sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Musicoterapia: A música ajuda no desenvolvimento cerebral


Estudo israelense mostra que, ao ouvir Mozart, prematuros ganharam peso mais rapidamente. A música ajuda no desenvolvimento cerebral e, também, no auxílio do tratamento de diversas patologias.

Uma boa dose de Mozart não faz bem só aos ouvidos, mas ajuda a normalizar o metabolismo de crianças prematuras. Depois de expor bebês nascidos antes do tempo previsto a músicas do compositor austríaco do século 18, pesquisadores da Universidade de Telavive, em Israel, notaram que eles engordaram e se tornaram mais fortes do que o esperado.

Durante a pesquisa, os nenéns ouviam meia hora de música por dia. Depois da sessão terapêutica, os médicos Dror Mandel e Ronit Lubetzky mediam o gasto energético das crianças e comparavam à média de energia consumida quando estavam deitadas. Eles descobriram que, ao ouvirem o “concerto”, os bebês gastavam menos energia do que em repouso e, com isso, precisavam de uma quantidade menor de calorias para crescer rapidamente. Segundo Mandel, professor da Universidade de Telavive, ainda não está claro como a música afetou os pequenos pacientes, mas ficou evidente que eles se acalmavam graças às composições.

Por que Mozart e não outros compositores, como Beethoven, Bach ou Vivaldi? Mandel explica que isso ainda é um mistério e precisa ser estudado melhor pela ciência. Mas ele tem um palpite: “As melodias de Mozart são repetitivas e podem afetar os centros organizacionais do córtex cerebral”, disse ao Jornal Correio Brasiliense. Essa área, embora pequena, abriga mais de 20 mil neurônios e é responsável pelas funções cerebrais complexas, como a percepção dos sentidos, a resolução de problemas e a detecção das qualidades básicas do som, como o tom e a intensidade.

Os pesquisadores, porém, logo começarão a explorar outros tipos de música para verificar se provocam efeitos similares em bebês prematuros. Como o rap, por exemplo, também tem uma frequência repetitiva e pulsante, médicos da equipe de Mandel e Lubetzky acreditam que o estilo pode evocar respostas semelhantes. Em breve, eles esperam estudar que tipo de música as mães dos prematuros ouviam quando estavam grávidas. Os especialistas pretendem expor outras crianças nascidas antes da hora às mesmas melodias para verificar se há algum efeito. Segundo Mandel, a segunda fase do estudo vai incluir peças de música étnica, pop, rap e clássicos, como Bach e Beethoven.

“Os médicos estão conscientes de que a mudança ambiental pode criar um novo paradigma no tratamento de bebês que precisam do cuidado neonatal. Nosso principal objetivo é melhorar a qualidade de vida dessas crianças”, afirma Mandel. Segundo ele, o foco da pesquisa desenvolvida na Universidade de Telavive é quantificar os efeitos da musicoterapia para, então, criar um protocolo médico baseado na técnica.

Estimulação

Embora não sofram de nenhuma patologia, os primos Felipe, 5 meses, e Catarina, 1 ano e 7 meses, são frequentadores assíduos das oficinas de musicoterapia do Centro de Desenvolvimento Passo a Passo, em Brasília. Uma vez por semana, eles participam das sessões, com o objetivo de estimular o desenvolvimento. O psicólogo e musicoterapeuta Bruno Cesar Fortes explica que, até os 5 anos, as sinapses neuronais estão em formação e, se houver incentivos externos nessa fase, a potencialidade para algumas funções cognitivas serão mais ativadas.

Mãe de Catarina, a advogada Ana Paula do Nascimento conta que, desde que estava grávida, discutia com o marido as atividades de que a menina iria participar na primeira infância. “Acho que a musicoterapia ajudou a Catarina a ser uma criança mais segura. Ela encara mudanças com muita traquilidade e se adapta superfácil”, conta. “Meu marido não acreditava muito, mas, depois que começou a ver a desenvoltura da Catarina, nem precisei convencê-lo”, diz a enfermeira Juliana do Nascimento Simão, mãe de Felipe.

Na terceira sessão de musicoterapia, o bebê já interagia com Bruno, vocalizando alguns sons e batendo as mãozinhas no tambor. De acordo com o psicólogo, porém, não adianta apenas estimular o desenvolvimento cognitivo das crianças, se não for feito um trabalho voltado à afetividade. “Temos de priorizar o emocional porque a pessoa não vive sem atenção, carinho, afeto e proteção. Isso é o mais importante”, diz. Nas aulas com os nenéns, 20 minutos são destinados aos acalantos, canções mais relaxantes, nas quais os nomes das crianças são citados para reafirmar a identidade delas. “Cantar para o bebê é a estimulação do amor”, diz.

Autismo

A musicoterapeuta Clarisse Prestes, que trabalha com crianças autistas, ensina que, para cada objetivo clínico, há um tipo de abordagem mais indicada. No caso dos pacientes que atende, por exemplo, sons repetitivos podem ser uma experiência negativa. “Nem sempre a música faz bem. O leigo pode ignorar algumas coisas e fazer mal a quem está ouvindo. O autista tem comportamentos fixos e repetitivos. Se é colocado um cd na frente dele, e ele ficar repetindo a mesma música, esse comportamento estará sendo reforçado”, afirma.

Há dois anos e meio, Clarisse atende crianças com o problema. Ela explica que o autismo é uma patologia cíclica — há picos de melhora e piora —, mas que com a musicoterapia tem apresentado bons resultados. “A música tem esse jeito de perguntar sem ser invasiva. Quando a criança tem autismo, a primeira coisa que os pais fazem é tentar que ela fale, então já levam para o fonoaudiólogo. Com a música, o autista consegue se soltar mais por meio da linguagem não verbal, porque sente que não há toda essa cobrança”, diz.

Com a psicóloga Carolina Leão, do Hospital Regional da Asa Sul, Clarisse pretende apresentar um projeto à Secretaria de Saúde do Distrito Federal para a expansão do atendimento público a diversos tipos de pacientes. Carolina, que atende crianças no hospital, participou de oficinas de musicoterapia para estimulação na Universidade de Brasília. Ela conta que havia crianças com lesões cerebrais, para as quais a atividade teve um efeito surpreendente. “Elas desenvolveram a linguagem muito mais, comparando-se às crianças que não participavam do programa. O desenvolvimento geral foi acima do esperado”, diz.

Na rede pública do DF, a musicoterapia ainda é recente e está presente em três unidades — em um centro de saúde para adolescentes de Santa Maria, na área de gestantes de alto risco do Hras e para pacientes terminais do Hospital de Apoio. A técnica foi incorporada ao Núcleo de Medicina Natural e Terapêuticas de Integração da secretaria em 2008, por intermédio da nutricionista e musicoterapeuta Soraya Terra Coury, coordenadora do serviço.

No fim de 2007, ela ajudou a implementar a pós-graduação na área, oferecida pela Escola Superior de Ciências da Saúde do GDF. Atualmente, há duas turmas formadas, sendo que oito profissionais que frequentaram o curso trabalham na rede pública. Segundo Soraya, a ideia é expandir o serviço, mas, como há poucos servidores especializados em Brasília, por enquanto, só será possível levar a musicoterapia à pediatria do Hospital de Base. “É possível que o Hospital Regional também aumente o serviço, estendendo às crianças”, diz.

Entusiasta da técnica, Soraya conta que as aplicações são diversas: vão da prevenção de doenças ao auxílio na reabilitação de paciente. Para idosos que sofrem de problemas neurológicos, como o mal de Alzheimer, é uma ótima opção, pois, segundo a especialista, o ritmo, a melodia e a harmonia ajudam a reaver as conexões neurais perdidas. “O ser humano tem uma ligação com o som desde a vida intrauterina. Por isso, a música tão um poder tão grande de mobilizar”, afirma.

