Essa evolução tem sido marcada, no entanto, pela forte presença das concepções materialistas que, quando aplicadas de maneira unilateral à área biomédica, influenciam radicalmente o conceito acerca do ser humano e, desse modo, também a pesquisa científica e a utilização de seus resultados.
Algumas linhas de ciência moderna ainda entendem o ser humano como um animal especializado e refinado pela evolução das espécies, que pode ser plenamente explicados pelos princípios da Mecânica e da Física. Freqüentemente, não valorizam o significado de aspectos fundamentais que o cercam, como o ambiente em que vive, sua cultura e biografia, vida coletiva, laços afetivos e familiares, seus sentimentos, pensamentos, religiosidade, entre outros. A Medicina, mais especificamente, obteve enorme crescimento graças a esse materialismo científico, que abriu-lhe portas para o conhecimento dos mais intrínsecos detalhes da anatomia, fisiologia, microbiologia, bioquímica, entre outras áreas, levando a uma natural especialização no tratamento do corpo (seja de órgãos isolados ou de complexos sistemas), utilizando-se para isso de modernos equipamentos e substâncias sintéticas.
O avanço surgido dessa maneira, embora tenha trazido incontáveis benefícios no diagnóstico e tratamento de diversas doenças, gerou uma incapacidade para compreender o ser humano como um todo.
É justamente essa visão global que a Medicina Antroposófica resgata ao considerar o ser humano além do seu aspecto corporal, valorizando também sua vida psíquica e sua individualidade: corpo, alma e espírito - instâncias que estão em permanente movimento e interação entre si e com o mundo à sua volta. Mais do que uma especialidade médica, a Medicina Antroposófica é, dessa maneira, uma ampliação da Medicina Acadêmica; uma base a partir da qual cada médico enriquece sua prática. Em seus princípios está a busca por uma atuação mais viva, artística e integrada, que atenda ao homem nas suas diversas dimensões, porque ele é um ser corpóreo, anímico e espiritual. É importante, por parte do paciente, um comprometimento quanto à sua cura, que é o anseio da Medicina Antroposófica, a qual estabelece uma sólida relação médico-paciente.
Os fundamentos da Medicina Antroposófica surgiram na Europa, no início do século XX, a partir do trabalho conjunto de um grupo de médicos liderados pela Dra. Ita Wegman e Rudolf Steiner (um dos maiores pensadores contemporâneos). Steiner deixou um legado de mais de 60 livros e 400 monografias, nos quais delineou as bases da Antroposofia (anthropos = homem, sofia = sabedoria), caracterizada também como Ciência Espiritual. Dedicou sua vida à tarefa de compreender e traduzir o conhecimento dos fenômenos que não são percebidos diretamente pelos sentidos comuns (tato, olfato, paladar, audição e visão) e descreveu detalhadamente esses elementos que permeiam tudo à nossa volta. Os estudos de Rudolf Steiner, por sua vez, foram influenciados pela pesquisa de Goethe, que chamou a atenção para a existência das formas arquitípicas nos reinos da natureza e inundou com poesia, beleza e graça a fria ciência do século XIX. Alguns exemplos são a teoria das cores e os estudos sobre a metamorfose das plantas propostos pelo cientista-poeta alemão.
A partir da Antroposofia a noção de cosmos ganha novas dimensões. Cada elemento, substância, ser vivo e criatura sobre a face da Terra fazem parte de um único organismo, de um todo que respira e vive. Esse cosmos possui não apenas seu aspecto material visível e mensurável com suas leis já bem descritas pela Física, mas também seu aspecto imaterial (espiritual), não percebido diretamente pelos sentidos - denominados elementos supra-sensíveis na Antroposofia. E o ser humano é considerado uma imagem condensada desse cosmos, um microcosmo em contínua respiração com o macrocosmo. Ita Wegman, de maneira pioneira e corajosa, não limitou-se a pensar esses conceitos, e concretizou a Medicina Antroposófica ao indicar medicamentos e terapias apropriados para essa nova imagem da entidade humana em seu processo de saúde e doença.
De maneira mais concreta, podemos apresentar o homem, à luz da Antroposofia, como portador de quatro estruturas essenciais, de quatro elementos constituintes, também habitualmente chamados de "corpos". Uma analogia pode ser feita tanto com os quatro reinos da natureza como também com os quatro elementos alquímicos fundamentais. São eles:
• Corpo físico: é a estrutura sólida, substancial, existente em diversas formas em todos os reinos da natureza (mineral, terra).
• Corpo vital ou etérico: é o fundamento da vida, das características puramente vegetativas (crescimento, regeneração e reprodução), presentes em todos os organismos vivos (vegetal, água).
• Corpo anímico ou astral: é o fundamento da organização sensitiva do homem. Ele reordena os processos biológicos, permitindo a aparição do sistema nervoso e da vida psíquica no mundo animal e no homem (animal, anima, alma, ar).
• Organização do Eu: é a organização própria do homem, considerada como nossa entidade espiritual e responsável pela autoconsciência, reorganizando as atuações dos outros três corpos. Sua presença determina o surgimento do andar ereto e as capacidades de falar e pensar. está relacionada com o calor no âmbito do organismo (espírito, calor, fogo).
A terapêutica antroposófica envolve o uso de medicamentos específicos, procedentes de substâncias dos reinos mineral, vegetal e animal, utilizados de acordo com processos farmacêuticos próprios de diluição e dinamização, além de terapias complementares, tais como: terapia artística, massagem rítmica, aplicações externas, euritmia curativa, musicoterapia, quirofonética, dentre outras. Como a Medicina Antroposófica não se contrapõe à Medicina Acadêmica, há a possibilidade de uso concomitante dos medicamentos convencionais, quando necessário.
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