segunda-feira, 22 de outubro de 2012
Como?
Perguntaste como me tornei louco.
Aconteceu assim:
Um dia,
muito tempo antes
de muitos deuses terem nascido,
despertei de um sono profundo
e notei
que todas as minhas máscaras
tinham sido roubadas
– as sete máscaras que eu havia confeccionado
e usado em sete vidas –
e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando:
“Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”
Homens e mulheres riram de mim
e alguns correram para casa,
com medo de mim.
E quando cheguei à praça do mercado,
um garoto trepado no telhado de uma casa gritou:
“É um louco!”
Olhei para cima, para vê-lo.
O sol beijou pela primeira vez minha face nua.
Pela primeira vez,
o sol beijava minha face nua,
e minha alma inflamou-se de amor pelo sol,
e não desejei mais minhas máscaras.
E, como num transe, gritei:
“Benditos, benditos os ladrões
que roubaram minhas máscaras!”
Assim me tornei louco.
E encontrei tanto liberdade
como segurança em minha loucura:
a liberdade da solidão
e a segurança de não ser compreendido,
pois aquele que nos compreende,
escraviza alguma coisa em nós.
Gibran Khalil Gibran