Método simples e com baixo custo

Um outro estudo divulgado no ano passado nos Arquivos de doenças da infância, publicação científica de Londres, também mostrou a influência da música na recuperação de prematuros. Segundo os autores da pesquisa, as canções ajudaram os bebês a ganhar peso mais rápido, o que foi considerado por eles um método simples, barato e eficaz de tratamento nas UTIs neonatais.

Por Paloma Oliveto

Fonte:
Correio Brasiliense

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Sustentabilidade: começa dentro de voce


A sustentabilidade começa dentro de você: mais do que preservar o meio ambiente, é preciso reciclar as emoções!

Ouvimos cada vez mais falar sobre sustentabilidade. Mas você sabe o que esse termo significa?

É comum associarmos sustentabilidade às questões ambientais, porém, ela é bem mais abrangente do que isso. Está ligada à nossa sobrevivência e existência. Afinal, somente otimizando todos os aspectos da vida poderemos criar as condições necessárias para que nós e o planeta possamos viver em harmonia.

A base de toda e qualquer estrutura coletiva é formada, antes de tudo, por indivíduos. Muito se fala dessa sustentabilidade que se trata do coletivo, das políticas, das tecnologias e das tendências que vêm do coletivo para o indivíduo. A sustentabilidade costuma ser tratada de fora para dentro. Porém, se são os indivíduos que conduzem essas diretrizes e ações para o ambiente e para o coletivo, como seres insustentáveis poderão ser capazes de conduzir ações sustentáveis? A insustentabilidade do planeta é, antes de tudo, uma insustentabilidade de cada um dos seus quase 7 bilhões de indivíduos!

Sustentabilidade além do aspecto físico

Ao levar nossa visão para o indivíduo, vou abordar nós, seres humanos, de maneira mais profunda. Sempre considerando, além de nossos aspectos físicos, os aspectos mais sutis: emocional, mental e espiritual. Ainda que algumas possam tentar ser mais abrangentes e alcançar esses níveis mais sutis, as discussões sobre sustentabilidade, assim como seus resultados e ações decorrentes, ainda trabalham demasiadamente focadas apenas no nível físico. Isso porque como indivíduos, levamos nossa vida focada prioritariamente neste âmbito. 

Prestamos atenção à saúde de nosso corpo e de nossa vida material e financeira, mas não damos igual valor aos nossos aspectos sutis, à nossa saúde emocional, mental e espiritual. E quando buscamos trabalhá-los, tentamos lidar com eles da mesma maneira como lidamos com nossos aspectos físicos. No meu trabalho, canso de ouvir a pergunta: "o que eu tenho que fazer para me sentir melhor?". 

Não adianta determinarmos em nossa agenda que hoje estaremos alegres, amanhã tristes e depois de amanhã alegres de novo, cumprindo isso como mais uma tarefa do dia-a-dia. Trabalhar e "resolver" nossas questões emocionais, mentais e espirituais não é algo que possamos fazer somente de forma racional e prática. Nossos aspectos sutis não funcionam exatamente como nossos aspectos físicos. 

Mas como humanidade, ainda não percebemos essa diferença e não aprendemos a lidar com nosso próprio mundo das emoções, pensamentos e alma. Tentamos resolver tudo de forma racional e prática, e nos sentimos perdidos e frustrados quando nossas abordagens não funcionam.

Tendemos a levar em conta e a dar credibilidade somente àquilo que é racionalmente comprovado por números e estatísticas. A realidade deve ser demonstrada de maneira racional e física. 

Porém, se em nossa essência somos também seres emocionais, mentais e espirituais, como deixaremos isso de lado? 

Como poderemos trabalhar uma verdadeira sustentabilidade sem nos trabalhar de maneira verdadeiramente integrada?

Reproduzimos essa falta de integração em nossas vidas individuais, distorcendo as diretrizes que direcionam nossa maneira de viver e ser coletivamente. Nos preocupamos em separar e reciclar lixo, em economizar água, defender as florestas. De fato é importante cuidar do ambiente coletivo físico. Porém, isso é apenas uma das dimensões da sustentabilidade.

Será que limpamos e reciclamos nossas emoções e pensamentos, gerando uma atmosfera emocional e mental coletiva saudável? 

Será que otimizamos nossas energias em forma de atitudes, pensamentos e ações positivas na maneira como nos relacionamos com os outros e com o ambiente?

É preciso haver uma sustentabilidade individual antes de levá-la para o coletivo, pois só assim a sustentabilidade será sólida e verdadeira. De outra maneira, ela se torna parcial, até ilusória, e nos faz continuar a empurrar os verdadeiros problemas com a barriga. 

Pode parecer contraditório falar de algo individual quando tratamos de um conceito que se trata de um nível tão coletivo como a sustentabilidade planetária. Porém, a coletividade é antes de tudo um conjunto de indivíduos muito bem trabalhados, e que por terem seus limites e responsabilidades bem definidos são capazes de interagir de maneira equilibrada. 

Para chegar à tal sustentabilidade individual precisamos aprender a sermos egoístas de maneira positiva. Esse "egoísmo" ao qual me refiro aqui é positivo para a coletividade, e até essencial a ela, e não o egoísmo que desagrega o coletivo. 

É conquistado pelo exercício individual de observar a si mesmo e ao outro, sem julgamentos e pela desconstrução dos falsos bons comportamentos e atitudes.

Em nome do coletivo, tentamos atropelar aqueles que pensam diferente de nós, em clima de preconceito e julgamento, sem nem mesmo tentar uma real conciliação. Em nome do bem, fazemos boas ações pelo ambiente e pelos outros que na verdade não necessariamente beneficiam quem está lá fora, mas sim a sua própria carência e necessidade de ser reconhecido pelos outros. Em nome do que é justo, impomos nossa verdade ao outro sem nem ao menos tentar buscar compreender a verdade que ele traz dentro de si.

Sustentabilidade pode ser um caminho para a felicidade

Ao nos desfazermos das nossas falsas intenções e assumirmos para nós mesmos nossos verdadeiros e distorcidos impulsos, começamos o trabalho de "purificar" as energias que nos impulsionam, a poluição interna em nossas motivações e intenções. Não adianta acharmos que o mundo está errado e que nós estamos cobertos de razão, e por isso ficarmos bravos.

Podemos não concordar com alguém ou com o mundo, e nos sentirmos revoltados por alguns instantes, mas se não transformarmos essa raiva em amor - pelo outro, pela humanidade, pelo planeta, ou simplesmente Amor, um impulso genuíno de fazer o bem - todo o trabalho que fizermos na "boa intenção" de ajudar, fazer o certo e o bem, na realidade será movido pela má intenção (raiva, irritação, revolta, vingança, competição, julgamentos externados ou apenas pensados no silêncio de si, etc.) disfarçada de boa intenção. Isso significa alimentar o emocional, mental e espiritual coletivo de maneira negativa. E pior, exalar negatividade disfarçada de boas intenções, justiça, de algo "certo". 

Criamos uma energia de contradição e ilusão, afinal, nós mesmos acreditamos estar fazendo algo pelo bem, e que no nível físico até pode parecer ser o bem mesmo. Porém, nos níveis sutis alimenta somente a negatividade. Vamos criando uma polarização, um abismo entre o que aparenta ser e o que realmente é na essência. São nessas percepções e atitudes pequenas, mas de importância gigantesca, que podemos começar a trabalhar nossa sustentabilidade humana e contribuir para a sustentabilidade integrada do planeta.

O que isso tem a ver com a nossa vida? 

Como afeta o nosso dia-a-dia? 

