Temos que estar atentos para o fato de que o amor é um dom. Ao recebê-lo, basta dizer: "Obrigado(a)", "Fico grato(a)". É extremamente simples, mas muito valioso.
Outro aspecto da troca de amor é a importância da honestidade e da comunicação permanente. Porque, muitas vezes, o que parece amor não é amor.
Aceitar a agressão do outro sem reclamar, em nome do amor, é desrespeitar o parceiro, à medida que deixamos que desenvolva atitudes que são negativas para ele mesmo.
Além disso, por menos que queiramos, vamos acumulando queixas, animosidade, ressentimento, até não agüentarmos mais e explodirmos. Esse "lixo" acumulado fecha a estrada por onde circula a troca do amor.
Para manter aberto e claro o canal da comunicação, é preciso vontade firme para falar sobre assuntos delicados.
Isso não é fácil.
Isso é amor?
É, sim.
E quanto menos tempo entre a certeza de que é preciso falar e a própria conversa, melhor. Não se trata de agredir de volta, mas de denunciar uma situação que prejudica o amor. E de fazê-lo em nome do amor, porque queremos mantê-lo e porque desejamos o bem tanto da relação quanto do nosso parceiro.
A honestidade na comunicação é uma arte que está ligada à capacidade de dar e receber amor verdadeiro.
Todos nós precisamos conhecer-nos, sermos francos, administrar da melhor maneira possível nossa vida emocional.
Percebo que as mulheres são em geral mais dedicadas, solidárias e generosas na doação do amor. Mas têm uma certa dificuldade em receber. Tendem a negar e esconder suas necessidades e carências, e, ao não receber o que precisam. Começam a acumular ressentimentos.
Resultado final: elas se doam tanto, que parece não sobrar nada. Com sua compaixão e vontade de ajudar a todos, correm o risco de se perder ou serem manipuladas. Em workshops, freqüentemente ouço este lamento: "Como é que pode? Durante a vida toda eu fui generosa, perdoei e acabei uma pessoa amarga, apática e submissa!"
Costumamos ensinar um tipo de meditação que a tradição budista chama de Tonglen -
É um exercício de visualização.
Você começa fazendo para si mesmo, pois os budistas acreditam que só quem dá primeiro a si tem condições de dar aos outros.
É preciso cuidar primeiro de si.
A seguir, faz em favor dos entes queridos.
Depois, para as pessoas com quem você possa estar em conflito.
E assim por diante, cada vez para um círculo maior de pessoas.
O mais incrível dessa imagem tibetana é que, quando assumimos generosamente a dor do outro, ela não fica guardada dentro de nós. Ela se consome, se dissipa em nosso coração, deixando uma energia extra em forma de luz. Esta energia continua a nos iluminar, mesmo depois de soprarmos em direção ao outro.
O exercício de meditação enfatiza este princípio psicológico básico - é absolutamente necessário você cuidar primeiro de si. Senão, ao assumir a dor e os problemas alheios, você vai ficar esperando um retorno. Vai inconscientemente cobrar do outro. E a pessoa beneficiada irá se sentir enfraquecida e, provavelmente, ressentida.
Mary Oliver tem um lindo poema, The Journey ( A Viagem ): O último verso diz que cada um só é capaz de salvar a si mesmo. Não existe verdade maior. As pessoas querem servir os outros e não desejam ser egoístas. Mas se você não servir a si mesmo estará sendo egoísta, porque nunca vai conseguir se ligar amorosamente a um círculo mais amplo, e muito menos a outra pessoa.
Gosto, também, muito da Prece da Serenidade. Essa oração pede serenidade para aceitar o que não se pode modificar, coragem para mudar o que pode ser mudado e sabedoria para perceber a diferença. Vamos imaginar que você olhe para a sua vi da e diga: "Há alguma coisa errada. Sinto uma enorme insatisfação e falta de amor." Seria ridículo acrescentar "Ah, não faz mal, espiritualmente vai tudo bem, vou me resignar, continuar amando todo mundo e ser feliz deste jeito".
Resignar-se, aceitando a situação, pode ser a pior escolha. Talvez seja preciso romper uma amizade, terminar o casamento, usar de firmeza amorosa com seus filhos.
Não se pode passar por cima de necessidades psicológicas básicas na esperança de alcançar um reino espiritual maior e mais rico. Não é fácil aprender a pedir aquilo de que você precisa. Não é fácil pedir aos filhos, amigos ou companheiros o que você precisa.
Nem é fácil pedir ao Grande Espírito, ao grande mistério.
Mas é necessário aprender a pedir.
E o meio mais fácil de aprender a pedir é pedindo.
Só se aprende fazendo.
Peça explicitamente.
O Grande Espírito deseja que você o faça.
Seu companheiro - ou companheira - não sabe ler pensamentos: diga clara e serenamente o que deseja.
Sempre acreditei na necessidade de conhecer bem o terreno para evitar as minas enterradas. Aprenda a ler os sinais, não os despreze nunca.
Mesmo o lado mais obscuro nos oferece suas lições.
A raiva é uma grande mestra que nos ensina a dar e receber amor, porque raiva é resposta a uma ação. É como um gongo que soa anunciando: "Alguma coisa está completamente errada." A mensagem pode ser penosa, mas é simples e clara.
As mensagens alegres também são claras e simples. Agradecer, incentivar, dizer: "Você me ajuda a viver" são atitudes que despertam mais amor nas pessoas, levando-as a reproduzir o mesmo gesto. Até que um dia, eu espero, estaremos cercados de gente generosa, cuja simples presença nos fará bem.
É uma lei inviolável: o que você dá você recebe.
Expressar gratidão é em si um dom simples.
Mas seu efeito é prodigioso: cria mais amor no mundo.