sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Psicossíntese



No seu sentido mais básico, a psicossíntese é o processo de crescimento pessoal - a tendência natural em cada um de nós de harmonizar, ou sintetizar, nossos vários aspectos em níveis sempre mais altos de organização. 

Em seres humanos, esse anseio de evolução para um nível mais refinado se torna consciente, o que permite facilitar e cooperar com esse processo natural. Para tornar essa cooperação mais eficiente, é necessário adquirir uma compreensão conceitual e estrutural, e entrar em contato com o leque de técnicas práticas disponíveis. 

A psicossíntese oferece uma metodologia e conceitos claros - dentro de um sistema abrangente e flexível - para ajudar e facilitar o impulso humano natural rumo a seu desenvolvimento e a sua integração.

A psicossíntese acredita que cada ser humano possui um vasto potencial que, geralmente, é pouco reconhecido e pouco usado. Ela também acredita que cada um de nós tem dentro de si a capacidade de ter acesso a esse potencial. 

A psicossíntese é vista frequentemente como um processo de tomada de consciência, de desvelamento do seu próprio potencial, no qual a pessoa possui um conhecimento interno e uma sabedoria daquilo que necessita a qualquer momento para que esse processo se desenvolva. O papel do terapeuta é ajudar a identificar esses recursos internos, apoiar o processo, e estar atento ao que está acontecendo.


O Supraconsciente

A Psicossíntese foi inicialmente formulada em 1910 pelo psiquiatra italiano Roberto Assagioli (1888-1974), um pioneiro do movimento psicanalítico na Itália e um contemporâneo de Freud e Jung. Cedo no seu trabalho, ele observou que essa repressão dos impulsos mais altos, supraconscientes (conhecida mais tarde como "a repressão do sublime") poderia ser tão danosa para a psique quanto a repressão do material inconsciente inferior. 

A psicanálise tradicional reconhece um inconsciente primitivo, ou "inferior" - a fonte de nossos impulsos atávicos e biológicos. Mas há também um inconsciente "superior", um supraconsciente - um reino autônomo no qual se originam nossos impulsos mais evoluídos, tais como: o amor e a vontade altruísticos, a ação humanitária, a inspiração artística e científica, a introspecção filosófica e espiritual e a procura do propósito e do significado da vida. A psicossíntese trabalha com a integração do material do inconsciente inferior e com a realização e a atualização do conteúdo do supraconsciente.

Para este fim, ela usa uma larga gama de técnicas para contatar o supraconsciente e para estabelecer uma ponte com aquela parte de nosso ser onde a verdadeira sabedoria deve ser encontrada. O supraconsciente é assim acessível, em grau variável, para cada um de nós, e pode se tornar uma grande fonte de energia, de inspiração e de orientação. A psicossíntese nos ajuda a entrar em contato e a manifestar essa parte de nós mesmos tão completamente quanto possível na vida cotidiana.


O Diagrama do Ovo e o Diagrama da Estrela

A psicossíntese usa diversos diagramas para ajudar no entendimento dos diversos componentes do self. Embora estejam necessariamente limitados em escopo e perspectiva, esses diagramas são úteis por fornecerem uma representação pelo menos parcial do mistério do self. O Diagrama do Ovo e o Diagrama da Estrela são básicos para a psicossíntese. O primeiro pode também ser visto em cor. O segundo descreve as funções psicológicas, com a vontade exercendo o papel central.



O Diagrama do Ovo

1. O Inconsciente Inferior
2. O Inconsciente Médio
3. O Inconsciente Superior ou Supraconsciente
4. O Campo da Consciência
5. O Self Consciente ou "Eu"
6. O Self Superior
7. O Inconsciente Coletivo




O Diagrama da Estrela

1. Sensação
2. Emoção-Sentimento
3. Desejo Impulso
4. Imaginação
5. Pensamento
6. Intuição
7. Vontade
8. Ponto central: O Eu, ou Self pessoal


O Self

O self é uma entidade soberana e independente dos diversos aspectos da personalidade, tais como o corpo, os sentimentos e a mente. 

Este conceito é achado nas principais religiões e, cada vez mais, em ramos da psicologia e da filosofia ocidental. 

Livrando esse conceito de qualquer fundo doutrinal e examinando-o empiricamente, achamos primeiro um centro de consciência e de vontade. Isto é o "self pessoal", o "Eu" ou o centro da identidade pessoal, a partir do qual os diversos aspectos da personalidade podem ser reconhecidos, reorganizados e integrados. Porém, o self pessoal é distinto do "Self Transpessoal" que é o ponto central do nível do supraconsciente. O self pessoal é um centro de identidade e de ser mais profundo e abrangente, onde a individualidade e a universalidade se combinam.

Uma imagem útil é a de uma orquestra onde os músicos representam as diversas partes ou aspectos de nós mesmos. Sem um maestro, haveria pouca cooperação porque cada um dos músicos tentaria que fosse executada a sua música favorita, de acordo com a sua própria interpretação. A aceitação e a submissão ao maestro resulta numa integração da orquestra, e isto se reflete subseqüentemente na música. Enquanto o maestro representa o self, o self transpessoal pode ser imaginado como o compositor ou o produtor.


