quarta-feira, 30 de dezembro de 2015
Jamais...
As mulheres de origem celta eram criadas tão livremente como os homens. Era-lhes dado o direito de escolherem os seus parceiros, e nunca poderiam ser forçadas a uma relação que não queriam. Eram ensinadas a trabalharem para que pudessem garantir o seu sustento, bem como eram excelentes amantes, donas de casas, mães e guerreiras.
Este texto tem origem desconhecida e surge como provável código de honra das mulheres celtas:
"Ama teu homem e segue-o, mas somente se ambos representarem um para o outro o que a Deusa Mãe ensinou: Amor, companheirismo e amizade.
Jamais permitas que algum homem te escravize. Tu nasceste livre para amar, e não para ser escrava.
Jamais permitas que o teu coração sofra em nome do amor. Amar é um ato de felicidade, porquê sofrer?
Jamais permitas que teus olhos derramem lágrimas por alguém que nunca te fará sorrir.
Jamais permitas que o uso do teu próprio corpo seja cerceado. O corpo é a morada do espírito, porquê mantê-lo aprisionado?
Jamais permitas que o teu nome seja pronunciado em vão por um homem cujo nome tu nem sequer sabes.
Jamais permitas que o teu tempo seja desperdiçado com alguém que nunca terá tempo para ti.
Jamais permitas ouvir gritos em teus ouvidos. O Amor é o único que pode falar mais alto.
Jamais permitas que paixões desenfreadas te trasportem de um mundo real para outro que nunca existiu.
Jamais permitas que outros sonhos se misturem com os teus, fazendo-os virar um grande pesadelo.
Jamais acredites que alguém possa voltar quando nunca esteve presente.
Jamais permitas que teu útero gere um filho que nunca terá um pai.
Jamais permitas viver na dependência de um homem como se tu tivesses nascido inválida.
Jamais te ponhas linda e maravilhosa a fim de esperar por um homem que não tem olhos para te admirar.
Jamais permitas que teus pés caminhem em direção a um homem que só vive fugindo de ti.
Jamais permitas que a dor, a tristeza, a solidão, o ódio, o ressentimento, o ciúme, o remorso e tudo aquilo que possa tirar o brilho dos teus olhos te dominem, fazendo arrefecer a força que existe em ti.
E, sobretudo, jamais permitas que tu mesma percas a dignidade de ser mulher."
Desconheço a autoria
sábado, 26 de dezembro de 2015
Não desanime! Insista, persista, não desista!
"A nenhum de nós nesta Terra
é pedido mais do que podemos realizar
e se nos esforçarmos
para obter
o que há de melhor dentro de nós,
sempre guiados por nosso Eu Superior,
a saúde e a felicidade serão possíveis.
Mas nas horas mais escuras,
quando a vitória parece impossível,
lembremo-nos
de que os filhos de Deus não devem nunca ter medo,
que as tarefas que nossas almas nos dão
são apenas as que somos capazes de realizar
e que, com coragem e fé
em nossa divindade interior,
a vitória virá
para todos os que continuam a lutar.
Cada pessoa tem uma vida para viver,
um trabalho a realizar,
uma personalidade gloriosa,
uma individualidade maravilhosa.
Se ela compreender estas verdades
e conseguir mantê-las
contra todas as leis da massificação,
ela superará tudo
e ajudará os outros
com o exemplo do seu caráter.
A vida não exige de nós grandes sacrifícios;
pede-nos apenas
para fazermos a viagem com alegria no coração
e sermos uma bênção
àqueles que estão ao nosso redor."
Dr. Edward Bach
quarta-feira, 23 de dezembro de 2015
Bênçãos...
“Que a estrada se erga ao encontro do seu caminho,
Que o vento esteja sempre às suas costas,
Que o sol brilhe sobre a sua face,
Que a chuva caia suave sobre seus campos.
E até que nos encontremos de novo,
Que Deus Te guarde na palma da Tua mão.”
Bênção Irlandesa
domingo, 13 de dezembro de 2015
O Eletromagnetismo do Coração
O Eletromagnetismo do Coração: cientistas apontam que o coração pensa e irradia.
"O coração é também o primeiro órgão formado no útero. O resto vem depois.
Recentemente, neurofisiologistas ficaram surpresos ao descobrirem que o coração é mais um órgão de inteligência, do que (meramente) a estação principal de bombeamento do corpo.
Mais da metade do Coração é na verdade composto de neurônios da mesma natureza daqueles que compõem o sistema cerebral. Joseph Chilton Pearce, autor de A biologia da Transcendência, chama a isto de "o maior aparato biológico e a sede da nossa maior inteligência"
O coração também é a fonte do corpo de maior força no campo eletromagnético. Cada célula do coração é única e na qual não apenas pulsa em sintonia com todas as outras células do coração, mas também produz um sinal eletromagnético que se irradia para além da célula.
Um EEG que mede as ondas cerebrais mostra que os sinais eletromagnéticos do coração são muito mais fortes do que as ondas cerebrais, de que uma leitura do espectro de frequência do coração podem ser tomadas a partir de três metros de distância do corpo… sem colocar eletrodos sobre ele!
A frequência eletromagnética do Coração produz arcos para fora do coração e volta na forma de um campo saliente e arredondado, como anéis de energia. O eixo desse anel do coração se estende desde o assoalho pélvico para o topo do crânio, e todo o campo é holográfico, o que significa que as informações sobre ele podem ser lidas a partir de cada ponto deste campo.
O anel eletromagnético do Coração não é a única fonte que emite este tipo de vibração. Cada átomo emite energia nesta mesma frequência A Terra está também no centro de um anel, assim é o sistema solar e até mesmo nossa galáxia… e todos são holográficas.
Os cientistas acreditam que há uma boa possibilidade de que haja apenas um anel universal abrangendo um número infinito e interagindo dentro do mesmo espectro. Como os campos eletromagnéticos são anéis holográficos, é mais do que provável que a soma total do nosso Universo esteja presente dentro do espectro de freqüência de um único anel.
Isto significa que cada um de nós está ligado a todo o Universo e como tal, podemos acessar todas as informações dentro dele a qualquer momento. Quando ficamos quietos para acessar o que temos em nossos corações, nós estamos literalmente conectados à fonte ilimitada de Sabedoria do Universo, de uma forma que percebemos como “milagres” entrando em nossas vidas.
