quinta-feira, 25 de novembro de 2010

As Sete Portas / Terceiro Fragmento Por Helena Blavatsky




TERCEIRO FRAGMENTO



AS SETE PORTAS



UPADHYA (96), a escola está feita. Anseio pela sabedoria. Rasgaste já o véu que escondia o caminho secreto e ensinaste o Yana (97) superior. O teu servo aqui está, pronto para que o guies.



Está bem, Shravaka (98). Prepara-te, porque terás de seguir sozinho, O mestre só pode apontar a direção. O caminho é um para to­dos, o meio de chegar à meta deve variar de peregrino para peregrino.


Qual é que vais escolher, ó de coração indômito? O Samtan (99) da doutrina dos olhos, o quádruplo Dhyana, ou abrirás caminho através das Paramitas (100), seis em número, nobres portas da virtude conduzindo a Bodhi e a Prajna, sétimo passo da sabedoria?



O caminho árduo do quádruplo Dhyana ondula montanha acima. Três vezes grande é aquele que chega ao píncaro altíssimo.



As alturas de Paramita são atravessadas por um caminho ainda mais íngreme. Tens de forçar o teu caminho através de sete portas, sete fortalezas guardadas por poderes cruéis e ardilosos - paixões encarnadas.



Anima-te, discípulo; tem sempre presente o preceito áureo. Uma vez passada a porta Srotapatti (101) “aquele que entrou para o rio” cujo pé foi posto sobre o leito do rio nirvânico nesta vida ou em qualquer vida futura, tem apenas diante dele mais sete nascimentos, ó homem de vontade de ferro.


Repara. Que vês tu diante dos teus olhos, ó aspirante à sabedoria divina?



“O manto da escuridão cobre a profundeza da matéria; nas suas dobras me debato. Aprofunda-se, Senhor, à medida que para ele olho; um gesto da tua mão o desfaz. Mexe-se uma sombra, arrastando-se como as dobras coleantes da serpente... Cresce, alastra-se, e desaparece na escuridão”.



É a sombra de ti próprio fora do Caminho, caindo sobre a escuridão dos teus pecados.



“Sim, Senhor, vejo o Caminho; o seu princípio fincado no lodo, o seu cimo perdido na nirvânica luz gloriosa: e agora vejo os portais cada vez mais estreitos na estrada árdua e espinhosa para Jnana" (102).



Vês bem, Lanu. Esses portais levam o aspirante a atravessar o rio para a outra margem (103). Cada portal tem uma chave de ouro que abre a sua porta; e essas chaves são:



1. Dana, a chave da caridade e do amor imortal.



2. Shila, a chave da harmonia nas palavras e nos atos, a chave que contrabalança a causa e o efeito, não deixando mais espaço à ação cármica.



3. Kshanti, a paciência suave, que nada pode alterar.



4. Vairagya, a indiferença ao prazer e à dor, a ilusão vencida, só a verdade vista.



5. Virya, a energia indômita que abre o seu caminho para a verdade suprema, erguendo-se acima das mentiras terrenas.



6. Dhyana, cuja porta de ouro, uma vez aberta, leva o Naljor (104) para o reino de Sat, o eterno, e para a sua contemplação sem fim.



7. Prajna, cuja chave faz de um homem um Deus, criando-o um Bodhisattva, filho dos Dhyanis.



Tais são as chaves de ouro para esses portais.



Antes que te possas acercar do último, ó tecedor da tua liberdade, tens de possuir estas Paramitas da perfeição - as virtudes transcendentais em número de seis e dez - por esse longo caminho.



Porque, ó discípulo, antes que estivesses apto a encontrar o teu Mestre frente a frente, o teu Senhor luz a luz, que foi que te disseram?



Antes que te possas acercar da porta mais próxima tens de aprender a separar o teu corpo do teu espírito, e a viver no eterno. Para isto, tens de viver e respirar em tudo, como tudo que vês respira em ti; sentir-te existir em todas coisas, e todas as coisas em ti.



Não deixarás os teus sentidos fazer do teu espírito campo para o seu recreio.



Não separarás o teu ser do Ser, e do resto, mas fundirás o oceano na gota de água, e a gota de água no oceano.



Assim estarás em acordo com tudo quanto vive; ama os homens como se eles fossem os teus condiscípulos, discípulos do mesmo Mestre, filhos da mesma boa mãe.



Professores há muitos; a Alma-Mestra (105) é uma, Alaya, a Alma Universal. Vive nesse Mestre como o seu raio em ti. Vive nos teus semelhantes como eles nela.



Antes que estejas no limiar do Caminho; antes que entres pela primeira porta, tens de fundir os dois em um e sacrificar o pessoal à Personalidade impessoal, e assim destruir o caminho entre as duas - Antahkarana (106).



Tens de estar pronto para responder a Dharma, a lei austera, cuja voz te perguntará ao teu primeiro passo, ao teu passo inicial.



“Obedeceste a todas as regras, ó de altas esperanças?