Funções do Self

As duas funções centrais do self pessoal são a consciência e a vontade. A consciência do self permite que a pessoa seja claramente consciente do que está acontecendo dentro e em volta dela, e que ela se perceba sem distorção e sem ficar na defensiva. Isto foi chamado de "atitude do observador interno". Na medida em que a pessoa consegue alcançar este ponto de centramento, as reivindicações da personalidade e sua tendência para a auto-justificação não a impedem mais de se ver com uma visão clara.

A vontade é considerada na psicossíntese como uma expressão direta do self e ocupa um lugar central. Libertando a vontade do Self, ganhamos a liberdade de escolha, a responsabilidade pessoal, o poder de decisão sobre nossas ações e a possibilidade de controlar ativamente e dirigir as muitas funções da personalidade. Deste modo, somos liberados da reação inútil aos nossos impulsos internos não desejados e às expectativas dos outros. Nós nos tornamos verdadeiramente "centrados" e, gradualmente, ficamos capazes de seguir um caminho que está conforme com o que é melhor dentro de cada um de nós. No nível mais alto do desenvolvimento da vontade, procuramos alinhar nossa vontade pessoal com uma vontade mais universal, aumentando assim a capacidade de servir as forças de evolução e de encontrar um significado e um propósito mais profundos em nossas vidas pessoais e em nossas tarefas sociais, e a capacidade de funcionar de maneira mais eficiente e mais serena no mundo, num espírito de cooperação e boa vontade.


Falsas Identificações

Agir "a partir de nosso centro" pode ser difícil, como todos nós já experimentamos. Uma das maiores dificuldades encontradas quando se aprende a agir "do centro" é a grande quantidade de falsas identificações que nós fazemos com aspectos internos específicos de dentro de nós. Por exemplo, podemos nos identificar as vezes com um sentimento passageiro de medo ou de raiva e perder ou distorcer nossa verdadeira perspectiva. Ou podemos nos identificar com uma de nossas "subpersonalidades" - esses aspectos semi-autônomos e freqüentemente contraditórios de nós mesmos que seguem uma rotina previsível, pré-programada, quando são evocados por um determinado conjunto de circunstâncias. 

Muito do trabalho básico da psicossíntese é orientado para o reconhecimento e a harmonização das subpersonalidades. Deixamos, então, de ser controlados por essas subpersonalidades de maneira desamparada, e podemos aprender progressivamente a dirigi-las conscientemente. Para isso, é essencial a aprendizagem do processo fundamental da "des-identificação" de tudo que não é o self, e da "auto-identificação" ou realização de nossa verdadeira identidade como um centro de consciência e de vontade.


Métodos Utilizados

Há uma grande variedade de técnicas utilizadas na psicossíntese para atender à diversidade de necessidades apresentadas por situações diversas e pessoas diversas. 

Cada pessoa é tratada como um indivíduo, e um esforço é feito para achar os métodos mais adequados à situação existencial, ao tipo psicológico, às metas individuais, às necessidades e ao caminho de desenvolvimento da pessoa. 

Algumas das técnicas mais comumente usadas são: a imaginação dirigida, a consciência e o movimento do corpo, o trabalho com símbolos, o trabalho com a arte, manter um diário, o treinamento da vontade, a fixação de meta, o trabalho sobre os sonhos, o desenvolvimento da imaginação e da intuição, a gestalt, os modelos ideais e a meditação. 

A abordagem principal da psicossíntese é o tratamento da pessoa como um todo, embora em cada sessão se possa focalizar um nível ou um aspecto particular da pessoa. Tendo como objetivo a integração do corpo, dos sentimentos e da mente, a psicossíntese tem como meta promover um processo de crescimento contínuo, onde aplicamos as atitudes e técnicas básicas da psicossíntese na vida cotidiana para promover uma atualização mais jovial, harmoniosa e plena de nossas vidas.


Fases da Psicossíntese

Toda pessoa é um indivíduo, e a integração de cada pessoa segue um caminho particular. Mas no processo global da psicossíntese, podemos distinguir duas fases sucessivas - a psicossíntese pessoal e a transpessoal. Na psicossíntese pessoal, a integração da personalidade ocorre em volta do self pessoal, e o indivíduo atinge um nível de funcionamento, em termos do seu trabalho e de suas relações, que seria considerado como plenamente saudável pelos padrões atuais de saúde mental.

Na fase transpessoal da psicossíntese, a pessoa aprende a alinhar-se com o Self Transpessoal e a expressar as energias desse Self Transpessoal, manifestando então qualidades tais como: responsabilidade social, espírito de cooperação, perspectiva global, amor altruístico e propósito transpessoal. Frequentemente, as duas fases se sobrepõem, e pode haver uma atividade transpessoal considerável bem antes da fase de psicossíntese pessoal estar completada.

O texto acima foi traduzido e adaptado do site Psycosynthesis (Canada)