terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Transferência das energias do Plexo Solar ao centro do Coração





Os distúrbios, desarmonias e eventuais doenças relacionados à natureza emocional podem ser superados somente se conseguirmos canalizar corretamente as energias emotivas, freando-as e controlando-as caso o Plexo Solar esteja congestionado (isto é, muito ativo) ou, então, desbloqueando-as e usando-as corretamente se ele estiver inibido.

Quando conseguimos isso, o corpo emotivo revela a sua verdadeira essência divina, a sua função real, e então, espontaneamente, as energias emocionais sobem para o Centro do Coração.

Dessa maneira, os nossos sentimentos e desejos pouco a pouco perdem o seu egoísmo, a sua tendência para a separação, e se transformam em Amor altruísta e desinteressado, e a dualidade, o conflito entre o modo humano e o espiritual de amar desaparecem.

Assim, chegamos a compreender como a dualidade que há em nós, é que se justifica também pelo fato de que existem centros superiores e centros inferiores perfeitamente correspondentes entre si, como se cada qual tivesse a sua "réplica", a sua sombra, é somente temporária e ilusória.

De fato, ela desaparece automaticamente se conseguimos encontrar a essência espiritual latente no aspecto inferior.

Na realidade, não existe um amor inferior e outro superior, mas um só Amor: aquele que brota da Alma, da centelha divina que em nós possui a consciência da unidade.

Aquele que se manifesta a nível pessoal não é amor, mesmo que assim o consideremos...

É afeição, é necessidade de superar o sentimento de solidão, é projeção de exigências inconscientes de realização, é necessidade de contar com um apoio, mas não é amor.

Somente quando, nem que seja por um breve instante, conseguimos sentir a natureza do Verdadeiro Amor, então temos a revelação de que todos os outros estados emotivos, sentimentos e afetos que havíamos experimentado anteriormente e julgado ser "amor", na realidade não o eram absolutamente.

O homem poderá experimentar o Verdadeiro Amor somente quando estiver auto-realizado espiritualmente, quando for capaz de "ficar a sós".

Isso pode parecer um paradoxo mas não o é, pois a capacidade de ficar a sós é o sinal do alcance de um equilíbrio, de uma realização interior, de um contato com o nosso Eu Real, que trazem consigo, juntamente com um sentimento de autonomia e autosuficiência, também um estado de consciência mais amplo, mais livre, mais abrangente, que nos torna capazes de amar os outros realmente por aquilo que são em si mesmos e não por aquilo que podem nos dar.

Diz Maslow, psicólogo americano contemporâneo, que observou e analisou muitos casos de pessoas realizadas:

"A pessoa, ao tornar-se pura e simplesmente o que ela é em si mesma, torna-se mais capaz de comungar com o mundo...".

E acrescenta:

"... A máxima identidade, autonomia e identificação consigo mesmo constitui por si só um transcender-se a si mesmo, um ir além e acima da identidade consigo mesmo..." (p. 111 de Para uma psicologia do ser).

E isso nos revela a natureza transcendente e divina do nosso Eu, a origem espiritual de nossa essência profunda, de modo que o indivíduo, quando se torna realmente "homem", reencontra em si o sinal de Deus, que é Unidade e Amor.

Por isso, para amar realmente, é preciso ter passado pelo despertar do Si, pois somente ele conduz à completa superação do egoísmo e da tendência para a separação.

Todavia, este despertar não pode ser verificado se antes não nos tivermos preparado interiormente através da sublimação e da transmutação gradativa das energias, que também se pode verificar por estágios, através de sucessivas superações e separações, aberturas de consciência e amadurecimentos interiores.

Não é possível, repentinamente, por um simples ato de vontade transferir as energias de um centro inferior para um superior, para tanto fazendo-se necessária uma nova orientação interior, um desenvolvimento de atributos e faculdades que nos façam mudar totalmente de atitude para com a vida, que nos façam descobrir a verdadeira escolha dos valores e, pouco a pouco, nos ajudem a passar da identificação com o eu egoísta e relativo para a revelação do Eu Superior e Divino.

