Tamborilando de leve
No vidro de cada janela,
Chora a chuva que cai
Aumentando as águas do mar.
Sobe pelas narinas o forte aroma
Vindo das entranhas da terra
Feito das puras essências
Do céu desfeito em lágrimas.
Descem em cascata as frias gotas
Parecendo cortina de pérolas,
Espalhando-se pelo chão sedento
Sepulcro das recordações.
Depois o vento, no céu cinzento,
Afasta uma nesga do manto
Da atmosfera carregada,
E irrompendo como um filho
Sai um raio quente dourado
Do ventre do sol encarcerado
Na fortaleza de densas nuvens
Para vivificar todas as coisas.
Passou a chuva como passa a vida.
Restou do seu parto um irisado arco,
Profético e efêmero caramanchão
No jardim da natureza.
Maria Hilda de J. Alão