Quando desconectamos e nos desligamos da sabedoria inata de amor do Coração, baseado nos pensamentos, o intelecto refletido no ego assume o controle e opera independentemente do Coração, e nós voltamos para uma mentalidade de sobrevivência baseada no medo, ganância, poder e controle.
Desta forma, passamos a acreditar que estamos separados, a nossa percepção de vida muda para uma limitação e escassez, e temos que lutar para sobreviver. Este órgão incrível, que muitas vezes ignoramos, negligenciamos e construímos muros ao redor, é onde podemos encontrar a nossa força, nossa fé, nossa coragem e nossa compaixão, permitindo que a nossa maior inteligência emocional guie nossas vidas.
Devemos agora mudar as engrenagens para fora do estado baseado no medo mental que temos sido ensinados a acreditar, e nos movermos para viver centrados no coração. Para que esta transformação ocorra, é preciso aprender a meditar, “entrar em seu coração” e acessar a sabedoria interior do Universo.
É a única maneira, é O Caminho.
A medida que cada um de nós começa esta revolução tranquila de viver do Coração, vamos começar a ver os reflexos em nossas vidas e em nosso mundo.
Esta é a forma como cada um de nós vai criar uma mudança no mundo, criar paz, criar harmonia e equilíbrio, e desta forma, vamos todos criar o Paradigma do Novo Mundo do Céu na Terra.”
Por Rebecca Cherry
Fonte: Segundo Sol
sábado, 5 de dezembro de 2015
aprendizado...
"Se você der um passo à frente com fé, não olhe para trás nem se lamente pelo que deixou.
Simplesmente espere pelo futuro mais maravilhoso e observe-o se realizar.
Deixe o que é velho para trás; está acabado.
Seja grato pelas lições aprendidas e pelas experiências por que passou; elas o ajudaram a crescer e aumentaram sua compreensão, mas não se apegue a elas.
O que o aguarda é muito melhor do que aquilo que você deixou para trás.
Nada pode acontecer de errado se você colocar sua vida sob a Minha direção.
Mas se você dá um passo à frente e se pergunta se agiu certo, você permite que dúvidas e temores o invadam e se curvará sob o peso de sua decisão.
Portanto, solte-se, liberte o passado e caminhe para a frente com o coração repleto de amor e gratidão."
Fonte:
Abrindo Portas Interiores
Fundação Findhorn
Escócia
Eileen Caddy
terça-feira, 1 de dezembro de 2015
Mergulhe...
"Renda-se, como eu me rendi.
Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender,
viver ultrapassa qualquer entendimento."
viver ultrapassa qualquer entendimento."
Clarice Lispector
sábado, 14 de novembro de 2015
... e chegou o dia...
"E... chegou o dia...
em que
o risco de continuar espremido
dentro do botão
era mais doloroso...
do que desabrochar."
Anaís Nin
sexta-feira, 13 de novembro de 2015
Do amoroso esquecimento... de Mário Quintana
"Eu agora — que desfecho!
Já nem penso mais em ti…
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?"
Mário Quintana
terça-feira, 10 de novembro de 2015
Parábola: sorte ou azar?
"No passado remoto de uma pobre aldeia da longínqua China, havia um menino que desejava fortemente ser dono de um cavalo. Porém os seus pais eram tão desprovidos de recursos, assim como todos naquela aldeia e, por isso, jamais poderiam realizar o sonho do pequeno filho. Embora soubesse daquela situação, e consciente da sua vida simples, o menino mantinha aceso o seu desejo ao longo dos anos.
Em uma manhã passou pela estrada uma tropa, cujo dono era um generoso nobre que rumava para o norte levando consigo seus pertences, ouros e cavalos, inclusive um potro puro sangue que estava atrapalhando a marcha. A tropa necessitava de uma parada de descanso, dar água e alimento aos cavalos, e acabaram recebidos na humilde propriedade dos pais do menino. Foi quando o nobre senhor soube da história e, comovido, deu ao garoto o potro. A notícia espalhou-se rapidamente e toda aldeia foi à cabana do jovem, para cumprimentar seu pai, dizendo:
– Seu filho tem muita sorte. Sonhou tanto que conseguiu realizar o seu sonho. É, seu filho tem muita sorte: ganhar um potro puro sangue de um senhor tão generoso!
– Pode ser sorte, pode ser azar... - Filosofou o pai.
Durante os dois anos que se seguiram o jovem cuidou do proto até se tornar um belo garanhão, com o qual todos o viam galopar pela região. O jovem certamente era muito feliz... Contudo, numa tarde primaveril passou por aquelas bandas uma égua fogosa e o garanhão a seguiu, desaparecendo com ela em meio à pradaria. O povo da aldeia, novamente sem demora alguma, disse ao pai do garoto:
– Seu filho tem muito azar! Sonhou tanto com o cavalo, conseguiu um, tratou com esmero durante dois anos completos e, de repente, o cavalo foge! Seu filho tem muito azar!
O pai do jovem respondeu mais uma vez em tom reflexivo:
– Pode ser sorte, pode ser azar... Um ano e meio depois voltam ao pasto do rapaz o cavalo, a égua e mais um potrinho, fruto da união dos dois. Reza a lei das aldeias chinesas que, ao adentraram um campo, os animais pertencem ao dono da propriedade em que se encontram. Portanto, naquele momento o jovem tornou-se o dono dos três belos equinos. E pela terceira vez, a população inteira da aldeia diz ao pai quão grande é a sorte de seu filho. O pai do jovem diz:
– Pode ser sorte, pode ser azar... Mais uma vez o jovem cuida com amor e carinho do outro potrinho. Outros dois longos e prósperos anos passam seguindo e aumentando a cada dia a felicidade do rapaz. Todos os aldeões podiam ver ao longe o jovem cavalgando pelas pradarias... Num desses momentos, uma cobra aparece no meio do pasto assustando o cavalo, e provocando a abrupta queda do rapaz, que fratura as duas pernas! Antes mesmo que ele fosse socorrido e acomodado em sua casa, o povo da aldeia já contava com pesar o infortúnio do jovem: “Este rapaz tem muito azar! Quebrar logo as duas pernas de uma única vez?! E logo desta triste forma, caindo do cavalo que foi tratado com tanto carinho!” Sem abalar-se o pai responde como sempre: “Pode ser sorte, pode ser azar...”
