz os dois aspectos fundidos em si, o positivo e o negativo, pois é Uno, íntegro em si mesmo.

Ao encarnar-se, o Si reveste-se de um corpo físico masculino ou feminino, para fazer todas as experiências necessárias e desenvolver todas as qualidades psíquicas dos dois sexos.

De fato, ser homem ou mulher não significa somente ter um corpo masculino ou feminino, mas também qualidades, características e manifestações psíquicas específicas, diferentes para cada um dos sexos.

Antes de mencionar tais qualidades, valeria observar que, até mesmo a nível físico, precisamente a nível hormonal, somos bissexuais latentes, bastando um aumento ou uma diminuição de determinado tipo de hormônios para provocar a prevalência de um ou outro dos sexos.

A nível psíquico, a polaridade gera duas atitudes, duas correntes de energia que se manifestam através de qualidades e poderes diferentes, os quais recebem vários nomes:

Logos                 Eros
Positivo              Negativo
Ativo                  Passivo
Masculino          Feminino
Yang                  Yin
Consciente         Inconsciente
Sol                      Lua

Torna-se claro, a partir destas denominações, como tudo o que exprime a racionalidade, a vontade, a dinamicidade, o domínio da matéria, a força e a extroversão pode se considerar masculino, enquanto tudo o que exprime sensibilidade, receptividade, poder de dominar o mundo psíquico, intuição, tendência para a proteção, a conservação e o amor pode se considerar feminino.

A masculinidade, em sentido psíquico, pode ser considerada uma força centrífuga, e a feminilidade uma força centrípeta.

Cada um de nós é, fisicamente, macho ou fêmea, mas psicologicamente ambas as energias se fazem presentes em seus corpos sutis, em doses dife- rentes.

Geralmente, verifica-se esta situação:

Homem Mulher
Corpo físico
Positivo Receptivo
Corpo emotivo
Receptivo Positivo
Corpo mental
Positivo Receptivo
Intuição
Receptivo Positivo

Há, portanto, na maioria dos casos (exceção para os casos excepcionais), uma polaridade recíproca alternada.

O que se pode deduzir do que foi dito até agora?

Que a energia cósmica proveniente do Terceiro Aspecto Divino, aquela que no homem produz a sexualidade visa a duas finalidades principais, uma a nível físico, outra a nível psíquico:

a) a nível físico, a finalidade é a de criar um novo ser, através da união dos dois pólos, masculino e feminino;

b) a nível psíquico, estabelecer uma harmonia, uma integração com a relação psicológica e afetiva, capaz de criar um intercâmbio de energias e evocar no outro a polaridade oposta latente.

A verdadeira união entre homem e mulher, o verdadeiro matrimônio, portanto, não é somente união sexual, mas também, e sobretudo, integração psíquica, da qual emerge a totalidade e a evocação do Si, que é Uno.

Na antiga filosofia chinesa, de fato, a totalidade divina, o Tao, é cons- tituída pela união do Yang e do Yin, o princípio masculino ativo e o princípio feminino passivo, Luz e Sombra, os dois pólos eternos da criação.

Poder-se-ia pensar, então, que a realização é impossível se não nos completamos com uma outra pessoa do sexo oposto.

Mas não é assim.

A relação, tanto a nível físico como a nível psicológico, entre homem e mulher, pode ser útil para evocar as qualidades que se completam mutuamente, ou melhor, que são potenciais e inconscientes, pois o contato e o intercâmbio de energias entre os dois sexos, em todos os níveis, pode ser "catalisador" das qualidades do pólo oposto.

Todavia, os estímulos evocadores e catalisadores que provêm do contato feliz e completo entre duas pessoas de sexo oposto têm um efeito local e temporário, contribuindo parcialmente para engendrar a verdadeira totalidade, a efetiva auto-realização espiritual, pois a totalidade, a posse da Unidade, é um evento que não pode ser alcançado através do outro, mas somente pelo despertar da consciência do Si.