Trabalhar a sustentabilidade dentro de nós significa, na prática, sermos pessoas mais bem resolvidas e felizes, e por isso capazes de interagir coletivamente de maneira harmoniosa. No final das contas, trabalhar a sustentabilidade integrada é trabalhar pela nossa própria felicidade antes de tudo.

Então, convido você a refletir e a trabalhar a sustentabilidade sob essa visão integrada, de dentro para fora, afinal, o mínimo que pode acontecer é você se tornar mais apto para a felicidade! Não soa nada mal, não é?

Por Ceci Akamatsu

Desenvolvimento e Sustentabilidade / Homero Santos

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quase...


"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. 

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. 

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. 

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. 

A resposta eu sei decorada, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. 

Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. 

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. 

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. 

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. 

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. 

Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. 

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. 

Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. 

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. 

Desconfie do destino e acredite em você. 

Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Sarah Westphal

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Religião do Futuro


A segunda palestra, A Religião do Futuro, examina o conteúdo da religião transformada, em seu registro secular. O tema central é a necessidade e o potencial para uma revolução na nossa crença religiosa. Dois obstáculos dificultam pensar sobre a religião. O primeiro deles é o tabu contra a crítica religiosa da religião. As origens deste tabu encontram-se na privatização da religião e no fim das guerras religiosas do início do período moderno. O segundo obstáculo a ser superado é a atitude sentimental em relação à religião. Na prática, a atitude sentimental em relação à religião é útil para uma democracia social institucionalmente conservadora. Ela serve para manter as aparências: trata-se de um aprimoramento metafísico dos mesmos preconceitos morais frequentemente apoiados pelo humanismo secular predominante.

The second lecture, The Religion of the Future, examines the content of the transformed religion, in its secular register. My central theme throughout is the need and the potential for a revolution in our religious beliefs. Two obstacles make it difficult to think about religion. The first obstacle is the taboo against the religious criticism of religion. The origins of this taboo lie in the privatization of religion and the overcoming of the religious wars of the early modern period. The second obstacle to overcome is the sentimental attitude to religion. In practice, the sentimental attitude to religion serves an institutionally conservative social democracy. It is window dressing: a metaphysical upgrade of the same moral prejudices habitually embraced by the prevailing secular humanism.


O argumento retomado

1. O meu tema na primeira palestra foi o motivo, a ocasião e o objetivo de uma revolução na consciência religiosa da humanidade. Meu tema nessa segunda leitura é o programa dessa revolução.

Eu descrevi as três principais orientações na historia religiosa da humanidade. A terceira — que eu chamei de batalha com o mundo — tem aparecido, não apenas no começo, mas repetidamente e mais frequentemente como uma forca revolucionária. Nos últimos séculos, ela tem ajudado a iniciar e influenciar ideologias seculares de emancipação, que afetaram grande parte da humanidade, e também a cultura romântica popular mundial, que ajudou a ensinar a todos os seres humanos que eles estão destinados a ter uma vida grandiosa apesar das circunstâncias que parecem dizer o contrário.

A nossa lealdade a essa visão pode ser validada somente dentro de um sentido estrito, no qual qualquer visão mais ampla do nosso lugar no planeta pode ser sustentada: pela incitação combinada de várias formas de experiência e de uma maneira que nunca inteiramente a livra de ser uma aposta e uma profecia que se auto-realiza. Além do mais, a sua ascendência deve ser qualificada. Em vários aspectos, o que eu chamei de humanização do mundo, em vez de batalhar com ele, tem uma presença mais forte nas ideias e atitudes consagradas nas interpretações praticas convencionais de varias religiões — incluindo o Cristianismo — que eu associo com a orientação batalha-com-o-mundo. Ela também dita o tom e direção da humanismo secular prevalente. O que falta a essas crenças humanizantes, no entanto, apesar da sua imensa influência, é o poder da iniciativa; elas não, e eu creio que elas não devem, determinar a agenda.

No cerne do programa revolucionário espiritual encontramos os dois temas relacionados que sempre foram vitais para a batalha contra o mundo: a substituição do amor pelo altruísmo como o principio organizador da vida moral e a concepção do indivíduo e humanidade como sendo moldado e ao mesmo tempo sendo capaz de transcender o contexto, ou como sendo, de acordo com a antiga linguagem teológica e metafísica, uma colocação, uma personificação, do infinito dentro do finito.

Essas ideias – amor e infinito — são conectadas de uma maneira que nos incitam a mudar o mundo. Nós o mudaríamos para tornar as nossas vidas e circunstâncias mais parecidas com a visão. Nós também o mudaríamos porque a própria batalha nos tornaria mais divinos. Ela aumentaria a nossa parcela de divindade. Ela vira o jogo contra a experiência de desdenho, precisamente o que esta revolução busca desafiar e superar.

2. Eu desenvolvo o argumento seguindo determinados passos. Eu descrevo as duas maneiras que podem ser usadas para levar a cabo a revolução espiritual. Uma – o caminho sagrado — continua a depender da narrativa da intervenção redentora divina na história. A outra – o caminho profano — não depende em nenhuma narrativa desse tipo e por isso leva ao limite a ideia de que tudo não esta tão bem afinal de contas.

A maior parte dessa palestra lida com o conteúdo deste caminho profano.

O caminho sagrado e o profano

1. A revolução pode proceder com ou sem um apelo à fé nas ações redentoras de Deus na história. A diferença entre fazer tal apelo e evitá-lo importa, por dois motivos.

Em primeiro lugar, importa por causa da autoridade. A narrativa de intervenção divina cria disputas em torno de uma autoridade moldada pelo papel de agentes humanos na interpretação e transmissão da obra salvadora de Deus. Nenhuma narrativa, nenhum privilégio. A oportunidade então se abre não apenas ao sacerdócio de todos os devotos, à maneira da reforma Protestante, mas também a uma afirmação do poder profético de todos os homens e mulheres, no espírito da democracia.

Em segundo lugar, importa por causa da substância. A história da intervenção divina nos diz que a habilidade de abrir e visualizar o caminho só está parcialmente em nossas mãos. A maior parte da salvação vem depois e está escondida no fim dos tempos e na fase que vem depois da vida humana. A rejeição dessa visão nos força a aceitar a noção de que só existe uma perspectiva de salvação — ou resposta – na medida em que nós somos capazes de providenciar uma. Não existe mais ninguém, só nós. Não existe ninguém lá em cima nos protegendo.

A pecha de Pelagianismo sempre irá pairar sobre aquele que propuser o caminho profano nos olhos daqueles que escolhem o caminho sagrado e não importa o quão insistente ele pode ser ao negar o nosso poder de criar um desfecho para historia através de uma reconciliação definitiva dos conflitos e contradições que nos afligem. De sua parte, o viajante do caminho secular, verá o devoto, com que ele compartilha a ambição transformativa, como uma vitima do principio de William James que diz que as pessoas acreditam em tudo que elas podem acreditar, e suspeitam que ele está envolvido numa fantasia de edificação e auto-decepção que ameaça abrandar e mudar o foco do impulso revolucionário.

2. Apesar das diferenças significativas que os separam, o caminho sagrado e caminho religioso para iniciar a revolução são mais semelhantes entre si do que a probabilidade de qualquer um deles se assemelhar ao humanismo secular predominante ou às formas fossilizadas de pratica e crença religiosa. A razão é ao mesmo tempo simples e fundamental: a consciência que a visão evocada na ruptura dos religiosos convencionais e os humanistas seculares, e sujeita a um impulso radicalizante dos aspirantes a revolucionários, continua incompatível com muito do que nós pensamos, de como nos vivemos e de quem nos somos.

Eu proponho uma visão do conteúdo da revolução do ponto de vista do caminho maneira profano. Eu também gostaria de acreditar, mas eu não posso. Eu espero que a atitude sentimental para com a religião, com a sua busca mentirosa por um centro de reabilitação entre a verdade e a inverdade das crenças religiosas, não vai ter muitos adeptos numa humanidade futura.

