O nosso corre-corre não nos deixa parar para perceber se o que já temos já não é o suficiente para nossa vida.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Inteligência Espiritual (IE): Entre o "SER" e o "TER"
O nosso corre-corre não nos deixa parar para perceber se o que já temos já não é o suficiente para nossa vida.
Nos preocupamos tanto em TER.
Ter isso, ter aquilo, comprar isso, comprar aquilo
Os anos passam, e quando nos damos conta, esquecemos do mais importante : Viver e Ser Feliz!
Às vezes, para ser feliz, não precisamos de tanto TER.
Podemos nos dar conta que o mais importante na vida é SER.
Esse ser, tão esquecido, muitas vezes não é difícil de se realizar.
As pessoas precisam parar de correr atrás do TER e começar a correr atrás do SER: Ser amado, Ser gente... Tenho certeza de que, quando SOMOS, somos muito mais felizes do que quando TEMOS.
O SER leva uma vida toda para se conseguir, e o TER, muitas vezes conseguimos logo.
Só que o SER não acaba e nem se perde, mas o TER pode terminar inesperadamente.
O SER, uma vez conseguido, é eterno e o TER é passageiro e, mesmo que dure muito tempo, pode não trazer a FELICIDADE.
Tente SER e não TER e você sentirá uma felicidade sem preço!
Ser feliz!
Contardo Calligaris é um psicanalista italiano que já morou no Brasil e hoje vive entre os Estados Unidos, a Europa e o nosso país. Leitor de almas e escritor sofisticado, comparece às quintas-feiras na Folha de São Paulo. Na semana passada abordou a “crise do mercado ou a crise do sujeito”, uma crônica-ensaio que me levou a utilizar o finito espaço-tempo usado para devaneios em direção a caminhos sem saber exatamente as saídas.
Daí, por exemplo, ter questionado três aspectos da vida: o ser, o ter e o parecer.
O ser é a base. É onde ficam o país, o estado, a cidade, o bairro, a casa onde você nasceu, o tipo de família que lhe trouxe ao mundo, com raça, origem e categoria social e formou a sua educação, seja doméstica, formal pela escola, professores e colegas, informal ou social e no que o espelho e a sua consciência revelam e se aceita com ou sem questionamentos.
O ter é aquilo que se agregou a você, sejam bens materiais ou a bagagem cultural, intelectual ou científica desenvolvida, a partir dos valores que acredita positivos para a sua existência.O ter é o que você não tinha e acredita possuir, como se seu fosse ou seu é, sendo.
O problema é que, entre o ser e o ter, existe o parecer.
Algumas pessoas querem parecer o que não são e o que não têm.
É o mundo da aparência, do supérfluo em que uma camisa ou um vestido, por exemplo, é aceita não por sua qualidade intrínseca, mas por ostentar uma marca de alta significação para a imagem de quem usa. Um relógio, dando outro exemplo, deveria servir apenas para ler as horas, mas pode definir uma posição social de quem, diferencialmente, ostenta uma marca famosa. Falo em objetos para não trafegar na senda perigosa da essência, pois aí o terreno é movediço. A sociedade e, por mais que não queiramos estamos nela envolvidos, cobra o ser, o ter e o parecer.
O parecer é o reflexo, a imagem que os outros têm de nós, a partir de juízos de valor falsos ou verdadeiros. É aquilo que pode ser fabricado com “marketing pessoal”e o sair de casa, para mostrar-se ou ser visto, compensa o vazio de não poder ficar consigo mesmo e gostar disso.
Algumas pessoas se acreditam ser o que os outros pensam ou dizem delas.
Essas pessoas, certamente, ficam à cata do que se chama de validação.A validação é acreditar no que o outro diz para admitir-se ser aquilo. Não pesa, para o validado, a referência própria, aquilo que a sua essência profunda diz, mas o que lhe é soprado ou gritado em seu ouvido ou escrito a seu respeito.
Esse eterno questionamento entre o ser, o ter e o parecer passa, talvez necessariamente, pela maior ou menor capacidade de cada um se auto-avaliar e ver a auto-estima a partir da própria consciência.
Mas, descubro ter começado um assunto que não cabe em crônica.
Bem apropriado seria em ensaio ou tese para os quais, infelizmente, faltam-me engenho, densidade e tempo.
Como disse Chamfort: “há tolices bem vestidas como há tolos bem vestidos”.
O SER E O TER
Durante muito tempo, o mundo viveu uma verdadeira obsessão por testes para medir o quociente de inteligência ( QI ), baseados na compreensão e manipulação de símbolos matemáticos e linguísticos. Nos anos 90, descobriu- se, no entanto, que QI elevado não era sinônimo de sucesso.
Para se dar bem na vida, era preciso ter, também, inteligência emocional ( QE ), ou seja, autoconhecimento, autodisciplina, persistência e empatia.
Agora, a ciência começa a descobrir que o ser humano, para ter paz interior e alegria, precisa ter inteligência espiritual (IE ), que é a capacidade de encontrar um propósito para a própria vida e de lidar com os problemas existenciais que surgem em momentos de fracasso, de rompimento e de dor.
“ Do contrário, por que tantas pessoas inteligentes e sensíveis às necessidades dos outros sentem um vazio em suas vidas? ” - pergunta a psicóloga americana, Danah Zohar, autora do livro Inteligência Espiritual, lançado recentemente no Brasil.