Na semana seguinte é declarada uma guerra civil entre as aldeias do lugar e todos os jovens, senhores e meninos devem servir à defesa de suas terras. Todavia, para aquele garoto a história seria outra, pois, com as duas pernas quebradas, não pode alistar-se. Mesmo em meio à guerra, os aldeões correm a dizer ao pai que seu filho tinha uma sorte danada!"
Pode ser sorte... Pode ser azar...
Pode ser sorte... Pode ser azar...
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
terça-feira, 3 de novembro de 2015
domingo, 1 de novembro de 2015
Sobre o medo...
"O medo é um estado de alta energia que quer vir à tona para a sua conclusão. Portanto, você não espanta os medos, você os experimenta, os integra, você deixa os medos se encaminharem para o seu fim. Da mesma forma, dor, ansiedade e outros estados de energia podem encontrar solução."
Stanley Keleman (in Living Your Dying)
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
Você tem medo(s)?
"Devagar ele começa a aprender... a princípio, pouco a pouco, e depois em porções grandes. E logo seus pensamentos entram em choque. O que aprende nunca é o que ele imaginava, de modo que começa a ter medo. Aprender nunca é o que se espera. Cada passo da aprendizagem é uma nova tarefa, e o medo que o homem sente começa a crescer impiedosamente, sem ceder. Seu propósito torna-se um campo de batalha.
E assim se depara com o primeiro de seus inimigos naturais: o medo! Um inimigo terrível, traiçoeiro, e difícil de vencer. Permanece oculto em todas as voltas do caminho, rondando à espreita. E se o homem, apavorado com sua presença, foge, seu inimigo terá posto fim à sua busca.
- O que acontece com o homem se ele fugir com medo?
- Nada lhe acontece, a não ser que nunca aprenderá. Nunca se tornará um homem de conhecimento, talvez se torne um tirano, ou um pobre homem apavorado e inofensivo, de qualquer forma, será um homem vencido. Seu primeiro inimigo terá posto um fim aos seus desejos.
- E o que ele pode fazer para vencer o medo?
- A resposta é muito simples. Não deve fugir. Deve desafiar o medo e, a despeito dele, deve dar o passo seguinte, e o seguinte. Deve ter medo, plenamente, e no entanto não deve parar. É esta a regra! E o momento chegará em que seu primeiro inimigo recua. O homem começa a se sentir seguro de si. Seu propósito se torna mais forte. Aprender não é mais uma tarefa aterradora. Quando chega esse momento feliz, o homem pode dizer sem hesitar que derrotou seu primeiro inimigo natural.
- Isso acontece de uma vez, Don Juan, ou aos poucos?
- Acontece aos poucos, e no entanto o medo é vencido de repente e depressa.
- Mas o homem não terá medo outra vez se lhe acontecer alguma coisa nova?
- Não. Uma vez que o homem venceu o medo, fica livre dele o resto da vida, porque em vez do medo, ele adquire a clareza... uma clareza de espírito que apaga o medo. Então o homem já conhece seus desejos; sabe como satisfazê-los. Pode antecipar os novos passos na aprendizagem e uma clareza viva cerca tudo. O homem sente que nada se lhe oculta.
E assim ele encontra seu segundo inimigo natural : A clareza. Essa clareza de espírito, que é tão difícil de obter, elimina o medo, mas também cega. Obriga o homem a nunca duvidar de si. Dá-lhe a segurança que ele pode fazer o que bem entender, pois ele vê tudo claramente. E ele é corajoso, porque é claro; não pára diante de nada, porque é claro. Mas tudo isso é um engano; é como uma coisa incompleta. Se o homem sucumbir a esse poder de faz de conta, terá sucumbido ao seu segundo inimigo e tateará com a aprendizagem. Vai precipitar-se quando devia ser paciente, ou vai ser paciente quando deveria precipitar-se. E tateará com a aprendizagem até acabar incapaz de aprender qualquer coisa a mais.
- O que acontece com um homem que é derrotado assim, Dom Juan? Ele morre por isso?
- Não morre. Seu inimigo acaba de impedi-lo de se tornar um homem de conhecimento; em vez disto, o homem pode se tornar um guerreiro valente, ou um palhaço. No entanto, a clareza, pela qual ele pagou tão caro, nunca mais se transformará de novo em trevas ou medo. Será claro enquanto viver, mas não aprenderá nem desejará nada.
- Mas o que tem de fazer para não ser vencido ?
- Tem de fazer o que fez com o medo: tem de desafiar sua clareza e usá-la só para ver, e esperar com paciência e medir com cuidado antes de dar novos passos; deve pensar acima de tudo, que sua clareza é quase um erro. E virá um momento em que ele compreenderá que sua clareza era apenas um ponto diante de sua vista. E assim ele terá vencido seu segundo inimigo, e estará numa posição em que nada mais poderá prejudicá-lo. Isto não será um engano. Não será um ponto diante de sua vista. Será o verdadeiro poder.
Ele saberá a esta altura que o poder que vem buscando há tanto tempo é seu, por fim. Pode fazer o que quiser com ele. Seu aliado está às suas ordens. Seu desejo é ordem. Vê tudo que está em volta. Mas também encontra seu terceiro inimigo; o poder.
O poder é o mais forte de todos os inimigos. E, naturalmente, a coisa mais fácil é ceder; afinal de contas, o homem é realmente invencível. Ele comanda; começa correndo riscos calculados e termina ditando regras, porque é um senhor. Um homem neste estágio quase nem nota que seu terceiro inimigo se aproxima. E de repente, sem saber, certamente terá perdido a batalha. Seu inimigo o terá transformado num homem cruel e caprichoso.
- E ele perderá o poder?
- Não ele nunca perderá sua clareza nem seu poder.
- Então o que o distinguirá de um homem de conhecimento?
- Um homem que é derrotado pelo poder, morre sem realmente saber manejá-lo. O poder é apenas uma carga em seu destino. Um homem desse não tem domínio sobre si, e não sabe quando ou como utilizar se poder.