3. O que ganhamos ao chamar a forma profana da revolução de uma mudança na consciência religiosa da humanidade – dado que o conceito da religião não possui um núcleo estável?

Em primeiro lugar, o objetivo aqui consiste em enfatizar a proximidade com a tradição que eu descrevi como batalha com o mundo. A mensagem daquela tradição precisa ser radicalizada por uma superação de restrições – institucionais e intelectuais — que agora restringem o seu alcance e empobrecem o seu significado. No entanto, a radicalização representa uma melhora pois ela significa uma ruptura. O que gera a aceitação ou rejeição de uma narrativa de intervenção divina na história gera o assunto em disputa entre os revolucionários sagrados e os seculares.

Em segundo lugar, o objetivo é enfatizar o quanto o programa da revolução tem em comum com duas das características que nós associamos com a religião. Uma dessas características é o escoramento de uma orientação existencial numa visão do nosso lugar no planeta. A outra característica é o caráter fragmentário, complicado e limitado da justificação que a crença religiosa pode reivindicar. O programa profano que eu insisto em chamar de revolução religiosa oferece uma visão da direção na qual nós podemos mudar quem somos e como nós nos vemos, e ela conecta o seu programa espiritual e institucional com uma certa maneira de lidar com mortalidade e a contingência. Ela requer que nós adotemos uma posição antes de termos, de acordo com os padrões do discurso racional, uma base que a sustentar nossa posição.

Como seria o caminho sagrado para levar adiante a revolução religiosa?

1. Visto que, como um número crescente pessoas no mundo, eu não sou um crente, e visto que, ao contrário de muitas delas, eu não finjo que existe uma posição intermediária entre acreditar e não acreditar, eu proponho uma descrição do programa da revolução religiosa na sua forma secular. Eu começo, no entanto, sugerindo quais seriam algumas das características da voz sagrada da revolução religiosa. Com esse propósito foco, eu me valho da única religião que eu conheço intimamente, por assim dizer, por dentro: o Cristianismo. Eu falo como se fosse cristão, e, particularmente, católico, teólogo que não sou. O que me encoraja a fazê-lo é a confiança na afinidade entre as rotas sagradas e profanas que levam à revolução religiosa que eu comecei a descrever. Nesse exercício, eu me movimento, em fragmentos, das implicações políticas e morais para o núcleo da concepção e método teológico.

2. O ensinamento social da igreja teria como foco a rejeição das instituições políticas, econômicas e sociais atuais, por causa das razões enumeradas na última palestra e elaboradas nesta. Um ponto decisivo é a recusa para simplesmente atenuar as consequências da estrutura de classe.

Considere, à guisa de exemplo, a trajetória da doutrina social católica. Partindo do seu foco em direitos sociais no fim do século XIX, sem qualquer estrutura institucional de organização política e econômica capaz de cumprir essas promessas, ela prosseguiu para o comunitarianismo corporatista das encíclicas papais entreguerras. Após essa doutrina ser desacreditada, o ensinamento social da igreja católica voltou, no fim do século XX, para o caráter vacuidade institucional no qual se encontrava no fim do século XIX. O que é necessário hoje é um programa para democratizar a economia de mercado e aprofundar a democracia política através de inovações nas formas institucionais do mercado e da democracia. (Tal tentativa seria muito diferente da combinação de conservadorismo institucional ou agnosticismo e igualitarianismo redistribuitivo que marcaram as tendências dominantes na filosofia política anglo-americana nas ultimas décadas.)

A relação passiva de muito do ensinamento social cristão com as formas de organização social econômica é análoga à espiritualização crista do feudalismo europeu. Trata-se de uma acomodação que camufla as tensões manifestas entre a visão profética e a estrutura vigente.

3. Durante séculos, a agitação e reordenamento da doutrina cristã contra a moralidade convencional regrada da época, e também contra a história dessa moralidade das instituições sociais herdadas, encontrou inspiração numa redescoberta e reinterpretação da ênfase Paulina e Agostina na fé contra a razão, na graça contra a obra e no amor contra a lei. O resultado tem sido o surgimento de uma confusão no que tange um assunto vital à religião.

Instituições e regras, se insuladas contra contestações e mudanças, se tornam instrumentos de uma idolatria contrária ao espírito. Mas a religião cristã tem que ser tão contra um antinomianismo que trata toda repetição, regra e estrutura institucional como o toque de Midas que acaba com o espírito quanto o é contra a idolatria de instituições estabelecidas. A “via negativa” do antinomianismo institucional deságua num abandono do mundo, acima do mundo social, claramente em contradição com os principais ensinamentos da religião. (Essa é a heresia, uma doutrina de desespero, na qual o grupo Paulino-Agostiniano sempre corre o risco de cair. Nós vemos sinais dela em pensadores do século XX tão distintos quanto Karl Barth e Jean-Paul Sartre.) A simples oposição entre o espírito e estrutura (ou repetição, regra e instituição) tem que ser superada por uma mudança progressiva na relação entre a estrutura e o espírito, na vida do indivíduo e também na organização da sociedade.

O ponto, ao fim e ao cabo, é insistir na incorporação do espírito no mundo. Tal incorporação não pode ocorrer enquanto o espírito paira sobre o mundo cujas rotinas ele é incapaz de penetrar e transformar.

Uma das implicações práticas dessa visão é o peso teológico do experimentalismo, sobre a extensão de cada vida individual e também sobre a organização da sociedade. A abertura ao novo está relacionada à abertura a outras pessoas.

4. Ao colocar a autotransformação e a transformação da sociedade no contexto de uma narrativa das obras redentoras de Deus na história, nós afirmamos um princípio de esperança radical. As transações entre Deus e a humanidade podem ser compreendidas somente através de uma comparação com as transações entre pessoas. Contudo, elas dão a essas transações um grau de abertura, de possibilidade, de profundidade, de importância, que sem elas normalmente não teriam, ou a teriam de uma maneira muito mais limitada.

A esperança é a esperança de que o mundo, especialmente o mundo humano, pode ser penetrado e transformado, o que significa, na linguagem teológica, que ele pode ser redimido. O cristão vive para esse futuro, mas ele vive para ele como uma maneira de viver no momento, e ele vive para ele à luz de algo que já aconteceu.

5. O Deus de Abraão acima do Deus dos filósofos. O enigma escandaloso do Deus pessoal e a sua obra histórica acima do racionalismo reconfortante da divindade impessoal. O tempo nesse mundo real e único acima da eternidade de muitos mundos possíveis.

O cristianismo pode ser de fato finalmente liberado da influência da filosofia grega. Ele deve se livrar dela, no entanto, de uma forma que considere a mensagem da intervenção divina e da reconciliação como o aprofundamento e expansão de algo que nós já conhecemos, imperfeita e obscuramente, na nossa experiência humana secular de encontro e conexão e que é, portanto, capaz de elucidação parcial. A sua teologia não pode acabar numa celebração da obscuridade.

6. O que justifica denominar uma transformação de crenças com tais características de revolução é a sua combinação de mudança na visão espiritual, no método teológico, no programa institucional e na atitude existencial.

7. Tendo sugerido, na condição de descrente solidário, possíveis características da revolução na sua forma sagrada, eu agora passo a uma descrição do programa que, na sua forma profana, ela colocaria em marcha. O programa é composto por quatro partes. Chamá-las-ei de: a tomada do poder, a transformação, a autotransformação e a recompensa.

