Antroposofia, do grego "conhecimento do ser humano", introduzida no início do século XX pelo austríaco Rudolf Steiner, pode ser caracterizada como um método de conhecimento da natureza do ser humano e do universo, que amplia o conhecimento obtido pelo método científico convencional, bem como a sua aplicação em praticamente todas as área da vida humana.
1. Abrangência
Ela cobre toda a vida humana e a natureza - daí suas aplicações em praticamente todas as áreas da vida. A mais popular dessas realizações práticas, a Pedagogia Waldorf, que desde 1919 representa uma revolução em matéria de educação, tem seus resultados visíveis em mais de 1.000 escolas no mundo inteiro (25 no Brasil) e pode ser examinada por qualquer um – basta visitar uma delas.
2. Edifício conceitual
Ela é apresentada sob forma de conceitos que se dirigem à capacidade de pensar e à sede de conhecimento e compreensão do ser humano moderno.
3. Espiritualismo
Por seu método ela chega ao fato de que o universo não é constituído apenas de matéria e energia físicas, redutíveis a processos puramente físico-químicos. Ela descobre um mundo espiritual, estruturado de forma complexa em vários níveis. Por exemplo, os seres humanos têm um nível de "substância" espiritual, não-física, mais complexa do que a das plantas e dos animais, daí sua distinção em relação a eles. Ela também descreve seres puramente espirituais, que não têm expressão física, e que atuam em vários níveis diferentes de espiritualidade. Alguns desses seres estão em níveis acima dos da constituição humana, mas nem por isso deixam de ser compreensíveis por um pensar abrangente e perceptíveis conscientemente por meio de uma observação direta supra-sensorial.
Para a Antroposofia a substância física é uma condensação da "substância" espiritual, não-física. É, portanto, um estado do "ser" espiritual. Se formos tanto ao microcosmo das "partículas" atômicas e sub-atômicas, como ao macrocosmo das estrelas e galáxias, começamos a penetrar diretamente no mundo não-físico. Nesse sentido, a Antroposofia representa um monismo: para ela não existe o paradoxo do espírito atuar na matéria; ele é a origem de tudo.
4. Antropocentrismo
Ela parte da compreensão do ser humano para ele entender não só a si próprio como a todo o universo. Para ela, o ser humano gerou, na sua evolução, o mundo dos animais. Estes são especializações evolutivas do ser humano, que representa a razão de ser do universo físico, dele também dependendo a evolução do mundo espiritual.
5. Desenvolvimento de órgãos de percepção supra-sensorial
A Antroposofia demostra que o mundo espiritual pode ser observado com tanta (na verdade, maior) clareza com que se observa o mundo físico. Para isso, é necessário que se desenvolvam individualmente órgãos de percepção que jazem latentes em todos os seres humanos, sendo nesse sentido indicados exercícios de meditação individual. Aquilo que se denomina normalmente de "intuição" já é, para a Antroposofia, uma percepção espiritual. No entanto, ela não é consciente e nem auto-controlada, como devem ser as observações espirituais adequadas ao homem moderno, que deseja absorver idéias com a compreensão de seu pensamento, fazer observações próprias e não ter crenças e crendices.
A meditação antroposófica baseia-se na atividade do pensamento consciente, que deve conservar sua clareza, ser totalmente controlado e ser desenvolvido a ponto de não depender de conceitos e imagens provenientes do mundo físico. Veja um texto sobre meditação e exercícios colaterais e o texto de uma palestra sobre meditação de H. Zimmermann, um dos diretores da Sociedade Antroposófica Geral, do Goetheanum. Veja também o texto de uma palestra de Steiner onde ele enfatiza a necessidade de se manter o pensamento consciente em qualquer ato cognitivo, inclusive na vidência supra-sensorial.
6. Desenvolvimento da consciência, da auto-consciência, da individualidade e da liberdade
A Antroposofia preconiza que essas quatro características humanas (a primeira temos parcialmente em comum com os animais) devem ser radicalmente preservadas e mesmo desenvolvidas.
7. Cosmovisão aberta
Toda a obra de R.Steiner (ele publicou 40 livros e deu cerca de 6.000 palestras agrupadas em 270 volumes) e de seus continuadores está publicada. Não há absolutamente nada de secreto na Antroposofia.
8. Perspectiva histórica
A Antroposofia fornece uma grandiosa perspectiva para a evolução da Terra e do ser humano, abrangendo todo o passado histórico e pré-histórico. Através dela pode-se conceitualmente compreender muito do que foi transmitido na antigüidade através de imagens como as dos mitos antigos e os relatos no Velho e Novo Testamentos (em particular, do ser cósmico Cristo e sua manifestação), passando pela filosofia grega, os movimentos heréticos, a Idade Média, a Renascença e até os movimentos materialistas modernos. Assim, ela resgata a continuidade histórica, mostrando como o ser humano atual é a conseqüência de uma linha de acontecimentos espirituais e físicos desde os primórdios do universo.
9. Renovação da pesquisa científica
A Antroposofia indica como ampliar a pesquisa científica tornando-a mais humana e mais coerente com a natureza, tendo obtido ótimos resultados no desenvolvimento de medicamentos, na compreensão dos animais e plantas, etc. Nesse sentido, ela deve ser considerada como uma evolução do método científico estabelecido por Goethe. Em particular, sua Teoria das Cores foi estendida e melhor conceituada a partir de pesquisas científicas feitas e publicadas por antropósofos.
10. Desenvolvimento moral
A Antroposofia recomenda um desenvolvimento moral que deve ser feito pessoalmente, fundamentado no conhecimento da essência do ser humano e do universo. Para ela, o desenvolvimento moral baseado em um amor altruísta é a missão do ser humano na presente Terra. As atitudes morais devem preservar a liberdade individual, isto é, não devem ser baseadas em imposições exteriores de mandamentos, dogmas e leis, mas irradiar do amor e do conhecimento individuais em plena liberdade.
Fonte:
Site Sociedade Antroposófica do Brasil
Por Valdemar W. Setzer