A humanidade de nível primitivo e médio, como sabemos, funciona através dos centros situados abaixo do diafragma, isto é, o centro localizado na base da espinha dorsal (auto-afirmação), o centro Sacral (sexualidade) e o Plexo Solar (emotividade), centrando-se na personalidade, isto é, num estado de consciência ilusório e limitado, completamente identificado ao eu superficial.
Esse estágio evolutivo, do ponto de vista patológico, relaciona-se com as doenças cármicas coletivas e individuais (como vimos) e com as doenças provocadas por causas psicológicas.
Nos estágios seguintes, ao contrário, ocorrem mudanças, inclusive no que diz respeito às doenças.
Diminuem pouco a pouco as doenças cármicas e psicológicas e acentuam-se as doenças provocadas por causas purificatórias e evolutivas, devidas ao gradativo despertar dos centros superiores e à transferência de energias dos centros inferiores para aqueles localizados acima do diafragma, o que acarreta dificuldades, problemas e conflitos.
Inicia-se um período extremamente tormentoso para o homem, mas também muito frutífero.
A luta entre as forças evolutivas e as cristalizações e falsas identificações torna-se cada vez mais intensa, originando gradativos e sucessivos amadurecimentos e esclarecimentos, os quais constituem a luminosa recompensa pelo sofrimento evolutivo.
Na realidade, o sofrimento é inevitável, pois surge do atrito entre o impulso evolutivo inato em nossa centelha divina, que procura penetrar na consciência, e a matéria inerte e estática, que inconscientemente se opõe a este impulso.
Se o homem se identifica com a matéria, a oposição se acentua, a desarmonia torna-se mais forte, podendo ocasionar uma doença física ou psíquica.
A doença, nesse período evolutivo, é quase sempre o sintoma que nos revela a presença de um conflito entre o Si e a personalidade, querendo nos assinalar uma oportunidade de progresso e amadurecimento.
Este conflito evolutivo produz frequentemente uma purificação das energias dos veículos e uma transmutação dos aspectos inferiores da personalidade em aspectos superiores. É um processo purificatório que aumenta, às vezes, o estado de sofrimento do doente, pois as substâncias que compõem os veículos pessoais são submetidas a um processo "alquímico", a um trabalho, antes de se elevarem, e devem se tornar mais refinadas, mais "leves", para poderem se exprimir através dos centros superiores.
Antes que aconteça o despertar da consciência do Si, o que provoca uma completa mudança no indivíduo e faz dele como que um "renascido", decorre, portanto, um longo período de sofrimento e crise, além, naturalmente, de distúrbios e doenças que indicam a aproximação deste evento maravilhoso, para o qual o homem tende sem se dar conta. Após o despertar, a formidável afluência das novas energias, a irrupção da luz e da nova consciência nos veículos podem ocasionar um período de desequilíbrio fisiopsíquico, de adaptação e assimilação, o que pode se manifestar através de determinadas doenças.
Verificam-se, portanto:
a) doenças e distúrbios antes do despertar do Si;
b) doenças e distúrbios após o despertar do Si.
Examinemos primeiramente o período que precede o despertar. Começando pelo estágio evolutivo do "Homem de ideais" e por todo o estágio do "Aspirante espiritual", as energias da personalidade e dos centros inferiores começam a sofrer um processo de elevação, como consequência da consagração a um ideal, o que permite a superação do eu egoísta e da estaticidade, e também em consequência da aspiração ao Divino.
Esta elevação pode ocorrer mesmo sem que o homem tenha consciência, produzindo mudanças efetivas e precisas nele, pois as energias da personalidade começam a sublimar-se e a transferir-se dos centros inferiores para os superiores, o que também ocasiona uma gradativa mudança na consciência, que assim se aproxima cada vez mais da consciência do Si.
É uma odisséia interior, gradativa e lenta, de "distanciamento" dos automatismos, dos condicionamentos, das ilusões que tinham se instaurado na personalidade e mantinham o homem prisioneiro a um estado de irrealidade e limitação.
Tudo isso, porém, não se dá sem conflito e sofrimento pois inicialmente ele opõe resistências inconscientes a esse impulso ascensional, estando o seu "eu" identificado com a personalidade ilusória.
O indivíduo sofre e se debate entre duas tendências opostas, razão pela qual ocorrem frequentemente graves crises, que se manifestam através de angústia, depressão, sentimento de inutilidade, distúrbios físicos e doenças diversas, o que indica uma purificação efetiva das energias etéreas, pois evidentemente há congestões, inibições, distúrbios funcionais que necessitam ser resolvidos e superados antes que a consciência do Si possa manifestar-se livremente.
