sexta-feira, 30 de agosto de 2013
Era uma vez...
ERA UMA VEZ...
Longe, muito longe daqui, um pequeno e belíssimo reino de magníficas florestas e altíssimas montanhas quase sempre nevadas. Nele morava um sábio rei que amava muito seus súditos, tanto que resolveu trocar o Indicador Econômico PIB (Produto Interno Bruto) por outro, o FIB (Felicidade Interna Bruta) para orientar seu reinado..
Parece um conto de fadas, reis e princesas, porém é verdade, concebido pelo Rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck HM na década de 70, foi adotado oficialmente em 2008 pelo Governo Real do Butão com a coroação de seu filho Sua Majestade Jigme Khesar Namgyel Wangchuck.
A seguir um trecho do discurso de abertura da 4ª Conf. Internacional sobre o FIB, feito pelo Primeiro Ministro do Butão:
...”Na medida em que a realidade do nosso insustentável e incompleto modo de vida se torna ominosamente, e de fato, devastadoramente clara no nosso problemático mundo, acredito que o FIB, visto como um paradigma alternativo de desenvolvimento, se tornou mais relevante que nunca..... Como que se pode criar uma sociedade iluminada na qual cidadãos sabem que a felicidade individual é fruto da felicidade e ação coletivas -- que a duradoura felicidade está condicionada pela felicidade dos indivíduos a sua volta – e que se esforçar pela felicidade dos outros é o caminho mais seguro para se desfrutar de experiências gratificantes que trazem a verdadeira e duradoura felicidade?
Como poderemos persuadir as pessoas para que adotem um novo paradigma ético que rejeite o consumismo? Como poderemos convencê-las de que o paradigma do crescimento ilimitado num mundo finito não é apenas insustentável e injusto com as futuras gerações, mas também espreme para fora as nossas buscas sociais, culturais, estéticas e espirituais?
Até mesmo a justificativa para o crescimento econômico visando mitigar a pobreza soa demasiado dúbia, a menos que radicalmente melhoremos a distribuição de renda. Vergonhosamente pouco da mitigação da pobreza vem da enorme riqueza gerada na economia global agregada.
O mesmo se aplica ao argumento de que precisamos crescer de modo que haja dinheiro para consertar os problemas ambientais. Acreditar nisso é matar o paciente para curar a doença. Evidências de que precisamos crescer economicamente para sermos coletivamente mais felizes são até mais escassas nos países ricos. Bem, então como se pode advogar um novo conceito de produtividade, riqueza, prosperidade e plenitude, que têm pouco a ver com possessões materiais e com a marginalização dos frágeis, e mais a ver com o bem estar social, psicológico e emocional?
Será que é suficiente sabermos como medir a felicidade, e esperar que isso irá influenciar a formulação de políticas públicas? Será suficiente formular políticas públicas baseadas no FIB? E o que dizer da vontade e capacidade políticas, considerando o fato que esses aspectos, numa democracia, são respostas condicionadas por demandas e aspirações populares? Logo, se as pessoas não forem capazes de compreender e favorecer as políticas públicas baseadas em FIB, será que os políticos ousarão? E se eles ousarem. Será que serão bem sucedidos? Como podemos começar esse processo? Como podemos internalizar, além do questionamento intelectual e das declarações, os valores dos quais falamos? Como que nós, enquanto acadêmicos, pensadores, cientistas, líderes e responsáveis cidadãos, podemos mudar nosso modo de vida e comportamento? Estou chegando agora ao final do meu humilde discurso. A sabedoria tradicional nos diz que novas idéias e novos pensamentos emergem do caos e da devastação. Se o FIB precisa ser essa nova ordem, então a antiga ordem parece estar sucumbindo, conforme se manifestam as múltiplas crises que estão testando a relevância e a sustentabilidade da ordem prevalecente. As crises financeira, energética e alimentícia, bem como as calamidades naturais com magnitudes e freqüências jamais vistas, creio eu, soam os sinais de alarme que devemos nos afastar do modo de vida que temos até agora adotado.
Grato pela paciência.
Tashi Delek! – Que prevaleça o melhor do melhor.’’
O que é o FIB - FELICIDADE INTERNA BRUTA
Constituído por 72 indicadores, que cobrem nove dimensões, consideradas os principais componentes da felicidade e do bem-estar no Butão. Dentro de cada dimensão, os indicadores são igualmente ponderados, mas, como existem diferentes números de indicadores por dimensão, estes podem assumir diferentes pesos no cálculo da medida global.
