sábado, 18 de junho de 2011

Doenças Cármicas: Coletivas e Individuais


 
O homem, de certa forma, "cria-se a si mesmo".

Em outras palavras, aquilo que somos como personalidade, isto é, como corpo físico-etéreo, corpo emotivo e mental, é o efeito de causas produzidas por nós mesmos, através das ações cometidas em existências passadas (compreendendo a palavra "ações" também os sentimentos, as emoções e os pensamentos).

Assim reza a lei do Carma, ou lei da ação e reação. O aspecto que talvez nos seja de mais difícil compreensão é o que diz respeito ao corpo físico, pois parece-nos absurdo que o nosso comportamento e a nossa maneira de sentir e pensar cheguem a influir até mesmo sobre a matéria física, a ponto de "modelar" um determinado tipo biológico.

Mas se refletirmos atentamente sobre a relação existente entre psique e corpo, isso não nos parecerá mais absurdo e impossível.

Se é verdade que o nosso corpo físico é somente um "robô", uma simples máquina movida pela força vital inerente ao corpo etéreo, então pode-se considerá-lo um efeito e não uma causa.

De fato, o veículo físico é um instrumento de expressão e de experiência, não somente para o Si como para os outros corpos sutis, cujo conjunto constitui a psique do homem, pois é na psique que o eu pessoal encontra o seu centro focal, quando ainda não tem consciência do Si, sendo, portanto, com relação ao corpo físico, o sujeito que o move e o dirige.

Além disso, a matéria física de que se compõe o corpo denso é sensível e receptiva às vibrações dos corpos sutis, assumindo as suas qualidades e defeitos.

De fato, já vimos como todos os órgãos do corpo, as glândulas e o sistema nervoso estão sempre sob a influência da psique, a ponto de, com o passar do tempo, chegarem mesmo se alterar morfologicamente, devido às desarmonias internas.

Assim, podemos dizer que cada indivíduo tem o corpo e a constituição física que ele mesmo criou para si.

Existe, portanto, também uma escala evolutiva para o corpo físico (assim como para os outros veículos da personalidade) que se condensa no perpétuo átomo físico (que persiste depois da morte do corpo material) e ao redor do qual o Si espiritual construirá o novo veículo físico na próxima encarnação, atraindo matérias de vibrações semelhantes.

De fato, se nascemos numa determinada família e assumimos suas características físicas, suas fraquezas orgânicas e eventuais taras hereditárias isso não se dá por acaso, mas porque o nosso Carma nos leva em direção a ela, por haver uma afinidade vibratória, a nível físico, entre nós e os futuros pais. Isso que habitualmente chamamos "hereditariedade" é um encontro preciso de causas concorrentes, que nós mesmos acionamos em existências anteriores e que produzem o seu efeito.

As doenças cármicas, portanto, são antes de mais nada, aquelas que nos atingem devido a nossa constituição física hereditária e ao nosso tipo biológico, que apresenta determinadas fraquezas congênitas.

Poderíamos perguntar: "A criança, então, não nasceria totalmente sã?"

Teoricamente sim, mas na prática devemos considerar que existem nela certas predisposições latentes, certas debilidades constitucionais que lhe vêm da família em que nasceu e que podem, mais cedo ou mais tarde, manifestar-se como verdadeiras doenças. Esse tipo de doença deve ser considerado "cármico", pois suas causas devem ser procuradas não no presente, mas no passado. De fato, tudo o que nos atinge e nos acontece sem apresentar uma causa aparente, seja psicológica ou exterior, pode-se considerar efeito do carma. Em outras palavras, a nossa responsabilidade nunca deixa de existir, apenas ela "remonta", no tempo, a existências anteriores.

Analisando, portanto, as nossas "predisposições" para determinadas doenças, as nossas fraquezas constitucionais, poderíamos remontar aos nossos erros passados, pois há sempre uma "linguagem dos órgãos" que se pode interpretar e fazer com que entendamos a ação ou a emoção que se esconde por detrás dela.

A essa altura, é oportuno que nos detenhamos um pouco para fazer alguns esclarecimentos sobre a verdadeira natureza e finalidade do carma. Existe uma tendência bastante acentuada a interpretar o carma como algo inexorável, como um determinismo ao qual não se pode escapar; uma "nêmesis", que pune sem contemplação...

Isso, de certo modo, corresponde à verdade, pois o carma é uma Lei universal de justiça, ou melhor, seria a própria Lei por excelência, pois sua ação é o que mantém o equilíbrio de todas as manifestações. Todavia, não se deve interpretá-la como uma punição ou uma recompensa que nos foi conferida por um Ente Superior que sustenta a balança da justiça, mas somente como a expressão automática de uma lei cósmica, que regula o jogo das energias em todos os níveis e tem a função de "reequilibrar" a harmonia universal e individual quando esta é perturbada.