Somente em nós mesmos é que se pode encontrar o caminho que conduz à verdadeira realização, podendo a outra pessoa somente nos ajudar a "evocar" as qualidades do pólo oposto latente, mas não a encontrar o nosso Si.

Eis por que tanto o homem como a mulher estão continuamente desiludidos e insatisfeitos com a sua relação, mesmo que ela seja das mais harmoniosas, sobretudo os que começam a sentir a exigência de uma efetiva realização interior.

Chega, porém, um momento da trajetória evolutiva do homem em que ele compreende que não deve mais procurar o pólo oposto no exterior, mas sim dentro de si, e é a partir daí que ele começa a dirigir para o interior as energias criativas, a princípio inconscientemente, com o passar do tempo cada vez mais conscientemente, descobrindo que há um "matrimônio" interior, o matrimônio nos Céus, para o qual tendem os dois pólos inerentes à sua própria natureza: o pólo negativo da personalidade e o pólo positivo da Alma.

Este é o momento em que começa a transferência das energias do Centro Sacral para o Centro da Garganta e o desenvolvimento da criatividade superior.

A verdadeira força criadora não é a que se manifesta no plano físico, através do Centro Sacral, mas aquela que encontra a sua expressão, a nível mental e espiritual, no Centro da Garganta.

Antes, porém, que o homem possa efetuar a completa transmutação e sublimação das energias sexuais, verificam-se sublimações esporádicas e parciais, devidas ao excesso de energias, isto é, aquela porção que não pode ser utilizada e portanto gera mal-estares, perturbações e desarmonias.

De fato, tocando agora no aspecto patológico e médico do assunto, os distúrbios e doenças relacionadas com o Centro Sacral devem-se, como sempre, à congestão ou à inibição.

A congestão se deve, como é fácil depreender, ao uso excessivo das energias, o que pode acontecer quando não se tem uma visão justa e uma compreensão sábia de determinada função, como no que diz respeito ao sexo.

Em nossos dias, especialmente após uma época de hipocrisia, repressão e tabus, passou-se para o excesso oposto, a completa libertinagem e permissividade.

Para isso também contribuiu a psicanálise, equivocada ao apontar na falsa expressão da sexualidade a principal causa das neuroses.

Na realidade, porém, a psicanálise também admite a sublimação das energias sexuais, reconhecendo uma tendência espontânea destas energias para se exprimirem em atividades, faculdades e manifestações superiores (artísticas, místicas, sociais), quando a sua expressão no plano físico é impossível.

Psicanalistas mais modernos e atuais como Eric Fromm, Victor Frankl e outros, exploraram ainda mais a fundo a questão sexual, assumindo, sobretudo, uma oposição mais serena e equilibrada a respeito.

Afirmam que a repressão sexual é, de fato, responsável pelas neuroses somente em alguns casos, pois esse instinto, quando não se exprime no plano físico, consegue assim mesmo se manifestar de maneira sadia e inofensiva, sem gerar distúrbios no indivíduo, pois existe na natureza instintiva um equilíbrio espontâneo que, se não hostilizado, regula a saúde física e psíquica de uma pessoa, sobretudo se esta tem uma atitude sã e serena frente ao problema.

O nocivo, na verdade, e causa verdadeira dos distúrbios neste terreno é o sexo "intelectualizado", como o chama Jung, isto é, certo sentimento de dramaticidade complicado pela intervenção da mente e de uma emotividade excessiva, distorcido por teorias e revestimentos pseudomágicos, inflacionado pela sensualidade e por desvios e implicações mórbidas, afastado, assim, de sua pureza e beleza naturais.

É o amor, a capacidade de dar e criar uma relação harmoniosa, que deveria sempre se fazer acompanhar da sexualidade, não a sede de prazer e a sensualidade, dos quais resultam o egoísmo e, portanto, o oposto do amor.

Mesmo que a sensualidade seja uma expressão natural, quando excessiva ela desvia a energia poderosa e límpida da verdadeira sexualidade, sendo algo ilusório, algo que faz parte da "maya" universal em que o homem se envolve quando escravo das sensações e de seu egocentrismo.