- A derrota por algum desse inimigos é uma derrota final?
- Claro que é final. Uma vez que esses inimigos dominem o homem não há nada que ele possa fazer.
- Será possível que o homem derrotado pelo poder veja seu erro e se emende?
- Não. Uma vez que o homem cede está liquidado.
- Mas e se ele estiver temporariamente cego pelo poder, e depois o recusar?
- Isto significa que a batalha continua. Isto significa que ele ainda está tentando ser um homem de conhecimento. O indivíduo é derrotado quando não tenta mais e se abandona.
- Mas então, Dom Juan, é possível a um homem se entregar ao medo durante anos, mas no fim vencê-lo.
- Não, isso não é verdade, se ele ceder ao medo, nunca o vencerá, porque se desviará do conhecimento e nunca mais tentará. Mas se procurar aprender durante anos no meio de seu medo, acabará dominando-o, porque nunca se entregou realmente a ele.
- E como um homem poderá vencer seu terceiro inimigo, Don Juan ?
- Também tem de desafiá-lo, propositadamente. Tem de vir a compreender que o poder que parece ter adquirido na verdade nunca é seu. Deve controlar-se em todas as ocasiões, tratando com cuidado e lealdade tudo o que aprendeu. Se conseguir ver que a clareza e o poder, sem controle, são piores do que os erros, ele chegará a um ponto em que tudo estará controlado. Então saberá quando e como usar seu poder. E assim terá derrotado seu terceiro inimigo. O homem estará então, no fim de sua jornada do saber, e quase sem perceber encontrará seu último inimigo; a velhice! Este inimigo é o mais cruel de todos, o único que ele não conseguirá derrotá-lo completamente, mas apenas afastar. É o momento em que o homem não tem mais receios, não tem mais impaciência de clareza de espírito... um momento em que todo o seu poder está controlado, mas também o momento em que ele sente um desejo irresistível de descansar, se ele ceder completamente a seu desejo de se deitar e esquecer, se ele afundar na fadiga, terá perdido a última batalha, e seu inimigo o reduzirá a uma criatura velha e débil, seu desejo de se retirar dominará toda sua clareza, seu poder e sabedoria. Mas o homem sacode sua fadiga e vive seu destino completamente, então poderá ser chamado de um homem de conhecimento, nem que seja no breve momento em que ele consegue lutar contra seu último inimigo invencível. Esse momento de clareza, poder e conhecimento é o suficiente."
(Juan Matus)
Carlos Castaneda
quarta-feira, 14 de outubro de 2015
Os Sons da Vida
"Compreender e saber utilizar os sons é fundamental em nossa busca pela comunhão com o sagrado, com a vida que nos cerca e em nossa busca pela harmonia.
Nas culturas e tradições espirituais de todos os povos, existe a busca pela experiência transcendental, ou numinosa, como dizia Carl Gustav Jung. Todos ansiamos por uma experiência que rompa couraças emocionais e que nos conecte com Deus, a pura expressão do amor.
Desde as mais remotas eras o homem tem essa sede de se aproximar do Criador e n’Ele se perder e se encontrar. Do Verbo nasce a sinfonia universal que se propaga e reverbera constantemente, traduzindo os diversos nomes de Deus e recriando mundos. O circuito sagrado da vida é formado por vibrações e ressonâncias. E os sons da vida se enraízam no Som Primordial, e deste se originam todas as formas animadas e inanimadas. Podemos dizer que somos luz e som em constante vibração e ressonância com tudo que se manifesta na Terra e no universo. Por isso, encontramos em todas as tradições sons mântricos, nomes sagrados e orações que auxiliam a mente a se conectar com o sagrado som primevo. “No princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (João 1,1 ).
Na Índia, a escolha e a repetição de um dos nomes de Deus é chamada pelos iogues namasmarana e segundo eles, é uma prática que acalma a mente e preenche o espírito de divina bem-aventurança. Em todas as culturas, existe o reconhecimento de uma dimensão essencial do ser humano, e o nome de Deus, falado ou cantado, é o meio para se atingir essa dimensão superior. As escolas iniciáticas da Antiguidade indicavam como exercício espiritual recitar diariamente os nomes e cantos sagrados como a linguagem adequada para o espírito falar com Deus. E a antiga medicina sacerdotal do Egito e da Grécia considerava os cânticos, orações e mantras, fontes curativas do corpo e da alma.
Mantra é uma palavra em sânscrito formada por 'manas' (mente) e 'tra' (por meio de), que indica movimento. Os sons mântricos conduzem a mente para a interioridade e para o domínio do não-pensamento, da não-dualidade, onde não há seqüência lógica nem linearidade.
DESDE TEMPOS IMEMORIAIS, O SER HUMANO SE VALE DA MÚSICA sagrada para curar o corpo e a mente, e também para inspirar o desabrochar da beleza e da excelência humana. Os egípcios, indianos, chineses, gregos, tibetanos, japoneses, caldeus e hebreus, assim como os indígenas norte-americanos, brasileiros e das Américas do Sul e Central, os aborígines da Austrália, Nova Zelândia, África e Polinésia, sempre incluíram os sons sagrados nos seus rituais iniciáticos e curativos, e nas práticas espirituais em geral.
A cosmogonia Tupi afirma que o homem é o som que ficou em pé. Tupã, o Grande Som, cria o tupi pelo som, e o som toma forma humana. O que sustenta o homem em pe é a flauta criada por Tupã, e que produz os sete sons, sendo que o último é o silêncio. Os guaranis também harmonizam a energia vital através dos sons vocálicos. Para alguns povos nativos, ainda hoje o tambor ressoando e se propagando pelo ar anuncia rituais de transmutações e momentos de louvor, arrebatando as mentes para novas estâncias de aprendizado.
Os sinos das catedrais e os gongos dos templos budistas sacralizam a atmosfera quando soam, assim como o som dos cilindros de oração dos templos tibetanos. O Pneuma, o Sopro Divino, se apresenta e se reproduz nos instrumentos de sopro e se espalha no ar e no éter renovando a vida. As flautas dos aborígines australianos, conhecidas como digiridus, quando soam parecem acordar as vísceras da Terra. Os xamãs australianos utilizam esse som mágico para equilibrar os chakras e promover saúde. Os monges tibetanos e os índios do Xingu também tocam flautas longas, consideradas sagradas, cujo som vibra nas profundezas do útero ígneo da Mãe-Terra.