A tomada do poder

1. A primeira parte do programa consiste no despertar do estado semi-consciente no qual normalmente vivemos nossas vidas. Ela tem como objetivo nos arrancar das rotinas consoladoras da sociedade e da cultura. Ao encarar a morte de frente e o fato de que vivemos num mundo desprovido de bases sólidas — com a realidade da mortalidade e com o mistério do nosso lugar num mundo que nós somos incapazes de compreender por completo, que existe num espaço temporal cujo começo e fim nós não podemos alcançar — corremos o risco de recuar de uma maneira covarde e humilhante para uma vida que é empobrecida através do enfraquecimento da consciência. A vida, vivida no agora, é tudo que temos. Ao desperdiçá-la, tudo perdemos.

Praticamente todos os grandes pensadores da nossa tradição escreveram sobre essa característica básica da nossa experiência. Trata-se, por exemplo, do “divertissement” de Pascal ou do “Zerstreuung” de Heidegger.

2. E o que devemos fazer a respeito? Parte, mas apenas parte da resposta poderemos encontrar nas ideias e histórias que eles informam. O começo e o fim das ideias deve ser o reconhecimento da mortalidade e da falta de fundamentos, sem a anestesia das teologias e filosofias preocupadas apenas em nos fazer sentir bem.

Ideias sem conteúdo e não concretizadas não são, no entanto, o suficiente. Muitos soldados alemães educados carregavam o Ser e Tempo nas suas mochilas no front da Segunda Guerra Mundial. Suspeitamos que se não fosse o Ser e Tempo seria um exemplar de outra coisa, qualquer coisa capaz de descrever as experiências que nos colocam no limite do que nos podemos ver e resistir. Não foi o texto que fez isso. Foi à guerra.

3. As ideias precisam ser suplementadas pelas práticas: as práticas institucionalizadas da sociedade e as práticas discursivas da cultura. Tais práticas precisam servir como estandartes da nossa tomada de poder auto-infligida, para que possamos ser ao mesmo tempo os depositores e os depostos.

Elas devem ter um atributo distinto e compartilhado. Nós normalmente conseguimos distinguir entre nossas ações de preservação ou contestação ou revisão do contexto. Nós estamos acostumados a nos mover dentro de uma estrutura de arranjos e pressupostos que nós tomamos como dada. Excepcionalmente, desafiamos e revisamos a estrutura por meios que são inevitavelmente apenas incrementais, mas que podem se tornar, pelo seu movimento direcionado e reiterado, radicais no seu efeito transformativo.

A distância entre essas duas classes de atividades não é constante. Ela varia. A distância depende da organização da sociedade e da cultura e, certamente, da alta cultura de cada uma de suas disciplinas. Quanto maior a distancia, quanto mais a mudança dependerá da crise.

Para favorecer a tomada do poder, não como um evento único, mas como um processo contínuo, nós precisamos trabalhar no sentido de diminuir a distância. Nós devemos preferir que as práticas de revisão de contexto sejam causadas, mais pronta e continuamente, pelo exercício das práticas de preservação de contexto. Uma das consequências será o fato de que a mudança dependerá menos da crise para tornar o impulso revisionista mais inerente a nossa experiência. Nós seremos então mais livres e maiores: assim, essa derrubada ergue ao mesmo tempo em que nos arranca da condição atual.

Teríamos pouca perspectiva de desenvolver e disseminar tais práticas caso elas não servissem vários outras sortes de interesses morais e materiais e não apenas nosso interesse espiritual pela tomada de poder: nossos interesses no desenvolvimento de nossas capacidades práticas e no enfraquecimento de divisões e hierarquias sociais enraizadas. Aqui, então, encontra-se um ponto de contato entre os motivos da revolução religiosa inicial — a que deu a luz às três orientações religiosas dominantes históricas que eu descrevi — e a revolução que nós temos a obrigação de concretizar.

3. Como estou numa grande universidade, nem precisaria dizer que tal esforço é contrário às tendências racionalizadoras, humanizadoras e escapistas que comandam as ciências sociais e a área de humanas, já que os grandes relatos da ascensão da humanidade, sustentados pelas mais ambiciosas e esperançosas teorias sociais do passado deixaram de ser críveis. Essas tendências racionalizadoras, humanizadoras e escapistas parecem se antagonizar. Na verdade, elas funcionam de forma concertada para desarmar a imaginação transformativa. Na mesma veia, elas colocam a mistificação no lugar da compreensão.

A transformação

1. A segunda parte da revolução diz respeito à mudança nas instituições da sociedade. Existem três males que tem de ser confrontados: as divisões e hierarquias sociais que menosprezam e apequenam a vida — particularmente a sua estruturação em classes; a restrição da solidariedade à família e, para além da família, à conexão tênue do dinheiro; e o fato da mudança depender da crise. Desses, o terceiro é ao mesmo tempo o mais remoto das preocupações imediatas da vida social e o que possui a relação mais íntima com a religião do futuro.

Os males estão causalmente conectados pela sobreposição de suas condições causais. Cada um dos problemas tem uma relação íntima com um conjunto de inovações institucionais. Contudo, cada série de inovações afeta todos os problemas.

1. O mal da desigualdade enraizada e obstrutora de oportunidades está mais intimamente associado à necessidade de reconstruir o conteúdo institucional da economia de mercado. Nós não podermos construir uma economia de mercado mais inclusiva sem inovações nas instituições que a organizam. (Os americanos tentaram isso, no começo do século XIX ao organizarem uma forma de agricultura familiar combinado a um sistema descentralizado de bancos e crédito). Nós precisaríamos inovar a estrutura que governa a relação entre governos e firmas e a estrutura que molda as relações entre produtores. Regimes diferentes de propriedade privada e social teriam que coexistir em caráter experimental dentro da mesma economia de mercado. Para ampliar o acesso às formas mais avançadas e experimentais de produção e aprendizado que estão emergindo, em conjunto, no mundo seria uma das ambições principais deste programa institucional.

O potencial transformativo de tais reformas só seria realizado na medida em que fosse combinado com uma reformulação da educação. Tal reformulação reconciliaria a administração local das escolas com padrões nacionais de investimento e qualidade. E ela insistiria num método de ensino e aprendizado que fosse cooperativo e dialético (sempre procedendo via o contraste de pontos de vista opostos) e também analítico e focado em problemas.

2. O fracasso da solidariedade fora do círculo familiar não pode ser remediado apenas com transferências de dinheiro. Ela requer o desenvolvimento e aplicação do princípio que todo adulto capaz deve, durante certos períodos da sua vida ou por parte do seu tempo, sempre ser responsável por ajudar a cuidar de pessoas fora da sua família, de acordo com o seu talento e disposição. Dinheiro, sem tempo e engajamento, não é o suficiente para fornecer para cada indivíduo uma resposta para a questão mais importante: onde estão os outros?

Ao insistir na primazia dessa questão ficamos cara-a-cara com a fraqueza humana em todas suas formas e damos as costas à idolatria do poder que poderia corromper a religião do futuro.

Dessas considerações surge o argumento favorável para o serviço social voluntário e também obrigatório.

3. Todas as nossas instituições – as econômicas, sociais e políticas — em todas as sociedades, no mundo inteiro, estão organizadas de uma maneira que torna a transformação dependente do trauma, tradicionalmente na forma da ruína ou guerra. Não é necessário que seja assim, ao menos não numa medida imutável. Esta medida, por sua vez, depende da organização da sociedade. Entre nossas instituições, nossos arranjos políticos são especialmente importantes, especialmente numa democracia, pois eles ditam as regras que utilizamos para mudar todos os outros arranjos.

A consequência mais abrangente do fato da mudança ser dependente da crise é a criação de uma situação em que, a cada passo dado, somos obrigados a escolher entre o engajamento e a resistência, entre a aceitação dos outros e a manutenção do direito de ter a última palavra. Enquanto estivermos obrigados a tomar esse tipo de decisão, não poderemos atender ao chamado de estar no mundo sem ser do mundo.