O primeiro passo que podemos dar visando a algo de útil, em qualquer estágio evolutivo em que nos encontremos, será alcançar a calma e a estabilidade emocionais com práticas e atitudes oportunas, para livrar o Plexo Solar de eventuais obstruções e distúrbios; em seguida, desenvolver as qualidades emocionais positivas e construtivas para devolver a este centro a sua justa função.

Quando o plexo solar está congestionado, pode ser que seja preciso"esvaziá-lo" primeiramente, descarregando pelo menos uma parte das energias bloqueadas, o que pode ser conseguido através de uma descarga que pode ser:

a) verbal 
b) e escrita

Todavia, a descarga é somente um método de "higiene psíquica" que precede os avanços posteriores, possibilitando um alívio apenas temporário, servindo somente para "descongestionar" o plexo solar num dado momento.

É uma espécie de válvula de segurança que pode ser acionada espontânea ou deliberadamente. Neste segundo caso, é preciso levar em consideração que se trata somente de um "paliativo" e não de uma cura, pois as vantagens obtidas produzem um alívio temporário, mas não um bem-estar permanente e duradouro.

Os verdadeiros remédios são a transmutação e a sublimação.

Estas duas técnicas diferem entre si, pois representam dois modos de operação diversos.

A primeira serve para elevar as energias de um nível mais baixo para outro mais alto, permanecendo, porém, sempre no âmbito de um determinado veículo.

De fato, todo veículo da personalidade se compõe de sete níveis vibratórios, que manifestam faculdades e atributos cada vez mais elevados do mesmo tipo de energia.

Assim também, no corpo emotivo, existem sete níveis com comprimento de onda diferente, e que exprimem qualidades e faculdades emocionais desde as mais baixas até as mais altas.

Os níveis mais baixos exprimem os sentimentos, desejos, emoções negativas, egoístas e impuras, enquanto os níveis mais elevados exprimem os aspectos emotivos mais altos, refinados e positivos...

Por exemplo, as emoções estéticas, místicas, os sentimentos de simpatia, compaixão, o entusiasmo por um ideal, etc, são todos aspectos emotivos elevados, que provocam vibrações nos níveis mais altos do corpo emocional.

Dessa maneira, através do processo evolutivo, à medida que amadurecemos transferimos espontaneamente as energias emotivas de um nível para outro e nos aproximamos da vibração do nosso Si.

Forma-se, então, uma "sintonia vibratória" entre o Si e o veículo purificado e refinado, através do qual a energia espiritual pode se manifestar.

Transmutação, portanto, significa procurar a expressão, na vida, de sentimentos, afetos e emoções que tenham perdido a sua impureza e que, mesmo no plano pessoal, nos aproximem da beleza, da luz e do amor do Si.

Portanto, chega-se à verdadeira sublimação por sucessivos estágios e aperfeiçoamentos interiores.

De fato, a sublimação, ao contrário da transmutação, não é somente uma "elevação" de vibração, mas uma mudança de estado, uma verdadeira "transubstanciação".

É um processo de "alquimia" interior por meio do qual o homem obtém, através de sucessivos estágios de refino e purificação, o Ouro puro do Espírito.

O "fogo sob o cadinho", utilizado pelos antigos alquimistas para cumprir a opus, é representado pela fervorosa aspiração que sentimos quando chega o momento evolutivo e desejamos ardentemente nos reunir à natureza divina e reencontrar a nossa realidade espiritual.

Esta analogia com o processo alquímico não é somente simbólica e poética mas efetiva e real, já que os antigos alquimistas, talvez sem o saber, nada mais faziam do que projetar no exterior um processo que, afinal, se passava interiormente, sendo que os seus pacientes, exaustivos e repetidos esforços para levar a termo a obra de transmutação dos metais em ouro produziam amadurecimentos interiores, dos quais os gestos representavam somente um ritual.

