sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Princípios Para a Prática da Plena Consciência (Thich Nhat Hanh)


1. Os Dharmas São Mente

Todos os dharmas – físicos, fisiológicos e psicológicos – são objetos da mente, mas isso não significa que eles existam separadamente (da mente). 


Todos os Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência – corpo, sensações, mente e dharmas – são objetos da mente. Como a mente e os dharmas são um, ao observar seus objetos, a mente é essencialmente mente observadora. 


A palavra dharma no budismo é entendida como significando tanto o objeto quanto o conteúdo da mente. Os dharmas são classificados em doze reinos (em sânscrito, ayatanas). Os primeiros seis são os órgãos do sentido: olhos, ouvido, nariz, língua, corpo e mente. Os seis restantes são: forma, som, cheiro, gosto, tato e dharmas. Os dharmas são os objetos da mente assim como os sons são os objetos dos ouvidos. O objeto da cognição e o sujeito da cognição não existem independentemente um do outro. Tudo o que existe tem que emergir da mente. A melhor maneira de expressar essa verdade é “Tudo é apenas mente. Todas as coisas são somente consciência”, conceito que se desenvolveu na escola Vijñanavada do Budismo Mahayana.

Nas tradições do Budismo do Sul, a idéia da mente como fonte de todos os dharmas também é muito clara. O termo cittasamutthana (o que emerge da mente) e o termo cittaraja (nascido da mente) são frequentemente usados nos escritos do Abhidhamma em Páli. No Patthana (equivalente ao sânscrito Mahapakarana) encontramos a frase cittam samutthanam ca rupanam (“e a mente é o ponto de emergência das formas”).

O objeto de nossa observação consciente pode ser a nossa respiração ou nosso dedo do pé (objeto fisiológico), uma sensação, uma percepção (objeto psicológico) ou uma forma (objeto físico). 


Seja o fenômeno que observamos fisiológico, psicológico ou físico, sabemos que ele não é separado da nossa mente e é substância única com ela. A mente pode ser entendida como individual e coletiva. 


Os ensinamentos da Escola Vijñanavada dizem de maneira clara: Precisamos evitar a noção de que o objeto que observamos é independente de nossa mente. Temos que nos lembrar que esse objeto se manifesta a partir de nossa consciência individual e coletiva. Nossa mente observadora é também um fenômeno que se manifesta devido à consciência. Observamos de modo a que nossa mão direita tome a nossa mão esquerda e se tornem um.

2. Observar é ser um com o objeto da observação

O sujeito de nossa observação é a nossa plena consciência, a qual também emana da mente. A plena consciência tem a função de iluminar e transformar. 


Quando, por exemplo, a nossa respiração é objeto da nossa plena consciência, ela se torna respiração consciente. A plena consciência joga sua luz sobre nossa respiração, transforma o esquecimento embutido nela em plena consciência e dá a ela sua qualidade de calma e cura. 


Nosso corpo e nossas sensações também são iluminados e transformados sob a luz da consciência. A plena consciência é a mente observadora, mas ela não fica fora do objeto de observação. Ela vai diretamente no objeto e se torna um com ele. Justamente porque a natureza da mente observadora é a plena consciência, ela não se perde no objeto, mas o transforma ao iluminá-lo, como faz a luz penetrante do sol ao transformar árvores e plantas.

Se quisermos ver e compreender, teremos que penetrar e se tornar um com o objeto. Se ficarmos fora do objeto para observá-lo, não poderemos vê-lo e entendê-lo. O trabalho de observação é um trabalho de penetrar e transformar. 


É por isso que o Sutra (Acerca dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência, NT) diz “observar o corpo no corpo, observar as sensações nas sensações, observar a mente na mente, observar os dharmas nos dharmas”. A descrição é muito clara. A mente da observação profunda não é meramente observadora, mas participante. Somente quando o observador é participante poderá haver transformação.

Na prática chamada de observação una, a plena consciência já influencia o objeto da consciência. Quando chamamos uma inspiração de “inspiração”, a existência da nossa respiração se torna muito clara. A plena consciência já penetrou nossa respiração. Ao continuarmos a nossa observação consciente, não haverá mais dualidade entre observador e observado. 


