sábado, 17 de setembro de 2011

A Vida Verdadeira Por Thiago de Mello



Pois aqui está a minha vida.


Pronta para ser usada.


Vida que não guarda, nem se esquiva, assustada.


Vida sempre a serviço da vida.


Para servir ao que vale a pena e o preço do amor
Ainda que o gesto me doa, não encolho a mão: 

avanço levando um ramo de sol.


Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.


Vem da terra dos barrancos
o jeito doce e violento
da minha vida: esse gosto
da água negra transparente.


A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.


Carrego um grito que cresce
Cada vez mais na garganta,
cravando seu travo triste
na verdade do meu canto.


Canto molhado e barrento
de menino do Amazonas
que viu a vida crescer
nos centro da terra firme.


Que sabe a vinda da chuva
pelo estremecer dos verdes
e sabe ler os recados
que chegam na asa do vento.


Mas sabe também o tempo
da febre e o gosto da fome.


Nas águas da minha infância
perdi o medo entre os rebojos.


Por isso avanço cantando
Estou no centro do rio
estou no meio da praça.


Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.


O que passou não conta?
indagarão as bocas desprovidas.


Não deixa de valer nunca.
que passou ensina
com sua garra e seu mel.


Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. 


Publicamente andando...


Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.


Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos que vão comigo.


Pois já não vou mais sozinho.
Aqui tenho a minha vida:
feita à imagem do menino
que continua varando
os campos gerais
e que reparte o seu canto
como o seu avô
repartia o cacau
e fazia da colheita
uma ilha do bom socorro.


Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.


Vida, casa encantada,
onde eu moro e mora em mim,
te quero assim verdadeira
cheirando a manga e jasmim.


Que me sejas deslumbrada
como ternura de moça
rolando sobre o capim.

Vida, 
toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.


Há que merecê-la


Thiago de Mello


Fonte da Imagem:

Contato de Vicente Moura Cersosimo
E-mail: vincenzo600@hotmail.com