“Puseste o teu coração e a tua mente de acordo com a grande mente e o grande coração de toda a humanidade? Porque, como a voz sonora do grande rio, na qual todos os sons têm o seu eco (107), assim deve o coração daquele que queira entrar para o rio vibrar em resposta a cada suspiro e a cada pensamento de tudo quanto vive e respira”.



Os discípulos podem ser comparados a cordas da vina que produz eco nas almas; a humanidade, à sua caixa de ressonância; a mão que a vibra, à respiração melodiosa da Grande Alma do Mundo. A corda que não vibra ao toque o Mestre, em harmonia suave com todas as outras, quebra-se e é deitada fora.


Assim as mentes coletivas dos Lanu-Shravakas. Têm de ser afinadas para vibrar de acordo com o espírito do Upadhya - uno com a Super-Alma - ou se quebrará.



Assim fazem os irmãos da sombra - os assassinos das suas Almas, a horrível seita dos Dad-Dugpa (108).



Puseste o teu ser de acordo com a grande dor da humanidade, ó candidato à luz?



Fizeste assim?... Podes entrar. Antes, porém, que dês um passo no duro caminho da tristeza, é bom que aprendas quais são os perigos da estrada.



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Armado com a chave da caridade, do amor e da terna misericórdia, podes estar tranqüilo ante a porta de Dana, a porta que fica à entrada do Caminho.



Vê, ó ditoso peregrino! O portal que tens diante de ti é alto e largo, parece de fácil acesso. A estrada que o atravessa é reta, suave e relvada. É como uma clareira cheia de sol no meio da floresta escura e funda, um lugar na terra refletindo o paraíso de Amitabha (109). Ali rouxinóis de esperança e aves de penas radiosas cantam em bosques verdejantes, trilando triunfos aos peregrinos sem receio. Cantam as cinco virtudes do Bodhisattva, a fonte quíntupla do poder do Bodhi, e dos sete degraus no conhecimento.



Passa, segue para diante! Trouxeste a chave: estás salvo.



Para a segunda porta a entrada é verde também, mas é íngreme e serpenteia montanha acima - sim, até ao cimo rochoso da montanha. Névoas cinzentas cobrirão o seu píncaro rude e pedregoso, e para além será tudo escuridão. À medida que avança, o cântico da esperança soa cada vez mais débil no coração do peregrino. O arrepio da dúvida atinge-o; os seus passos tornam-se mais in­certos.



Acautela-te com isto, ó candidato; acautela-te contra o medo que, como as asas negras e silenciosas do morcego noturno, se alastra entre o luar da tua Alma e a tua grande meta que surge na distância, muito longe ainda.



O medo, ó discípulo, mata a vontade e de­mora a ação. Se é falho da virtude Shila, o peregrino tropeça, e pedras cármicas ferem-lhe os pés pelo caminho pedregoso.



Pisa com segurança, ó candidato. Banha a tua alma na essência de Kshanti; porque te acercas agora do portal que tem esse nome, a porta da fortaleza e da paciência.



Não feches os olhos, nem percas de vista Dorje (110); as setas de Mara atingem sempre o homem que não chegou ao Vairagya (111).



Não tremas. Sob o hálito do medo enferruja a chave de Kshanti; a chave ferrugenta já não pode abrir.



Quanto mais avançares, mais e mais serão os perigos que cercarão os teus passos. O caminho que segue para diante é iluminado por uma chama - a luz da audácia ardendo no coração. Quanto mais ousares, mais conseguirás. Quanto mais temeres, mais a luz esmorecerá - e só ela te pode guiar. Porque como o último raio do sol no píncaro do alto monte é seguido pela noite escura quando cessa, assim é a luz do coração. Quando se apaga, uma sombra negra e ameaçadora cairá do teu co­ração sobre o Caminho, e prenderá os teus pés pávidos no chão.



Acautela-te, discípulo, com essa sombra letal. Nenhuma luz que brilhe do Espírito pode dispersar a escuridão da Alma inferior, a não ser que todo o pensamento egoísta de lá tenha fugido, e que o peregrino diga: “Abdiquei deste corpo que passa; destruí a causa; as sombras, meros efeitos, não podem mais subsistir”. Por­que teve lugar agora a última grande batalha, a guerra final entre o ser superior e o inferior. Vê, o próprio campo da batalha se engolfou na grande guerra, e deixou de existir.



Mas, uma vez passada a porta de Kshanti, está dado o terceiro passo. O teu corpo é teu escravo.


Prepara-te agora para a quarta porta, a porta das tentações que enleiam o homem interior.



Antes que possas acercar-te dessa meta, antes que a tua mão se erga para levantar o fecho da quarta porta, deves ter dominado to­das as alterações mentais em ti, e matado o exército das sensações-pensamentos que, sutis e insidiosas, se introduzem, sem que tu queiras, no sacrário luzente da Alma.



Se não queres que elas te matem, deves tornar inofensivas as tuas criações, os filhos dos teus pensamentos, invisíveis, impalpáveis, que enxameiam em torno à humanidade, prole e herdeiros do homem e das suas presas terrestres. Tens de estudar o vácuo do aparente­mente cheio, o cheio do aparentemente vazio. Ó aspirante intemerato, olha bem para dentro do poço do teu coração, e responde. Conheces bem os poderes da Personalidade, ó observador das sombras externas?