O homem que procura operar em si a sublimação das energias inferiores e "redimir", portanto, a matéria, age de acordo com uma intuição precisa: é na própria matéria que se encontra latente a força espiritual; é preciso apenas libertá-la, despertá-la através de sucessivas transformações e purificações.

Deve haver também, no entanto, uma ajuda do alto, o que é representada pela força do Si que age como ímã e alavanca interior, pois o homem pode iniciar a obra de sublimação somente quando nele começa a despertar a consciência de sua essência espiritual.

Como dissemos acima, com referência ao desenvolvimento do verdadeiro Amor, é preciso ter alcançado um certo grau de maturidade para manifestá-lo.

De acordo com as doutrinas esotéricas, o processo de sublimação passa pelos seguintes estágios:

1. Radiação ativa do centro inferior
(de fato, se o centro inferior ainda está inibido ou inativo, as energias estão latentes).

2. Resposta do centro inferior à atração magnética do centro superior
(que também começou a despertar juntamente com o despertar da consciência do Si).

3. Consequente relação recíproca entre o centro superior e o inferior, condicionado, num primeiro momento, por um movimento de atração e repulsão rítmico.

4. Concentração da energia inferior no centro superior.

5. Controle do centro inferior por parte do superior e sua harmônica relação recíproca.

6. Absorção completa das energias do centro inferior pelo centro superior.

Todas estas fases do processo, como é fácil deduzir, nem sempre se desenvolvem de maneira cômoda e harmônica, podendo gerar sofrimentos e perturbação interior e, conseqüentemente, também distúrbios e doenças do veículo físico ou da psique.

Durante a fase de radiação do centro inferior, por exemplo, que se manifesta pouco antes da elevação da energia, pode-se verificar uma temporária congestão, seguida de distúrbios que afetam, como vimos no capítulo precedente acerca do Plexo Solar, toda a área do sistema digestivo e de suas funções.

Na fase da relação recíproca entre o centro inferior e o superior, os distúrbios e mal-estares se acentuam, especialmente no que diz respeito ao processo que ora examinamos, de transferência das energias do Plexo Solar para o Centro do Coração, pois tal transferência implica necessariamente, a nível psicológico, diversos conflitos e crises e inúmeras superações.

O livro Iniciação Humana e Solar, de Alice A. Bailey, traz a esse respeito o seguinte:

"A transferência do Fogo do plexo solar para o centro do coração é causa de muitos sofrimentos. Não é fácil amar como os Grandes Seres: um amor puro, que nada pede em troca; um amor impessoal, que se alegra na correspondência mas não a procura, um amor que se exerce com constância, silenciosa e profundamente, através de todas as aparentes divergências, sabendo que quando cada um encontrar o próprio caminho de volta para Casa, julgará a própria Casa o local da reconciliação" (pp. 98-99).

Desse modo, a nível psicológico experimenta-se um doloroso sentimento de renúncia, de aridez e até mesmo de "morte", e a nível físico mal-estares e doenças temporárias, que revelam o processo em curso de alquimia interior.

Quanto ao significado de "morte", é preciso dizer que não se lhe deve dar importância, pois ele deriva do eu inferior que não quer se desfazer de sua presa, que sente que deve "terminar" para dar lugar à consciência mais ampla e abrangente do Eu Superior.

Na realidade, o eu inferior não morre, mas se amplia e se eleva, se enriquece e, sobretudo, se reconhece naquilo que na realidade.

Todavia, a dor da renúncia e o sofrimento do significado da orte são necessários, pois são exatamente eles que constituem o fogo purificatório, o meio técnico que provoca o desencadeamento da energia oculta na matéria.

É isso que devemos levar em consideração quando sofremos.

