"A psique e o mundo" é uma outra expressão que indica a relação do indivíduo com o mundo.
Mas que mundo?
O mundo de dentro e o mundo de fora.
Porque o que acontece no interno reflete no externo e vice-versa.
Daí a possibilidade de se adaptar externamente, embora também exista uma adaptação interna...
Conflitos: externos ou internos?
Independente da forma, o autoconhecimento pode trazer a paz esperada. E os sonhos e a imaginação podem ajudar nisso.
Os conceitos abaixo baseiam-se principalmente no livro "Tipos Psicológicos", de Carl G. Jung.
ARQUÉTIPOS
São as tendências estruturais imperceptíveis dos símbolos.
Os arquétipos criam imagens ou visões que correspondem a alguns aspectos da situação consciente. Jung deduz que as "imagens primordiais", um outro nome para arquétipos, se originam de uma constante repetição de uma mesma experiência, durante muitas gerações.
Funcionam como centros autônomos que tendem a produzir, em cada geração, a repetição e a elaboração dessas mesmas experiências.
O núcleo de um complexo é um arquétipo que atrai experiências relacionadas ao seu tema. Ele poderá, então, tornar-se consciente por meio destas experiências associadas.
Os arquétipos da Morte, do Herói, do Si-mesmo, da Grande Mãe e do Velho Sábio são exemplos de algumas das numerosas imagens primordiais existentes no inconsciente coletivo.
Embora todos os arquétipos possam ser considerados sistemas dinâmicos autônomos, alguns deles evoluíram tão profundamente que se pode justificar seu tratamento como sistemas separados da personalidade. São eles: a persona, a anima (lê-se "ânima"), e o animus (lê-se "ânimus") e a sombra.
Chamamos de instinto aos impulsos fisiológicos percebidos pelos sentidos.
Mas, ao mesmo tempo, estes instintos podem também manifestar-se como fantasias e revelar, muitas vezes, a sua presença apenas através de imagens simbólicas.
São estas manifestações que revelam a presença dos arquétipos, os quais as dirigem.
A sua origem não é conhecida; e eles se repetem em qualquer época e em qualquer lugar do mundo - mesmo onde não é possível explicar a sua transmissão por descendência direta ou por "fecundações cruzadas" resultantes da migração.
Não existe uma definição precisa para eles. Isso porque, assim como os símbolos, não têm um contorno definido e nítido. Para tentar explicá-los tendemos sempre a introduzir as frases com comparações metafóricas.
É como se usássemos a linguagem poética para descrever o que somente metáforas podem mostrar.
Primeiro porque não existe a atuação pura de um arquétipo somente.
Segundo porque muitas das funções de um arquétipo são também funções de outro.
Terceiro, vou explanar com uma analogia.
Os arquétipos determinam as diferentes personalidades pelo arranjo distinto que formam em cada pessoa.
E a sua influência se faz perceber por determinado "alinhamento" deles em nossa psique, o que provoca atrações e repulsões em outros campos psíquicos (influência inconsciente nas pessoas), além de acontecimentos sincronísticos (influência invisível na matéria e nos acontecimentos).
AMPLIFICAÇÃO (ARQUETÍPICA)
Um poema é composto recorrendo o poeta a várias figuras de estilo e metáforas, só para transmitir algo indizível, que persiste em ser limitadamente captado por esses recursos.
A mesma técnica pode ser usada com os sonhos e com os símbolos arquetípicos contidos neles.
É muito revelador num trabalho com sonhos conseguir material semelhante em outro lugar (mitos, lendas, livros, conceitos, etc.) e usá-los como lentes para ampliar os temas arquetípicos de um sonho.
Certos cientistas usam a técnica de multiplicar as células ou bactérias para que se tornem visíveis como conjunto a olho nu.
A essa mesma técnica aplicada psicologicamente Jung chamou de amplificação. Um amplificador de som faz com que um sinal invisível, fraco, seja convertido e amplificado até ficar audível. Em outra analogia, usa-se amplificadores (os símbolos contidos em outros textos, mitos, histórias, etc.) para intensificar o sinal, a princípio invisível e fraco, à nossa compreensão. Então eles são convertidos em sinais captáveis aos nossos sentidos (usando frequências, isto é, conceitos, tais como anima, animus, Si-mesmo, etc.) - dentro da faixa audível de som. Dessa maneira pode-se captar, mesmo na falta de alguns canais, pois nunca se consegue apreender todos, a sinfonia (o sentido) do sonho e de outros materiais simbólicos.
ANIMA E ANIMUS
Jung atribui a arquétipos o lado feminino da personalidade do homem e o lado masculino da personalidade da mulher.
O arquétipo feminino no homem é chamado anima, e o masculino na mulher, animus.
Eles seriam supostamente o produto de experiências culturais do homem com a mulher e vice-versa.
Constituem a "alma" dos respectivos gêneros.
No que se refere ao caráter dessa "alma" ela costuma ter todas aquelas qualidades humanas comuns que faltam à atitude consciente.
