sexta-feira, 1 de maio de 2015

Nova Dimensão da Consciência





"Terra, 114 milhões de anos atrás: em uma manhã, logo após o amanhecer, a primeira flor a aparecer no planeta se abre para receber os raios do sol. 

Antes deste momento decisivo que anunciava uma transformação evolutiva na vida das plantas, o planeta já estava coberto de vegetação durante milhões de anos. A primeira flor provavelmente não sobreviveu por muito tempo e as flores devem ter permanecido isoladas como raros fenômenos, uma vez que as condições provavelmente ainda não eram favoráveis para uma ampla floração ocorrer. Um dia, porém, um limiar crítico foi alcançado e, de repente, uma explosão de cores e aromas cobriu todo o planeta.

Potência de despertar

Muito mais tarde, aqueles seres delicados e perfumados que chamamos de flores viriam a desempenhar um papel essencial na evolução da consciência de outra espécie: os seres humanos seriam cada vez mais atraídos e fascinados por elas. Conforme a consciência dos seres humanos se desenvolvia, as flores provavelmente foram a primeira coisa que eles valorizaram e que não tinha nenhuma finalidade utilitária para eles, ou seja, não foi de forma alguma ligado à uma questão de sobrevivência. As flores deram inspiração para inúmeros artistas, poetas e místicos. 

Jesus nos diz para contemplarmos as flores e aprender com elas como viver. Buda, certa vez, teria dado um "sermão silencioso", no qual ele apenas levantou uma flor e olhou para ela. Depois de um tempo, um dos presentes, um monge chamado Mahakasyapa, começou a sorrir. Diz-se que ele foi o único que tinha entendido o sermão. Segundo a lenda, aquele sorriso, isto é, aquela percepção, foi proferida por vinte e oito mestres sucessivos e mais tarde tornou-se a origem do zen. 

Ver a beleza de uma flor pode despertar o ser humano, mesmo que brevemente, para a beleza que é parte essencial do seu próprio ser mais profundo, a sua verdadeira natureza. O primeiro reconhecimento da beleza foi um dos eventos mais significativos na evolução da consciência humana. Os sentimentos de alegria e amor estão intrinsecamente ligados a esse reconhecimento.

Sem perceber, tudo aquilo que é mais elevado e mais sagrado no interior do ser humano acabou sendo representado na forma de flores. Flores, mais fugazes e mais delicadas dentre todas as partes das plantas das quais surgiram, tornaram-se mensageiras de outro reino, como uma ponte entre o mundo das formas físicas e não físicas. Elas não só tem um perfume delicado e agradável aos seres humanos, mas também trazem uma fragrância do reino espiritual. Usando a palavra “iluminação” em um sentido mais amplo do que o convencionalmente aceito, podemos olhar para as flores como a “iluminação” das plantas. 

Iluminação 

Qualquer forma de vida em todo o reino - mineral, vegetal, animal ou humano - pode se "iluminar". Essa, contudo, é uma ocorrência extremamente rara, pois é mais do que uma progressão evolucionária: isso também implica uma descontinuidade no seu desenvolvimento, um salto para um nível totalmente diferente de ser e, mais importante, uma diminuição da materialidade. 

O que poderia ser mais pesado e mais impenetrável do que uma pedra, a mais densa de todas as formas? E ainda assim, algumas pedras sofrem uma mudança em sua estrutura molecular, transformam-se em cristais, e assim tornam-se transparentes à luz. Alguns carbonos, sob inconcebíveis calor e pressão, transformam-se em diamantes, e alguns minerais pesados em outras pedras preciosas. 

A maioria dos répteis rastejantes e todas as criaturas terrestres permaneceram inalteradas durante milhões de anos. Alguns, no entanto, cresceram penas e asas e se transformaram em pássaros, desafiando assim a força da gravidade que os haviam conservado por tanto tempo. Eles não se tornaram melhor do que rastejar e andar, mas transcenderam totalmente essa condição. 

Desde tempos imemoriais, flores, cristais, pedras preciosas e pássaros têm um significado especial para o espírito humano. Como todas as formas de vida, eles são, é claro, manifestações temporárias de uma única Vida e Consciência. Seu significado especial, a fascinação e afinidade que despertam nos seres humanos, podem ser atribuídos à qualidade etérea que apresentam. 

Desde que haja certo grau de Presença, de quietude e atenção na percepção do ser humano, ele pode sentir a essência da divindade, a indivisível consciência e espírito em cada criatura, em cada forma de vida, e reconhecê-las juntamente com sua própria essência como uma coisa só, e por isso amá-las como a ele mesmo. Até que isso aconteça, no entanto, a maioria dos seres humanos vê apenas as formas exteriores, desconhecendo a essência interior, assim como eles são inconscientes de sua própria essência e identificados apenas com sua própria forma física e psicológica. 

Entretanto, no caso de uma flor, um cristal, as pedras preciosas ou os pássaro, mesmo alguém com pouca ou nenhuma Presença pode ocasionalmente sentir que há mais ali do que a mera existência física da forma, sem saber que esta é a razão pela qual é atraído para esses seres e sente afinidade com eles. Devido à sua natureza etérea, a sua forma obscurece o espírito residente em menor grau do que acontece com outras formas de vida. As exceções a esta regra são recém-nascidos ainda em forma de bebês: humanos, cachorros, gatos, ovelhas, e assim por diante. Eles são frágeis, delicados, ainda não firmemente estabelecidos na materialidade. Uma inocência, doçura e beleza que não são deste mundo ainda brilha através deles. Eles deleitam até os seres humanos mais insensíveis. 