Se os não conheces, está perdido.



Porque, no quarto caminho, a mais leve brisa da paixão ou do desejo fará tremer a luz firme nos muros brancos e puros da Alma. A mais pequena onda de ânsia ou de saudade pelos dons ilusórios de Maya, ao passares por Antahkarana - o caminho que há entre o teu Espírito e a tua Personalidade, a estrada-real das sensações, as despertadoras de Ahamkara (112) - um pensamento rápido como a luz do relâmpago far-te-á perder os teus três prêmios - os três prêmios que ganhaste. Aprende que no Eterno não há mudança.



“Abandona para sempre as oito cruéis angústias; se não, por certo que não chegaste à sabedoria, nem ainda à libertação”, diz o grande Senhor, o Tathagata da perfeição, “aquele que seguiu as passadas dos seus predecessores (113).



Austera e exigente é a virtude de Vairagya. Se queres possuir o seu caminho, tens de ter a tua mente, as tuas percepções mais do que nunca livres da ação mortal.



Tens de te saturar do puro Alaya, de te identificar com o pensamento da alma da Natureza. Unificado com ele és invencível; separado dele, torna-te o campo de recreio de Samvritti (114), origem de todas as ilusões do mundo.



Tudo é transitório no homem, salvo a pura e clara essência do Alaya. O homem é o seu raio cristalino; por dentro um raio de luz imaculada, uma forma de barro material na superfície inferior. Esse raio é o teu guia de vida e a tua Personalidade verdadeira, a sentinela e o pensador silencioso, a vítima do teu ser inferior. A tua Alma não pode ser ferida senão através do teu corpo pecador; domina e rege os dois e estarás salvo quando estiveres cruzando as proximidades da Porta do Equilíbrio.



Anima-te, audaz peregrino, para a outra margem. Não dês ouvidos ao segredar das hostes de Mara; afasta os tentadores, esses espíritos de má índole, os Lhamayn (115) no espaço infinito.



Mantém-te firme! Acerca-te agora do por­tal médio, da porta da dor, com as suas dez mil armadilhas.



Domina os teus pensamentos, ó ansioso pela perfeição, se queres atravessar o limiar dela.



Domina a tua alma, ó ansioso pelas verdades eternas, se queres chegar à meta.



Concentra o olhar da tua alma na luz única e pura, na luz que nada afeta, e serve-te da tua chave de ouro.



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O árduo trabalho está feito, a tua tarefa quase finda. O grande abismo, que se abria para te tragar, está quase passado.



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Atravessaste a vala que circula a porta das paixões humanas. Venceste já a Mara e à sua horda furiosa.



Tiraste a impureza do teu coração e sangraste-o de desejos impuros. Mas, ó combatente glorioso, a tua tarefa ainda não está no fim. Constrói alto, Lanu, o muro que há de defender a tua Ilha Sagrada (116), o dique que protegerá o teu espírito do orgulho e do contenta­mento ao pensares no teu grande feito.



Um sentimento de orgulho macularia a tua obra. Sim: ergue forte o muro, não vá o impulso feroz das ondas em guerra, que sobem e batem na sua costa, vindas do grande Mundo do oceano de Maya, engolfar o peregrino e a ilha; - sim, no próprio momento da vitória.



A tua “ilha” é a corça, os teus pensamentos os galgos que cansam e perseguem o seu avanço até ao rio da vida. Ai da corça que é atingida pelos galgos malignos antes que chegue ao vale do refúgio - Jnana-Marga (117), “o caminho do puro conhecimento”.



Antes que te possas estabelecer em Jnana­Marga e chamar-lhe teu, a tua Alma tem de se tornar como o fruto maduro da mangueira: mole e doce como a sua polpa dourada para as angústias dos outros, duro como o caroço desse fruto para as tuas próprias dores e angústias, ó triunfador da alegria e da tristeza.



Torna a tua Alma dura contra as armadilhas da tua personalidade; faze com que ela mereça o nome de Alma de Diamante.



Porque, como o diamante enterrado fundo no coração vivo da terra não pode refletir as luzes terrenas, assim são a tua mente e a tua Alma; imersos no Jnana-Marga, nada devem refletir do meio ilusório de Maya.



Quando chegares a esse estado, os portais que tens de vencer no teu caminho abrem de par em par as suas portas, para que passes e os poderes maiores da natureza não têm força para te embargar o passo.


Serás dono do sétuplo caminho: mas só então o serás, ó candidato a provas indizíveis.



Até ali, espera-te uma tarefa muito mais difícil: tens de te sentir todo pensamento, e contudo exilar da tua alma todos os pensamentos.



Tens de chegar àquela fixidez de espírito em que nenhuma brisa, por mais que cresça, pode soprar um pensamento material para dentro dele. Assim purificado, o sacrário deve ficar vazio de toda a ação, som ou luz da terra; assim como a borboleta, atingida pela geada, cai morta no limiar - assim todos os pensamentos materiais devem cair mortos ante o tempo.