Na mitologia grega, o som da flauta de Pã irmanava e despertava o amor em todos os seres da natureza. Os chineses usavam fragmentos finos de jade que chamavam de “pedras cantoras” para produzir sons específicos que promoviam curas por vibração quando eram tocadas pela mão do paciente. Um desses tons curadores denomina-se kung, que significa “grande natureza”, e na escala musical ocidental corresponde á nota fá ou fá sustenido. Dentre os árabes sufis, o som supremo é hu, que representa a essência de Deus Pai Allah, presente no homem e na mulher e em tudo que existe.
OS TIBETANOS CONSIDERAM SAGRADOS O FÁ SUSTENIDO, o lá e o sol. Os hindus têm outra escala musical cujas notas são sagradas emissões do OM, AUM, que é considerado o som dos sons, o Pranava, o Som Primordial, de onde nascem todos os demais sons. No hinduísmo, a nossa anatomia sutil é constituída por centros de força denominados chakras, e cada um desses centros vibra em determinado tom e cor. Esses centros estão distribuídos ao longo da coluna vertebral e visualizar a cor do chakra e cantar o som que lhe corresponde harmoniza e cura o corpo e a mente.
Os indígenas costumam usar as vogais para alinhar os centros energéticos que compõem o corpo sinestésico, que é denominação científica ocidental do sistema de chakras. Na Cabala mística, esses centros são ativados e alinhados pela recitação dos nomes de Deus. Nos Vedas, escrituras sagradas hindus, os versos obedecem à métrica e ritmo considerados sagrados, e quando cantados emitem diferentes vibrações e ressonâncias, algumas delas de cura física e espiritual, e outras capazes de provocar manifestações físicas, desde formas geométricas até materializações de objetos, ou acionar os elementos da natureza.
Os antigos essênios, cujo nome deriva de asaya, que significa “curador, médico”, eram iniciados nos sons e nomes sagrados judaicos, nos segredos das energias da natureza e vibrações das correntes magnéticas, elétricas e telúricas. Os caldeus usavam os Tumim, esculturas vazadas que serviam de oráculo sonoro. As mensagens do universo chegavam com a voz do vento atravessando as cavidades das esculturas, e então o sacerdote traduzia as nuanças dos sons e os seus significados.
Os judeus e cristãos conferem à palavra “Amém” o poder de manifestar, na matéria, o poder de Deus. No Egito antigo, a palavra amen ou amou tinha o mesmo poder. Segundo alguns papiros, durante a construção das pirâmides, um coral de vozes humanas, acompanhado de instrumentos, fazia da música um tipo de alimento energético para o corpo e bálsamo reconfortante para a alma dos trabalhadores.
Na Grécia, Orfeu, mestre, músico, poeta e hierofante dos Mistérios de Dioniso, era um intérprete dos deuses e curava as pessoas cantando e tocando sua lira de ouro, produzindo sons em sintonia vibracional com a música das esferas. O sábio grego Pitágoras criou as oitavas da atual escala musical para comprovar a relação do som e os princípios matemáticos e geométricos do universo. Aristóteles ofereceu à humanidade a teoria da propagação do som pelo ar.
NA ANTIGUIDADE, A EDUCAÇÃO DEDICAVA MUITA ATENÇÃO AO CONHECIMENTO MUSICAL e à iniciação nos sons sagrados. Nós sabemos que tudo na vida é ressonância e que educação é basicamente ressonância. Atualmente, algumas propostas pedagógicas retomam o caminho da música e das artes como a maneira de reencontrar a Verdade, a Beleza e o Bem. A integração do conhecimento e a promoção de sabedoria, por ressonância, trazem Deus de volta ao mundo. Para demonstrar o princípio da ressonância basta um diapasão e um piano. Qualquer um pode experimentar; basta tocar o dó maior central no diapasão e levantar a tampa do piano, depois tocar com suavidade as cordas e perceberá o dó central vibrando.
Os sistemas que constituem nosso organismo, reagem da mesma maneira; as diversas frequências sonoras atuam em nosso corpo e alteram a nossa bioenergia. Isso acontece pela ressonância vibratória. Reagimos ao som e à sua vibração de maneira positiva ou negativa. Consonância ou dissonância. Um grupo de pessoas se afina por meio de ressonância harmoniosa e se repele por dissonância. Objetivos comuns e freqüência equilibrada de pensamentos e timbre de voz, constituem o diapasão da emissão de energia bioelétrica e eletrônica, que aproxima ou distancia as pessoas.
Porém, quando utilizada adequadamente, a dissonância é importante para a superação de problemas físicos e emocionais, levando os órgãos dos diversos sistemas do organismo a reencontrar sua higidez e funcionar normalmente. No acorde dissonante, existe um espaço vazio, uma transição, que é onde transformações podem acontecer. Nosso corpo físico, assim como o universo, é o som que criou forma e, como ele, vibra, ressoa e se expande.
Denomina-se diapasão a altura do som determinada pela velocidade de sua vibração. Descobrir o próprio diapasão e o tom, timbre, ritmo e melodia da nossa fala são fatores muito importantes para o autoconhecimento. Nossa voz revela quem somos; quando falamos, criamos som, ritmo, melodia e harmonia ou desarmonia onde antes só havia silêncio. É preciso ter consciência do poder das palavras e da intervenção energética causada por elas. Além do mais, as palavras são dotadas de poderes energéticos criadores e podem nos ajudar a estabelecer um diálogo entre mentes e almas para transformar e ou recriar realidades.
FALAR É UM PARTO SONORO QUE PERMITE A MANIFESTAÇÃO DO PENSAMENTO e do sentimento pela emissão de sons organizados, modulados e movidos pela vontade, direcionados pela intenção. A intenção é a alma da vontade, e concede brilho e força construtiva ou destrutiva às palavras.
