A busca pela origem do Universo é apenas uma das muitas dúvidas existenciais que já nos fizeram perder noites de sono. Se hoje aceitamos a teoria do Big Bang como a versão da Ciência para o princípio de tudo, ainda esperamos por respostas para muitas outras perguntas. Uma das que mais tem intrigado cientistas ao longo dos tempos é o tema do capítulo deste domingo.
A Terra é um planeta cheio de vida. É impressionante a variedade de animais que vemos vê na terra, no mar, no ar. Quem é que nunca se perguntou de onde veio isso tudo? De onde surgiu a vida e quando?
Vida é uma dessas coisas que é mais fácil identificar do que explicar. Até hoje, não existe uma definição única para vida.
Mas sabemos que:
Portanto, a vida está ligada à transformação e à reprodução. Mas, se olharmos à nossa volta, e procurarmos pelo que existe de mais antigo na história da Terra, encontraremos matéria sem vida. Pedras são feitas de minerais, como o silício e o quartzo, que compõem a areia da praia. Água é feita de hidrogênio e oxigênio. Nada disso é vivo. Como, então, que num passado distante, durante a infância da Terra, essa matéria se agrupou e veio a dar origem a seres vivos? Essa passagem do inanimado ao animado é o grande mistério da origem da vida.
"Frankenstein", clássico da literatura tantas vezes adaptado para o cinema, conta a história do médico louco que queria dar vida a um cadáver usando eletricidade. A ciência moderna mostrou que o doutor Frankenstein não era tão louco assim.
Em 1953, um jovem químico americano da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, tentou reproduzir em laboratório as condições iniciais para a vida. Ele juntou compostos químicos que se acreditava existir na Terra primitiva com um ingrediente fundamental: eletricidade. O cientista é Stanley Miller, hoje com 76 anos, e muita dificuldade para falar por causa das seqüelas de um derrame.
Marcelo Gleiser pergunta a Stanley Miller o que ele pôs dentro dos tubos que simulavam a atmosfera primitiva da Terra. Ele conta que misturou água, hidrogênio, amônia, gás metano e gás carbônico. Era o que existia em abundância nos primórdios do nosso planeta. Apenas matéria inorgânica. Stanley Miller imaginou um mundo primitivo com tempestades elétricas constantes. Por isso, aplicou uma corrente elétrica à mistura.
O resultado da experiência foi surpreendente. A corrente elétrica fez com que os compostos se reagrupassem, dando origem a aminoácidos. Aminoácidos são compostos essenciais que existem em todos os seres vivos. Vinte e dois aminoácidos compõem a matéria-prima da vida, o código da vida, presente em cada célula de cada ser vivo: o DNA.
Com essa experiência, Stanley Miller demonstrou que é possível, no laboratório, formar as moléculas que compõem todos os seres vivos.
O químico inglês Leslie Orgel, do Instituto Salk, também em San Diego, é um dos maiores especialistas do mundo em origem da vida. Ele diz que, graças à experiência pioneira de Stanley Miller, hoje cientistas são capazes de reproduzir em laboratório -- senão todos -- os mais importantes aminoácidos. Mas Leslie Orgel lembra que ainda há muito por explicar.