Formada pela Universidade de Harvard, ela descobriu a importância da IE durante seu trabalho como consultora de liderança estratégica para grandes empresas americanas e estrangeiras.
Ela conta que estava falando para um grupo de executivos quando um deles disse que possuía uma família legalmente constituída, recebia um bom salário, todas as suas necessidades materiais estavam satisfeitas, mas nada disso lhe tirava a sensação de ter um buraco permanente no estômago. E todos os outros executivos que estavam na sala concordaram com ele.
A conclusão da Dra. Zohar é que o materialismo e o egocentrismo do mundo moderno provocaram uma grande crise existencial na humanidade. As pessoas passaram a buscar a felicidade em bens materiais e não conseguem mais encontrar um sentido para suas vidas. Estão caminhando em busca do nada.
É em situações como essa que a IE tem um papel importante, segundo os especialistas. Ela permite encontrar um senso de propósito e direção e nada tem a ver com religiosidade.
“ Muitas pessoas religiosas tem uma sabedoria espiritual baixíssima, porque buscam na religião apenas certezas e “ salvação”, não percebendo a importância da dúvida e do questionamento de suas próprias vidas.”
Segundo Zohar, a inteligência espiritual é que leva o ser humano a criar situações novas, a perceber, por exemplo, a necessidade de mudar de rumo, de investir mais num determinado projeto.
Enquanto o QI resolve, primordialmente, problemas de lógica e o QE nos ajuda a avaliar as situações e a reagir a elas de forma adequada, o QE nos leva a indagar, logo de início.
Se queremos estar naquela determinada situação, se o que fazemos nos está dando a satisfação que necessitamos e se essa é a vida que queremos levar.
“ Nós usamos a inteligência espiritual quando nos sentimos num impasse, quando enfrentamos as armadilhas de velhos paradigmas ou quando temos problemas com doenças ou outras formas de sofrimento. O QE nos mostra que estamos com problemas existenciais e nos aponta os meios de resolvê-los.”
Embora a expressão inteligência espiritual só tenha surgido na virada do século, a necessidade humana de encontrar um sentido mais amplo para a vida acompanha o homem desde o seu surgimento.
A novidade, agora, é que os cientistas estão começando a encontrar evidências que o cérebro humano foi programado biologicamente para fazer perguntas como
“ Quem sou eu”?
“ Por que estou aqui”?
“ Por que estou passando por esse sofrimento”?
"O que torna a vida mais digna de ser vivida"?
A Dra. Zohar, que também ensina a matéria na Universidade de Oxford, na Inglaterra, diz que nem todas essas perguntas têm respostas, mas está convicta que as pessoas e a ciência estão cada vez mais perto de decifrar esse enigma, se a humanidade começar a se questionar e a mudar o que, realmente, precisa ser mudado.
Ela reconhece que o corre-corre da vida moderna e a luta pela sobrevivência vêm impedindo que as pessoas tenham um pouco mais de tempo para ficarem consigo mesmas.
O sofrimento existe para ajudar a perguntarmos o que estamos fazendo de bom para nós mesmos.
Eu acho, por exemplo, que essa tragédia que acaba de se abater sobre o meu país, pode ser algo bom para nós, enquanto povo, porque está nos obrigando a parar para pensar que tipo de Nação, realmente, queremos para nós, nossos filhos e netos.
Nossa maior preocupação sempre foi ganhar e acumular cada vez mais dinheiro, viver cada vez mais cercados de luxo e riqueza, enchendo a garagem de carros e os filhos de dinheiro fácil. Estamos sempre corrigindo os erros do mundo, esquecendo-nos dos nossos valores centrais que não deveriam ser esquecidos, porque estão lá em nossa própria Constituição e guiaram aqueles que nos formaram.
Toda essa era de sofrimento, violência e egoísmo também se deve ao excessivo materialismo da nossa vida diária e à falta de líderes honestos, éticos, equilibrados. Líderes são pessoas que, se decentes, coerentes e justos, podem nos encaminhar para uma qualidade de vida melhor, para a preservação dos valores mais profundos da existência humana, não importa a cor, a cultura, a religiosidade que tenhamos.
Como a vida ficou muito fácil e confortável para uma grande parte da humanidade, paramos de fazer perguntas existenciais.
Ora, se não sabemos quais são os nossos maiores propósitos, os nossos valores, o que realmente queremos da vida, como podemos agir criativa e coerentemente?
Até quando ficaremos girando em círculo?
No entanto, é isso que está acontecendo nas sociedades ditas modernas. Fazemos um monte de barulho, mas zanzamos por aí, sem rumo e sem objetivo . O resultado não pode ser bom, para ninguém.
Alguns sinais de inteligência espiritual elevada:
• Capacidade de ser flexível
• Grau elevado de autoconhecimento
• Capacidade de enfrentar a dor
• Capacidade de aprender com o sofrimento
• Capacidade de se inspirar em idéias e valores
• Relutância em causar danos aos outros
• Tendência para ver conexões entre realidades distintas
• Tendência a se questionar sobre suas ações e seus desejos, com perguntas como “ por que agir de tal maneira? “ ou “ o que aconteceria se agisse de outra maneira? “
• Capacidade de seguir as próprias idéias e ir contra as convenções.
Fonte: scribd