Foi por esse trabalho (e não pela relatividade) que Einstein ganhou seu Nobel. De acordo com ele a luz se comporta ora como onda, ora como partícula. Mas o que define quando a luz age como uma ou outra? Essa é a grande maluquice. É o experimento a forma como tentamos detectar a luz que induz essa transformação.
Um dos fenômenos que indica que a luz é onda é a chamada interferência o fato de que ondas luminosas, quando passam a certas distâncias, podem interferir umas com as outras. A melhor forma de observar isso é ver uma parede com duas fendas estreitas, uma ao lado da outra, por onde a luz deve passar e ser projetada num anteparo atrás da parede. Quando as duas fendas estão abertas, o padrão de luz e sombra que se vê no anteparo é uma série de listras o esperado, caso as ondas luminosas estivessem interferindo umas com as outras. Ao se fechar uma das duas fendas, o padrão listrado some e sobra apenas uma faixa intensa de luz (ou seja, a interferência some).
A doideira é quando os cientistas enviam um fóton por vez na direção da parede. Com as duas fendas abertas, eles atingem o anteparo, um após o outro, numa distribuição compatível com o padrão de listras. Mas, se cada fóton está viajando sozinho na direção da parede, ele só tem duas opções: passar por uma fenda ou pela outra. Ao escolher uma delas, como ele pode causar interferência com ele mesmo? Pois é, acontece. Parece que o fóton, mesmo sendo um só, passa pelas duas fendas ao mesmo tempo.
E tem mais: não dá para prever exatamente aonde um dado fóton vai atingir o anteparo. O padrão ondulatório descreve a probabilidade que uma partícula tem de ir, mas não determina aonde cada fóton vai. É o chamado princípio da incerteza, da mecânica quântica, em ação. A Teoria Quântica pode calcular a probabilidade do destino dessas partículas. Mas é incapaz de dar um significado claro a esses fenômenos.
Será que o mundo quântico é mesmo probabilístico? Einstein, que acreditava que Deus não joga dados, jamais aceitou essa tese. Em 1954, ele descreveu sua frustração em uma carta: Todos esses 50 anos de reflexão conscienciosa não me deixaram mais perto da resposta à pergunta: O que são os quanta de luz? .
Hoje, parte dos físicos acredita que o mundo das partículas é probabilístico e outros, como o vencedor do Nobel de Física de 1999, Gerardus t Hooft, imaginam que há uma verdade além do mundo quântico. Acredito que as leis da natureza não sejam mecânico-quânticas, mas muito mais determinísticas e explicáveis pela matemática, diz t Hooft. É a mesma suspeita que Einstein teve e para a qual, até agora, ninguém chegou a uma resposta satisfatória.
Por Salvador Nogueira