Plena consciência e respiração são um. Nós e nossa respiração somos um. Se nossa respiração é calma, estamos calmos. Nossa respiração acalma o nosso corpo e nossas sensações. Este é o método ensinado no Sutra Acerca dos Quatro estabelecimentos da Plena Consciência e no Sutra Sobre a Plena Consciência da Respiração. 


Quando a nossa mente é consumida por um desejo ou por aquilo que observamos, a plena consciência não está presente. A respiração consciente alimenta a plena consciência e esta gera a respiração consciente. Quando a plena consciência está presente, não temos nada a temer. O objeto de nossa observação se torna vívido e sua fonte, origem e verdadeira natureza se tornam evidentes. É assim que ele (o objeto, NT) será transformado. Não terá mais o efeito de nos segurar.

Quando o objeto de nossa observação consciente é totalmente claro, a mente que observa é também revelada completamente com grande clareza. Ver os dharmas claramente é ver a mente claramente. Quando os dharmas se revelam na sua verdadeira natureza, a mente obtém a natureza da mais alta compreensão. O sujeito e o objeto da cognição não são separados.

3. A Mente Verdadeira e a Mente Ilusória São Um.

“Mente Verdadeira” e “Mente Ilusória” são dois aspectos da mente. Ambas emergem da mente. A mente ilusória é a mente esquecida e dispersa que emerge do esquecimento. A base da mente verdadeira é a compreensão desperta, o qual emerge da plena consciência. 


A observação consciente revela a luz que existe na mente verdadeira, de modo que a vida poderá ser revelada em sua realidade. Sob esta luz, confusão se torna compreensão, visões errôneas se tornam visões corretas, miragens se tornam realidade e a mente ilusória se torna mente verdadeira. Uma vez que a observação consciente nasça, penetrará o objeto da observação, iluminá-lo-á e, gradualmente, revelará sua verdadeira natureza. A mente verdadeira emerge da mente ilusória. As coisas em sua verdadeira natureza e as ilusões são da mesma substância básica. É por isso que praticar é uma questão de transformar a mente ilusória e não buscar a mente verdadeira em outro lugar. Do mesmo modo como a superfície de um mar agitado e a de um mar tranqüilo são, ambas, manifestações do mesmo mar, a mente verdadeira não poderia existir se não houvesse a mente ilusória. 


No ensinamento das Três Portas da Libertação (em páli: vimokkhamukha), a ausência de meta (em sânscrito: apranihita) é uma das fundações para a realização. O que a ausência de meta quer dizer é que não devemos procurar algo fora de nós de nós mesmos. No Budismo Mahayana, o ensinamento da não-realização é a mais alta expressão da unidade entre a mente verdadeira e a mente ilusória.

Se a rosa está a caminho de se tornar lixo, o lixo também está a caminho de se tornar uma rosa. Aquela que observa com discernimento verá o caráter não-dual da rosa e do lixo. Ela será capaz de ver que existe lixo na rosa e que existem rosas no lixo. Ela saberá que a rosa precisa do lixo para sua existência e que o lixo precisa da rosa, pois logo ela se tornará lixo. Portanto, ela saberá aceitar o lixo para transformá-lo em rosas e não sentirá medo quando a rosa murchar e se transformar em lixo. Este é o princípio da não-dualidade. Se a mente verdadeira (a rosa) pode ser descoberta no material bruto da mente ilusória (o lixo), então poderemos reconhecer a mente verdadeira na substância mesma da ilusão, na substância mesma da ilusão, na substância do nascimento e da morte.

Libertar-se não é fugir ou abandonar os Cinco Skhandas: forma, sensações, percepções, formações mentais e consciência. 


Mesmo que nosso corpo seja cheio de impurezas e mesmo que o mundo seja da natureza da ilusão, isso não significa que para nos libertarmos tenhamos que fugir do nosso corpo ou do mundo. O mundo da libertação e da compreensão desperta vem diretamente deste corpo e deste mundo. Uma vez que a Correta Compreensão se realize, transcendemos as discriminações entre puro e impuro e entre objetos da percepção ilusórios e reais. 


