domingo, 26 de junho de 2016

O Tapetinho Vermelho







"Uma pobre mulher morava em humilde casa com sua neta, que estava muito doente.

Como não tinha dinheiro para levá-la a um médico e, vendo que, apesar de seus muitos cuidados, a menina piorava a cada dia, com muita dor no coração, resolveu deixá-la sozinha e ir à pé até a cidade mais próxima, em busca de ajuda.

No único hospital da região, foi-lhe dito que os médicos não poderiam se deslocar até sua casa; ela teria que trazer a menina para ser examinada.

Desesperada, por saber que sua neta não conseguiria sequer levantar-se da cama, ao passar em frente a uma igreja resolveu entrar.

Algumas senhoras estavam ajoelhadas fazendo suas orações. 

E ela também se ajoelhou.

Ouviu as orações daquelas mulheres e quando teve oportunidade, também levantou sua voz e disse:

“Olá, Deus, sou eu, a Maria.

Olha, a minha neta está muito doente.

Eu gostaria que o Senhor fosse lá curá-la.

Deus, o meu endereço é...

As demais senhoras estranharam o jeito daquela oração, mas continuaram ouvindo.

“É muito fácil, é só o Senhor seguir o caminho das pedras e, quando passar o rio com a ponte, o Senhor entra na segunda estradinha de barro. Passa a vendinha. A minha casa é o último barraquinho daquela ruazinha.”

As senhoras que tudo acompanhavam esforçavam-se para não rir.

Ela continuou:

“Olha Deus, a porta tá trancada, mas a chave fica embaixo do tapetinho vermelho na entrada.

Por favor, Senhor, cure a minha netinha.

Muito obrigada, Deus.”

E quando todas achavam que já tinha acabado, ela complementou:

“Ah! Senhor, por favor, não se esqueça de colocar a chave de novo embaixo do tapetinho vermelho, senão eu não consigo entrar em casa.

Gratidão, Senhor, Deus.”

Depois que Dona Maria foi embora, as demais senhoras soltaram o riso e ficaram comentando como é triste descobrir que as pessoas não sabem nem orar.

Dona Maria voltou para casa.

E ao chegar em casa, assim que entrou, não pode se conter de tanta alegria, ao ver a menina sentada no chão, brincando com suas bonecas.

“Menina, você já está de pé?”

E a menina, olhando carinhosamente para a avó, disse:

“Um médico esteve aqui, vovó.

Deu-me um beijo na testa e disse que eu ia ficar boa.

E eu fiquei boa. Ele era tão bonito, vovó.

Sua roupa era tão branquinha que parecia até que brilhava.

Ah! ele mandou lhe dizer que foi fácil achar a nossa casa e que ele ia deixar a chave debaixo do tapetinho vermelho, do jeitinho que a senhora pediu."

Desconheço a autoria.




Reflexão:

"Deus não quer palavras bonitas, Ele quer palavras sinceras."

"Deus sabe o que lhes é necessário, antes de vós pedirdes."

domingo, 12 de junho de 2016

A Borboleta







A Borboleta

"Tal qual uma borboleta
assim também somos nós.
Um dia somos lagartas
a se arrastar pelo mundo.
Noutro somos casulos,
para deste mundo esconder,
se proteger.
E com a mudança somos transformados
em belos e multicoloridos seres alados
que buscamos com nossa beleza encantar
o lugar onde vivemos.
Mas como as borboletas,
a vida também é breve.
E com uma rajada de vento...
a vida se esvai...
E o que sobra?
Nossa essência,
que esquecemos de semear..."


Poema de Eliane Cristina Ribeiro


quarta-feira, 1 de junho de 2016

Poema O menino que carregava água na peneira de Manoel de Barros






O menino que carregava água na peneira



Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

Manoel de Barros