Vê que está escrito:



“Antes que a chama dourada possa arder com um brilho firme, deve a lâmpada estar guardada num lugar livre de toda a aragem”. Exposta à brisa volúvel, a chama tremerá, e, tremendo, lançará sombras enganosas, negras, e sempre variantes, sobre o sacrário branco da Alma.



E então, ó perseguidor da verdade, a alma da tua mente tornar-se-á como um elefante louco, que se enfurece na floresta. Tomando as árvores por inimigos vivos, morre ao tentar matar as sombras sempre incertas bailando no muro dos rochedos inundados de sol.



Acautela-te, não vá a tua alma, ao cuidar da tua Personalidade, perder pé no terreno do conhecimento Deva.



Acautela-te, não vá a tua Alma, ao esquecer a Personalidade, perder o seu domínio sobre o seu espírito trêmulo, perdendo assim o justo prêmio das suas conquistas.



Acautela-te contra a mudança, porque a mudança é o teu grande inimigo. A mudança lutará contigo, afastar-te-á, atirar-te-á para fora do caminho que trilhas, para dentro de pântanos viscosos de dúvida.



Prepara-te e acautela-te a tempo. Se experimentaste e falhaste, ó lutador indômito, não percas, porém, a coragem: continua a lutar, e volta ao embate repetidamente.



O guerreiro destemido, ainda que o sangue da sua vida lhe escorra das feridas abertas, continuará a atacar o inimigo, expulsá­lo-á do seu forte, vencê-lo-á mesmo, antes que ele próprio expire. Agi, pois, todos vós que falhais e que sofreis, como esse soldado; e do forte da vossa Alma expulsai todos os vossos inimigos - a ambição, a cólera, o ódio, até a sombra do desejo - mesmo quando tiverdes falhado...



Lembra-te, tu que lutas pela libertação humana (118), que cada falência é um triunfo, e cada tentativa sincera a seu tempo recebe o seu prêmio. Os santos germes que brotam e crescem invisíveis na Alma do discípulo, dobram como juncos mas não quebram, nem podem eles perder-se. Mas quando a hora soa, desabrocham (119).



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Mas se vieste preparado, então não temas nada.



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Daqui em diante é claro o teu caminho, que vai direto à porta de Virya, o quinto dos sete portais. Estás agora no caminho que conduz ao porto do Dhyana, o sexto portal, o portal Bodhi.



A porta do Dhyana é como um vaso de alabastro, branco e transparente; dentro dele arde uma luz firme e dourada, a chama de Prajna, que de Atman irradia.



Esse vaso és tu.



Afasta-te dos objetos dos sentidos, seguiste pelo caminho da visão, pelo caminho da audição, e estás agora na luz do conhecimento. Chegaste agora ao estado de Titiksha (120).



Ó Naljor, estás salvo.



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Aprende, vencedor dos pecados, que uma vez que um Sowani (121) tenha atravessado o sé­timo caminho, toda a natureza estremece de alegria e se sente submissa. A estrela prateada eis que cintila esta nova às flores da noite, o riacho murmura esse conto às pedras; as ondas escuras do oceano o cantam aos rochedos cheios de espuma, as brisas perfumadas cantam-no aos vales, e os pinheiros altivos segredam misteriosamente: “Surgiu um Mestre, um Mestre do Dia" (122).



Ele se ergue agora como uma coluna branca ao ocidente, sobre cuja fronte o sol nascente do pensamento eterno derrama as suas primeiras ondas gloriosas. O seu espírito, como um oceano ilimitado em calmaria, alastra-se no espaço sem praias. Ele tem a vida e a morte na sua mão poderosa.

Sim, ele é poderoso. O poder vivo tornado livre nele, esse poder que é Ele próprio, pode erguer o tabernáculo da ilusão muito acima dos Deuses, a cima dos grandes Brahm e Indra. É agora, por certo, que ele conseguirá o seu grande prêmio!



Não usará ele os dons, que isso confere, para seu descanso e felicidade, para seu proveito e glória tão bem ganhos - ele o subjugador da grande ilusão?



Não, ó candidato à ciência secreta da natureza! Se quiseres seguir os passos do santo Tathagata, esses dons e poderes não são para ti próprio. Irás assim por um dique às águas nascidas em Someru (123)?


Irás desviar o rio para teu serviço, ou fazê-lo subir até à sua nascente, pelos cerros dos ciclos?



Se quiseres que esse rio de conhecimento bem ganho, de sabedoria de divina origem, fique uma corrente pura, não deves deixar que ele se torne um lago estagnado.



Aprende: se quiseres tornar-te cooperador de Amitabha, a Idade Ilimitada, então deves derramar a luz adquirida, como os dois Bodhisattvas (124), sobre a extensão de todos os três mundos (125).



Aprende que a corrente de conhecimento sobre-humano e a sabedoria Deva, que adquiriste, deve, de ti, o canal de Alaya, ser derramada para outro leito.



Aprende, ó Naljor, tu do caminho secreto, que as suas águas puras devem ser emprega­das para tornar mais doces as ondas amargas do oceano - esse grande mar de sofrimento formado pelas lágrimas dos homens.