Uma democracia altamente energética e vibrante é o projeto necessário para lidarmos com esse problema dadas as condições históricas atuais. Tal democracia seria definida por cinco grupos de inovações institucionais. Um grupo incrementaria o nível de engajamento cívico organizado. Ele aumentaria a temperatura da esfera política. O segundo grupo providenciaria meios para resolver impasses entre os poderes do governo, seguindo o princípio liberal da fragmentação de poder e ao mesmo tempo repudiando o compromisso conservador (consagrado, por exemplo, no esquema de Madison) de desacelerar a política sob o falso estandarte da liberdade. Haveria uma aceleração do compasso da política. O terceiro grupo exploraria com maior eficácia o potencial experimentalista do federalismo ao dar maior margem para que setores da sociedade, economia e unidades federativas testassem modelos que estivessem a contrapelo da direção convencional seguida pelas políticas públicas federais. O quarto grupo criaria um poder dentro do governo, projetado e equipado especificamente para resgatar grupos desprivilegiados de sua circunstância de exclusão e subjugação da qual eles não tem capacidade de escapar por meio dos mecanismos políticos e ações econômicas aos quais atualmente têm acesso. O quinto grupo teria como objetivo enriquecer as instituições de democracia representativa pela incorporação de mecanismos de democracia direta e participativa sem, entretanto, acarretar na diluição das salvaguardas da liberdade individual.

4. Pode parecer estranho evocar um programa institucional no delineamento de um programa de revolução religiosa. No entanto, não é tão estranho assim, pois se a orientação religiosa insiste na criação de um mundo social mais justo e que proporciona mais oportunidades para a pessoa que transcende o contexto: ou seja, usando outra linguagem, para o espírito incorporado e situado, o original radical, que todos nós sabemos que somos. Temos um programa institucional para não desistir do mundo.

O objetivo maior desse programa não é humanizar a sociedade, mas, sim, tornar a humanidade divina. Seu objetivo é elevar a vida ordinária — não apenas para uma elite de heróis, gênios e santos, mas para todos — para um nível mais alto de intensidade e capacidade.

A auto-transformação

1. O programa para a reconstrução da sociedade vem acompanhado por um projeto para a transformação do ser. Se o projeto social avança com passos fragmentados, cumulativos, o mesmo valerá também, por razões melhores, para o projeto pessoal. Afinal, é mais fácil mudar uma sociedade do que mudar um indivíduo. Esse projeto se volta a uma reinterpretação dos hábitos da mente e do coração mais valorizados na tradição da batalha com o mundo. Num contexto cristão, ele depende de uma reinterpretação do lugar das virtudes teológicas de fé, esperança e amor na nossa vida moral.

2. O que está em jogo nesse redirecionamento fica mais claro quando a contrastamos com a visão pagã, greco-romana das virtudes. Ainda estamos para superar a influência desse quadro antigo. Sim, as virtudes da conexão — coragem, imparcialidade e tolerância — têm um papel indispensável e encorajador. Sua tônica é o abandono progressivo da experiência primitiva de estar no centro do mundo; elas nos reconciliam, na prática, com a visão de que nem tudo gira em torno de nós.

Tais virtudes precisam ser casadas com as virtudes da purificação — a kenosis dos teólogos da patrística. Por meio de tais virtudes — compaixão, simplicidade e entusiasmo – afrouxamos os grilhões que nos atam ao mundo. Ao fazer isso, conseguimos enxergar melhor o mundo e as pessoas dentro dele. À medida que nossos poderes e confortos aumentam, também aumenta o valor desse desafogo para o gozo de nossa liberdade do mundo estando no mundo.

No entanto, a importância dessas duas famílias de virtudes é transfigurada por uma terceira família que é decisiva para determinar um caminho para a vida. Essas são as virtudes da divinização: nossa aceitação do novo e de outras pessoas. É ela que nos empurra para uma existência na qual nós podemos reconhecer que a transcendência é mais importante do que a circunstância e que o amor ao próximo é uma das estralas guia da vida moral.

Parte da função deles na nossa experiência consiste em compensar pelas consequências da divergência entre o tempo histórico e biográfico: para tornar possível que cada um seja capaz de entrever na sua própria vida, nesse instante, os objetivos da revolução religiosa que essas palestras descrevem, antes de conseguirmos, coletivamente, transformar a sociedade e a cultura.

3. Vista a partir de um ângulo diferente, o objetivo desse ideal de personalidade, dessa orientação existencial, é morrer apenas uma vez, dado que temos que morrer, em vez de morrer várias pequenas mortes. É, além disso, resistir e reverter o estreitamento do foco e da adaptação às circunstâncias que ameaçam nos dominar e nos matar, pouco a pouco, durante as nossas vidas. O objetivo maior dessa conversão é nos dar vida enquanto estamos vivos.

A recompensa

1. No fim, o que temos é a nossa vida, nesse momento.

As raízes do ser humano, de acordo com a religião do futuro, estão mais no futuro do que no passado. A profecia conta mais que a memória; a esperança, que a experiência; a surpresa mais que repetição. O tempo é mais importante do que a eternidade. Nós vivemos para o futuro, à luz do futuro.

No entanto, um paradoxo formativo da religião do futuro é que viver no futuro é uma maneira de viver no presente como um ser que é mais, e que é capaz de mais, do que a sua situação permite ou revela.

Ao assim reorientarmos nossas vidas, somos recompensados. Nossa recompensa não nos resgata da mortalidade ou da ausência de fundamentos. Ela não nos consola em relação à morte. Ela nem mesmo nos prepara para a morte, algo que Fédon queria que a filosofia fizesse. Ela não supera nem ameniza o caráter inconcebível e surreal da nossa existência. Tudo não vai acabar bem.

2. Qual seria então, dentro desses limites, a nossa recompensa?

Nossa recompensa é poder agir, obstinadamente e com todo o coração, no mundo sem sermos vencidos pelo mundo. O engajamento faz parte da liberdade: nós nos criamos ao engajar numa ordem social e cultural particular. A resistência faz parte da liberdade: nós nos criamos ao resistir tal ordem. Enquanto os requisitos do engajamento e da resistência se contradisserem, não estaremos livres. Ficaremos mais livres na medida em que tais requisitos forem reconciliados. Teremos uma chance maior de agir como os originais, os que transcendem o contexto, os que compartilham de atributos da divindade, estando nesse caminho de evolução das nossas crenças religiosas como a rota mais confiável para a auto-revelação e autoconstrução.

Nossa recompensa é ter chance maior de forjar uma conexão com outras pessoas — reconhecer e aceitá-las como seres transcendentes-de-contexto — isto é, transcendentes de classe, raça, gênero e papel — indivíduos que afirmamos ser sem abrir mão do que temos de distinto e oculto (separateness and hiddenness). É também, portanto, ver aumentado o círculo invisível do amor do qual todos nós fazemos parte mesmo quando não conseguimos amar aqueles que não estão no nosso círculo de conhecidos.

Nossa recompensa é a vida, fadada à morte, porém elevada a um nível de maior de intensidade enquanto estivermos vivos. É a chance de morrer apenas uma vez. É a pausa e a reversão do processo de mumificação – a carapaça da rotina e acordos – que se forma ao nosso redor à medida que envelhecemos. Possuir a vida, agora mesmo, de olhos abertos, neste instante momento, é o mais importante objetivo da nossa autotransformação, conquistada graças a uma derrubada, uma tomada de poder auto-imposta do ser. Para chegar a esse ponto, no entanto, precisamos rejeitar o ideal de serenidade pela invulnerabilidade, ideal este que dominou a filosofia moral dos antigos e que penetrou as ideias morais dos últimos séculos. Temos que substituí-la com uma visão que aceita a vulnerabilidade e a rejeição como uma condição para intensificar a batalha com o mundo.

