quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Quando deveriam ser celebrados os festivais no Hemisfério Sul? (Antroposofia)
Sem que tomemos consciência da geografia espiritual da porção sul da Terra passando certo tempo nela, qualquer resposta a esta questão terá de ser provisória. Mas a ciência espiritual permite-nos contribuir com uma observação para este tema.
Devido à configuração física e etérica da Terra ocorre que certos processos anímico-espirituais no homem estejam em harmonia com o ritmo anual da natureza no hemisfério norte, mas não no hemisfério sul.
Todos os relacionamentos entre terra e água, ou seja, entre os elementos físico e etérico, são diferentes no hemisfério sul quando comparados aos do hemisfério norte; podendo mesmo ser em muitos aspectos, opostos. Assim, no hemisfério norte há uma considerável preponderância de terra sobre água, enquanto no hemisfério sul dá-se o inverso.
De acordo com o ensinamento científico-espiritual sobre os éteres, a água está mais conectada com a atuação do éter sonoro e a terra seca com o éter vital. Assim, uma vez que o éter sonoro tem um relacionamento com a Lua e que o éter vital com o Sol, o hemisfério Norte, com seu centro no círculo polar Ártico, pode ser considerado de natureza solar, enquanto o hemisfério sul com seu centro na Antártida é de natureza mais lunar. Portanto, no norte temos um princípio mais formativo, e no sul uma tendência mais ao amorfo, à ausência de forma. Isto se manifesta no grau consideravelmente menor do contraste entre verão e inverno (e entre as estações em geral) que encontramos no hemisfério sul se comparado ao hemisfério norte, onde as estações são marcadamente distintas e há maiores variações na temperatura.
Nós também podemos observar o efeito destas tendências respectivamente mais formativa e mais amorfa na evolução cultural dos hemisférios norte e sul. Por esta razão a evolução da humanidade, desde a era Atlante até nosso tempo presente, teve lugar especialmente no hemisfério norte; este foi o caso até do maior evento da história da Terra, o Mistério do Golgota.
Historicamente, os povos do hemisfério norte tiveram a tarefa de conquistar o domínio do mundo material, a fim de, então, tendo se emancipado completamente do mundo divino-espiritual, chegar a uma experiência da individualidade livre.
Nós agora alcançamos este ponto mais profundo da evolução. E o aparecimento da Antroposofia corresponde hoje à necessidade histórica mundial de que a humanidade ascenda novamente aos mundos espirituais, embora agora plenamente consciente, a partir desta experiência recém-alcançada da liberdade.
A humanidade do Norte pode encontrar suporte para esta tarefa que tanto lhe exige no ciclo anual, se certos processos da evolução anímico-espiritual puderem entrar em harmonia com ele. Ademais, no futuro próximo, a ascensão ao mundo espiritual dificilmente poderá se realizar para a humanidade sem a ajuda das forças cósmicas que se manifestam no ciclo do ano. Pois os obstáculos contra tal ascensão oriundos da civilização materialista do presente são tão consideráveis em nossos tempos que os seres humanos necessitarão desse suporte em medida crescente se realmente quiserem cumprir a tarefa de chegar da quinta à sexta época pós-atlante, quando uma cultura puramente espiritual florescerá na Terra.
A mais perfeita harmonia entre a alma humana e a atuação das forças cósmico-espirituais será então atingida, pois esta cultura espiritual da sexta época consistirá, em extensão significativa, justamente na conquista deste equilíbrio entre homem e natureza (o ciclo do ano).
Os homens então se desenvolverão de tal maneira, interiormente, que forças espirituais superiores fluirão em direção a ele através de sua relação com a natureza.
Aquilo que Michael espera hoje dos homens – que eles aprendam a ler no livro da natureza – representa o primeiro passo nesta direção.
Tal possibilidade de levar à harmonia o anímico-espiritual no homem com o cósmico-espiritual na natureza não existirá para sempre, e é por isso que é tão importante que uma ponte para a espiritualidade cósmica seja edificada enquanto as condições permitam que se o faça.
Esta possibilidade somente existirá até aproximadamente o fim da sexta época cultural (Eslava), pois já na sétima época (Americana) condições bem diversas, tanto do ponto de vista natural quanto espiritual penetrarão na evolução terrestre.
Rudolf Steiner descreve estas poderosas mudanças com as seguintes palavras: “ Ora, os senhores sabem que a Lua voltará a unir-se à Terra. Este momento em que a Terra e a Lua se unirão será estabelecido por aqueles astrônomos e geólogos que vivem em abstrações daqui a milhares de anos no futuro, mas isto é mera ilusão. A verdade é que este momento não está assim tão distante...” E Rudolf Steiner prossegue dizendo que este momento virá no sétimo ou oitavo milênio após o nascimento de Cristo. (GA 204, 13/05/1921)
“E assim, tal como a partida da Lua, nos tempos Lemúricos, foi um evento de extraordinária importância, da mesma forma, a re-entrada da Lua será um acontecimento de magnitude similar.” Na descrição da separação da Lua em seu livro ‘A Crônica do Akasha’, Steiner escreve: “Desse modo a contemplação da crônica do Akasha avançou até o ponto imediatamente anterior àquela catástrofe cósmica que foi produzida pelo afastamento da Lua em relação à Terra”.