Desse modo, nos desidentificamos do próprio sofrimento, objetivamo-lo e passamos a encará-lo somente como uma perturbação necessária, um processo evolutivo de aperfeiçoamento que nada tem de dramático ou pessoal.

De fato somos nós que fazemos aumentar a dor, imergindo-nos nela, revestindo-a de emotividade e de um sentido de "tragédia" e colocando-nos em estado de rebelião ou de autocomiseração.

O sacrifício é necessário para a sublimação, mas somente quando entendido no seu verdadeiro significado etimológico de "sacrum facere", isto é: tornar sagrado, e não dolorosa renúncia.

Além disso, quando a energia transferida se concentra no Centro Superior, pode haver um estado de temporária congestão e ativação (neste caso, do Centro do Coração), acarretando eventuais distúrbios cardíacos.

A única saída é, mantendo as energias firmes e "congestionadas", irradiá-las e utilizá-las em atos de Amor altruísta. 

Também podem se verificar distúrbios "reflexos" no aparelho respiratório, os quais, em geral, estão relacionados com o Centro do Coração.

Resulta claro de tudo o que foi dito, ainda que a partir de breves indicações, que o processo de sublimação está continuamente em ação dentro de nós, pois é o próprio mecanismo evolutivo.

À medida que amadurecemos e saímos de nosso estado de desordem e inconsciência, as energias começam a se deslocar dos centros situados abaixo do diafragma para os de cima, e então ocorre em nós uma mudança, uma nova orientação que nos leva a desenvolver novas qualidades e nos possibilita entender o verdadeiro sentido da vida.

Especialmente no que diz respeito ao centro do Plexo Solar, se conseguirmos acalmá-lo e entender a sua verdadeira função, automaticamente passamos para um nível superior a esse, nos desidentificamos do egocentrismo do eu inferior, dos seus apegos, dos seus desejos, e conseguimos perceber a essência espiritual oculta também no aspecto inferior.

Esta, efetivamente, é a descoberta mais importante, como que a chave para a sublimação, também aceita pelos psicanalistas mas não compreendida em sua efetividade: a descoberta do espírito oculto na matéria.

Em conseqüência dessa revelação, a obra de sublimação se torna mais fácil, pois é possível perceber que os obstáculos são constituídos somente por hábitos errados, por condicionamentos e falsas identificações que se instalaram em nós.

E quanto à natureza emocional e ao seu centro de expressão, o Plexo Solar, como dissemos no início do capítulo anterior, constatamos que ela é somente um reflexo do aspecto Amor da Alma, e não algo que se lhe oponha, mas que "engendra uma relação", que une e pode refletir e canalizar as energias espirituais correspondentes, tão logo tenha se libertado do único obstáculo verdadeiro: a inconsciência.

"Não devemos destruir nada, eliminar nada... A única coisa que deve ser eliminada é a nossa inconsciência". (Sri Aurobindo, Síntese da loga, vol. II.)

O verdadeiro Amor, que se manifesta através do centro do coração, já está presente em nós, trata-se somente de libertá-lo e evocá-lo, afastando-nos da falsa identificação com o eu exclusivista e egoísta e nos encaminhando alegremente de encontro à nossa realização.

Fonte:
Medicina Psico Espiritual
Ângela Maria La Sala Bata

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Relação entre psique e corpo, vida e forma, espírito e matéria





A misteriosa relação existente entre vida e forma, entre psique e corpo e, por fim, entre Espírito e Matéria, sempre atraiu o interesse do homem, não apenas do ponto de vista científico como também do filosófico, sendo as mais diversas possíveis as respostas dadas a este problema.

Se, por exemplo, nos reportarmos a Descartes, veremos que ele afirma existir "uma irredutibilidade radical entre a alma e o corpo".

Recuando ainda mais no tempo, nos deparamos com Platão a declarar:

"É esse o grande erro do nosso tempo... Os médicos mantêm separada a alma do corpo".

