sexta-feira, 30 de março de 2012

O Temor Combate-se com a Esperança


Não haverá razão para viver, nem termo para as nossas misérias, se for mister temer tudo quanto seja temível. 

Neste ponto, põe em ação a tua prudência; mercê da animosidade de espírito, repele inclusive o temor que te acomete de cara descoberta. 

Pelo menos, combate uma fraqueza com outra: tempera o receio com a esperança. 

Por certo que possa ser qualquer um dos riscos que tememos, é ainda mais certo que os nossos temores se apaziguam, quando as nossas esperanças nos enganam.

Estabelece equilíbrio, pois, entre a esperança e o temor; sempre que houver completa incerteza, inclina a balança em teu favor: crê no que te agrada. 

Mesmo que o temor reúna maior número de sufrágios, inclina-a sempre para o lado da esperança; deixa de afligir o coração, e figura-te, sem cessar, que a maior parte dos mortais, sem ser afetada, sem se ver seriamente ameaçada por mal algum, vive em permanente e confusa agitação. 

É que nenhum conserva o governo de si mesmo: deixa-se levar pelos impulsos, e não mantém o seu temor dentro de limites razoáveis. 

Nenhum diz:
- Autoridade vã, espírito vão: ou inventou, ou lho contaram.

Flutuamos ao mínimo sopro. De circunstâncias duvidosas, fazemos certezas que nos aterrorizam. 

Como a justa medida não é do nosso feitio, instantaneamente uma inquietude se converte em medo.

Sêneca, in 'Dos Reveses'