Se o jardineiro for capaz de ver que a rosa vem diretamente do lixo, então o praticante no caminho da meditação poderá ver que o nirvana vem diretamente do nascimento e da morte, e não mais fugirá ou buscará o nirvana (fora de si mesmo, NT). “As raízes da aflição (em sânscrito: klesha) são as mesmas do estado desperto. O nirvana e o nascimento/morte são imagens ilusórias no espaço”. Esta citação expressa um profundo insight acerca da não-dualidade. A substância deste insight é a equanimidade ou o largar (to let go, NT. Em sânscrito: upeksha), uma das Quatro Mentes Incomensuráveis (também conhecida como as Quatro Moradas de Brahma, brahmaviharas em sânscrito, NT).

O Buda ensinou muito claramente que não deveríamos nos apegar ao ser ou ao não-ser. Ser significa o reino do desejo. Não-ser significa o reino do niilismo. Libertar-se é tornar-se livre de ambos.

4. O Caminho do Não-Conflito

A realização da não-dualidade naturalmente leva à prática de oferecermos alegria, paz e não-violência. Se o jardineiro sabe lidar com o lixo orgânico sem conflito e nem discriminação, então o praticante de meditação também deveria saber como lidar com os Cinco Agregados sem conflito e nem discriminação. 


Os Cinco Agregados são a base do sofrimento e da confusão, mas também são a base da paz, da alegria e da libertação. Não deveríamos desenvolver uma atitude de apego ou aversão a eles. É claramente dito no Sutra (Acerca dos Quatros Estabelecimentos da Plena Consciência, NT) que o praticante faz a observação pondo de lado todo sentimento de apego e rejeição para com esta vida (vineyya loke abhijjha domanassam).

Antes de realizar o estado desperto, Siddharta manteve práticas austeras, reprimindo seu corpo e suas sensações. Este tipo de método é violento por natureza e os resultados são sempre negativos. Depois desta fase, ele mudou e praticou a não-violência e o não-conflito em relação ao seu corpo e às suas sensações.


O método ensinado pelo Buda no Sutra Acerca dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência claramente expressa o espírito da não-violência e do não-conflito. A plena consciência reconhece o que está acontecendo no corpo e na mente e continua a iluminar e observar em profundidade esses objetos. Durante essa prática, não há apego, busca ou repressão do objeto. Este é o verdadeiro significado do termo observação nua. Não há cobiça e nem rejeição. Sabemos que o nosso corpo e as nossas sensações somos nós mesmos e, portanto, não os reprimimos, pois se assim o fizermos estaremos reprimindo a nós mesmos. Ao contrário, aceitamos nosso corpo e nossas sensações. Aceitar não significa apegar-se. Ao aceitar, atingimos um grau de paz e compreensão. Paz e alegria surgem quando abandonamos as discriminações entre certo e errado; entre mente que observa e corpo observado (que costumamos dizer que é impuro); entre a mente que observa e as sensações que são observadas (que costumamos dizer que são dolorosas).

Ao aceitarmos nosso corpo e nossas sensações, nós os tratamos de maneira terna e não-violenta. O Buda nos ensinou a praticar a plena consciência dos fenômenos fisiológicos e psicológicos para observá-los e não para suprimi-los. Quando aceitamos nosso corpo, fazemos as pazes com ele e acalmamos o seu funcionamento, sem sentirmos aversão, estamos seguindo os ensinamentos do Buda: “Inspirando, sou consciente de todo o meu corpo, expirando acalmo as funções do meu corpo” (Sutra Acerca dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência). 


Na observação feita enquanto meditamos, não nos transformamos num campo de batalha entre um lado bom e um lado mal. Se pudermos ver a não-dualidade da rosa e do lixo, das raízes da aflição e da mente desperta, não sentiremos mais medo. Aceitaremos essas aflições e as trataremos como as mães tratam os filho, conseguindo assim transformá-las.