Ai de ti! Uma vez que te tornaste como a estrela fixa no alto céu, esse claro orbe celeste deve, das profundezas do espaço, brilhar para todos, menos para si mesmo; dar luz a todos, e a nenhum tirá-la.



Ai de ti! Uma vez tornado como a neve pura nos vales das montanhas, fria e insensível ao tato, quente e protetora para a semente que dorme fundo sob o seu seio - agora é essa neve que deve receber a geada mordente, os vendavais do norte, protegendo assim do seu dente fino e cruel a terra que contém a colheita prometida, a colheita que dará pão aos que têm fome.



Por ti próprio condenado a viver através de Kalpas futuros sem que os homens te vejam ou te agradeçam; apertado como uma pedra contra inúmeras outras que formam o “Muro da Guarda" (126), tal é o teu futuro se passares a sétima porta. Construído pelas mãos de muitos Mestres da Compaixão, erguido pelas suas torturas, cimentado pelo seu sangue, ele proteje a humanidade, desde que o homem é homem, livrando-a de novas e maiores angústias e tristezas.



O homem, porém, não o vê, não o quer ver, nem quer dar ouvidos à palavra da Sabedoria, porque não a conhece.



Mas tu ouviste-a, tu sabes tudo, ó de Al­ma ansiosa e imaculada... e tens de escolher. Escuta ainda.



No Caminho de Sowan, ó Srotapatti, segues seguro. Sim, nesse Marga, onde apenas a escuridão vem ao encontro do peregrino cansado, onde, rasgadas por espinhos, as mãos gotejam sangue, os pés são rasgados por pedras agudas e duras, e Mara emprega as suas armas mais fortes - para além dele, imediata­mente há um grande prêmio.



Calmo e impassível, o peregrino vai até ao rio que conduz ao Nirvana. Ele sabe que quanto mais os seus pés sangrarem, mais lavado e limpo ele próprio ficará. Ele sabe bem que depois de sete breves e transitoriais nascenças, o Nirvana lhe pertencera...



Tal é o caminho de Dhyana, o porto do iogue, a meta sagrada que o Srotapattis buscam.



Não é assim quando atravessou e conquistou o caminho Arhat (127).



Ali Klesha (128) é destruído para sempre, e as raízes de Tanha (129) arrancadas; mas pára, discípulo... escuta uma palavra ainda. Podes tu destruir a divina compaixão? A compaixão não é um atributo. É a Lei das leis - a harmonia eterna, o próprio Ser de A1aya, uma essência universal sem praias, a luz da justiça eterna, o acordo de tudo, a lei do eterno amor.



Quanto mais com ela te unificares, fundindo o teu ser no seu ser, tanto mais a tua Alma se unirá àquilo que é, tanto mais te tornarás a Compaixão Absoluta (130).



Tal é o caminho Arya, caminho dos Budas da perfeição.



Mas o que significam os livros sagrados que te fazem dizer:



“Om! Creio que nem todos os Arhats obtêm o doce gozo do caminho nirvânico.



“Om! Creio que no Nirvanadharma não entram todos os Budas" (131).



Sim, no caminho de Arya já não és um Srotapatti, és um Bodhisattva (132). Atravessaste o rio. É certo que tens direito à veste do Dharmakaya; mas um Samhbogakaya é maior do que um Nirvani, e maior ainda é um Nirmanakaya - o Buda da Compaixão (133).



Inclina agora a tua fronte e escuta bem, ó Bodhisattva - a compaixão fala e diz:



“Pode haver felicidade quando tudo quanto vive tem de sofrer? Quererás salvar-te ouvindo todo o mundo chorar?”



Agora ouviste o que se disse:



Chegarás ao sétimo degrau e atravessarás a porta do conhecimento final, mas apenas para tomares a dor por esposa - se queres ser Tathagata, seguir os passos do teu predecessor, conservar-te altruísta até ao fim sem fim.



Estás iluminado - escolhe o teu caminho.



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Olha a luz suave que inunda o céu oriental. Céu e terra unem-se em gestos de adoração. E dos poderes quadruplamente manifestados sobe um cântico de amor, tanto do fogo que brilha como da água que corre, da terra perfumada e do vento que passa.



Escuta!... do grande e insondável vórtice daquela luz dourada em que o Vencedor se banha, toda a voz sem palavras da natureza se ergue para em mil tons proclamar:



Saúdo-vos, ó homens de Myalba. (134).

Um peregrino regressou da “outra margem”

Nasceu um novo Arhan. (135).

Paz a todos os seres. (136).

Texto de Helena Blavatsky
Tradução de Fernando Pessoa


*Notas*
96. Upadhya é um preceptor espiritual, um Guru. Os budistas do Norte escolhem-no em geral entre os Naljor, homens santos, eruditos na Gotrabhujnana e no Jnana-darshana-shuddi, professores da sabedoria secreta.

97. Yana significa veículo: assim, Mahayana é o Grande Veículo e Hinayana o Veículo Menor, nomes estes de duas es­colas de ciência religiosa e filosófica no budismo do Norte.