As consoantes e vogais agem de maneira complementar na formação das palavras. As vogais vibram e criam campos energéticos pelas emoções, e as exprimem. Isso é fácil de perceber, por exemplo: quando alguém se machuca e diz: “ai, ou ui”. Quando algo nos causa admiração dizemos: “oh!”, “ah!”, etc.
As consoantes, por sua vez, agem no intelecto, concretizam idéias. Quando unimos consoantes e vogais, ativamos células germinativas das cordas vocais e dinamizamos o poder criador da palavra.
Nosso corpo musical é formado por vibrações que poderíamos denominar canto e dança das células. A escala musical é uma escada sonora e as oitavas são os degraus para ascender a dimensões mais elevadas de consciência. As mesmas notas, quando tocadas uma oitava acima, ficam muito mais intensas e definidas.
Os sons vocálicos harmonizam e curam. Mesmo os sons dissonantes ou desafinados, que inicialmente agridem nossos ouvidos, vibram em busca de um sistema de organização sonora que gere uma nova harmonia, um novo padrão. O som tem poder harmonizados ou desarmonizados, e as palavras constroem ou destroem, por isso é tão importante saber sobre o poder da palavra. É preciso aprender a falar consciente da intenção que orienta o que estamos dizendo e saber que, muitas vezes, uma palavra pode ferir alguém mortalmente ou abrir feridas de difícil cicatrização, mas também pode ser um carinhoso meio de aquecer o coração com ternura, iluminar a inteligência e inspirar bons pensamentos e idéias claras, que abrem possibilidades para o bem e para a harmonia entre as criaturas.
A palavra certa, dita da forma certa, na hora certa, para a pessoa certa, prepara e fertiliza o terreno para a semeadura de autotransformações. A palavra traduz as variadas expressões da inteligência humana e, quando ouvimos a voz do coração antes de falar, construímos pontes e derrubamos muralhas entre pessoas e culturas, aproximamos as diferenças, reconhecendo o que temos em comum, e assim enriquecemos nossos relacionamentos interpessoais.
SEGUNDO ALGUMAS CORRENTES INICIÁTICAS DO CRISTIANISMO, a “porta estreita” à qual Jesus se referiu é a garganta, o portal estreito que conecta o intelecto ao coração; e o corpo é a base e a estrutura do templo. O intelecto seria o observador e avaliador de tudo que é exterior no e ao templo, e o coração o altar-mor, o santo santorum no interior do templo, o lugar onde Deus se instala.
Cânticos, orações, mantras, músicas e palavras sagradas são formas de dialogar com a alma e unificar o corpo, a mente e o espírito, e atingir plenitude. Os sons sagrados permitem o alinhamento da consciência com o padrão do Som das Esferas, e criam novas conexões com aspectos mais sutis da inteligência pela sintonia com fontes de criatividade dos sistemas sonoros organizacionais da Fonte Primordial.
Existe diferença entre falar o nome sagrado e cantar o mantra, entre cantar simplesmente, sem concentrar sentimento e intenção, e cantar focando intenção e sentimento. A intenção e o sentimento direcionam a energia porque determinam o foco e criam no corpo, na mente e na alma uma postura de alinhamento receptivo. A razão, então, é fecundada por revelações.
Antes de assumirmos a forma física, o universo nos acalenta e alimenta com os sons da eternidade, e desde que somos concebidos, os sons que ouvimos no ventre de nossa mãe – o ritmo do coração dela em consonância com o nosso – compõem a melodia que harmoniza e integra criador e criatura. Toda vida se manifesta basicamente como som. No ventre materno, ouvimos o primeiro mantra e percebemos nuanças sonoras que nos sintonizam com o mundo interior e exterior.
No Mahabaratha, uma escritura sagrada do hinduísmo, está registrada numa passagem a interação sonora entre Arjuna e seu filho Abimaniu, quando este ainda era um feto em formação. Narra a escritura que o príncipe Arjuna explica uma tática de guerra diante de sua esposa grávida; e seu filho, muitos anos depois, declara saber executar a estratégia que somente seu pai conhecia. Quando lhe perguntaram como isso foi possível, ele afirmou ter ouvido diretamente do pai enquanto ainda estava no ventre da mãe.
Não faz muito tempo, a ciência moderna descobriu que o feto interage com a mãe e com o meio exterior, e o quanto é importante a escolha dos lugares que a gestante frequenta e do que ela ouve devido à capacidade do feto de registrar informações, ensinamentos e emoções. É notório que um recém-nascido se acalma ouvindo a voz da mãe e como se entrega inteiramente quando sua mãe o carrega no colo e aproxima sua cabeça do seio dela. O som e o ritmo íntimo e acalentador dos batimentos cardíacos da mãe tranquilizam o bebê e lhe conferem segurança, comunhão e paz. A criança reconhece o som e a consonância rítmica como maneira de dialogar amorosamente com a vida.
O som sagrado nos conduz naturalmente para a harmonia e nos induz a experiências místicas. Como o som está em tudo, no vazio e no não-vazio, ele aproxima as diferenças e evidencia o que temos como afinidade. Em todas as tradições, os sons sagrados estão ligados à experiência mística transformadora. A universalidade do poder do som e dos conteúdos das experiências místicas profundas demonstra que toda experiência espiritual transformadora resulta da comunhão com a totalidade e é concebida pela união do homem com Deus."
Texto de Marilu Martinelli
Nota: Marilu Martinelli é jornalista, escritora, educadora, professora de mitologia, especialista em Desenvolvimento Humano, Consultora Educacional e Empresarial para Formação de Lideranças em Valores Humanos.
Fonte:
Extraído da revista Sexto Sentido 54, páginas 36-41
domingo, 4 de outubro de 2015
quinta-feira, 1 de outubro de 2015
Como sair da Zona de Conforto?
“Um rei foi presenteado com dois jovens falcões. Este, imediatamente contratou um mestre em falcões para treiná-los. Depois de vários meses, o instrutor disse ao rei que um dos falcões foi bem educado, mas não sabia o que estava acontecendo com o outro.
Desde que ele tinha chegado ao palácio, ele não havia se mudado de galho, ainda tinha que levar a comida diariamente a ele.
O rei chamou diversos curadeiros, especialistas em aves, mas nenhum pode fazer o pássaro voar. Desesperado, ele emitiu um decreto proclamando uma recompensa para aqueles que fizessem o falcão voar.
