sábado, 10 de março de 2012
Rabindranath Tagore
Rabíndranáth Thákhur / ocidentalizado Rabindranath Tagore, (1861- 1941).
Filósofo, poeta, músico, escritor, dramaturgo e crítico de arte.
Amigo pessoal de Mahatma Gandhi.
Foi o primeiro escritor asiático a ser agraciado com o Prêmio Nobel de Literatura, em 1913.
Entrevista com Rabindranath Tagore
VRB – É costume as pessoas se queixarem de que o mundo é mau. E se sentem infelizes por causa disso.
Tagore – Compreendemos mal o mundo e depois dizemos que ele nos decepciona.
VRB – Vencer, ter êxito na vida é o ideal da maioria das pessoas. Para isso, usam de todos os meios, lícitos ou não, para obter seu objetivo
Tagore – Há triunfos que só se obtêm pelo preço da alma, mas a alma é mais preciosa que qualquer triunfo.
VRB – Filósofos afirmam que o autoconhecimento é a descoberta de nós mesmos a cada instante.
Tagore – Não podes ver o que és. O que vês é a tua sombra.
VRB – Uma das coisas que causa medo a certas pessoas é o medo de errar. O seu perfeccionismo não admite o erro que se lhe afigura um fracasso.
Tagore – Se fechares a porta a todos os erros, a verdade também ficará lá fora.
VRB – Dividimos a nossa atividade social e trabalho e lazer. Para uns, o trabalho é uma necessidade, para outros um dever social. Uns entendem que o trabalho é uma escravidão, outros, que é uma punição divina. E há os que dizem que o trabalho enobrece o homem. No entanto, quando trabalhamos com amor, o trabalho passa a ser um lazer.
Tagore – O trabalho só nos cansa, se não nos dedicarmos a ele com alegria.
VRB – Falamos tanto de amor! Ele está mais para mistério do que para explicação.
Tagore – O amor é um mistério sem fim, já que não há nada que o explique.
VRB – Muitas pessoas estão convictas de que o poder de Deus se revela nas grandes catástrofes. Parece-me uma forma truculenta de demonstrar o seu poder, aterrorizando e destruindo os seres humanos.
Tagore – O poder infinito de Deus não está na tempestade, mas na brisa.
VRB – É a crueldade inerente à natureza do ser humano?
Tagore – Os homens são cruéis, mas o homem é bom.
VRB – A inteligência é uma faca de dois gumes. É um poder criador, mas também destruidor. Por isso, o futuro da humanidade é sempre incerto.
Tagore – A inteligência aguda e sem grandeza tudo fura e nada move.
VRB – Queremos liberdade. Mas o tamanho da nossa liberdade exterior preocupa mais o ser humano do que a liberdade interior.
Tagore – É tão fácil esmagar, em nome da liberdade exterior, a liberdade interior.
VRB – A solidão é refúgio para poucos e terror para muitos.
Tagore – O homem mergulha na multidão para afogar o grito do seu próprio silêncio.
VRB – O trabalho é ônus para muitos e alegria para poucos.
Tagore – Dormi e sonhei que a vida era alegria.
Acordei e vi que a vida é serviço.
Agi e, olhem só, serviço era alegria.
VRB – A história da humanidade pode explicar a real natureza do ser humano?
Tagore – Não existe mais do que uma história: a história do homem. Todas as histórias nacionais não são mais do que capítulos de uma maior.
VRB – Pátria é uma idéia perigosa, porque, muitas vezes, provoca a desunião entre os povos.
Tagore – A pátria não é a terra. No entanto, os homens que a terra nutre são a pátria.
VRB – A obsessão pela riqueza pode inutilizar as melhores qualidades de uma pessoa.
Tagore – Envolva em ouro as asas do pássaro e ele nunca mais voará no céu.
VRB – Já nascemos como um mundo biológico prévio e em um mundo cultural a que fomos condicionados. Somos, assim, conseqüência de tudo o que deu certo e de tudo o que deu errado na humanidade.
Tagore – Levo em meu mundo que floresce, todos os mundos que fracassaram.
VRB – A morte é o irmão gêmeo invisível e inseparável do corpo.
Tagore – Como o mar, ao redor da ilha solitária da vida, a morte canta noite e dia sua canção sem fim.
VRB – O mais profundo amor não deve perder a sua dignidade perante a recusa da pessoa amada.
Tagore – O homem que precisa mendigar amor é o mais mísero de todos os mendigos.
VRB – Basicamente, ainda somos o animal que, superficialmente, foi domesticado.
Tagore – O homem é pior que a fera, quando nele domina a fera.
VRB – A distribuição das riquezas é ainda uma utopia sustentada por idealistas. As promessas dos governantes, em todos os tempos e lugares, são sempre enganosas e os ricos não querem abrir mão de seus bens.
Tagore – Levo dentro de mim um peso agonizante: o peso das riquezas que não são dadas aos demais.
VRB – Raras são as pessoas que não se revoltam quando insultadas. O revide é uma resposta orgânica condicionada contra a qual a pregação da não-violência quase nunca é suficiente para contê-la.