Quando reconhecemos as raízes da aflição em nós e nos tornamos um com elas, a possibilidade de nos enredarmos nelas ou não vai depender do estado da nossa mente. Quando estamos em estado de esquecimento, podemos ser apanhados por essas raízes transformando-nos nelas. Quando estamos conscientes, podemos ver claramente as raízes da nossa aflição e transformá-las. Portanto, é essencial ver as raízes de nossa aflição com plena consciência. Enquanto a lâmpada da plena consciência jorrar sua luz, as trevas serão transformadas. Precisamos nutrir a plena consciência em nós mesmos pela prática da respiração consciente, da escuta do sino, da recitação de gathas e de muitos outros meios hábeis.

Precisamos de uma atitude de ternura e não-violência em relação ao nosso corpo. Não devemos olhar o nosso corpo apenas como um instrumento ou tratá-lo mal. Quando estamos cansados ou sentindo dor, nosso corpo está tentando nos dizer que ele não está feliz e nem tranquilo. O corpo tem sua própria linguagem. 


Como praticantes da plena consciência, deveríamos saber o que o nosso corpo está querendo nos dizer. Se sentirmos muita dor nas pernas durante a meditação sentada, devemos sorrir e mudar a posição nossa posição lenta e gentilmente, com plena consciência. Não há nada de mal em mudar nossa posição. Não é perda de tempo. Enquanto a plena consciência for mantida o trabalho de meditação continua. Não devemos nos intimidar. Quando fazemos força demais não apenas perdemos a nossa paz e nossa alegria, perdemos também a plena consciência e a concentração. Nós praticamos a meditação sentada para sentirmos libertação, paz e alegria e não para nos tornarmos heróis capazes de aguentar dor.

Também precisamos de uma atitude não-violenta em relação às nossas sensações. Quando somos conscientes de que somos as nossas sensações, não as negligenciamos e nem as oprimimos. Nós as abraçamos afetivamente com os braços da plena consciência, como uma mãe abraça seu filho recém-nascido quando ele chora. Uma mãe abraça o filho com todo o seu amor para que ele se sinta confortável e pare de chorar. A plena consciência, nutrida pela respiração consciente, tomas as sensações nos seus braços, torna-se um com elas, acalma-as e transforma-as.

Antes de o Buda atingir a plena realização do caminho, tentou vários métodos que usavam a mente para suprimir a mente, mas nunca conseguiu. Foi por isso que ele terminou por escolher praticar de um modo não-violento. No Mahasaccaka Sutra (Madhyama Agama 36) o Buda nos diz:

“Então pensei, por que não trinco meus dentes, pressiono a língua contra o céu da boca e utilizo a mente para reprimir a minha própria mente? Como um lutador que segura firmemente a cabeça ou o torço de alguém mais fraco e, para restringi-lo e coagi-lo, tem que segurá-lo todo o tempo sem relaxar nem um momento, assim trinquei meus dentes, pressionei minha língua contra o palato e usei minha mente para dominar e reprimir a minha mente. Ao fazer isso, fiquei banhado de suor. Apesar de não me faltar forças, e apesar de ter mantido a plena consciência sem cessar, meu corpo e minha mente não estavam em paz e senti-me exaurido por esses esforços. Esta prática causou outras sensações de dor, além das dores associadas às práticas austeras, e não fui capaz de domar minha mente”.

Torna-se claro, a partir dessa passagem, que o Buda encarava esse tipo de prática como inútil. Apesar disso, a seguinte passagem foi inserida noVitakkasanthana Sutra (Madhyama Agama 20), com o sentido oposto à intenção do Buda:

“Da mesma forma que um lutador pega a cabeça ou o torço de alguém mais fraco, restringe-o e o coage e o segura sem relaxar um só momento, assim também um monge que medita para frear todos os pensamentos não-saudáveis de desejo e aversão, e eles continuam a emergir, deve trincar os dentes, pressionar a língua contra o palato e fazer o possível para usar sua mente para abater e derrotar sua mente”.