Então, quando você está alerta e contempla uma flor, um cristal ou pássaro sem nomeá-lo mentalmente, ele se torna uma janela para o mundo não físico. Há uma abertura em seu interior, ainda que pequena para o reino do espírito. É por isso que estas três formas "iluminadas” de vida têm desempenhado um papel tão importante na evolução da consciência humana desde tempos antigos. A jóia da flor de lótus, por exemplo, é um símbolo central do Budismo e um pássaro branco, a pomba, representa o Espírito Santo no Cristianismo. Estes seres estão preparando o terreno para uma mudança mais profunda na consciência planetária que está destinada para a espécie humana. Este é o despertar espiritual que estamos começando a testemunhar agora. 

Um novo imperativo

A humanidade está pronta para a transformação da consciência, um florescimento interior tão radical e profundo que, em comparação a ele, o florescimento das plantas, não importa o quão belo, é apenas um pálido reflexo?

Podem os seres humanos perder a densidade das suas estruturas mentais condicionadas e se tornarem como cristais ou pedras preciosas, por assim dizer, transparente à luz da consciência? 

Eles podem desafiar a atração gravitacional do materialismo e da materialidade e elevar-se acima da identificação com a forma que mantém o ego no lugar e os condena à prisão dentro de sua própria personalidade? 

A possibilidade de tal transformação é a mensagem central dos ensinamentos de grandes sábios da humanidade. Tais mensageiros - Buda, Jesus e outros, nem todos conhecidos - foram as primeiras flores da humanidade. Eles foram os precursores, os seres raros e preciosos. A floração generalizada não foi ainda possível, e a mensagem tornou-se muito mal compreendida e muitas vezes distorcida. Certamente não transformou o comportamento humano, exceto em uma pequena minoria de pessoas. 

Está a humanidade agora mais preparada do que na época dos primeiros professores?

O que você pode fazer, se existe alguma coisa, para provocar ou acelerar essa mudança interior?

O que é que caracteriza o velho estado egoico de consciência, e através de quais sinais pode-se reconhecer a nova consciência emergente?

Tornou-se imperativo que estas e outras questões essenciais sejam respondidas, porque hoje, a humanidade está diante de uma escolha difícil: Evoluir ou morrer. Um grupo ainda relativamente pequeno, mas crescente da humanidade já está enfrentando dentro de si a dissolução do padrão da velha mente egoica e a emergência de uma nova dimensão da consciência. 

O que está surgindo agora não é um novo sistema de crença, uma nova religião, ideologia espiritual, ou mitologia. Estamos chegando ao final, não só de mitologias, mas também de ideologias e sistemas de crenças. A mudança é mais profunda do que o conteúdo de sua mente, mais profundo do que seus pensamentos. Na verdade, o cerne da nova consciência encontra-se na transcendência do pensamento, uma nova capacidade de levantar-se acima do pensamento, de realizar uma dimensão dentro de si mesmo que é infinitamente mais vasta do que se pensava. Você, então, já não deriva sua identidade, seu senso de quem você é, do fluxo incessante de pensar que em um velho contexto você toma como referência de quem você é. Que libertação perceber que a "voz na minha cabeça” não é quem eu sou! Quem sou eu, então? O único que vê isso. A consciência que é anterior ao pensamento, o espaço em que o pensamento - ou a emoção ou percepção sensorial - acontece. 

Ego não é mais do que isso: a identificação com a forma, o que significa principalmente formas de pensamento. E se o Mal tem uma realidade - e ele tem, não absoluta, mas parcial - esta é também a sua definição: identificação completa com a forma - formas físicas, formas de pensamento, formas emocionais. Isso resulta em um desconhecimento total da minha conexão com o todo, minha unidade intrínseca com todos os "outros", bem como com a Fonte. Esse esquecimento é o pecado original, o sofrimento, a desilusão. Quando essa ilusão de separação absoluta fundamenta e governa tudo o que eu pensar, disser e fizer, que tipo de mundo eu crio? Para encontrar essa resposta, observe como os seres humanos se relacionam entre si, leia um livro de história ou assista ao noticiário hoje à noite na televisão. 

Se as estruturas da mente humana permanecem inalteradas, estaremos sempre recriando fundamentalmente o mesmo mundo, os mesmos males, a mesma disfunção. 

Um novo céu e uma nova terra

A inspiração para o título: Uma Nova Terra veio de uma profecia bíblica que parece mais aplicável hoje do que em qualquer outro momento da história humana. Ela ocorre tanto no Antigo e no Novo Testamento e fala do colapso da ordem existente no mundo e o surgimento de "um novo céu e uma nova terra". Precisamos entender que o céu aqui não é local, mas refere-se ao reino interior da consciência. Este é o significado esotérico da palavra, e este é também o seu significado nos ensinamentos de Jesus. Terra, por outro lado, é a manifestação exterior de forma, que é sempre um reflexo do interior. A consciência humana coletiva e da vida em nosso planeta estão intrinsecamente ligados. "Um novo céu" é o surgimento de um estado transformado da consciência humana, e "uma nova terra" é o seu reflexo no mundo físico." 

Eckhart Tolle