Na manhã seguinte, o rei viu o pássaro voando em seus jardins.
– Traga o autor deste milagre! Ordenou o rei.
Apareceu diante dele um simples camponês. O rei perguntou:
– Como você conseguiu fazer o falcão voar? Você é um mago?
– Não foi muito difícil meu rei – disse sorrindo o homem. – Eu só cortei o galho que ele estava. Naquela ocasião, o pássaro foi deixado sem nenhuma outra alternativa senão levantar voo.”
quarta-feira, 23 de setembro de 2015
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Historinha de Amor
Historinha de amor prá gente grande
Contam os anjos que às vezes me inspiram que um pouquinho antes de materializar o seu plano de criação da vida humana e se derramar no coração de todas as coisas da Terra, o Senhor Deus Todo Poderoso resolveu repassá-lo, ponto a ponto, pela última vez. E, ao terminar o trabalho, sentiu, bastante surpreso, que ainda parecia estar faltando um detalhe sem nome nem rosto em sua grandiosa obra. Algo que não havia sido contemplado por nenhum dos incontáveis milagres com os quais dotaria o homem e o ambiente que preparava para acolhê-lo e supri-lo em sua jornada evolutiva.
Como um poeta que ao findar um poema é tocado pela vibração de uma palavra que não foi dita sem conseguir visualizar-lhe as feições, o Senhor Deus intuiu a ausência de uma dádiva no buquê de luzes que ofertaria ao homem para perfumar sua caminhada heróica, que trilharia até tornar-se um mestre das coisas que não passam e reunir-se a Ele numa só consciência criadora.
O Senhor Deus não sabia que doçura era aquela que reclamava sua amorosa atenção, mas pressentia que se tratava de algo imprescindível. De alguma graça que deixaria uma lacuna em branco em cada história humana, caso não existisse. De mais um dos presentes que bordaria em cada vida com os fios da delicadeza que utilizaria em tudo o que planejava ser forte. Mas o que poderia ser, Ele se perguntava, além das outras tantas ternuras que já havia previsto bordar?
E o Senhor Deus pensou, pensou, pensou. Relembrou cada detalhe, cada etapa, cada riqueza, pacientemente, com todo o zelo de seu coração criador. Reuniu-se com os mestres que o assessoravam no Plano. Trocou idéias. Ouviu, atento, as sugestões e observações que surgiram. Mas nada do que pensava e ouvia atendia à sua expectativa e se aproximava da resposta que buscava desde que aquela intuição lhe visitara. Que traço, afinal, poderia ainda criar para compor o conjunto das bençãos que desenharia na Terra? Que beleza era aquela que murmurava em seu ouvido sem revelar-lhe o rosto?
Contam que, como era costumeiro, numa certa manhã o Senhor Deus Todo Poderoso estava distraído no jardim de sua casa, cuidando amorosamente de suas plantas, quando um anjo, muito belo, muito jovem, banhado de luz azul, aproximou-se Dele para transmitir-lhe uma mensagem de um de seus arcanjos, Miguel, o príncipe celeste que comandava seu exército de luz. E que foi no exato instante em que olhou para aquele anjo que o Senhor Deus descobriu o que ainda faltava em seu plano: anjos que o homem pudesse ver, exatamente como Ele podia ver aquele.
O plano do Senhor Deus previa que seria escolhido para cada pessoa, a partir do momento alquímico de sua concepção, um anjo que iria acompanhá-la em toda a sua trajetória humana, até que devolvesse à Terra a roupa de carne que lhe havia sido emprestada. E, embora se tratasse de um leal companheiro, que iria fortalecê-la, protegê-la e inspirar-lhe, e lhe fosse possível falar com ele e ouvi-lo, em seu coração, o ser humano não poderia vê-lo, a não ser que em algum instante experimentasse um amor tão intenso que conseguisse penetrar na freqüência luminosa onde os anjos moram.
Como um poeta que ao findar um poema é tocado pela vibração de uma palavra que não foi dita sem conseguir visualizar-lhe as feições, o Senhor Deus intuiu a ausência de uma dádiva no buquê de luzes que ofertaria ao homem para perfumar sua caminhada heróica, que trilharia até tornar-se um mestre das coisas que não passam e reunir-se a Ele numa só consciência criadora.
O Senhor Deus não sabia que doçura era aquela que reclamava sua amorosa atenção, mas pressentia que se tratava de algo imprescindível. De alguma graça que deixaria uma lacuna em branco em cada história humana, caso não existisse. De mais um dos presentes que bordaria em cada vida com os fios da delicadeza que utilizaria em tudo o que planejava ser forte. Mas o que poderia ser, Ele se perguntava, além das outras tantas ternuras que já havia previsto bordar?
E o Senhor Deus pensou, pensou, pensou. Relembrou cada detalhe, cada etapa, cada riqueza, pacientemente, com todo o zelo de seu coração criador. Reuniu-se com os mestres que o assessoravam no Plano. Trocou idéias. Ouviu, atento, as sugestões e observações que surgiram. Mas nada do que pensava e ouvia atendia à sua expectativa e se aproximava da resposta que buscava desde que aquela intuição lhe visitara. Que traço, afinal, poderia ainda criar para compor o conjunto das bençãos que desenharia na Terra? Que beleza era aquela que murmurava em seu ouvido sem revelar-lhe o rosto?
Contam que, como era costumeiro, numa certa manhã o Senhor Deus Todo Poderoso estava distraído no jardim de sua casa, cuidando amorosamente de suas plantas, quando um anjo, muito belo, muito jovem, banhado de luz azul, aproximou-se Dele para transmitir-lhe uma mensagem de um de seus arcanjos, Miguel, o príncipe celeste que comandava seu exército de luz. E que foi no exato instante em que olhou para aquele anjo que o Senhor Deus descobriu o que ainda faltava em seu plano: anjos que o homem pudesse ver, exatamente como Ele podia ver aquele.