De fato, o carma também é chamado Lei de compensação. Um outro aspecto desta lei, frequentemente esquecido, quando não totalmente ignorado, é a sua função educativa e didática; função esta que nos fornece a chave para utilizar e, em determinados casos, superar o carma.

Muitos, de fato, perguntam: "É possível evitar o carma"?

Não, o carma não pode ser evitado, pois ele exprime uma lei precisa, quase mecânica, a qual, uma vez acionada, não se pode mais deter, como qualquer outra lei física; todavia, pode-se "preveni-la", pode-se ir ao seu encontro e, enfim, colaborar com ela, para que ela venha a se tornar um meio purificatório, educativo e evolutivo.

No livro Os sutra yoga, de Patanjali, pode-se ler: "A dor que ainda não sobreveio pode ser prevenida". (Livro II, Sutra 16.)

O que significam tais palavras?

Significam que um homem que já tenha guiado os seus passos para a vereda espiritual pode, à luz da nova consciência, compreender os obstáculos internos, os seus pontos fracos, e, através de um paciente trabalho de purificação e sublimação, transformar a sua natureza inferior, de modo que, ao se lhe apresentar um antigo débito cármico a ser pago, sob a forma de um acontecimento doloroso ou de uma doença, ele não sofrerá com isso; ao contrário, saberá transformar aquela experiência em algo de útil e luminoso para o desenvolvimento da consciência, e extrair disso, ao invés de dor, paz e alegria.

De fato, a dor provém sobretudo da rebelião, da amargura, do sentimento de injustiça, que nos enrijecem, e nos fazem assumir uma atitude negativa de oposição ao carma, impedindo-nos de entender o significado que se oculta por trás da prova.

Assim, no que diz respeito às doenças cármicas, que podem decorrer da constituição física hereditária e, portanto, em certos casos, tornar o indivíduo inábil desde o nascimento (como em casos de cegueira) ou exposto a enfermidades crônicas, se elas forem aceitas com serenidade e interpretadas corretamente, podem redundar em situações de progresso e em experiências frutíferas.

Neste caso, o carma desempenha a sua verdadeira função, que é a de equilibrar uma situação desarmônica e errada e, impelindo o indivíduo a ''compensar" as suas fraquezas, faz com que ele desenvolva as faculdades e os dons mais aptos a tal fim, justamente os que lhe faltavam.

Às vezes, não é fácil compreender a lição que se oculta no carma, sobretudo aceitar, sem sofrer com isso, dolorosas enfermidades e deficiências humilhantes e debilitantes que obrigam o indivíduo a levar uma vida limitada e a renunciar às alegrias e consolos comuns das outras pessoas...

E por muito tempo a humanidade sofre, se rebela e continua a cometer erros, pois interpreta as experiências dolorosas como uma calamidade injusta e obscura, cuja origem ela ignora. Mas depois, pouco a pouco, com o desenvolvimento da consciência, começa a delinear-se o jogo das energias sutis que se desenvolve por trás das aparências e a se revelar o funcionamento da lei de ação e reação.

O homem descobre, assim, que existe uma justiça perfeita, infinito amor e completa harmonia subjacentes às formas de discordância é desordem exteriores, e então se abre à confiança, o que traz a aceitação e a colaboração consciente com as forças evolutivas.

Quanto a nós próprios, do ponto de vista da saúde física, deveríamos tentar distinguir, dentre os distúrbios e doenças, aqueles que nós mesmos atraímos devido a defeitos psicológicos ou a um mau uso das energias sutis, e aqueles que, por sua vez, têm origem cármica, isto é, raízes em existências passadas.

Já dissemos que a constituição física que nos é legada pela família em que nascemos é cármica, assim como todas as deficiências e doenças originadas por ela; mas também podem ser cármicas as doenças que não derivam de fraquezas congênitas e que se abatem subitamente sobre as nossas vidas, sem uma causa aparente, e que parecem resistir a todas as curas, a ponto de se prolongarem além do normal e apresentarem uma progressão crônica.

Se, após uma cuidadosa auto-analise psicológica, para verificar eventuais causas inconscientes, após uma rearmonização das energias psíquicas, a doença persistir, isso indica que ela é cármica. Em outras palavras, devem-se ao carma todas as doenças que independem de nossa responsabilidade atual e que parecem produzidas por uma força exterior a nós.

Frequentemente, tais doenças são incuráveis e conduzem a uma permanente enfermidade, ou mesmo à morte, caso não se dê um súbito "despertar" da consciência, uma iluminação que transforme completamente o homem, reorientando as energias bloqueadas que causavam a doença.

