O fenômeno da congestão verifica-se quando um indivíduo, por uma razão qualquer, não utiliza as energias, qualidades, potencialidades que já possui e estão prontas para ser usadas.
Não se trata de um fenômeno inconsciente como a inibição, que, como veremos, deve-se a fatores precisos como, por exemplo, traumas, complexos, sentimento de culpa, etc, mas de um fenômeno consciente, ainda que involuntário, devido não somente a causas externas como também a causas internas.
Antes de mais nada, examinemos as causas externas.
Devemos, em primeiro lugar, lembrar que a nossa personalidade é composta de três aspectos ou veículos:
o físico-etéreo,
veículos que são campos de energias. Estes três aspectos, ao se desenvolverem, reclamam expressão, pois representam "funções" (como as chama Jung) que, se não usadas, provocam bloqueios, distúrbios e mal-estares.
E como isso acontece? As vezes, é a própria vida que não nos concede a possibilidade de exprimir as nossas faculdades. Por exemplo, pode acontecer que o trabalho que desenvolvemos, que a profissão que escolhemos absorva somente uma ou duas de nossas funções, deixando a terceira, que na maioria das vezes e' a emotiva, sem ação.
Outras vezes, pelo contrário, um indivíduo desenvolve uma atividade prática em função da qual emprega os aspectos técnicos da mente, deixando de lado todas as outras possibilidades que, como a inteligência e a intuição, existem no corpo mental.
Em outros casos ainda, é a criatividade, a sensibilidade artística e a imaginação que são relegadas por uma atividade que nos absorve completamente numa dada direção já predeterminada.
A vida moderna freqüentemente obriga o homem à unilateralidade. A especialização em determinados campos é a característica dominante desta época, e se é que tal concentração sobre uma única linha chega a ser frutífera para o aprofundamento daquele setor específico, beneficiando portanto a sociedade, por outro lado não é benéfica ao desenvolvimento e à saúde do indivíduo.
O homem, como já dissemos, é um ser complexo, composto de muitos aspectos. É uma unidade que resulta do conjunto de muitas energias e funções, daí ser o caminho de sua harmonização e de seu bem-estar a integração e o uso coordenado destas energias.
Se uma pessoa é obrigada, sem o querer, a servir-se por um período consideravelmente prolongado de apenas uma de suas funções, todo o organismo físico-psíquico se ressente disso.
Um homem de negócios, por exemplo, também pode ter tendências afetivas ou artísticas, caso tenha desenvolvido também o lado emocional e sensitivo de sua personalidade, mas o que quase sempre ocorre é que ele "não tem tempo" de cultivar e exprimir tais tendências, pois a sua vida prática o absorve completamente, não lhe deixando a possibilidade de desenvolver a sua natureza emotiva, que assim permanece comprimida e congestionada. Visto que o lado emotivo tem como seu correspondente no corpo etéreo o plexo solar, e este, por sua vez, o aparelho digestivo, é óbvio que mais cedo ou mais tarde se verifiquem distúrbios e doenças neste lado físico, a princípio exclusivamente funcionais e a seguir "orgânicos".
São freqüentes os casos de úlcera péptica nos homens de negócio, fato que foi também comprovado pela medicina psicossomática, que acompanhou a formação de hipersecreção gástrica em indivíduos em quem a necessidade afetiva é continuamente frustrada pelas circunstâncias externas.
A medicina psicossomática interpreta esta correlação entre a necessidade de afeto e as funções digestivas como um fenômeno regressivo. Em outras palavras, o desejo de ser amado não é satisfeito e "regride" ao desejo de ser nutrido.
Para a medicina esotérica, entretanto, esta é uma explicação demasiado simplista e genérica, pois não leva em conta o conteúdo energético e dinâmico da afetividade, ignorando, como é óbvio, a existência de "centros de força" que acumulam e exprimem as diferentes energias do homem.
Já a explicação esotérica, pelo contrário, é muito mais clara e satisfatória, já que visualiza o homem como um agregado de energias, e a saúde como o funcionamento correto, harmonioso e coordenado destas energias sob a orientação do autêntico centro de consciência: o Si.
Voltando ao tema da congestão, as causas externas, portanto, são as geradas peias circunstâncias e pelo ambiente, impedem um equilibrado uso de todas as nossas faculdades, obrigando-nos à unilateralidade.
As causas internas, pelo contrário, são de natureza psicológica e se acham na dependência dos nossos defeitos de caráter, da nossa índole, das nossas próprias deficiências (preguiça, falta de vontade, egoísmo, desilusão, medo etc).
Pode acontecer, por exemplo, que uma pessoa seja muito sensível, afetiva, capaz de amor e de altruísmo, mas não se sirva destes dons por preguiça, falta de confiança em si mesma ou timidez. Ou então, é possível encontrar um indivíduo muito inteligente, com notáveis faculdades mentais, mas que não aproveita este seu desenvolvimento intelectual, por ser uma pessoa indecisa, débil, desconfiada...