Tais doenças físicas podem por vezes se prolongar por muito tempo e se agravar quase até à morte, se o indivíduo não faz jus ao amadurecimento que o processo patológico simbolicamente lhe indica e não toma consciência do que se passa, sutilmente, em seu interior.
Existe uma linguagem dos órgãos, coisa que até mesmo a medicina psicossomática admite em hipótese, e que nós, com o tempo, temos que aprender a decifrar. Para tanto, contamos com a ajuda das ciências esotéricas que, ensinando-nos a constituição oculta do homem e revelando-nos a existência de centros de força etéreos correspondentes às glândulas endócrinas, nos possibilita entender a relação entre doença física e estado psíquico.
De fato, cada centro exprime atributos e faculdades do homem que, ao serem acionadas, produzem determinadas reações físicas. Por exemplo, é sabido que uma forte sensação de medo ou cólera, provocada por uma atitude de defesa ou de agressão, gera no plano físico uma descarga de adrenalina através das cápsulas supra-renais. Em outras palavras, coloca em funcionamento o centro situado na base da espinha dorsal, que exprime justamente auto-afirmação e agressividade.
A descarga de adrenalina, por sua vez, provoca os seguintes fenômenos físicos:
a) o aumento do açúcar no sangue;
b) o aumento da capacidade de contração de um músculo;
c) irrigação abundante do sistema muscular pelo sangue;
d) diminuição do tempo de coagulação do sangue.
Se tais fenômenos se repetirem com frequência, em virtude de renovadas emoções desse tipo, será fácil perceber as consequências patológicas que daí podem resultar (diabete, artrite, hipertensão etc). Portanto, cada doença deve ser interpretada e relacionada ao centro etéreo mais próximo do órgão atingido.
Além disso, como veremos em outros capítulos, as doenças não são provocadas somente pelos centros inferiores, mas também pelos centros superiores, se estes não apresentarem um fundamento equilibrado ou se forem prematuramente despertados.
No período, portanto, que precede o despertar da Alma, o aspirante está mais sujeito a distúrbios, crises e eventuais doenças físicas e psíquicas (neuroses), sofrendo até compreender que chegou a um ponto crucial de sua vida a um momento decisivo, em que deve fazer uma opção, orientar-se definitivamente para a luz e operar uma verdadeira "conversão" na própria consciência.
É exatamente isso que o seu Si deseja dele, caso ele já seja um aspirante espiritual, por isso a profunda crise que precede o despertar pode ser resolvida somente se houver uma "rendição" às forças superiores, acompanhada de um trabalho intenso e contínuo de sublimação das energias.
Podemos, portanto, dizer em síntese que, antes do despertar da consciência do Si, verifica-se sobretudo uma ascensão das energias da personalidade, uma elevação das vibrações, originando a sublimação e a transferência de tais energias dos centros inferiores para os centros superiores, enquanto no período do "Discípulo", como veremos agora, ocorre primeiramente uma queda das energias espirituais na personalidade.
Em outras palavras, antes há aspiração, demanda por parte da personalidade, e depois resposta, constituída pela afluência da Luz, da Consciência e da Força do Si para os veículos.
e) O grau do Discípulo tem início após o despertar da Consciência do Si, o que produz uma completa mudança no homem, a ponto de tal acontecimento ser chamado frequentemente "segundo nascimento".
De fato, o ciclo que começa a partir desse momento é como uma nova vida. O homem sabe, enfim, quem ele é realmente.
Não mais existem dúvidas nem hesitações.
Reconheceu-se a si mesmo, ou melhor, lembrou-se de seu verdadeiro ser, e o caminho abre-se à sua frente, luminoso e claro. Ele é um Discípulo, pois a sua vontade se junta a uma Vontade Superior, põe-se a serviço de Seres que trabalham pelo bem da humanidade. A sua consciência, pouco a pouco, faz-se cada vez mais ampla e universal, des-personalizando-se na ajuda aos outros.
Todavia, os problemas não terminaram ainda, pois mesmo que a consciência tenha se libertado dos condicionamentos e das trevas, a obra de transformação, do ponto de vista das energias, ainda não se encerrou.
Além disso, a poderosa afluência da Luz espiritual para os veículos pessoais e para os centros ocasiona, frequentemente, problemas e dificuldades.
De fato, na queda, as energias espirituais reavivam todos os centros, mesmo aqueles abaixo do diafragma, pois elas repetem automaticamente aquilo que acontece no Macrocosmo, no momento em que uma manifestação produz uma involução antes das energias divinas (descida), e depois uma evolução (subida).
Na involução, a energia gera os vários planos da manifestação, inclusive o mais baixo da matéria, e depois se eleva novamente sob a forma de consciência, tornando a percorrer a mesma trajetória em sentido inverso.