98. Shravaka - um ouvinte, ou estudante que segue as instruções religiosas. Do radical Shru. Quando da teoria passa à prática ou realização do ascetismo. torna-se um Shramana, exercedor de Shrama, ação. Como mostra Hardy, as duas for­mas correspondem às palavras gregas akoustikoi e asketai.

99. O Samtan tibetano é o mesmo que o sânscrito Dyana, ou estado de meditação, do qual há quatro graus.

100. Paramitas, as seis virtudes transcendentais: caridade, moralidade, paciência, energia, contemplação e sabedoria. Para os sacerdotes há dez, as seis apontadas, e, além delas, o emprego dos meios justos, a ciência, votos religiosos e força de propósito (O Budismo Chinês, da Eitel).

101. Srotapatti - literalmente, “aquele que entrou para o rio”, que conduz ao oceano nirvânico. Este nome indica o primeiro Caminho. O nome do segundo é o Caminho do Sakridagamin, “aquele que receberá a nascença (só) uma vez mais”. Ao terceiro chama-se aquele do Anagamin, “aquele que não tornará a ser reencarnado”, a não ser que assim deseje para auxiliar a humanidade. O quarto Caminho é conhecido como o do Rahat ou Arhat. É este o mais alto. Um Arhat vê o Nirvana durante a sua vida. Para ele não é um estado para de­pois da morte: é o seu Samadhi, durante o qual experimenta toda a felicidade do Nirvana. (Para se ver quão pouca confiança se pode ter nos orientalistas no que diz respeito à exatidão de palavras e do seu sentido, basta ver o que disseram três pretensas autoridades nesta matéria. Assim, os quatro nomes que citamos são dados por R. Spence Hardy como sendo: 1. Sowan; 2. Sakradagami; 3. Anagami; e 4. Arya. Pelo Rev. J. Edkins são dados como: 1. Srotapanna; 2. Sagardagam; 3. Anaganim; e 4. Arhan. Schlagintweit escreve-os de maneira diversa, e cada um desses orientalistas dá a essas palavras sentidos diferentes).

102. Conhecimento, sabedoria, ciência.

103. “Chegar à margem” é, para os budistas do Norte, sinônimo de atingir o Nirvana pelo exercício das seis e dez Paramitas (virtudes).

104. Um homem sem pecado, um santo. (Upadhya é um preceptor espiritual, um Guru. Os budistas do Norte escolhem-no em geral entre os Naljor, homens santos, eruditos na Gotrabhujnana e no Jnana-darshana-shuddi, professores da sabedoria secreta).

105. A Alma-Mestra é Alaya, a Alma Universal ou Atman de que cada homem tem um raio em si, e com que se supõe que é capaz de se identificar e se fundir.

106. Antahkarana é o Manas inferior, o caminho de comunicação ou comunhão entre a personalidade e o Manas superior ou Alma Humana. Na morte se destrói como caminho ou meio de comunicação, e os seus restos sobrevivem sob uma forma, como o Kamarupa - a casca.

107. Os budistas do Norte, e, de resto, todos os chineses, sentem no rugido fundo de alguns rios grandes e sagrados a nota mestra da natureza. Daí o símile. É um fato bem conhecido, tanto na ciência física quanto no ocultismo, que o som agregado da natureza como no rugido dos grandes rios, ou no ruído produzido pela oscilação dos cimos das árvores numa grande floresta, ou no som de uma cidade ouvido à distância - é um tom único e definido de alcance perfeitamente apreciável. Mostram-no físicos e músicos. Assim, o prof. Rice (A Música Chinesa) diz que os chineses reconheceram o fato há milhares de anos, dizendo que as águas do Hoang-ho, ao correr, davam o Kung, chamado "o grande tom" na música da China; e mostra que este tom corresponde ao lá, "considerado pelos físicos modernos o tom essencial da natureza". O Prof. B. Silliman cita-o, também, no seu Princípio da Física, dizendo que "este tom é dado como sendo o lá médio do piano, que pode, portanto, ser considerado a nota mestra da natureza".

108. Os Bhöns e Dugpas e as várias seitas dos “barretes­vermelhos”, são considerados como os mais hábeis feiticeiros. Vivem no Tibete Ocidental, no Tibete Menor e no Butham. São todos Tantrikas. É absolutamente ridículo encontrar orientalistas que visitaram as fronteiras do Tibete, como Schlagintweit e outros, a confundir os ritos e nojentas práticas desta gente com as crenças religiosas dos Lamas orientais, os “barretes-­amarelos” e os seus Naljors ou homens santos.

109. Amitabha. o Imortal Iluminado, nome de Gautama Buda (Na simbologia do budismo setentrional diz-se que Amitabha ou o espaço ilimitado (Parabrahman) tem no seu paraíso dois Bodhisattvas - Kuan-shi-yin e Tashishi - que não cessam de irradiar luz sobre os três mundos onde viveram, incluindo o nosso, para, com esta luz (do conhecimento), auxiliar a instrução dos iogues, os quais, por sua vez, salvarão os homens. A sua alta posição no reino de Amitabha é - diz a alegoria - devida a atos de misericórdia por ambos praticados, como tais iogues, quando na terra).

