O contato com a energia da terra desperta a sensibilidade, alivia as tensões e satisfaz os mais profundos e primitivos instintos humanos da natureza criativa.
É um material vivo que nos coloca em contato com a natureza e os quatros elementos: terra, água, ar e fogo, despertando a consciência para a natureza e possibilitando o reconhecimento da nossa natureza interna.
O Homem faz parte da natureza e por várias circunstâncias acaba se afastando dela e também de si mesmo.
Trabalhar o barro é a oportunidade de resgatar o contato com a natureza, é um re-encontro e um re-conhecimento de si.
O Barro é terra, água, ar e fogo. Ao tocar no barro, o processo começa, e a terra fria é experimentada aguçando as sensações e aí podemos voltar no tempo acessando nossas raízes, nossas memórias.
Trabalhar o elemento terra no barro é poder entrar em contato com a nossa terra interna que nos dá sustentação. É poder enraizar para achar o eixo, o equilíbrio e assim, obter nutrição e acolhimento.
Para Chevalier e Geerbrant a terra é símbolo da origem da vida, que sustenta, nutre e acolhe e também é símbolo ligado às raízes.
A água que contém no barro é responsável pela maleabilidade e flexibilidade no processo da modelagem.
Trabalhar o elemento água no barro é poder entrar em contato com a nossa água interna, com o movimento, com as emoções, que à medida que vamos modelando-a, vamos colocando a energia em movimento.
É a fluidez da água que ajuda dar forma às sensações, sentimentos e pensamentos.
Segundo Chevalier e Geerbrant a água é símbolo de expansão, fluidez, purificação e fonte de vida e também objeto da fantasia que acolhe as emoções, a sensibilidade e a intuição.
O elemento ar entra para secar a peça modelada.
E é no processo de secagem que a forma modelada muda de cor, se estrutura buscando uma solidez interna. É um processo lento e intenso.
Trabalhar o ar no barro é se dar conta do ar que respiramos, do nosso potencial criativo, do poder de criação que ao comunicar liberta.
Quando estamos inspirados ficamos mais perto do nosso ser criativo.
Chevalier e Geerbrant nos diz que o ar é o símbolo de liberdade, de criação e de comunicação.
A peça modelada está pronta para ser comunicada e colocada no forno alquímico é então o momento do elemento fogo entrar em ação para transformar o barro em cerâmica.
Trabalhar o elemento fogo no barro é se conscientizar que a matéria mudou. Há uma mudança interna significativa.
Para Gouvêa levar uma peça ao forno é não saber com precisão absoluta qual será a reação da matéria.
"Esse é um momento de grande emoção, de pura emoção. É o momento do fogo da emoção e no homem, só há vida onde há emoção".
No forno tudo pode acontecer inclusive, a peça explodir. O fogo é símbolo purificador, regenerador e transformador, o fogo ilumina, mas também pode destruir.
Vivenciar os quatro elementos da natureza no barro é possibilitar o encontro com o criativo desde o momento de tocar, de sentir a massa, de dialogar com ela até dar forma às sensações experimentadas, às emoções escondidas e às imagens em ação.
É no contato com a massa fria, escura que entramos no espaço silêncio do barro para "dar forma à verdade interior, libertando o ser das amarras do mundo imaginário restrito. A energia em movimento amplia consciência e resgata a vocação da alma".
O diálogo dos quatro elementos no barro faz a energia fluir abrindo-se à fonte energética da natureza.
Para que haja uma conexão com o ritmo da natureza é preciso deixar a energia em movimento, em ritmo de criação para expandir a consciência, uma consciência ecológica que sustenta o emocional, que liberta e transforma a matéria.
Por Regina Fiorezzi Chiesa
rchiesa@ uol. com. br
Fonte:
Livros/Referências Bibliográficas
*CHIESA, Regina Fiorezzi; FABIETTI, Deolinda. A Arte e os 4 Elementos. In: ALLESSANDRINI, Cristina Dias (org.). Tramas Criadoras na Construção do Ser Si Mesmo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999.
*CHIESA, Regina Fiorezzi. O Diálogo com o Barro o Encontro com o Criativo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004
*CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos. 10 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1996.
*GOUVÊA, Alvaro Pinheiro. Sol da Terra. São Paulo: Summus, 1989.