Por que Existem o Mal e o Sofrimento Humano?
Por Leandro Gomes de Barros
" Se eu conversasse com Deus
Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando se chega pra cá?
Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que é que ele não fez
A gente do mesmo jeito?
Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Vivemos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?"
Sobre o autor:
Leandro Gomes de Barros nasceu no sítio Melancia, município de Pombal (PB), em 19 de novembro de 1865,morrendo em Recife (PE), em 4 de março de 1918. Foi o primeiro a escrever e editar histórias versadas em folhetos. Até os 15 anos viveu em Teixeira, centro de poesia popular.
Mudou-se em 1880 para Pernambuco, tendo vivido em Vitória de Santo Antão, Jaboatão e Recife. Começou a escrever em 1889 e, sobrevivendo de folhetos, sustentou uma numerosa família. Casado com dona Venustiniana Eulália de Souza, teve vários filhos. Uma, de nome Raquel, que casou com o poeta Pedro Batista, assumiu por uns tempos a administração da obra do pai, depois de falecido. Pelo que foi possível apurar, Leandro não deixou descendentes poéticos diretos. Em Teixeira, Leandro conviveu com grandes violeiros, a exemplo de lnácio da Catingueira, Romano da Mãe d'Água, Bernardo Nogueira e Ugulino Nunes da Costa. Por eles nutriu grande simpatia e admiração e deles herdou o estro da poesia popular, tornando-se o primeiro sem segundo, escrevendo mais de seiscentas histórias, distribuídas em mais de 10 mil edições. A cidade de Pombal sempre foi grata a Leandro, reconhecendo seu talento e o poder de sua poesia matuta, que encantou e encanta, ainda hoje, os sertões nordestinos.
O que disseram de Leandro
Viveu exclusivamente de escrever versos populares, inventando desafios entre cantadores, arquitetando romances, narrando as aventuras de Antônio Silvino, comentando fatos, fazendo as tiras. Fecundo e sempre novo, original e espirituoso, é o responsável por 80% da glória dos cantadores atuais. Publicou cerca de mil folhetos, tirando deles mais de dez mil edições. Esse inesgotável manancial correu ininterrupto enquanto Leandro viveu. É ainda o mais lido dos escritores populares. Escreveu para sertanejos e matutos, cantadores, cangaceiros, almocreves, comboieiros, feirantes e vaqueiros. É lido nas feiras, nas fazendas, sob as oiticicas nas horas do 'rancho', no oitão das casas pobres, soletrado com amor e admirado com fanatismo.
Seus romances, histórias românticas em versos, são decoradas pelos cantadores. Assim, Alonso e Marina, O Boi Misterioso, João da Cruz, Rosa e Lino de Alencar, O Príncipe e a Fada, O Satírico Cancão de Fogo, Espécie de Palavras Cínicas, de Forjaz de Sampaio, A Órfã Abandonada etc, constituem literatura indispensável para os olhos sertanejos do Nordeste. Não sei se ele chegou a medir-se com algum cantador. Conheci-o na capital paraibana. Baixo, grosso, de olhos claros, o bigodão espesso, cabeça redonda, meio corcovado, risonho, contador de anedotas, tendo a fala cantada e lenta do nortista, parecia mais fazendeiro que um poeta, pleno de alegria, de graça e de oportunidade.
Quando a desgraça quer vir não manda avisar ninguém, não quer saber se um vai mal e nem se outro vai bem, e não procura saber que idade fulano tem. Não especula se é branco, se é preto, rico, ou se é pobre, se é de origem de escravo ou se é de linhagem nobre' É como o sol quando nasce. O que acha na terra, cobre! Um dia, quando se fizer a colheita do folclore poético, reaparecerá o humilde Leandro Gomes de Barros, vivendo ele fazer versos, espalhando uma onda sonora ele entusiasmo e de alacridade na face triste do sertão.
Fonte: http://www.algosobre.com.br/biografias/leandro-gomes-de-barros.html