Com base nisso, percebe-se que ele julgava existir uma imprescindível unidade entre o espírito e a matéria, entre a psique e o corpo, e assim chegava a concordar intuitivamente com aquela que é uma das verdades fundamentais do esoterismo: a unidade da vida.

"É um dos postulados fundamentais do esoterismo o de que matéria e espírito são uma mesma coisa, não se distinguindo senão por suas respectivas manifestações e pelas percepções limitadas que são as do nosso mundo sensível." (Das Cartas dos Mahatmas).

Isso concorda perfeitamente com o continuum postulado por Einstein como base da física universal.

De fato, com suas geniais descobertas sobre a constituição da matéria, Einstein provocou uma reviravolta na concepção dual energia e matéria, reconduzindo tudo a uma única realidade, talvez inacessível ao entendimento intelectual, mas a partir da qual é possível estabelecer matematicamente propriedades e deduzir leis físicas experimentalmente verificáveis.

Todavia, o homem ainda está longe de poder reconhecer efetivamente esta unidade, pois a sua consciência se acha identificada com a forma exterior, que ele julga ser a única realidade, e entra em contato com o mundo objetivo somente através dos cinco sentidos, enquanto ele ainda não desenvolveu a sensibilidade no plano das energias sutis e invisíveis.

Por isso, tudo o que nos pode provar a existência de uma "relação" entre o que há para lá do mundo sensível e da matéria é útil para nos conduzir pouco a pouco à reconquista da unidade subjacente à aparente dualidade.

Algo que nos pode ajudar nesse sentido é o estudo das influências da psique sobre a somatização, estudo de que se ocupa a medicina psicossomática, uma das correntes da medicina atual que admite haver determinada influência das emoções e dos estados psíquicos sobre o organismo, capaz de produzir distúrbios, mal-estares e doenças reais.

Há alguns decênios, o corpo e as suas funções eram considerados pela medicina somente em termos fisioquímicos, sendo o ideal do médico tornar-se, como diz Alexander, famoso médico psicossomático americano, "um engenheiro do corpo humano".

Hoje, ao contrário, foi se delineando no campo da medicina uma cor- rente bem definida, que considera o homem uma unidade biopsíquica, um indivíduo, não somente um corpo, mas um conjunto de pensamentos, de emoções e tendências funcionando de maneira coordenada sob a orientação de um eu consciente.

Cada um desses aspectos do indivíduo influencia o outro, pois guardam todos entre si relações que, mesmo ainda não totalmente esclarecidas pela ciência, deixam no ar a sua presença.

Foi o advento da psicanálise que modificou as concepções materialistas da medicina, com a descoberta do inconsciente e o estudo dos bizarros fenômenos da sintomatologia neurótica, que produz distúrbios que podem ser considerados verdadeiros processos patológicos.

Sobretudo, o estudo da "conversão de sintomas" na histeria possibilitou a compreensão de como os conflitos psíquicos inconscientes, os traumas removidos, podem se "converter" em mal-estares e distúrbios somáticos, pois tendo sido impedida a sua descarga externa pela repressão inconsciente, eles são descarregados sobre o físico.

Pouco a pouco, após novas observações e estudos, o campo de investigação e descoberta foi se ampliando a ponto de, hoje, a medicina psicossomática admitir a presença de influências emotivas e psíquicas sobre a somatização, não somente nos indivíduos neuróticos como também nos normais que tenham, porém, problemas emotivos não resolvidos, preocupações que se furtam de enfrentar e reconhecer, ou então nos que são submetidos a um stress contínuo e torturante.

A palavra stress deriva da física e da engenharia, onde, como é sabido, ela tem um significado bastante preciso, qual seja "solicitação", tratando-se de uma força que, aplicada a um dado sistema, pode alterá-lo.

