Desde que o italiano Galileu Galilei teve a idéia de apontar seu telescópio para o céu, no século 17, a astronomia evoluiu muito. Nos tempos de Galileu, as lentes mal eram capazes de enxergar todos os planetas do nosso Sistema Solar.
Hoje, telescópios gigantes estão descobrindo novos mundos, bem longe de nós. Esses observatórios privilegiados ficam no alto de um vulcão extinto no Havaí. É o cenário do capítulo deste domingo.
De nada adianta ter lentes poderosas, capazes de enxergar longe, se o tempo não colabora. Em noites de céu nublado, astrônomos não têm o que fazer. Por isso, desde o início do século passado, cientistas começaram a montar telescópios em montanhas cada vez mais altas.
Os maiores observatórios do mundo, hoje, ficam no topo do Monte Mauna Kea, no Havaí, a 4,2 mil metros de altitude. Apenas 10% do vapor que existe na atmosfera da Terra se encontra a essa altura. E olha que as nuvens nem são o único obstáculo. Isso porque a atmosfera da Terra bloqueia a luz que vem das estrelas e de outros objetos celestes. Portanto, quanto mais alto você estiver, menos interferência da atmosfera e mais clara a imagem que a gente pode construir dos céus.
Quem pensa em Havaí, lembra logo de praia e mar. Mas a partir de certa altitude, a paisagem do Mauna Kea fica bem diferente do Havaí de cartão postal. A cerca de 3 mil metros de altura, a vegetação já vai morrendo porque não tem oxigênio suficiente para as plantas.
O Mauna Kea é um vulcão considerado extinto porque sua última erupção aconteceu 2400 anos antes de Cristo. A montanha tem uma característica muito interessante: ela é a maior do mundo se for medida da base ao topo. A base do Mauna Kea fica nas profundezas do Oceano Pacífico, quase 6 mil metros abaixo do nível do mar. Se somarmos essa medida aos 4,2 mil metros que são visíveis do lado de fora, o total é de 10,2 mil metros, mais até que o Monte Everest, o ponto culminante da Terra, que tem 8.850 metros.
Só quando se chega ao topo é que se entende porque os nativos do Havaí deram esse nome à montanha: Mauna Kea quer dizer "Monte Branco". No dia da nossa chegada, o Mauna Kea estava totalmente coberto de neve. A montanha é a casa do Observatório Gemini.
O Observatório Gemini tem esse nome porque é composto de dois telescópios que são irmãos gêmeos. Um fica no Havaí, o outro, igualzinho, fica no Chile, na Cordilheira dos Andes, mas a uma altitude menor.
"Esse é um telescópio de verdade. Um espelho de 8,3 metros", conta o astrônomo Scott Fisher, o anfitrião nessa visita. Fisher explica que o espelho, a parte do telescópio que capta as imagens, tem 8,3 metros, mas que a estrutura toda tem 30 metros, a mesma altura da estátua do Cristo Redentor.
Fisher lembra que o Gemini pertence a um consórcio internacional. "O Brasil é um dos sete países parceiros do Gemini. Do total, 8% do tempo de observação é exclusivo de astrônomos brasileiros", explica Fish.
Qualquer que seja a nacionalidade, os astrônomos que usam o Gemini estão fazendo descobertas importantes sobre o universo. Do observatório eles podem testemunhar o nascimento e a morte de estrelas, a muitos bilhões de anos-luz da Terra.
Um ano-luz é a distância que a luz leva um ano para percorrer. Como a luz viaja a 300 mil quilômetros por segundo, dá para entender que estamos falando de objetos muito, mas muito distantes da Terra.