Nossa recompensa é o mundo real e multifacetado, do qual nós, como uma cultura e sociedade organizada, não desistiríamos, mas que, como natureza e cosmos, possuiremos mais plenamente. Possuí-lo mais plenamente significa aliviar o peso dos esquemas categóricos através dos quais o vemos e interpretamos. Significa afirmar os nossos poderes de transcendência em relação aos nossos métodos e pressupostos e também em relação às nossas instituições e práticas. Significa acreditar que a humanidade poder participar mais ativamente na experiência da genialidade, que não consiste em pensar mais, mas em perceber mais.

Tais resultados serão as causas e as consequências da intensificação da experiência, da concentração da vida no instante, que é a única resposta à mortalidade e à contingência que, com a iluminação religião do futuro, temos o direito de acreditar.

Contra-correntes na religião do futuro

1. Primeiro, parece haver um conflito entre a recompensa e a tomada de poder. A confrontação infindável com o fato da morte e com o risco da ausência de sentido e da rejeição de qualquer historia, sagrada ou secular, que eliminaria os seus terrores, parece fazer pairar uma sombra sobre a recompensa.

E de fato esta sombra existe. O conflito está no mundo, não no argumento. A tomada de poder é o requisito da transformação e da autotransformação. Juntos, estes formam o portal para a recompensa. A sombra e o portal são inseparáveis na constituição da nossa experiência.

Se, como resultado da tomada de poder, da transformação e da autotransformação, viermos a ter mais vida no momento do agora, poderemos correr risco maior de sermos dominados e paralisados pelo sentimento da vida do que antes, pelo medo da morte e pela vertigem causada pela ausência de fundamentos.

2. Portanto, aparentemente temos um conflito entre a recompensa, de um lado, e a transformação e autotransformação, do outro. A autotransformação nos coloca num caminho de busca eterna. A transformação consiste de instituições e práticas que nos conduzem a tal busca em vez de, como as instituições e práticas historicamente tem feito, para longe delas.

Estaríamos assim a ponto de sermos acorrentados, de tal maneira similar à situação da qual os filósofos da superação do mundo queriam nos libertar, ao círculo do desejo, ao carrossel da nostalgia, saturação, tédio, inquietação e luta interminável e, na esfera da percepção do mundo real, à oscilação entre ver e fitar fixamente?

De fato, estamos. Ou pelo menos estamos, salvo na medida em que o incremento da nossa experiência de vida e da nossa percepção dos outros e do mundo muda a maneira como vivenciamos a dialética inscrita na nossa constituição. Tal incremento pode mudar essa dialética, de forma assaz simples, transformando estes circuitos em rotas ascendentes no que diz respeito ao único bem que realmente possuímos, a vida vivida agora, porém enxergada à luz ao futuro.

Revolução religiosa

1. Tocqueville chegou a afirmar que toda grande revolução nos afazeres humanos é ao mesmo tempo uma revolução política e religiosa. Creio que com isso ele quis dizer que cada revolução representa uma reformulação de instituições e uma expansão da consciência.

Vivemos numa era de desilusão. Se não ficarmos desiludidos com a desilusão, profetas políticos e religiosos surgirão mesmo assim. Eles empreenderão, cedo ou tarde, a tarefa que não conseguimos realizar.

Eu já sugeri o que eu acredito ser não a doutrina, mas a direção da revolução que nós precisamos. Eu a descrevi do ponto de vista da religião e, em outros momentos, do ponto de vista da política. Eu sei, no entanto, que essa distinção só faz sentido se vista de uma perspectiva alheia aos objetivos e métodos de tal revolução.

As expressões que a insurreição pode assumir, no seu lado mais religioso, provavelmente possuem em comum com as revoluções religiosas antigas apenas a combinação de ação exemplar e ensinamento visionário. Todo o resto será inevitavelmente diferente, tão diferente que pode, no início, ser irreconhecível como a revolução que é.

O simples ensinamento central dos revolucionários deve ser e será, todavia, um que nós já podemos ouvir e seguir.

Em breve morreremos e deterioraremos e seremos esquecidos, embora tenhamos o sentimento de que não deveríamos. Morreremos sem compreender o que esse mundo estranho, e o breve tempo que passamos nele, realmente significa.

Nossa religião deve começar com o reconhecimento desses fatos aterrorizantes e não com a sua negação, como a religião tradicionalmente tem feito. Ela deve nos motivar a mudar a sociedade, cultura e nós mesmos para que nos tornemos — todos nós, não apenas alguns felizardos — maiores assim como mais iguais e incorporar uma parte maior das qualidades que atribuímos a Deus. Ela também deve, portanto, nos tornar mais dispostos a nos desproteger pelo bem da compaixão e do amor. Ela deve nos convencer a trocar a serenidade pela busca.

Assim sendo, enquanto vivermos teremos uma vida maior, nos afastando dos ídolos, porém nos aproximando um do outro. Seremos eternos, temporariamente.

Por Roberto Mangabeira Unger

Tradução de Thiago Nasser

Fonte:
http://revistaestudospoliticos.com/
a-religiao-do-futuro-por-roberto-mangabeira-unger/

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

O sábio e a borboleta azul


Havia um pai que morava com suas duas jovens filhas, meninas muito curiosas e inteligentes.

Suas filhas sempre lhe faziam muitas perguntas.

Algumas ele sabia responder, outras não fazia a mínima idéia da resposta.

Como pretendia oferecer a melhor educação para suas filhas, as enviou para passar as férias com um velho sábio que morava no alto de uma colina.

Este, por sua vez, respondia todas as perguntas sem hesitar.

Já muito impacientes com essa situação, pois constataram que o tal velho era realmente sábio, resolveram inventar uma pergunta que o sábio não saberia responder.

Passaram-se alguns dias e uma das meninas apareceu com uma linda borboleta azul e exclamou para a sua irmã:

-Desta vez o sábio não vai saber a resposta!

-O que vai fazer? - perguntou a outra menina.

-Tenho uma borboleta azul em minhas mãos. Vou perguntar para o sábio se a borboleta está viva ou morta.

Se ele disser que ela está morta, vou abrir minhas mãos e deixá-la voar para o céu. Se ele disser que ela está viva, vou apertá-la rapidamente, esmagá-la e assim matá-la. Como conseqüência, qualquer resposta que o velho nos der vai estar errada.

As duas meninas foram, então, ao encontro do sábio, que encontrava-se meditando sob um eucalipto na montanha.

A menina aproximou-se e perguntou:

-Tenho aqui uma borboleta azul. Diga-me sábio, ela está viva ou morta?

Calmamente o sábio sorriu e respondeu:

-Depende de você...ela está em suas mãos.


Autor Desconhecido

...olhar com novos olhos...


"A verdadeira viagem de descoberta 
não consiste em procurar novas paisagens, 
e sim em olhar com novos olhos."

Marcel Proust

sábado, 25 de agosto de 2012

Meditação do Coração Por Karunesh


Esta é uma meditação de origem Sufi, cujo principal objetivo é o centramento interior. Ninguém pode existir sem um centro. Mas este centro não tem que ser criado, somente redescoberto.

Nosso centro é a nossa essência, nossa natureza, que nos foi doada por Deus. Aliás, essa essência, segundo o Sufismo, é parte de Deus.

A personalidade é a circunferência, aquilo que é cultivado pela sociedade, que não é dada por Deus. É dada pela educação social, não pela natureza. Estar na periferia desta roda da fortuna não nos dá condições de atuar na direção do movimento.