Em sentido patológico, tal palavra passou a designar qualquer problema ou situação que nos provoque um estado de ansiedade ou de tensão. Isso nos leva a pensar que, se conseguíssemos manter um estado interior de serenidade, de calma e confiança em todas as situações difíceis de nossa vida, em face de qualquer acontecimento, mesmo grave, de modo a poder enfrentá-lo com coragem, lucidez e sobretudo com perfeita tranqüilidade emocional, provavelmente poderíamos evitar a maior parte dos nossos mal-estares físicos.

Todavia, esta "tranqüilidade emocional" representa uma meta a ser alcançada depois de uma série de amadurecimentos e progressos; por enquanto, portanto, as palavras expressas acima representam somente uma indicação teórica.

Mesmo as doutrinas espirituais e esotéricas interpretam a maior parte das doenças físicas como conseqüência da falta de harmonia interior.

No livro de Alice A. Bailey, A Cura Esotérica, pode-se ler: 


"Todas as doenças são efeito de desarmonia entre forma e vida. O que une forma e vida... é a alma no homem e o Si humano.Quando é falho o alinhamento entre estes dois fatores, alma e forma, vida e expressão, sujeito e objeto, insinua-se a doença..." (p. 27).

A harmonia entre "vida e forma", entre alma e personalidade, pode ser alcançada somente quando se der o alinhamento e a integração de todos os aspectos do homem, ou melhor, podemos dizer que toda vida é uma passagem da desarmonia para a harmonia, da desordem para a ordem, da multiplicidade para a unidade.

Isso nos indica, em certo sentido, o programa a ser desenvolvido, o caminho a ser seguido para o nosso amadurecimento interior, meta esta que toda a humanidade, mesmo inconscientemente, tende a alcançar através de crises e sofrimentos, até que a consciência, desperta, não assuma o direcionamento das energias que compõem a nossa personalidade e não cumpra voluntária e conscientemente o trabalho de harmonização e de integração.

Em nível diverso, a psicologia profunda também persegue este objetivo e procura levar o homem para a completa auto-realização, orientando-o ao longo do caminho do conhecimento integra de si mesmo e da superação dos conflitos interiores.

A esta altura, torna-se necessário dizer que a origem da doença não é somente psicológica e subjetiva, mesmo que a maioria das doenças tenha sempre um componente psíquico.

Existem outras causas que as doutrinas esotéricas reportam ao Carma individual e também coletivo de toda a humanidade.

Tal assunto é extremamente amplo e, para dizer a verdade, ainda     um pouco obscuro e complexo, pois o aspecto esotérico das doenças e o seu estudo é algo ainda muito novo para o estágio atual de evolução da humanidade,tanto como a própria medicina psicossomática, que mesmo tendo muitos adeptos e seguidores entre os médicos, ainda é hostilizada e mesmo ignorada pela maioria.

Faz pouco que o pensamento dos homens começou a se orientar nessa direção, por isso somente uma minoria começa a se fazer sensível às energias sutis e ao mundo, das causas e significados, oculto sob as aparências fenomênicas.

Portanto, tudo o que se exprime a esse respeito será necessariamente parcial e incompleto, sendo apresentado sobretudo como um argumento sobre o qual refletir e meditar.

Nessa matéria, nada mais fácil do que recair na superstição e na atitude anticientífica, o que pode levar a um ocultismo e a um fenomenismo nocivos, que devem ser evitados a qualquer custo, pois estes, ao invés de nos guiar para a luz e para um progresso efetivo, nos levariam para trás, provocando a nossa regressão a estágios evolutivos há muito superados.

Hoje, as doutrinas esotéricas também devem ser difundidas como uma ciência, como um conjunto de conhecimentos baseados em pesquisas sérias e no estudo de aspectos e manifestações que, se não agora, certamente no futuro, poderão ser verificados e experimentados cientificamente.

Eis por que, juntamente com o estudo dos enunciados e explicações esotéricas e espirituais referentes às doenças do homem, é oportuno levar em consideração também tudo aquilo que foi observado pela medicina psicossomática e, além disso, procurar traçar um paralelo entre esta última e a medicina esotérica, destacando, na medida do possível, as analogias e os pontos de contato entre as duas.