Na palestra de 31 de dezembro de 1910, Rudolf Steiner refere-se a um ritmo bem particular da evolução terrestre que dura de ‘seis a sete ou oito milênios’ e se revela em manifestações de natureza polarmente opostas. Estas manifestações estariam associadas à atividade dos Espíritos da Forma (os Exusiai) que agora atuam externamente nos relacionamentos físicos da Terra, e interiormente nas almas dos seres humanos. A última manifestação exterior se deu no tempo da grande catástrofe atlântica. A manifestação interior mais poderosa, por outro lado, ocorreu no ano de 1250. A próxima grande penetração nas condições físicas exteriores ocorrerá por volta do oitavo milênio, quando mediante a atividade conjunta dos Espíritos da Forma, e principalmente do mais poderoso deles, Yahveh, a Lua se reunirá à Terra – acontecimento que estará ligado à mudança na posição do eixo da Terra.
Isto significa, contudo, que ao receber novamente a Lua em seu seio, na Terra, os processos de orientação espiritual e etérica na natureza serão completamente alterados. O ciclo do ano tal como o conhecemos atualmente já não existirá. Porém se o homem trouxer as forças espirituais da Lua sob seu domínio de forma correta ele será capaz de atuar sobre a natureza de maneira mágica, de sorte que os novos processos que emergirão dela corresponderão ao ciclo anual de hoje.
De acordo com afirmações de Steiner, na Antiga Lemúria, a Lua foi expulsa a partir do hemisfério sul da Terra, tendo sido esta a causa do fato de os relacionamentos entre água e terra ( etérico e físico ) neste hemisfério terem se tornado tão diferentes daqueles do hemisfério norte. Esta região está predestinada a preparar em nosso tempo o retorno da Lua à Terra na sétima época cultural. Também poder-se-ia dizer: toda a configuração físico-etérica do hemisfério sul é uma indicação das condições passadas e futuras da Terra que foram descritas (separação e re-entrada da Lua).
A evolução cultural do hemisfério norte tem como tarefa trazer o mistério solar do Cristo à plena manifestação por toda a Terra, e desse modo, forjar a transição, a construção da ponte entre estes dois eventos cósmico-terrenos associados ao hemisfério sul.
Portanto vemos que o ideal da sexta época é chegar à completa harmonia espiritual com o aspecto cósmico da natureza bem como ser capaz de extrair dela os mais elevados impulsos culturais. O ideal da sétima época cultural é, entretanto, determinar magicamente os processos naturais a partir dos próprios recursos.
Em outras palavras: Se na sexta época a ponte para o cosmo espiritual é formada, na sétima o homem estará em condição de realizar por si mesmo, a partir de seus poderes espirituais, aquilo que será necessário para o prosseguimento da evolução da humanidade sobre a Terra, e que na época anterior ele próprio moldara da natureza.
Disto, vê-se claramente a natureza da tarefa que aguarda os seres humanos que por seu carma vivem no hemisfério sul – em contra-distinção àqueles que vivem no hemisfério norte – com respeito ao ciclo anual e seus festivais.
De conformidade com as palavras de Steiner acima citadas, o tempo do retorno da Lua não está tão distante – entre o sétimo e oitavo milênio, ou seja, no terço final da sétima época cultural.
Como, entretanto, este processo da re-entrada da Lua e as mudanças de todas as leis naturais associadas a ela só acontecerá gradualmente, pode-se também dizer que em certa medida toda a sétima época cultural estará sob o signo deste evento que chegará à conclusão com seu fim.
Como já foi dito, isto também pode ser visto do ponto de vista histórico-cultural. No ‘Sul’, em virtude do considerável excesso de água sobre a terra sólida, há um senso de isolamento na paisagem, de cósmica expectativa por aquilo que um dia terá lugar ali. É devido a esta qualidade particular que, enquanto no Sul existem de fato relíquias de antigas culturas, não há qualquer evolução cultural “conseqüente” como no Norte, isto é, na evolução através das sucessivas épocas culturais pós-atlantes não há a participação decisiva do hemisfério sul.
Desde os tempos modernos as terras ao Sul tornaram-se partícipes na evolução cultural Cristã vinda do Norte, e têm com isso sua tarefa espiritual diante de si: a de formar festivais cristãos somente a partir do poder humano interior sem buscar qualquer suporte na natureza, a fim de preparar desse modo a já mencionada futura era da humanidade. Os seres humanos que vivem nessas regiões podem, uma vez que pertencem culturalmente à grande corrente cristã da evolução, preparar já na quinta época os fundamentos para aquele estágio que na sétima época cultural será destino de toda a humanidade.