As nove dimensões são:
1. Bem-estar Psicológico
2. Uso do Tempo
3. Vitalidade da Comunidade
4. Cultura
5. Saúde
6. Educação
7. Diversidade do Meio Ambiente
8. Padrão de Vida
9. Governança
Os 72 Indicadores do Butão correlacionados com as 9 dimensões acima:
1. INDICADORES DE BEM-ESTAR PSICOLÓGICO
1 Questionário geral sobre saúde
2 Frequência de orações
3 Frequência de meditação
4 Levar em conta o carma na vida cotidiana
5 Egoísmo
6 Inveja
7 Calma
8 Compaixão
9 Generosidade
10 Frustrações
11 Consideração de cometer suicídio
2. INDICADORES DE USO DE TEMPO
1 Total de horas trabalhadas
2 Quantidade de horas de sono
3. INDICADORES DE VITALIDADE COMUNITÁRIA
1 Sentimento de confiança em relação aos vizinhos
2 Vizinhos se ajudam dentro da comunidade
3 Trabalho de intercâmbio com os membros da comunidade
4 Socialização com os amigos
5 Os membros de sua família realmente se cuidam entre si
6 Seu desejo era não fazer parte desta família
7 Os membros de sua família discordam muito entre si
8 Existe muita compreensão em sua família
9 Sua família tem recursos reais para lhe proporcionar conforto 10 Quantidade de parentes que vivem na mesma comunidade
11 Vítima de crime
12 Sentimentos de segurança com relação a danos humanos
13 Sentimento de inimizade na comunidade
14 Quantidade de dias dedicados ao voluntariado
15 Quantidade de doações financeiras
16 Disponibilidade para apoio social
4. INDICADORES CULTURAIS
1 Qual a primeira língua a falar
2 Frequência com que brinca com jogos tradicionais
3 Aptidão para Zorig Chusum
4 Importância da disciplina (Drig) para as crianças
5 Ensinar as crianças a importância da imparcialidade para com ricos, pobres, diferente estatuto etc.
6 Conhecimento da máscara e de outras festas realizadas em tshechus
7 Importância da reciprocidade
8 Matar
9 Roubar
10 Mentir
11 Mau comportamento sexual
12 Quantidade de dias que reservou durante o ano para os festivais da comunidade
5. INDICADORES DE SAÚDE
1 Auto relatos do estado de saúde
2 Longo prazo de deficiência
3 Saúde nos últimos 30 dias
4 Índice de Massa Corpórea
5 Conhecimento sobre as formas de transmissão do vírus HIV/Aids
6 Tempo de amamentação exclusiva para as crianças
7 A distância percorrida a pé até o centro de saúde mais próximo
6. INDICADORES DE EDUCAÇÃO
1 Nível de educação
2 Taxa de alfabetização
3 Capacidade de compreensão
4 Histórico da alfabetização (conhecimento sobre lendas locais e histórias folclóricas)
7. INDICADORES ECOLÓGICOS
1 Poluição dos rios
2 Erosão do solo
3 Método de eliminação de resíduos
4 Nomes e espécies de plantas e animais
5 Cercas vivas (árvores) ao redor de sua fazenda ou casa
8. INDICADORES DE PADRÃO DE VIDA
1 Renda domiciliar
2 Renda suficiente para suprir as necessidades diárias
3 Insegurança alimentar
4 Possuir casa própria
5 Quantos quartos
6 Comprar roupas de segunda mão
7 Dificuldade em contribuir para as festas da comunidade
8 Postergar reparos urgentes e manutenção de seu ambiente familiar (casa)
9.INDICADORES DE BOA GOVERNANÇA
1 Performance do Governo Central em reduzir as diferenças entres ricos e pobres
2 Performance do Governo Central no combate à corrupção
3 Direito de liberdade de expressão e opinião
4 Não discriminação baseada em raça, sexo, religião, língua, política ou outras formas
5 Confiança nos Ministérios Centrais
6 Confiança na administração dzongkhag
7 Confiança na imprensa
Isto posto restam-nos algumas divagações.. Se há Sombra é porque também há Luz.. Talvez exemplos como esse remetam-nos a possíveis esperanças de que algo de bom ainda poderia ser indubitavelmente feito se caminhassemos em direção ‘a Luz, se nos desprendessemos da Sombra em que muitos de nós, permanecemos focados. Definitivamente algo está acontecendo e velozmente neste planeta em que vivemos e é mais do que chegada a hora de nos posicionarmos..
Fonte:
http://grossnationalhappiness.com
http://www.compendiosustentabilidade.com.br
" O que está em cima é como o que
está embaixo, e o que está embaixo
é como o que está em cima"
- O Caibalion