110. Dorje é o sânscrito Vajra, arma ou instrumento nas mãos de alguns Deuses (os Dragshed tibetanos, os Devas que protegem os homens) e é considerado como tendo o mesmo poder oculto de repelir más influências - purificando o ar - que o ozone tem na química. É também um Mudra, gesto e posição usados ao sentar para a meditação. É, em resumo, símbolo de poder sobre más inf1uências invisíveis, quer como posição, quer como talismã. Os Bhöns e Dugpas, porém, tendo apropriado o símbolo, aproveitam-se dele sinistramente para os fins da magia negra. Para os barretes-amarelos, ou Gelugpas, é símbolo de poder, como a cruz para os cristãos, e é tam­pouco superstição como esta. Para os Bhöns é, como o duplo triângulo invertido, o sinal da bruxaria.

111. Vairagya é o sentimento de absoluta indiferença para com o universo objetivo, ao prazer e à dor. “Nojo” (como o nojo da sociedade) não dá bem a idéia, mas é o mais próximo que há. (“Despaixão” seria, talvez o termo mais apropriado.)

112. Ahamkara - o sentimento da sua própria personalidade, a noção do “eu sou”.

113. “Um que segue as passadas dos seus predecessores” é o verdadeiro sentido do nome Tathagata.

114. Samvritti é aquela das duas verdades que demonstra o caráter ilusório ou o vácuo de todas as coisas. Neste caso significa a verdade relativa. A escola Mahayana ensina a diferença entre estas duas verdades - Paramarthsatya e Samvrittisatya (Satya-verdade). É este o pomo de discórdia entre os Madhyamikas e os Yogacharyas, os primeiros dos quais negam, e os segundos afirmam, que todo o objetivo existe devido a uma causa anterior ou por concatenação. Os Madhyamikas são os grandes niilistas e negadores, para quem tudo é Parikal­pita, uma ilusão e um erro no mundo do pensamento subjetivo tanto como no universo objetivo. Os Yogacharyas são os gran­des espiritualistas. Samvritti, portanto, por ser apenas a verdade relativa, é a origem de toda a ilusão.

115. Os Lhamayin são elementais e maus espíritos adversos aos homens, e seus inimigos.

116. O Eu superior, ou personalidade pensante.

117. Jnana-Marga é, literalmente, o caminho de Jnana, ou o Caminho do Conhecimento Puro, de Paramartha ou (em sânscrito) Svasamvedana, a reflexão evidente por si mesma, ou autoanalítica.

118. É esta uma alusão a uma crença bem conhecida no Oriente (como, de resto, também no Ocidente) de que cada Buda ou santo a mais é um novo soldado no exército daqueles que trabalham pela libertação ou salvação da humanidade. Nas regiões do budismo do Norte, onde é ensinada a doutrina dos Nirmanakayas - aqueles Bohisattvas que renunciam à justa­mente merecida veste do Nirvana ou do Dharmakaya (qualquer dos quais os isolam para sempre do mundo dos homens) para invisivelmente auxiliar a humanidade e conduzi-la finalmente ao Paranirvana - cada novo Bodhisattva, ou Grande Adepto Iniciado, é denominado o libertador da humanidade. A afirmação, feita por Schlagintweit no livro O Budismo no Tibete, de que Prulpai ku ou Nirmanakaya é “o corpo em que os Budas ou Bodhisattvas aparecem na terra para ensinar os homens” é absurdamente errônea e nada explica.

119. Uma referência às paixões e pecados humanos que são chacinados durante as provações do noviciado, e servem de terreno bem adubado onde podem nascer os germes ou sementes das virtudes transcendentais. As virtudes, talentos ou dons preexistentes têm-se por adquiridos numa nascença anterior, O gênio é sem exceção um talento ou aptidão trazido de uma vida anterior.

120. Titiksha é o quinto estado da Raja Ioga - um estado de suprema indiferença; a submissão, se for preciso, ao que se chama “o prazer e a dor para todos”, mas não tirando nem prazer nem dor de tal submissão - em suma, o tornar-se física, mental, e moralmente indiferente e insensível quer ao prazer, quer à dor.

121. Sowani é aquele que pratica o Sowan, o primeiro caminho em Dhyana, um Srotapatti.

122. Dia aqui significa todo um Manvantara, um período de incalculável duração.

123. Meru, a montanha sagrada dos Deuses.

124. Na simbologia do budismo setentrional diz-se que Amitabha ou o espaço ilimitado (Parabrahman) tem no seu paraíso dois Bodhisattvas - Kuan-shi-yin e Tashishi - que não cessam de irradiar luz sobre os três mundos onde viveram, incluindo o nosso, para, com esta luz (do conhecimento), auxiliar a instrução dos iogues, os quais, por sua vez, salvarão os homens. A sua alta posição no reino de Amitabha é - diz a alegoria - devida a atos de misericórdia por ambos praticados, como tais iogues, quando na terra.