Por isso, antes de chegar à verdadeira sublimação é preciso passar pela purificação que reconduz o Centro Sacral à sua verdadeira função no plano físico, que é criativa e liberta a mente de preconceitos e idéias errôneas sobre o assunto.

Voltando agora aos distúrbios e às doenças, constatamos que elas dizem respeito a toda a esfera das glândulas relacionadas ao centro em questão, isto é, as gônadas, e com os órgãos de reprodução.

A congestão do centro causa inflamações, disfunções e doenças diversas, até mesmo tumores em determinados casos.

Às vezes, quando a congestão não é muito forte, há uma sensação de ardência e de sofrimento nas costas, na altura do centro sacral.

A inibição do centro, ao contrário, manifesta-se, em geral, por distúrbios psicológicos na esfera do sexo, por anomalias, perversões, ou pelo deslocamento das energias para o centro mais próximo, o da auto-afirmação, com a conseqüente manifestação de raiva, agressividade e excessiva combatividade.

Às vezes, quando ocorre inibição, as energias sexuais sobem para o centro da garganta, mas caso esta ainda não esteja ativa e desimpedida, essas não poderão exprimir a sua função superior e então "descarregar-se-ão" sobre a glândula correspondente, a tireóide, provocando distúrbios e doenças que afetam o seu funcionamento (hipertireoidismo, hipotireoidismo, mixedema, papo, etc).

Esta situação pode ser provocada também pelo celibato forçado, a vida monástica, quando a pessoa ainda não está suficientemente madura para efetuar uma verdadeira sublimação e um desenvolvimento da criatividade superior.

É preciso levar em consideração também a situação "cármica" de um indivíduo para chegar a compreender a verdadeira causa de certas experiências e acontecimentos com que ele, à sua revelia, se depara pela vida, sendo possível que, após uma vida de extravagâncias e completo desregramento no campo sexual, suceda um período em que tal aspecto seja continuamente obstruído e quase forçadamente negado, de modo que o indivíduo se veja obrigado pelas circunstâncias exteriores, que ele chama "destino", e não por vontade própria, a uma vida casta.

Ou então, há nele manifestações psicológicas de medo, tabus e sentimentos de culpa que, tidos como sintomas neuróticos, exprimem, ao contrário, uma vontade inconsciente de purificação, sublimação e superação de determinada situação.

Com efeito, é o Si que se revela através desta "vontade inconsciente", pois quase sempre o seu objetivo e o seu plano evolutivo para a existência diferem bastante daqueles da personalidade inconsciente e limitada.

Em outras palavras, é preciso muita prudência e sabedoria, é preciso saber compreender a própria situação evolutiva antes de tentar forçar uma situação ou livrar de qualquer maneira um bloqueio no campo sexual, o que poderia ser o sintoma de um princípio de transferência das energias para a ação, ainda não inteiramente completo e harmonizado.

Portanto, se após os cuidados físicos e psicológicos necessários a situação não muda, é melhor aceitar o fato, e mais, colaborar possivelmente com as forças evolutivas e dirigir a atenção e a aspiração para uma meta espiritual.

Isso prova como é possível que tenhamos um grau evolutivo mais elevado do que aquele que nos aparece conscientemente e que talvez o nosso eu pessoal não queira reconhecer.

De fato, a neurose é considerada por muitos psicanalistas mais abertos como um conflito entre a tentativa de uma a expressão de vida e as cristalizações, apegos ao passado e hábitos inconscientes, etc.

Diz Caruso:

"... a neurose é ao mesmo tempo traição da vocação e sua inflexível confirmação"
(De Psicanálise e síntese da existência).

Todos nós, portanto, devemos nos examinar com coragem e objetividade servindo-nos da intuição interior para entender a nossa própria situação nossos verdadeiros problemas e, eventualmente, o nosso momento evolutivo, para então dar cumprimento à obra necessária para nos harmonizarmos efetivamente e criarmos um equilíbrio entre as energias inferiores e as superiores.

Fonte:
Medicina Psico Espiritual
Ângela Maria La Sala Bata
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