domingo, 27 de novembro de 2011

Advento: Na espera do Homem Novo (Antroposofia)


O curso do ano cristão inicia-se com o primeiro Domingo de Advento. O Advento desperta em nossa alma as forças da esperança, da expectativa, da abertura para o futuro. O ano velho passou e novos germes querem brotar. O velho deixou para trás toda a sorte de coisas endurecidas, lenhosas, calejadas. Sofremos com as unilateralidades e mesquinhezas da nossa natureza. Agora podemos, enfim, deixar para trás o passado e ter esperanças pelo rejuvenescimento do nosso ser. 

O advento, como que nos envolver no manto azul da benevolência divina, da bondade divina. Ainda outra vez tudo será bom. O homem pode ter esperanças por uma fonte de juventude de onde lhe advirá refrigério para todo seu ser. Advento nos faz crer no que está germinando, vindo a ser. Nossa esperança é pelo homem novo.

Como uma mãe gestante traz em si o germe do homem, como ela está na espera, na “boa esperança”, assim a humanidade vive hoje na espera do homem superior. Nunca antes o nascimento desse homem foi tão urgentemente necessário como hoje. Todas as nossas condições e circunstâncias estão se aguçando no sentido desse nascimento.

Elas estão se aguçando no sentido do aparecimento do “Filho do homem”. Do homem antigo e egoísta deve surgir o homem superior, abnegado. Aonde levam as ações, ou melhor, as más ações do “si mesmo” inferior, atualmente está se mostrando com nitidez nunca vista. Onde impera o puro desejo de poder, de usufruir e possuir, espalhar-se a destruição e a derrocada. 

Em toda parte, hoje, se fala de proteção ao meio ambiente. Contra o quê temos que proteger o meio ambiente? Contra o quê temos que proteger nossos concidadãos e as outras criaturas? A resposta é contundente: contra nós mesmos. O meu ambiente tem que ser protegido contra aquele que eu infelizmente ainda sou. Como poderá ser solucionada essa questão vital da humanidade? Certamente pelo único meio, que é a superação do homem inferior, sua substituição pelo superior. 

A questão mais importante da humanidade hoje é uma questão de advento. Ela diz: como pode surgir o ser superior, espiritual do homem? Como pode alcançar domínio sobre o homem natural? Em todos os âmbitos da existência hoje, urge o aparecimento (a parusia) do homem-espírito. 

As atuais tribulações e pressões querem incentivar seu nascimento, querem como que pressionar o homem inferior a parir o superior. As tribulações são as dores de parto em que se acha a humanidade, as dores que antecedem o aparecimento mais forte e mais claro do Cristo. É ele que quer vir com força e luz (Dynamis e Doxa). E se não o deixarmos estar presente nos nossos assuntos humanos, não haverá soluções verdadeiras. 

O ponto de partida não está em algum lugar, mas somente a paulatina formação do homem novo, do verdadeiro Homem, trará ajuda. Por isso o ponto de partida do nosso culto principal, que leva a denominação de Ato de Consagração do Homem, é o certo. Somente uma desmontagem paulatina do egoísmo em nossa natureza, somente o raiar do amor ao homem e a Deus dentro de nós como sendo nosso verdadeiro ser, suscitará a necessária mudança.

Como uma mãe gestante pode sentir feliz e venturosa em vista de ser que está para vir, assim também o Advento nos envolve em um manto de esperança e confiança. Mas tal como as dores antecedem o nascimento de uma criança, assim também o renascimento do homem está ligado a dores. De modo que no sentimento de advento, a esperança alegre pela renovação mistura-se ao sofrer as tribulações que antecedem o nascimento do ser crístico em nossa alma. Não deveríamos aceitar a tribulação, uma vez que assim se configura o que há de grande em nosso ser e essa grandeza só pode fazer morada em nós porque nossa natureza antiga e endurecida se torna mais solta e quebra? Nossas dores apenas são a expressão do sol de Cristo que está nascendo.

Podemos nos apoiar em duas palavras do Novo Testamento. Primeiro, a palavra de Cristo, quando diz: “quando a mulher dá a luz, tem que sofrer dores, porque sua hora chegou; mas depois a criança nasce, ela não se lembra mais da tribulação, por causa da alegria de um homem ter vindo ao mundo” (Jô. 16, 21). Depois, a palavra de Paulo: “pois eu tenho para mim que os sofrimentos do tempo presente nada significam em comparação com a glória vindoura que em nós será revelada” (ROM. 8, 18)

Willi Nuesch