125. Estes três mundos são os três planos do ser - o terreno, o astral e o espiritual.

126. O “Muro da Guarda”, ou “Muro da Proteção”. É-nos ensinado que os esforços acumulados de longas gerações de Iogues, Santos e Adeptos, especialmente dos Nirmanakayas, criaram, por assim dizer, um muro de proteção em torno da humanidade, que a guarda invisivelmente contra males ainda maiores.

127. Do sânscrito Arhat ou Arham.

128. Klesha é o amor ao prazer ou à alegria terrena, quer seja boa ou má.

129. Tanha, a vontade de viver, aquilo que causa o renascer.

130. Esta compaixão não deve ser tida por análoga ao “Deus, o divino amor” dos teístas. A compaixão significa aqui lei abstrata, impessoal, cuja natureza, sendo a harmonia absoluta, se torna confusa pela discórdia, pelo sofrimento, e pelo pecado.

131. Na fraseologia do budismo do Norte todos os grandes Arhats, Adeptos e Santos são denominados Budas. As citações atuais são feitas do Thegpa Chenpoido, o Mahayana Sutra, “in­vocações aos Budas da Confissão”, Parte I. IV.

132. Um Bodhisattva é, hierarquicamente, menos do que um Buda perfeito. Na linguagem exotérica os dois são muito confundidos. Mas a percepção popular, correta e inata, colocou um Bodhisattva, devido ao seu grande sacrifício, mais alto no seu respeito do que um Buda.

133. Esta mesma reverência popular chama “Budas da Compaixão” àqueles Bodhisattvas que, tendo chegado ao grau de Arbat (isto é, tendo completado o quarto ou sétimo Caminho), recusam-se a passar para o estado nirvânico ou “vestir a veste do Dharmakaya e passar para a outra margem”, visto que então já não poderiam auxiliar os homens mesmo o pouco que o Carma permite. Preferem continuar invisivelmente (no espírito, por assim dizer) no mundo, e contribuir para a salvação humana, influenciando os homens a seguir a boa Lei, isto é, levando-os para o Caminho da Virtude.

É costume entre os exotéricos do budismo do Norte venerar estes grandes seres como santos e mesmo rezar a eles, como fazem os gregos e os católicos aos seus santos e padroeiros; mas os ensinamentos esotéricos não permitem essas orações. Há grande diferença entre as duas doutrinas.

O exotérico laico mal sabe o verdadeiro sentido da palavra Nirmanakaya - daí a confusão e as explicações insuficientes dos orientalistas. Por exemplo: Schlagintweit crê que Nirmanakaya significa forma física assumida pelos Budas quando encarnam na terra - “o menos sublime dos seus invólucros terrenos” (ver O Budismo no Tibete) - e passa a dar opinião inteiramente falsa sobre o assunto. A verdadeira doutrina é, porém, esta:

Os três corpos ou formas búdicas são denominados:

I. Nirmanakaya.
II. Sambhogakaya.
III. Dharmakaya.

O primeiro é aquela forma etérea que ele assumiria quando, abandonando o corpo físico, aparecesse no corpo astral -tendo a mais todos os conhecimentos de um Adepto. O Bodhisattva desenvolveu-o em si mesmo à medida que avança no caminho. Tendo chegado à meta e recusado a fruição da recompensa, permanece na terra como um Adepto; quando morre, em vez de entrar para o Nirvana, fica no corpo glorioso que para si teceu, invisível à humanidade não-iniciada, para velar por ela e protegê-la.

Sambhogakaya (literalmente “Corpo de Compensação”) é o mesmo Nirmanakaya, mas com o brilho adicional de três perfeições, uma das quais é a obliteração de todas as preocupações terrenas.

O corpo Dharmakaya é o de um Buda completo, isto é, não é corpo nenhum, mas o sopro ideal; a consciência imersa na consciência universal, ou a alma despida de todos os atributos.

Uma vez tornado um Dharmakaya, um Adepto ou Buda abandona toda a possível relação com, ou pensamento ligado a esta terra. Assim, para poder auxiliar a humanidade, um Adepto que adquiriu o direito ao Nirvana, “renuncia ao corpo Dharmakaya”, falando misticamente; guarda, do Sambhogakaya, apenas os grandes e completos conhecimentos, e fica no seu Nirmanakaya. A escola esotérica ensina que Gautama Buda, com vários dos seus Arhts, é um Nirmanakaya deste gênero, acima do qual, pela grande renúncia e sacrifício pela humanidade, não existe ninguém.

134. Myalba é a nossa terra - propriamente chamada de Inferno - que a escola esotérica chama o maior de todos os infernos. A doutrina esotérica não conhece inferno, ou lugar de castigo, a não ser um planeta habitado ou terra. Avichi é um estado e não um lugar.

135. Isto significa que nasceu um novo salvador da humanidade, que conduzirá os homens ao Nirvana final, isto é, de­pois do fim do ciclo de vidas.

136. Esta é uma das variantes da fórmula que invariavelmente fecha todo o tratado, invocação ou instrução. “Paz a todos os seres”, “Bênçãos sobre tudo quanto vive”, etc.

Originalmente editado pela Loja Fênix - Brasília/DF

Fonte:
levir teosofia