quarta-feira, 4 de abril de 2012

Existimos em função do futuro


"Tentai apreender a vossa consciência e sondai-a. 

Vereis que está vazia, só encontrareis nela o futuro. 

Nem sequer falo dos vossos projetos e expectativas: mas o próprio gesto que surpreendeis de passagem só tem sentido para vós se projetardes a sua realização final para fora dele, fora de vós, no ainda-não. 

Mesmo esta taça cujo fundo não se vê - que se poderia ver, que está no fim de um movimento que ainda não se fez, esta folha branca cujo reverso está escondido (mas poderia virar-se a folha) e todos os objetos estáveis e sólidos que nos rodeiam ostentam as suas qualidades mais imediatas, mais densas, no futuro.

O homem não é de modo nenhum a soma do que tem, mas a totalidade do que não tem ainda, do que poderia ter. 

E, se nos banhamos assim no futuro, não ficará atenuada a brutalidade informe do presente? 

O acontecimento não nos assalta como um ladrão, visto que é, por natureza, um Tendo-sido-Futuro. 

E, para explicar o próprio passado, não será a primeira tarefa do historiador procurar o futuro?" 

Jean-Paul Sartre, in "Situações I"