Isso depende do grau evolutivo individual, que no mais das vezes se revela somente em tais circunstâncias.

De fato, muitas pessoas que passaram por isso que se chama justamente o despertar da Alma (ou a Iluminação), tiveram tal experiência após uma grave doença que as levou às portas da morte.

Antes desse despertar, eram pessoas comuns, sem qualquer vestígio de espiritualidade, justamente porque o seu estágio real de evolução era "inconsciente" e se havia criado uma barreira entre a personalidade e o Si, barreira que a ação purificatória da doença fez desaparecer.

Em geral, não é fácil entender o nosso próprio estágio de evolução, mas seria útil procurar identificá-lo, com o fito não de lamentá-lo ou gabá-lo, mas de identificar as nossas deficiências e qualidades, e sobretudo para compreender o passo seguinte que devemos dar, e, assim, dirigir todas as nossas energias para aquela finalidade, evitando os eventuais obstáculos e superando as dificuldades que se colocam entre nós e a meta a ser alcançada.

Todo estágio evolutivo tem a sua problemática, tanto do ponto de vista do desenvolvimento da consciência como do correto direcionamento das energias; por esse motivo, seria da maior valia reconhecer o próprio nível interior, para, assim, chegar a um "diagnóstico" correto da própria situação psíquica.

Já nascemos com um certo grau evolutivo, representado pelas existências passadas que trazemos conosco e, portanto, com uma situação exata no que diz respeito ao despertar dos centros etéreos e o desenvolvimento dos corpos sutis.

Esta situação poderia ser definida como um nosso "boletim clínico", boletim este que deveríamos procurar reconstruir, analisando as nossas dificuldades psicológicas, os nossos problemas de desenvolvimento, as nossas deficiências e fraquezas físicas e também as nossas qualidades, tendências e potencialidades...

Este nosso quadro é o resultado de todos os nossos atos e experiências passadas, a nível físico, emocional e mental, fazendo parte do lastro cármico.

Interpretando, portanto, o carma não como algo que se deve suportar passivamente e do qual não se pode escapar, mas como um encontro de energias acionadas por nós mesmos, e que produz determinados efeitos, podemos tentar utilizá-lo para o nosso desenvolvimento e, assim, superá-lo para sempre.

Agora, é preciso mencionar brevemente também o carma coletivo, pois até aqui falamos sobretudo do carma individual.

Não é fácil compreender o funcionamento do carma coletivo, ao qual toda a humanidade está submetida.

Para entendê-lo, é preciso reportar-se ao conceito de que existe uma única substância, uma única consciência atrás da multiplicidade, uma unidade efetiva subjacente que une toda a humanidade numa única entidade, numa única grande Alma.

Esta Alma Única da humanidade é, porém, inconsciente, tendo sobretudo a função de dirigir e governar os homens até que desperte a consciência individual. É uma espécie de consciência de massa, semelhante à que existe no reino animal, e que não se deve confundir com a "consciência de grupo" que ao contrário, é um estágio superior, ao qual se chega quando se verifica o despertar da Alma. Tal consciência de massa é um reservatório onde se acumulam todas as experiências da humanidade, onde tudo é registrado...

É o inconsciente coletivo de que fala Jung, o qual contém forças primordiais comuns a todo o gênero humano, pertencentes ao passado mas sempre atuais, porque condicionam e estimulam o homem à ação, até emergir a sua individualidade adormecida.

Neste reservatório comum encontram-se todas as experiências, erros, tendências e impulsos da humanidade, patrimônio coletivo do qual o indivíduo se serve quando age de maneira inconsciente, quando "se deixa viver", pois ainda não é consciente e responsável.

O Si espiritual existe em todos os homens, mesmo nos mais primitivos, mas em estado latente e tão reprimido que por longos períodos ele praticamente inexiste.

Predomina, então, esta "consciência coletiva", este cérebro único, por assim dizer, semelhante a um formidável turbilhão de energias geradas por toda a humanidade, ao qual às vezes ela se submete sofrendo coletivamente as suas conseqüências, mesmo sob forma de catástrofes, guerras, epidemias, etc.

As doenças sociais ou coletivas dependem dessa consciência única da humanidade, desse turbilhão de energias, caracterizado pelas ações dos homens ainda não despertos.

É preciso, portanto, classificar as doenças em quatro grandes categorias:

a) doenças devidas a causas psicológicas (atuais);

b) doenças cármicas individuais;

c) doenças cármicas coletivas;

d) doenças evolutivas (despertar dos centros e transferência das energias).

No capítulo seguinte, trataremos das últimas.

Fonte:
Angela La Sala Bata
Capítulo VIII
Medicina Psico Espiritual