sexta-feira, 23 de setembro de 2022
...usufruir a brisa passar...
"- Estás à espera de quem?
- Já não espero ninguém! Estou só a usufruir a brisa passar...
- Não tens família?
- Tenho! Deixei de esperá-los...
- Estão zangados?
- Como assim?
- Aprendi com os anos de caminho que não devemos esperar ninguém!
- Mas... uma mãe deve esperar sempre os seus filhos...
- Por muitos anos achei que sim...
Depois aprendi que só esperámos na ilusão de posse...
No dia em que entendemos que ninguém pertence a ninguém,
que até os filhos são do Universo, passámos a ser livres para receber,
sejam os filhos ou tudo o que a vida nos reserva!
- E quando os filhos não chegam?
- Quem nada, nem ninguém espera, tudo é só vida a acontecer...
- É difícil de entender!
- Eu sei. Fomos iludidos a sentir amor como apego,
quando a verdade é que o autêntico Amor é saber desapegar.
Amor é liberdade para amar sem prender, para amar permitido ao outro voar!
- E não sentes solidão?
- Ela não existe para quem resgatou para si o direito de também continuar a voar...
E hoje, mesmo de forma diferente,
aceito e ajusto e continuo a permitir-me ao meu voo!
- E quando não conseguires?
- Eu acredito que quem se permite a ser livre, a morte chegará leve,
quando o meu corpo físico deixar de poder voar, partirei de regresso a casa!
E sabes...
Acredito também que esse é o propósito da vida, nunca deixar de voar.
Para em Alma voo para Sempre SER!
Até lá...
Vou continuar a usufruir simplesmente a brisa passar..."
Sonia Machado Araújo
Fragmentos da minh'Alma - Sem Hora Marcada