Consequentemente, existem basicamente dois possíveis caminhos para o hemisfério Sul. A diferença entre eles é que no primeiro caso a sexta época é preparada e no segundo, a sétima; e a tarefa do hemisfério sul em favor da humanidade está essencialmente conectada com a última.
Aqui, os seguintes pensamentos também podem ser considerados: A presente quinta época cultural tem como principal característica o desenvolvimento do pensar humano, enquanto que a característica da sexta época será o desenvolvimento do sentir e aquela da sétima, a vontade. Assim, para aquelas pessoas que vivem no hemisfério Sul é possível ou conectar-se mais pelo sentir à vida da natureza à sua volta, ou seguir por caminhos totalmente novos e não trilhados a partir de seus impulsos volitivos interiores e independentes.
Há, ademais, o grande mistério que só a ciência espiritual pode revelar-nos hoje, qual seja, que todo o mundo natural que nos circunda carrega consigo somente forças do passado. Se, no entanto, estivermos buscando forças do futuro, então teremos de nos voltar para o interior do homem, onde em seu corpo astral e Eu ele é capaz de desenvolver sua natureza livre e criativa em completa independência do mundo natural.
Aqui se inicia a tarefa por cuja realização se lutará até o fim dos tempos terrestres. Rudolf Steiner se referiu ao tema com as seguintes palavras: “Se, portanto, não quisermos ver morrer a natureza, então dever-se-á doar a ela aquilo que o homem tem através de seu corpo astral e ego. Isto significa que, como o homem possui por meio de seu astral e eu idéias autoconscientes, ele deve – caso queira assegurar um futuro à Terra, de outro modo falecente – trazer a ela o que nele vive de natureza invisível, supra-sensível.”
Em outras palavras, toda a Terra à nossa volta – uma vez que por sua substância físico-etérica pertence ao que podemos considerar como existência natural – não tem qualquer futuro. Assim, numa perspectiva mais ampla das circunstâncias naturais e espirituais que se estendem pela sexta e sétima épocas culturais, a Terra só poderá ser salva da morte física por meio de seres humanos que tragam a ela, a partir de sua livre vontade, o que é de natureza invisível e supra-sensível neles.
Isto não tem nada a ver com o mundo natural como tal, uma vez que provem do corpo astral e do Eu humanos, mas deve penetrá-lo como uma força transformadora e redentora. Pois somente “quando formos capazes de implantar na Terra aquilo que ela não possui enquanto entidade puramente natural é que uma Terra do Futuro pode surgir.”
Naturalmente, é extremamente difícil celebrar festivais cristãos sem contar com o suporte do ciclo do ano tal como este transcorre na natureza. A fim de celebrar o Natal no solstício de verão porém, não se deveria imitar as condições do hemisfério norte ( neve, etc) mas antes encontrar formas totalmente novas para as celebrações, mais fundamentadas num background espiritual oculto.
Este será um verdadeiro trabalho pioneiro que pode, no entanto, encontrar suporte no pensamento de que dessa forma toda a humanidade gradualmente se prepara para um futuro mais distante que aquele cuja preparação permanece uma tarefa particular da humanidade do norte.
Apenas se esta tarefa for cumprida pela humanidade do Sul (e isto já deve ocorrer em certa medida durante a quinta época pós-atlante) a raça humana seguirá vivendo na Terra como uma entidade espiritual passando através dos festivais cristãos.
Pois o significado mais profundo da celebração simultânea dos festivais sobre toda a Terra é que após o Mistério do Gólgota estes festivais representam os estágios de união do Espírito Crístico com a Terra.
Assim, por meio de celebrações simultâneas por todos os povos da Terra, um verdadeiro vaso pode ser moldado para o grande Eu da humanidade, o Cristo, que então conduzirá a humanidade em direção ao grande ideal da humanidade divina.
O que aqui foi dito não tem a pretensão de ser a resposta definitiva para a questão em consideração, mas antes, quer indicar as conseqüências para aqueles que, interessados no tema, vivem no hemisfério sul de nosso planeta.
Outro aspecto desse problema está associado à obra de Rudolf Steiner intitulada “Calendário da Alma” em que o relacionamento da alma com processos cósmico-espirituais da natureza é muito mais uma necessidade.
Por esta razão Rudolf Steiner respondeu à pergunta de Fred Poeppig sobre como se deveria trabalhar com tais versos no hemisfério sul, da seguinte maneira: “Os versos semanais do calendário da alma devem ser invertidos, ou seja, deveriam ser usados de acordo com os ritmos sazonais da localidade particular”.
Naturalmente, se alguém age dessa forma com os versos, os ritmos da natureza não estarão em correspondência com os quatro festivais anuais. A fim de restaurar a correspondência, o verso oposto deve então ser incluído, o que muito antropósofos vivendo no hemisfério norte já realizam. Desse modo, o elemento unificador na evolução humana também pode ser mantido no trabalho meditativo com o Calendário da Alma.
Fonte:
Livro "O Ciclo do Ano como Caminho de Iniciação" de Sergei Prokofieff