domingo, 23 de setembro de 2012
Por que há sofrimento?
Qual a origem do sofrimento?
Porque nos sentimos culpados pelo que fizemos ou não fizemos, e porque nunca estamos satisfeitos com o que temos agora?
Desde que nascemos estamos em busca. Em busca de algo que nem sabemos, mas todos estão buscando. O bebê busca o seio da mãe. Mais tarde buscará por brincadeiras a amiguinhos. Mais tarde ainda descobrirá seu corpo buscando um outro corpo para se completar, uma namorada(o), um companheira(o). Buscará um trabalho, reconhecimento, prestígio, dinheiro, poder, fama, buscará felicidade, aconchego, segurança. A vida do homem da terra parece uma busca sem fim.
Mas se nos perguntarmos bem lá no fundo, o que é que na verdade desejamos?
Se você estivesse totalmente em paz agora, o que desejaria?
Se este estado de paz fosse como sua respiração, o que você desejaria?
A resposta é simples: nada!
Se você tem agora algo que o deixa completo, satisfeito, você pára de buscar. E você nota uma coisa: que na verdade o que estamos buscando todo o tempo é este estado de não-busca. Porque a paz é um estado de não busca. A pessoa que se dá conta disso profundamente, continuará trabalhando, se relacionando, fazendo o que sempre fez, mas a única diferença é que ela não está mais em uma busca frenética e incessante por felicidade.
Esta busca incessante por prazer e felicidade é a causa da dor e da infelicidade. Fica óbvio então que estamos buscando a paz no lugar errado. Ou você conhece alguém que está em paz porque conquistou tudo que queria?
Não há fim para esta busca. O fim da busca é o entendimento do que na realidade estamos buscando. E na verdade, tudo aquilo que estamos buscando fora de nós mesmos é esta paz, que por mais paradoxal que seja, está dentro de nós mesmos.
A mente é um processo de pensamentos. Uma criança nasce sem mente. Quando o seu processo de pensamento começa a se desenvolver ela começa a sentir que tem um 'eu'. Mas originalmente, cada um de nós, nasce sem um 'eu'. O eu vai sendo construído pela educação, baseado também na programação genética daquele corpo. Genética mais meio ambiente criam o 'eu'.
Ora, tente pensar agora algum pensamento novo. Tente. Você notará que todos os pensamentos são velhos, porque os pensamentos estão armazenados em sua memória. E eles acontecem por causa do corpo. Ex: Você está saindo num dia muito frio. Seu corpo capta o frio do ambiente e o cérebro reconhece isto de acordo com algumas informações sobre frio que ele já tinha. Logo, surge um pensamento: “Eu estou com frio”. Você não criou este pensamento. Foi seu corpo que criou, baseado numa reação do cérebro a um evento externo.
Observe os pensamentos que você tem. São mesmo seus? Ou foram emprestados por outros? Livros que você leu, amigos, professores, religião, e todas as experiências sensoriais com o meio ambiente? Mas se todos os pensamentos são emprestados, quem é o 'eu'? O 'eu' seria o corpo? Mas você se refere a “meu corpo”. Corpo de quem então? Você diz: “Este é meu corpo”. Quem é então o dono do corpo? Para sair desse dilema, você poderia dizer: “O dono do corpo é a mente”. Mas como vimos antes, a mente, este processador de pensamentos existe por causa do corpo.
Uma criança não teve experiências corporais suficientes para desenvolver uma mente. Um bebê não tem um 'eu'. Não sabe diferenciar entre ele e sua mãe. Então, se o 'eu' não é seu corpo, nem seus pensamentos, que são na verdade uma interação do corpo com o meio ambiente, então, quem é você?
Quem ou o que é o 'EU'?
É neste ponto que a moderna física quântica vem reconhecer os antigos sábios da humanidade. O 'eu' que normalmente falamos é simplesmente corpo, sentimentos e pensamentos. Mas há uma energia sem nome guiando seu corpo, sustentando pensamentos. Os sábios diriam: Este é o único EU que existe. O que significa que o EU real é puro silêncio por trás de todos os pensamentos. E que o encontro consciente desse silêncio com ele mesmo é o que podemos chamar de paz.
A palavra Ser Humano é muito significativa. Ser e Humano. O Ser em você é este vazio criativo, pura energia, que sustenta seu corpo, pensamentos e sentimentos. O humano em você é corpo, sentimentos e pensamentos. A sua origem é o vazio criativo, o que muitas religiões chamam de Deus. O vazio e mundo se manifestam juntos.
Buda disse: “Vazio é forma e forma é vazio”.
Jesus disse: “Eu e meu Pai somos Um”.
Não há separação entre você e Deus. O Ser é o ser em todos.
O humano é a programação do corpo e da mente, e uma expressão única desse vazio criativo ou Deus.
A paz é a busca do silêncio interior que na verdade é você mesmo.
Você busca amor porque você é amor.
Quando você se identifica com os pensamentos/ego, você sente o oposto – falta de amor. Então você procura este amor nos outros e no mundo. Daí nasce todo tipo de sofrimento. É por isso que a religião diz: “Busque o reino de Deus (a paz) dentro de você.“
Sofrer é perder o contato com aquilo que é eterno, sem começo e sem fim, em você exatamente agora.