O dever do estudioso do esoterismo, hoje, é o de estar no mundo e não o de abstrair-se dele, e de levar ao mundo o conhecimento e a luz que ele possui, tornando-se intérprete das verdades ocultas e traduzindo-as em termos compreensíveis e aceitáveis.

É útil, portanto, saber até que ponto chegaram as pesquisas e experimentações da medicina psicossomática e acompanhar os progressos — contínuos, embora lentos — da ciência em direção ao descobrimento da verdadeira natureza do homem.

Devemos, portanto, considerar, mesmo que rapidamente, os pontos de vista da medicina psicossomática.

A medicina psicossomática, conforme dissemos, reconhece o peso das influências emotivas e psíquicas sobre a saúde e divide os doentes em três categorias, conforme está escrito no tratado Medicina psicossomática de Weiss e English (ed. Astrolábio):

1º grupo:

Todos os que, não sendo loucos e tampouco neuróticos, apresentam uma doença que nenhuma alteração orgânica definida pode explicar.

A medicina psicossomática se interessa sobretudo por esse primeiro grupo. São os casos puramente "funcionais" da medicina prática.

2º grupo:

Todos os pacientes que apresentam distúrbios parcialmente provocados por fatores emotivos, mesmo que se verifiquem alterações orgânicas.

Este segundo grupo é mais importante do que o primeiro do ponto de vista do diagnóstico e da terapia, pois o fator psicogênico pode provocar, nesse caso, danos muito mais graves, devido à presença também de uma doença orgânica.

3º grupo:

Todos os distúrbios geralmente considerados de domínio essencialmente somático, mas que implicam também o sistema nervoso vegetativo, como, por exemplo, a hemicrania, a asma, a hipertensão essencial etc.

Com base nessa subdivisão esquemática, é possível deduzir que no pensamento dos médicos está se delineando também um outro problema muito importante, ou seja, o da eventual relação entre distúrbio psicológico e alteração anatômica.

Em geral, os médicos psicossomáticos distinguem as doenças como sendo orgânicas e funcionais.

As primeiras são as que apresentam alterações celulares e lesões anatômicas, as segundas são as que não apresentam alterações celulares nem lesões anatômicas e, portanto, devem ser consideradas "psicogênicas".

A concepção de doença que vem se transmitindo desde o século XIX poderia ser indicada da seguinte maneira:

Alteração celular - lesão anatômica - distúrbio funcional.

No século XX esta fórmula sofreu uma mudança e passou a ser expres- sa da seguinte maneira:

Distúrbio funcional - alteração celular - lesão anatômica.

Nada se sabe ainda, do ponto de vista científico, quanto ao que poderia preceder o distúrbio funcional, mas no futuro talvez se possa apontar um distúrbio psicológico como responsável por uma alteração funcional, através de uma determinada relação comprovável cientificamente.

A fórmula citada acima poderia, então, ser expressa da seguinte maneira:

Distúrbio psicológico - deficiência funcional - alteração celular - lesão anatômica.

A medicina psicossomática admite esta relação como uma hipótese bastante provável e, mesmo considerando a relação entre estado emocional e órgão físico ainda misteriosa, não afasta a possibilidade de que um fator psíquico venha, com o passar do tempo, a influir até mesmo sobre a matéria física e a produzir até mesmo uma lesão anatômica.

Isto é extremamente importante, pois nos traz de volta ao problema que mencionamos no início, ou seja, à misteriosa relação que une a psique ao corpo, o espírito à matéria.

Do ponto de vista esotérico, o homem é considerado uma unidade complexa, constituída de vários aspectos ou "veículos" subordinados a um centro de consciência de origem espiritual, o qual é chamado Si, Alma ou Eu Superior, sendo considerado o Verdadeiro Homem.

