No capítulo passado, Poeira das Estrelas visitou Praga, capital da República Tcheca, para contar a história de dois astrônomos brilhantes do século 17: o dinamarquês Tycho Brahe e o alemão Johannes Kepler. Brahe foi quem fez o primeiro mapa preciso dos planetas no céu que vemos à noite. Kepler foi além: descreveu, com riqueza de detalhes as órbitas dos planetas. E provou que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário, como se acreditava até então. Brahe e Kepler, assim como o italiano Galileu Galilei, foram gigantes da ciência.
Décadas depois, um gênio inglês de temperamento difícil chegaria para promover uma revolução definitiva na astronomia. Ele resumiu numa frase a importância dos mestres Kepler, Brahe, Galileu e tantos outros: "Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes".
Trinity College, uma das muitas faculdades que integram a universidade de Cambridge, na Inglaterra -- no local, em 1661, chegou um estudante de 19 anos com um raro talento para a matemática, chamado Isaac Newton.
Assim como Kepler, Newton vinha de uma história familiar complicada. Ele nasceu prematuro, órfão de pai, e foi abandonado pela mãe quando tinha 3 anos. Criado pela avó, Newton cresceu evitando contato com outras pessoas, fossem homens ou mulheres. Ele jamais se casou, e muitos biógrafos afirmam que Newton morreu virgem.
Na reitoria do Trinity College, encontramos o homem que ocupa hoje o cargo mais importante da astronomia britânica: sir Martin Rees, o astrônomo real. Sir Martin nos conta que Newton tinha uma personalidade nada cativante. Era uma figura solitária, vingativa e reagia mal às críticas, principalmente, quando vinham de outros cientistas. Mas ele não mede palavras na hora de definir o lugar de Newton entre as grandes cabeças da humanidade.
"Na minha opinião, Newton foi o grande intelectual da ciência nos últimos mil anos", diz Rees.
Isaac Newton foi talvez o cientista mais importante de todos os tempos. O interessante é que ele nasceu em 1642, o mesmo ano da morte de Galileu. Foi como se um tivesse passado a coroa pro outro. O grande mérito de Newton foi ter explicado a física do nosso dia a dia. Pra ele, tudo no universo era uma conseqüência de ação de forças.
Você é capaz de já ter ouvido falar na história de que uma maçã caiu na cabeça de Newton enquanto ele tirava um cochilo debaixo de uma árvore. Se a história é verdadeira, não importa. O fato é que Newton concluiu que, se a maçã cai no chão, é porque existe algo que a puxa para baixo: uma força.
Na Grécia Antiga, quase 2 mil anos antes de Newton, o filósofo Aristóteles dizia que pesos diferentes caem com velocidades diferentes. Segundo esse raciocínio errado, uma maçã pequena cairia mais devagar que uma maçã grande.
Setenta anos antes de Newton, Galileu Galilei já havia demonstrado, numa experiência realizada na Torre de Pisa, na Itália, que dois objetos, quando jogados de uma certa altura, caem ao mesmo tempo, independentemente do peso. Aristóteles estava errado. Galileu e Newton, na verdade, estavam falando da mesma coisa: de uma força. Ou seja, a força que faz a maçã atingir a cabeça de Newton é a mesma que faz com que o elefante e a formiguinha caiam ao mesmo tempo da Torre de Pisa. Uma força que age de maneira igual sobre todos os objetos.