A mesma passagem foi inserida no Sutra Acerca dos Quatro Fundamentos da Plena Consciência, que aparece como a segunda versão neste livro: “O praticante que observa o corpo enquanto corpo fecha seus lábios com força ou trinca seus dentes, pressiona sua língua contra o palato e usa sua mente para restringir e se opor à sua mente”. Esta passagem não aparece na maioria das versões do Sutra (observem a primeira e terceira versões), mas se acha também no Kayasmrti Sutra (Madhyama Agama 81) cujo conteúdo é bastante similar ao da segunda versão. Como os sutras foram, por séculos, transmitidos oralmente antes de serem registrados por escrito, esse tipo de erro era inevitável. É necessário fazer estudos comparativos dos sutras, à luz de nossa própria experiência de meditação, para ver o que é o material original e o que foi adicionado depois.

5. Observação Não Significa Doutrinação

Em centros budistas espalhados pelo mundo, ensina-se aos estudantes a recitação de frases do tipo “corpo é impuro, sensações são sofrimento, mente é impermanente, dharmas não possuem ego” enquanto observam os Quatro Estabelecimentos. O autor dessas linhas foi ensinado dessa maneira, quando era noviço, e sentiu que era um tipo de lavagem cerebral.

O método dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência é observar profundamente no espírito do “não-desejo e sem sentir repugnância“. A plena consciência não se apega, despreza, repreende ou reprime, desse modo a verdadeira natureza de todos os dharmas pode revelar-se à luz da observação consciente. Que a natureza impermanente, impura e sem identidade intrínseca de todos os dharmas tem por efeito causar sofrimento, pode ser vista enquanto observamos, não é por que repetimos fórmulas como essas acima de maneira automática. Quando olhamos em profundidade e vemos a natureza de todos os dharmas, eles se revelarão por si mesmos.

Se repetirmos mecanicamente, “o corpo é impuro”, estaremos recitando um dogma. Se observarmos todos os fenômenos fisiológicos e vemos sua natureza impura, isto não é dogma. É nossa experiência. Se, durante a nossa observação consciente, vemos que os fenômenos são, às vezes, puros e, às vezes, impuros, então esta é a nossa experiência. Se olharmos ainda mais profundamente e vermos que os fenômenos não são puros ou impuros, que eles transcendem os conceitos de puro e impuro, descobriremos aquilo que é ensinado no Sutra do Coração Prajñaparamita. 


Este sutra também nos ensina a resistir a todas as atitudes dogmáticas. Não devemos nos forçar a ver o corpo como impuro ou as sensações como sofrimento. Mesmo que haja alguma verdade nessas sentenças, repeti-las dogmaticamente tem apenas o efeito de nos encher com conhecimento. Enquanto observamos com plena consciência, veremos que existem muitas sensações dolorosas, mas também vemos que também existem sensações de alegria e paz e muitas sensações neutras. E se olharmos mais profundamente, veremos que as sensações neutras podem se tornar sensações de alegria e que sofrimento e felicidade são interdependentes. O sofrimento é porque a felicidade é e a felicidade é porque o sofrimento é. Ao repetirmos “mente é impermanente”, nossa atitude ainda é dogmática. Se a mente é impermanente, então o corpo deve ser impermanente e assim também as sensações. O mesmo é verdadeiro para “dharmas são sem ego”. Se os dharmas são sem ego, assim também o são o corpo, a mente e as sensações.

Portanto, o ensinamento especial do Sutra Acerca dos Quatro estabelecimentos da Plena Consciência é observar todos os dharmas sem ter, sobre eles, nenhuma idéia fixa, apenas manter a observação consciente sem comentar, sem assumir nenhuma atitude em relação ao objeto que se está observando. Dessa maneira, a verdadeira natureza do objeto será capaz de revelar-se por si mesma à luz da observação consciente, e você poderá obter insight sobre descobertas maravilhosas tais como o não-nascimento, não-morte, nem puro nem impuro, nem crescente e nem decrescente, interpenetração e interser.



Traduzido do livro de Thich Nhat Hanh, Transformation and Healing – Sutra On The Four Establishments of Mindfulness, Capítulo VI. Tradução: Samuel Cavalcante