O corpo físico é o mais exterior destes veículos, sendo tido somente como um instrumento de expressão e de experiência do Si no plano material.

Portanto, não há uma "cisão" entre o espírito e a matéria, mas somente uma graduação de nível vibratório, pois todos os aspectos do Si, inclusive o veículo físico, emanaram do próprio Si para poderem se exprimir.


Portanto, o problema da relação entre vida e forma, se considerado do ponto de vista das doutrinas esotéricas, pode ser facilmente resolvido, porquanto se trata de um fenômeno semelhante ao da indução eletromagnética. De fato, é preciso imaginar os veículos do homem como "campos de energia" em contínuo movimento e em comunicação entre si.

Estes campos de energia (que poderiam corresponder à "psique" da psicologia) constituem a ponte entre o espírito e a matéria, entre o Pai e a Mãe, como são simbolicamente chamados estes dois aspectos do Uno.

"O Pai-Mãe fia um tecido, cuja extremidade superior está presa ao Espírito-Luz da Escuridão Una e a inferior a seu escuro fim, a Matéria. Este é o Tecido do Universo, tecido com as duas substâncias fundidas em uma." (Helena P. Blavatsky: Doutrina Secreta - Estâncias de Dzyan).

O homem, microcosmo que reflete o macrocosmo, revive em si mesmo esta verdade universal e nele o corpo físico pode ser considerado "o escuro fim do Tecido", e o Espírito "a Luz", enquanto a sua psique (isto é, os vários veículos) representam "o tecido do meio".

Portanto, para o esoterismo a relação entre Espírito e corpo não representa um mistério, sendo considerada, do ponto de vista energético, como sempre presente e atual.

A cisão existe do ponto de vista da consciência, pois o homem não tem consciência de si mesmo, já que se identificou com a extremidade mais densa e exterior do "tecido", com a parte mais superficial e mecânica de sua natureza, vivendo na inconsciência de sua origem e de sua realidade profunda.

Esta é a razão pela qual a ciência que pesquisa e indaga dos fenômenos baseando-se no seu aspecto objetivo e partindo, por assim dizer, do exterior, topa freqüentemente com obstáculos intransponíveis e aparentemente inexplicáveis.

De fato (citando Aurobindo), "parece evidente que analisando o físico e o sensível nunca chegaremos ao conhecimento do Si, de nós mesmos ou d'Aquele que chamamos Deus... Portanto, se existe um Si, uma Realidade não evidente para os nossos sentidos, é preciso procurá-la com outros meios que não os da ciência física". (De A síntese da Yoga, vol. II, p. 22.)

E que outros meios são esses?

Sobretudo o estudo da consciência do homem, que é uma realidade subjetiva, em face da qual até mesmo os cientistas se sentem perplexos. 

O conhecido biólogo C. H. Waddington escreve a este respeito:

"Nos deparamos, no que respeita à consciência de si, com um mistério fundamental que ocupa o centro de toda a nossa vida ..."

De fato, não há como classificar e estudar "cientificamente" a consciência, entendida como autoconsciência, fenômeno em si totalmente independente dos fatos físicos.

É justamente na análise dos fenômenos subjetivos da consciência e no desenvolvimento gradativo desta que o esoterismo e a ciência talvez possam se encontrar através da psicologia, que se pode considerar hoje como uma ciência verdadeiramente fundamental para a vida.

A medicina psico-espiritual procura investigar as causas das doenças do homem servindo-se não somente dos meios oferecidos pela psicologia como também dos meios oferecidos pelas doutrinas esotéricas e, considerando as doenças como alterações da relação existente entre psique e corpo, e espírito e matéria, pode ajudar a nos conhecermos melhor e a alcançarmos a harmonia e a auto-realização.

Fonte:
Medicina Psico-Espiritual
Angela Maria La Sala Bata
Tradução de Pier Luigi Cabra