Tagore – A terra é insultada e oferece suas flores como resposta.
VRB – O que nos parece fraco pode ter um poder que nos escapa.
Tagore – Que pequena é a raiz da relva. Sim, mas ela tem toda a Terra a seus pés.
VRB – O fascínio do poder seduz quase todos os que o detém.
Tagore – Agradeço por não ser uma das rodas do poder, mas sim uma das criaturas que são esmagadas por elas.
VRB – Por que precisamos provar que existimos?
Tagore – A vida é a constante surpresa de saber que existo.
VRB – A nossa relação com a natureza é uma questão controversa: como preservarmo-nos e como preservá-la?
Tagore – Converta uma árvore em lenha e poderás aquecer-te; mas ela já não produzirá flores nem frutos.
VRB – O prazer é a única razão de ser dos hedonistas. O que você diria a eles?
Tagore – O prazer é tão pouco consistente como a gota do orvalho: brilha e morre.
VRB – Há pessoas que se sentem obcecadas para fazer o bem. Sentem remorsos quando não o fazem.
Tagore – Aquele que se ocupa demais em fazer o bem não tem tempo para ser bondoso.
VRB – O que é a poesia?
Tagore – A poesia é o eco da melodia do universo no coração dos humanos.
VRB – Facilmente o ser humano se escraviza às pessoas e às coisas. A essa escravidão deu-lhes os nomes de amor, afeto, zelo...
Tagore – O homem em sua essência não deve ser escravo, nem de si mesmo, nem dos outros, mas sim um amante. Sua única finalidade está no amor.
VRB – Como poderíamos distinguir as coisas se não houvesse o contraste? Ou o seu contrário?
Tagore – O bosque seria muito triste somente com os cantos dos pássaros que cantam bem.
VRB – Para muitas pessoas, as perdas materiais, por mínimas que sejam, lhes parecem uma catástrofe pessoal.
Tagore – Perdi minha gotinha de orvalho!, diz a flor ao céu do amanhecer, que perdeu todas suas estrelas.
VRB – Nada muda um conceito, embora a forma que o exprime seja alterada ou destruída.
Tagore – Ainda que lhe arranque as pétalas, não privarás a flor de sua beleza.
VRB – O pranto que alivia também ofusca a nossa percepção das coisas.
Tagore – Se choras por ter perdido o sol, as lágrimas não te deixarão ver as estrelas.
VRB – A amizade resiste ao desgaste produzido pela lixa do tempo?
Tagore – A verdadeira amizade é como a fosforescência, resplandece melhor quando tudo escurece.
VRB – E o amor?
Tagore – O amor é o significado final de tudo o que nos rodeia. Não é um simples sentimento, é a verdade, é a alegria que está na origem de toda a criação.
VRB – Cada um é o seu próprio caminho. Como é o seu?
Tagore – Sou como um caminho noturno, que escuta em silencio os passos de suas recordações.
VRB – É insuportável, para quase todas as pessoas, o anonimato de tudo o que fazem.
Tagore – A noite abre as flores em silêncio e deixa que o dia receba os agradecimentos.
VRB – Quem não gosta de elogios? Poucos, no entanto, são sinceros. É preciso distingui-los da bajulação e da manipulação. É um perigo sermos publicamente elogiados, porque os aplausos podem ser apenas um ato coletivo de cortesia.
Tagore – Elogios me acanham, mas secretamente imploro por eles.
VRB – Tudo o que nos acontece na vida se inscreve, como tatuagem, em nosso corpo.
Tagore – Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei.
VRB – A bibliofilia acomete algumas pessoas e possui vários significados. O que é um livro para você?
Tagore – Um livro aberto é um cérebro que fala; fechado, um amigo que espera; esquecido, uma alma que perdoa; destruído, um coração que chora.
VRB – Somos parte de um todo, mas raros são os que têm consciência da nossa ligação com o universo e do universo conosco.
Tagore – A mesma torrente de vida, que dia e noite, percorre as minhas veias, percorre o mundo em cadenciadas maneiras.
VRB – A alegria é um sintoma de saúde física e/ou mental. Tudo é alegria quando estamos alegres.
Tagore – A vida revela-se ao mundo como uma alegria. Há alegria no jogo eternamente variado dos seus matizes, na música das suas vozes, na dança dos seus movimentos. A morte não pode ser verdade enquanto não desaparecer a alegria do coração do ser humano.
VRB – A fé é a certeza sem provas.
Tagore – Fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura.
VRB – Quem vê o mundo apenas pelo olho da razão é caolho.
Tagore – Uma mente inteiramente lógica é como uma faca completamente cortante. Ela faz sangrar a mão que a usa.
Valter da Rosa Borges – Vivemos ocupados e preocupados com o tempo. Vivemos em função dele e apenas concebemos intelectualmente a intemporalidade.
Tagore – Deixe sua vida dançar suavemente nas bordas do tempo como uma gota de orvalho na ponta de uma folha.