O homem é o microcosmo que repete em si todas as leis do Macrocosmo, logo, a energia espiritual que provém do Si repete a mesma trajetória: involução e evolução, queda e ascensão, e portanto desce, a princípio, ao nível mais baixo, reavivando um após outro todos os centros, e depois volta à superfície, até a sua fonte.
Assim, o homem se depara com dois problemas neste período: o de saber sustentar a poderosa afluência das energias espirituais, que vão estimular todos os centros, sem se deixar arrastar, e o de saber canalizar e transferir tais energias na direção certa, transferindo-as para os aspectos superiores... Portanto, os distúrbios e doenças dos discípulos derivam de dificuldades e erros devidos à "estimulação", e a problemas inerentes à correta utilização das energias no serviço.
É útil examinar quais podem ser os distúrbios provocados pelo despertar dos centros:
1. Despertar do centro da cabeça: Inflamação de determinadas áreas do cérebro e algumas formas de tumores cerebrais. Isso pode acontecer quando o indivíduo é altamente desenvolvido e de um tipo mental.
2. Despertar do centro ajna (entre as sobrancelhas): Pode ocasionar sérios distúrbios nos olhos, neurites, dor de cabeça e outros distúrbios dos nervos.
3. Despertar do centro do coração: Distúrbios do coração relacionados com o sistema nervoso autônomo, particularmente com o nervo vago.
4. Despertar do centro da garganta: Hipertireoidismo. Distúrbios do metabolismo. Papo.
5. Despertar do plexo solar: Distúrbios do estômago, do fígado e intestinos.
6. Despertar do centro sacral: Hiperatividade da vida sexual. Inflamação dos órgãos relacionados. Anomalias sexuais.
7. Despertar do centro situado na base da espinha dorsal: Distúrbios da espinha dorsal. Distúrbios renais. Agressividade, violência, autoafirmação etc.
Naturalmente, tais distúrbios podem sobrevir quando o indivíduo não tem consciência de que, devido à afluência de energias espirituais, os seus centros despertam.
É o primeiro período após o despertar do Si que apresenta maior perigo, pois o homem se abandona e se abre a tal afluência, submerso por um sentido de "êxtase" e de profunda alegria, e, enquanto é tomado pela nova consciência, que o torna extremamente lúcido e desperto, não percebe que está a absorver as novas energias como uma terra árida, há tempos à espera de água.
De qualquer forma, tais distúrbios, caso ocorram quando o homem já está desperto e agarrado à realidade do Si, podem ser superados de maneira relativamente fácil, pois a consciência do que aconteceu ajuda a canalizar as energias e a desfazer as congestões.
Em alguns casos, o despertar pode se verificar antes do grau de Discípulo, isto é, antes do contato consciente com o Si, sendo então muito mais perigoso, pois pode arrastar o indivíduo e provocar distúrbios e doenças difíceis de vencer, justamente porque o indivíduo não tem consciência da causa que os originou.
O estágio do Discípulo é também ele um tanto tormentoso, pois a sublimação das energias continua e os problemas tornam-se mais sutis, já que o indivíduo deve se tornar um canal perfeitamente puro e livre de qualquer personalismo e apego, e isso não é fácil.
Além disso, o despertar do Centro do Coração faz com que ele se torne sensível e receptivo também aos sofrimentos e problemas dos outros, o que o torna aberto às vibrações dos outros, que ele absorve inconscientemente, e assim as suas dificuldades aumentam a partir dessa identificação com os seus irmãos. Todavia, a consciência interior centrada na Alma o sustenta, lhe dá força e serenidade. Sofre, mas o seu sofrimento não revela desespero nem angústia, pois ele conhece a sua causa e a sua razão. Colabora com as forças evolutivas, e mesmo que passe por períodos de escuridão, sabe que virão períodos de luz...
Não falaremos agora dos períodos que se seguem ao do Discípulo, pois ainda seria prematuro. Interessa-nos concentrar nossa atenção sobre os principais problemas do aspirante que mais se aproximam dos nossos, e procurar enfeixá-los numa síntese que nos seja de utilidade prática.
Três são os problemas principais:
I. A transferência das energias do Plexo Solar para o Centro do Coração, isto é, a sublimação da emoção em amor altruísta.
II. A transferência das energias do Centro Sacral para o Centro da Garganta, isto é, a sublimação da sexualidade em criatividade superior.
III. A transferência das energias do Centro situado na base da espinha dorsal para o Centro no alto da cabeça, isto é, a sublimação da auto-afirmação em Vontade Espiritual. Nos próximos capítulos, voltaremos a nossa atenção para estes três problemas.
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