A descoberta de que nós não controlamos os acontecimentos que pensávamos controlar, e que nossos pensamentos são acontecimentos espontâneos da vida é a maior descoberta da meditação e da física quântica moderna.
Nós sempre somos o sujeito de tudo. E sujeito não é pensamento, pois pensamento pode ser observado pelo sujeito que você é. Afinal, você não nota que tem pensamentos? Quem é este que nota? É sua consciência sem nome. Essa consciência sem nome é conhecida por muitas religiões como a testemunha de Deus.
Mas ela não julga, não compara. Quem julga é a mente, e a mente é um fenômeno social. Cada um tem uma mente diferente, pois a mente é o acúmulo das tuas experiências. Mas aquilo que nos faz "irmãos" não pode ser a mente. Quando converso com alguém e levo a sério minha mente, a minha opinião sempre tem de estar certa. Mas quando converso através do coração, a minha opinião é só uma opinião da minha mente. Pode ser que o outro esteja certo, afinal ele tem outras informações em sua mente, e eu posso aprender com ele. Quando noto pela minha maturidade que não preciso colocar tanta seriedade no que diz meu computador biológico (minha mente), posso estar mais vazio para aprender de novo e novamente. Quando estou mais vazio, nós dizemos que estou mais no coração.
O coração é um símbolo para descrever alguém que não leva a sério demais a sua experiência passada, e que está sempre pronto a ouvir e aprender. Essa consciência sem nome nós carregamos a vida toda junto com a gente. Mas poucos se dão conta de que carregam este tesouro. Essa consciência sem nome é seu tesouro porque não pode ser perdida, nem pode ser mudada. Quando criança, essa consciência sem nome era chamada de mente pura. A mente pura é simplesmente a mente que não se contaminou pela experiência passada. Muitas tradições chamam essa mente pura de simplesmente Coração.
A meditação não é apenas uma técnica. Ela inicialmente é uma técnica. Mas é uma pobreza tratá-la sempre assim. A compreensão da vida e a observação da mesma com olhos sensíveis e curiosos é a maior meditação que há. Porque a meditação é aprofundar e investigar na vida diária tudo aquilo que veio pronto para nós.
Buda dizia para jamais acreditarem em algo que não fosse sentido e experienciado por si mesmo. Buda era contra a crença cega. As técnicas são para aprofundar a mente, purificar o corpo e os sentimentos, de modo que possamos aceitar/compreender a vida como ela é a cada minuto.
Essa aceitação é a própria transformação diária. Quanto mais a fé e a confiança na presença do amor que você é, mais o universo vai sendo entendido como perfeito aqui e agora. Tudo que está acontecendo nesse momento faz parte de um grande quebra-cabeças cósmico. Tudo é necessário.
A raiva é necessária para que possamos descobrir a nossa vitalidade e força.
O medo é necessário para despertar a confiança.
A insegurança é necessária para despertar o amor.
Na verdade, não há nada fora do lugar. E se há alguma coisa fora do lugar é nossa crença errônea de que somos pecadores. Somos apenas ignorantes de nossa natureza espiritual, apenas isso. E o universo está jogando este jogo maravilhosamente, para que dia após dia, mais pessoas acordem (despertem) para a realidade que se esconde por trás dos pensamentos e do corpo físico.Mesmo aquela pessoa que está buscando poder, sexo ou dinheiro como únicos requisitos para a felicidade, está em seu caminho espiritual. O caminho espiritual não é monopólio de ninguém. É a própria vida acordando. Essa pessoa está simplesmente vivendo o acordar gradual através de poder, sexo e dinheiro. E isto irá levá-la a desafios, os quais vão fazê-la refletir, mais cedo ou tarde, sobre sua vida.
Então, como todos nós, Deus se faz presente através dos desafios que encontramos no caminho. O sofrimento é sempre uma bênção disfarçada. Há pessoas que sofrem e continuam a sofrer pelos mesmos erros. Para elas, o sofrimento ainda não quebrou a resistência à evolução.
Mas quem disse que essa pessoa não é importante no contexto da vida e dos que convivem com ela?
Cada um de nós está no lugar certo onde deve estar, exatamente agora. estamos influenciando, acordando, mexendo, com todos a nossa volta, exatamente do jeito que somos. Tenho muitos amigos que não imaginam o quanto são meus mestres. Esses amigos, estão sendo guiados pela vida para nos acordar. Assim como nossos amigos, aqueles que chamamos "inimigos" estão acordando algo dentro de você para torná-lo mais maduro.
É a vida que vai nos acordando para Deus. E Deus é a energia que move a própria vida. Deus é o oceano. Nós somos ondas. Nós aparecemos e desaparecemos porque essa é a maneira de Deus expressar a Si mesmo. Ele expressa a Si mesmo em sua Criação. Logo, a Criação é Deus.
Deus está tão junto da criação como o dançarinode sua dança. Enquanto o dançarino dançar existirá dança. Ela não está separada dele.
A cura espiritual é simplesmente acordar. Acordar para quem você é. Acordar para a total confiança.
Uma vez perguntaram a um sábio: "Qual a diferença entre eu e você?" E o sábio disse: "Nenhuma. É que você não aceita suas imperfeições como parte do plano de Deus, e eu aceitei tudo. Nessa aceitação total eu descobri algo. Espero que você descubra também."
Swami Sambodh Naseeb
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