O plano do Senhor Deus previa que seria escolhido para cada pessoa, a partir do momento alquímico de sua concepção, um anjo que iria acompanhá-la em toda a sua trajetória humana, até que devolvesse à Terra a roupa de carne que lhe havia sido emprestada. E, embora se tratasse de um leal companheiro, que iria fortalecê-la, protegê-la e inspirar-lhe, e lhe fosse possível falar com ele e ouvi-lo, em seu coração, o ser humano não poderia vê-lo, a não ser que em algum instante experimentasse um amor tão intenso que conseguisse penetrar na freqüência luminosa onde os anjos moram.
Para o homem, pensava o Senhor Deus, por mais grandiosa que fosse, aquela dádiva não bastaria. Ele sabia que o ser humano teria dificuldade para lidar com as coisas que chamaria de invisíveis. Que se atrapalharia com tudo o que não pudesse ser tocado com algum dos cinco sentidos que, equivocadamente, acreditaria serem os únicos que possuía.
O homem precisaria também de anjos que fossem visíveis. Feitos da mesma matéria que ele. Com os quais pudesse brincar com os brinquedos humanos. Crescer junto, aprendendo, ensinando, trocando. Que os olhassem nos olhos e o encorajassem ao próximo passo às vezes sem uma única palavra sequer. Com os quais pudesse compartilhar os sabores, os sons, as visões, as falas e as texturas das coisas da Terra e sonhar com as coisas do céu. Que estivessem ao seu lado nos dias de sol e também lhe estendessem a mão para atravessar com ele o tempo em que as noites se fariam tão escuras que ele começaria a duvidar do amanhecer.
Sim, continuava a pensar o Senhor Deus, o homem precisaria de anjos visíveis que tivessem em sua vida a mesma bela tarefa do anjo que não podia ver. Anjos que permanecessem em seu caminho quando tudo parecesse ter ido embora. Que acreditassem nele até quando ele próprio se esquecesse quem era. Que quando o cansaço lhe visitasse e os apelos da sombra o convidassem a desistir, desembainhassem a própria espada para lembrar-lhe de que era também um guerreiro. Que emanassem para ele um bem-querer tão puro que fosse capaz de perfumar até o que ainda lhe doesse. Com os quais pudesse rir e chorar, e, sobretudo, ter a liberdade de ser.
O homem precisaria, sim, de anjos visíveis com sangue nas veias. Que tivessem dor de barriga, mau humor, contas pra pagar, unha encravada, medo, dente de siso para extrair, angústia, raiva, baixo astral, e toda uma séria de chatices humanas que os anjos invisíveis respeitam, mas não experimentam. Com os quais pudesse jogar conversa fora. Torcer por um time. Cantar desafinado. Caminhar na praia. Trocar um abraço. Empanturrar-se de risada e bobó de camarão num domingo grande. Que espelhassem para ele sua porção humana e sua porção divina e lhes fizessem parceria no contínuo exercício de integrá-las durante a viagem. Que pudessem servir de canais para os toques, os puxões de orelha e os carinhos do seu próprio anjo guardião, que, sem fazer ruído algum, trabalharia em sintonia com eles o tempo todo.
O homem precisaria também de anjos que fossem visíveis. Feitos da mesma matéria que ele. Com os quais pudesse brincar com os brinquedos humanos. Crescer junto, aprendendo, ensinando, trocando. Que os olhassem nos olhos e o encorajassem ao próximo passo às vezes sem uma única palavra sequer. Com os quais pudesse compartilhar os sabores, os sons, as visões, as falas e as texturas das coisas da Terra e sonhar com as coisas do céu. Que estivessem ao seu lado nos dias de sol e também lhe estendessem a mão para atravessar com ele o tempo em que as noites se fariam tão escuras que ele começaria a duvidar do amanhecer.
Sim, continuava a pensar o Senhor Deus, o homem precisaria de anjos visíveis que tivessem em sua vida a mesma bela tarefa do anjo que não podia ver. Anjos que permanecessem em seu caminho quando tudo parecesse ter ido embora. Que acreditassem nele até quando ele próprio se esquecesse quem era. Que quando o cansaço lhe visitasse e os apelos da sombra o convidassem a desistir, desembainhassem a própria espada para lembrar-lhe de que era também um guerreiro. Que emanassem para ele um bem-querer tão puro que fosse capaz de perfumar até o que ainda lhe doesse. Com os quais pudesse rir e chorar, e, sobretudo, ter a liberdade de ser.
O homem precisaria, sim, de anjos visíveis com sangue nas veias. Que tivessem dor de barriga, mau humor, contas pra pagar, unha encravada, medo, dente de siso para extrair, angústia, raiva, baixo astral, e toda uma séria de chatices humanas que os anjos invisíveis respeitam, mas não experimentam. Com os quais pudesse jogar conversa fora. Torcer por um time. Cantar desafinado. Caminhar na praia. Trocar um abraço. Empanturrar-se de risada e bobó de camarão num domingo grande. Que espelhassem para ele sua porção humana e sua porção divina e lhes fizessem parceria no contínuo exercício de integrá-las durante a viagem. Que pudessem servir de canais para os toques, os puxões de orelha e os carinhos do seu próprio anjo guardião, que, sem fazer ruído algum, trabalharia em sintonia com eles o tempo todo.
E depois de dividir com aquele anjo inspirador as feições de sua descoberta, contam que o Senhor Deus Todo Poderoso lhe perguntou o seu nome, pois seria com ele que, em gratidão, chamaria o anjo visível que cada pessoa encontraria na Terra.
E o anjo que inspirou o Senhor Deus, maravilhado com sua bondade, revelou-lhe o seu nome:
- Amigo.
E o anjo que inspirou o Senhor Deus, maravilhado com sua bondade, revelou-lhe o seu nome:
- Amigo.
Por Ana Jácomo
Esse texto foi publicado no livro "Parto de Mim", lançado em 2001.
domingo, 6 de setembro de 2015
Tem gente...
"Tem gente
que é só passar pela gente
que a gente fica contente.
Tem gente
que sente o que a gente sente
e passa isto docemente.
Tem gente
que vive como a gente vive.
Tem gente
que fala
e nos olha na face.
Tem gente que cala
e nos faz olhar.
Toda essa gente
que convive com a gente,
leva da gente
o que a gente teme
e passa a ser gente
dentro da gente.
Um pedaço da gente
em outro alguém."
Fernando Sabino
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