Todavia, estas faculdades estão presentes, sob forma de "energias" que correspondem a ambos os veículos sutis do homem e tendem continuamente à expressão, pois a própria palavra com que as indicamos (energias) significa que não são passivas ou estáticas, mas vivas e dinâmicas.
Quero lembrar aqui que os três veículos da nossa personalidade são simplesmente instrumentos que devem receber e utilizar energias que provêm do Si e, de fato, refletem os três aspectos espirituais do Si, Vontade, Amor e Inteligência Criativa, justamente como os três centros superiores do corpo etéreo que examinamos no capítulo dois. E esta é a razão pela qual estes três corpos são também chamados veículos de expressão.
Portanto, quando estão suficientemente desenvolvidos e organizados, exigem a sua utilização.
Freqüentemente, o homem se sente infeliz, insatisfeito, deprimido sem saber por quê. Atribui a sua infelicidade a causas diversas e procura de qualquer maneira um remédio: porém, não consegue a tranqüilidade, ao passo que, se "conhecesse a si mesmo", no verdadeiro sentido da palavra, isto é, se soubesse efetivamente o que vem a ser o homem, a sua constituição psíquica, as verdadeiras exigências que o pressionam de dentro, poderia encontrar o verdadeiro remédio e evitar angústias e sofrimentos, que podem redundar em doenças físicas reais.
Uma pessoa que tem "congestões psíquicas" está sempre tensa, irritadiça e agitada. As regiões psíquicas onde as energias estão bloqueadas inflamam-se e esta inflamação vai se descarregar sobre as áreas físicas correspondentes, produzindo uma hiperatividade dos órgãos ou das glândulas envolvidas.
A hipertensão, por exemplo, é provocada pela congestão, como também o hipertireoidismo, a hipersecreção gástrica, a hiperglicemia, o hipersupra-renalismo ... São todos efeitos do mesmo erro.
À medida que o indivíduo progride e os centros etéreos começam a se tornar mais ativos em decorrência do contato com as energias da Alma, é possível que sobrevenham congestões devidas a assim chamada "estimulação". Este é um fato que deve ser levado em consideração, pois acontece com bastante freqüência naqueles indivíduos que gradualmente vão se tornando receptivos às energias espirituais, as quais, em virtude de uma lei oculta, ao afluírem para a personalidade, acabam por rejuvenescer todos os centros, a começar pelos inferiores.
E por que isso acontece?
Porque as energias espirituais individuais tornam a percorrer o mesmo caminho percorrido pelas energias emanadas do Absoluto no momento da manifestação, constituído por uma descida, a involução, e depois por uma subida, a evolução. Não devemos esquecer a verdade esotérica fundamental de que o homem é um microcosmo que reflete o macrocosmo, logo reflete e repete as mesmas leis universais do cosmo.
Portanto, as energias espirituais provenientes do Si "descendem" e vão reavivar os três centros inferiores, tornando-os mais ativos e radiantes, de modo que o homem não somente percebe a sua existência como também a sua força, sendo levado, pela aspiração para o alto que o move, a sublimar estas energias, visando a fins mais elevados e espirituais. Nesse ponto, as energias "ascendem" e são canalizadas para a sua verdadeira finalidade.
Dessa forma, no início do curso espiritual é possível verificar a existência de fenômenos de congestão devidos a este rejuvenescimento dos centros, especialmente se a transferência das energias encontra dificuldades ou se desenvolve lentamente, provocando a formação de bloqueios.
O estímulo pode se verificar em qualquer um dos centros e produz distúrbios diversos, dependendo da área atingida. Às vezes, isso pode acontecer até mesmo como resultado de uma meditação bem-sucedida, pela proximidade de uma pessoa altamente evoluída que irradia energias poderosas, ou em determinados momentos de nossa vida, quando conseguimos entrar em contato com o nosso Si.
O estímulo, e a conseqüente congestão, indica, por outro lado, que a purificação da personalidade ainda não se completou, que ainda persistem impurezas, defeitos e obstáculos internos, sendo por isso que se diz que a luz do Si pode inicialmente também evidenciar negatividades, produzir crises e sofrimentos. De fato, nada mais se pode esconder quando começa a afluir na personalidade a vibração poderosa e esclarecedora de nossa Essência Divina.
Quando se verifica este fenômeno de "estímulo" de qualquer um dos centros, a conseqüência não é geralmente uma obstrução ou um bloqueio de energias, mas a sua utilização excessiva, a sua dissipação e, portanto, uma "hiperatividade" desse aspecto.