Encontrar o centro significa entrar em contato com o eixo, a possibilidade real de dar direção, além da serenidade e a paz que lá se encontram. E, neste espaço, o relaxamento e a lucidez acontecem de forma natural. Surge então um caminhar com foco, um futuro consciente, uma possibilidade chegada vitoriosa – a superação da dispersão, da confusão gerada pela distância do centro, da nossa essência.

A filosofia Sufi, de origem greco-persa, mas muito difundida na Índia, acredita que somos todos partes do Divino e que encarnamos para trabalhar a nossa evolução e consciência cósmica para reconexão com ele.

Na Meditação do Coração, o foco está em concentrarmos todo o trabalho de respiração, centramento, relaxamento, flexibilidade, reorganização celular e alinhamento dos chacras, a partir da força do coração e amor incondicional.

Trata-se de uma técnica de meditação ativa, realizada com estímulos sonoros através de uma musicalidade que tem uma sintonia absoluta com os ritmos do coração puro.

Nesta meditação não tem como o praticante perder o ritmo ou a concentração, pois os estímulos musicais têm como principal objetivo ancorar o estado de alerta.

Sua musicalidade é a original de muitos séculos atrás, época de sua criação, e contém todo um portal de atração divina (magnetismo – sintonia) para a energia do amor incondicional.

1º a 4º ESTÁGIOS – Trabalhando as 4 direções - cerca de 30 minutos

Aqui serão trabalhados vários objetivos terapêuticos como:

- A desintoxicação e alcalinização do sangue através do foco na expiração 

Cada movimento das direções será acompanhado por uma expiração (eliminação do gás carbônico) ruidosa feita pela boca. A intensidade e amplitude da inspiração (oxigenação = vitalização do cérebro e células) será automática e uma consequência natural desta intensa expiração.

- Respiração e oxigenação 

Essa desintoxicação energética e sangüínea irá provocar um estado alterado de consciência, que é a frequência cerebral de 8-12 ciclos/seg., conhecido como estado Alfa. Nessas condições, já adentramos ao estado meditativo, quando a lucidez, a serenidade, o bem-estar e o "estado de alerta" começam a serem percebidos.

- Chacra da ação e do trabalho 

Localizado nos ombros, cada movimento das direções será realizado com ação e uso do braço e ombro correspondente, esticando-o para a frente, na altura do coração, apontando a direção correspondente a cada estágio.

- Sentido de Norte = Foco  

Apesar de nos movimentarmos nas 4 direções, jamais deveremos perder o ponto onde está localizado o nosso objetivo ou foco, que é a reconexão com o nosso centro e o Divino. O termômetro desta conexão é a paz interna.

- Concentração  

Ao seguirmos as sequências direcionais propostas dos movimentos, é fundamental que estejamos presentes e alertas. Caso não estejamos, logo se perceberá pela perda de ritmo, principalmente quando fazemos esta meditação em grupo.

- Centrar todas as nossas energias no coração  

Todo movimento ou respiração, só deverá ser realizado após trazermos toda a energia que nos cerca e que está dentro de nós (nos chacras mais básicos) para o coração. É algo como filtrar tudo pelo coração e na saída do filtro só encontrarmos o amor incondicional.

- Flexibilidade 

Todos os movimentos corporais devem acompanhar esta conexão com o coração e o amor condicional. Assim, ao longo dos estágios, haverá um aumento gradual na beleza dos movimentos corporais, os quais estarão integrados com a leveza e flexibilidade da entrega.

Todos estes aspectos fazem com que esta técnica meditativa seja muito adequada ao ocidente, pois sendo dinâmica e ativa, em seus 4 primeiros estágios provoca uma intensa mobilização de energia, portanto uma limpeza e desintoxicação dos estímulos ao estresse, da inquietude e da hiperatividade física e mental.

Assim, quando o praticante chega ao quinto estágio, torna-se possível a sua entrada na verdadeira prática meditativa, quando o corpo e a mente, respondem muito melhor à imobilidade física, ao relaxamento do corpo e da mente.

1º Estágio - 6,5 minutos - Norte/Norte: De pé, confortável. Pernas levemente flexionadas, porém juntas. As duas mãos juntas em concha, palmas voltadas para cima, na altura do chacra raiz. Elevar as mãos juntas até o coração, trazendo a energia dos 3 chacras básicos para limpar, trazer tudo o que for mais denso para filtrar no coração. Na sequência, levar a perna esquerda flexionada e o braço esquerdo esticado para a frente (sentido norte = foco), mantendo o braço esquerdo esticado na altura do coração (enquanto o braço direito fica fletido com a mão sobre o coração). Ao mesmo tempo expirar pela boca emitindo um som forte e alto tipo "Chi".

Voltar as mãos à posição original (as duas mãos juntas em concha, palmas voltadas para cima, na altura do chacra raiz) e repetir os mesmos movimentos, agora com a perna e o braço direito.

Não esqueça de: 

a) manter o corpo flexível e relaxado, 
b) criar um ponto de foco na parede (um quadro, um objeto, uma mancha, enfim, algo que represente o seu objetivo mais profundo) que será considerado como o seu norte e para o qual você sempre deverá estar olhando (enxergando), e 
c) que as palmas das mãos (sempre na forma de concha = captação) serão antenas que irão sintonizar as energias do universo, que serão recebidas e transmutadas no coração.

2º Estágio - 6,5 minutos - Oeste/Leste: Nesse estágio, toda a seqüência de movimentos e respiração será repetida, porém a direção Norte/Norte será substituída pelo Oeste/Leste. Assim, a perna e o braço esquerdo serão movimentados para a lateral esquerda do corpo e depois para a lateral direita do corpo.

Não esqueça de: apesar de estar realizando movimentos nas direções oeste/leste, sempre seus olhos deverão passar pelo seu ponto norte no momento em que muda de direção. Ele é o seu foco, seu ponto de centramento. Ou seja, não importa o que façamos (levar filhos na escola, pagar contas, etc., o foco não pode se perder ou estar ausente).

3º Estágio - 6,5 minutos - Sul/Sul: Nesse estágio, toda a sequência de movimentos e respiração será repetida, porém a direção Oeste/Leste será substituída pelo Sul/Sul. Assim, a perna e o braço esquerdo serão movimentados para a traseira do corpo, fazendo um ângulo de 180º. O mesmo deverá ser feito com a perna e braço direito.

Não esqueça de: apesar de estar realizando movimentos nas direções sul/sul, sempre seus olhos deverão passar pelo seu ponto norte. Ele é o seu foco, seu ponto de centramento.

4º Estágio - 8 minutos - Norte/Norte, Oeste/Leste, Sul/Sul: Nesse estágio, toda a sequência de movimentos e respiração será repetida, porém usando todas as direções: Norte/Norte, Oeste/Leste e Sul/Sul.

Não esqueça de: apesar de estar realizando movimentos em todas as direções (norte/norte, oeste/leste e sul/sul), sempre seus olhos deverão passar pelo seu ponto norte. Ele é o seu foco, seu ponto de centramento.

5º Estágio - 6 minutos - Templo Interno: Nesse estágio, sentado em posição fetal, permitir que toda a energia de amor incondicional captada e concentrada no coração seja irradiada por todo o seu Ser. O propósito é ficar dentro de um ovo de pura energia divina, onde o seu chacra do coração é o núcleo desta célula. A música que toca nesse estágio é muito linda, uma verdadeira irradiação de amor cósmico.

6º Estágio - 15 minutos - Sinos Tibetanos: Nesse estágio, ao som de poderosos sinos tibetanos, acontece o momento da real meditação. Procurando estar atento aos sons, permitir que sua vibração sonora construa uma nova harmonia celular. É um momento de muita cura e inspiração.

O cd que acompanha a prática da meditação do coração tem 6 faixas, correspondentes aos 6 estágios desta técnica meditativa e tem duração total de 48 minutos. 

Por Conceição Trucon
Fonte: Stum