Por exemplo, se o centro "estimulado" é o plexo solar e, conseqüentemente, o aspecto emotivo, o indivíduo que sofre esse estímulo sentirá aumentar a sua emotividade, a sua sensibilidade. Nunca será capaz de se controlar e terá reações emocionais súbitas e descontroladas, desproporcionais à causa ocasional que as produziu. Ele próprio se surpreenderá com esse seu estado de excitação, de hipersensitividade, de reação emocional anormal, que o manterá em constante estado de agitação e tensão. Todos os sentimentos parecem aumentar de intensidade e o indivíduo se sentirá como uma panela de pressão prestes a explodir...
Se, ao contrário, o centro estimulado é o mental, a mente estará em constante e excessivo movimento, agitada por uma idéia após a outra.
Os pensamentos se amontoarão uns sobre os outros e o próprio indivíduo terá a impressão de que é capaz de pensar mais, de que tem maiores possibilidades de gerar idéias e projetos, mesmo originais e novos, muito embora a velocidade excessiva da mente os torne caóticos e desordenados e, portanto, quase sempre inutilizáveis.
Além disso, esse estado de "congestão" e estimulação mental comunicar-se-á ao cérebro físico, provocando vários distúrbios, como hemicrania, insônia, distúrbios circulatórios e sensação de calor na cabeça.
Com o passar do tempo, se esse estado persiste ou se repete com freqüência, pode haver um agravamento dos distúrbios, os quais poderão tornar-se crônicos e por conseguinte gerar uma doença circulatória ou renal. Se um determinado centro está continuamente congestionado, ele passará a funcionar de maneira desordenada, podendo ocasionar até mesmo uma "proliferação" de células em toda a área circundante, isto é, um tumor.
Portanto, se as energias não forem corretamente utilizadas e direcionadas, elas poderão se tornar um perigo para o homem; daí, a necessidade de nos conhecermos, de alcançarmos a harmonia e exercermos um certo controle sobre a nossa personalidade.
O homem tende a atribuir os seus males e sofrimentos a forças exteriores, ou então a um destino adverso ao qual a humanidade estaria condenada, ignorando (ou não querendo saber) que, na maioria das vezes, é ele mesmo o artífice de seus males e que o destino nada mais é que a manifestação de uma lei de equilíbrio, por ele mesmo acionada. Além disso, desconhece que os homens, na realidade, estão todos relacionados por fios invisíveis, por correntes de energias que fluem de um para o outro, e que, portanto, o mal de um é também o mal de outro, e que o erro de um indivíduo pode contagiar os outros, pois na realidade não há separação no campo das energias sutis, mas um contínuo intercâmbio.
Retornando agora ao exame desse assunto, podemos concluir dizendo que a tendência a sofrer fenômenos de congestão depende, conforme mencionamos em outras oportunidades, da tipologia psicológica característica do indivíduo; nesse ponto, delineia-se o problema, enfrentado até mesmo pela medicina psicossomática, da correlação entre personalidade e doença. Podemos dizer que, genericamente, os extrovertidos são mais inclinados à "congestão" e os introvertidos à "inibição".
O remédio quase sempre é alcançar o equilíbrio e a harmonia e a sábia utilização de todas as energias que temos à disposição sob a orientação e o controle do Si.
Para chegar a isso é preciso passar por três fases:
1) o conhecimento de si mesmo;
2) a posse de si mesmo;
3) a transformação de si mesmo.
[Esta é a fórmula da técnica básica da Psicosintesi do Dr. Roberto Assagioli.]
A saúde física também é resultado desta harmonização, derivando do perfeito equilíbrio de todos os aspectos e energias entre si e com o centro.
A doença, como qualquer outro sofrimento do homem, é, portanto, um "sinal de alarme" que deveria ser examinado e estudado sobretudo como um fator indicativo de imaturidade de nossa parte, de um problema que precisamos resolver, e como uma possibilidade de purificação e de progresso.
Os distúrbios que derivam da "congestão", especialmente, revelam que não usamos as nossas energias de maneira correta e equilibrada, que há em nós funções já prontas para o uso que, no entanto, sufocamos e negligenciamos, ou então forças preciosas que desperdiçamos; e tudo isso porque não nos conhecemos ou não desejamos nos conhecer, já que estamos constantemente solicitados pela vida externa e continuamente voltados para o mundo objetivo: em outras palavras, somos demasiado extrovertidos.
É preciso, portanto, que nos habituemos a regular o movimento de progressão e regressão das energias que rege a vida psíquica, que mencionamos já no segundo ou terceiro capítulo, e a não nos excedermos de forma alguma, pois, como veremos, podemos incorrer também no erro oposto, o de ser por demais introvertido e produzir um outro tipo de distúrbio: o que deriva da inibição das energias.
DOENÇAS POR INIBIÇÃO