O tirano atormentado por maus sonhos, pressentimentos sombrios e receios interiores, é uma figura típica. Exteriormente cruel, é porém sujeito a qualquer humor, como se fosse um ser menos autônomo e mais maleável.
Sua alma contém, pois, aquelas qualidades humanas de fraqueza e determinabilidade que faltam completamente à sua atitude exterior, à sua persona.
Se a persona for intelectual, a alma será sentimental com toda certeza.
O caráter complementar da alma atinge também o caráter sexual, conforme se pode constatar muitas vezes.
Mulher muito feminina tem alma acentuadamente masculina; homem muito masculino tem alma feminina.
A anima e o animus têm um papel importante nas relações amorosas, onde as pessoas, inconscientes desses arquétipos, são levadas a projetá-los no sexo oposto.
O desenvolvimento consciente da anima e do animus acarreta uma ampliação da personalidade e num relacionamento mais rico com o outro.
COMPENSAÇÃO
Jung entende a psique como um sistema que procura manter-se em equilíbrio.
A compensação é uma tentativa de equilíbrio.
A consciência constantemente está a selecionar pensamentos, sentimentos e sensações.
Esta seleção requer direcionamento da atenção, que por sua vez exige exclusão de tudo o que não tiver importância. Disso resulta certa unilateralidade da consciência.
Os conteúdos excluídos e inibidos pela direção escolhida caem no inconsciente.
Sua existência é um contrapeso à orientação consciente que é tanto maior quanto mais intensa e determinada for esta.
Quanto maior a unilateralidade da atitude consciente, maior a oposição dos conteúdos que provém do inconsciente. A força de oposição compensatória do inconsciente cresce e conduz finalmente a uma grande tensão. Com o tempo, a tensão aumenta de tal forma que os conteúdos inconscientes inibidos se comunicam com a consciência, sobretudo por meio de sonhos (pesadelos), de imagens surgidas na imaginação espontaneamente, de pensamentos, sentimentos, esquecimentos ou trocas de palavras involuntárias, ou de "acidentes", para citar apenas algumas ocorrências.
COMPLEXOS
São conjuntos coesos de sentimentos, pensamentos, percepções e memórias reprimidos, e por isso existentes no inconsciente individual.
Por encontrarem-se ocultos e fora de alcance do ego, podem causar distúrbios psicológicos de graus leves até muito graves, como ocorre nas neuroses. Enquanto permanecem inconscientes, eles entram em conflito com a nossa vontade, dificultando-a ou modificando-a de maneira preocupante.
O indivíduo, se o grau de tensão de sua consciência com o inconsciente for muito grande (vide o termo Compensação), pode sentir que não tem mais controle de seus próprios atos. Por isso constituem compensações de atitudes unilaterais e condenáveis da consciência. Eles são pontos sensíveis da psique que reagem mais intensa e rapidamente a determinados estímulos externos com os quais estão associados no indivíduo.
EGO (EU)
Antes de tudo o ego é um complexo formado por representações e que constitui o centro do campo da consciência.
Suas características são um grande sentido de continuidade e de identidade consigo mesmo.
O complexo do eu é tanto um conteúdo quanto uma condição da consciência, uma qualidade desta, pois um elemento psíquico é consciente enquanto estiver relacionado com o complexo do eu. Porém, o eu enquanto centro do campo da consciência não é idêntico ao todo da psique, mas apenas um complexo entre outros complexos.
Por isso se distingue o ego (eu) do Si-mesmo. O eu é o sujeito apenas da consciência, mas o Si-mesmo é o sujeito do todo da personalidade, também da psique inconsciente. O ego, enquanto representante da consciência na psique, costuma ser representado nos mitos e lendas na figura de um herói.
EXTROVERSÃO
É uma atitude de abertura em relação ao mundo exterior, de interesse por ele e tudo o que contém, contrariamente à atitude oposta - a introversão.
Não existe uma atitude puramente introvertida ou extrovertida, embora os indivíduos em geral tenham uma tendência para uma ou outra atitude de forma predominante.
O extrovertido pensa, sente e age em relação ao objeto (isto é, pessoas, animais, plantas, organizações, coisas, etc.) de forma direta, positiva e facilmente observável. Tende a agir sem hesitação alguma. Conforme a orientação de sua função psíquica, se a extroversão for intelectual, a pessoa pensará no objeto; se for sentimental, ela sentirá no objeto; se for sensual, usará os sentidos em geral para relacionar-se com o mundo; e se for sensitivo, a intuição, para saber das possibilidades das coisas.
FANTASIA
É uma representação imaginativa dos complexos do sujeito, que ocorre com ou sem controle.
Pode ser ativa (um bom exemplo é a imaginação ativa – ver no vocabulário) ou passiva (nos casos em que não se tem controle).
Johnson (1989), o termo “fantasia” deriva do grego “phantasía”, que significa “o fazer visível”.
Procede de um verbo que quer dizer “tornar visível, revelar”.
A correspondência é óbvia: a função da fantasia é tornar visível a dinâmica do inconsciente, o processo psíquico que ocorre sem o conhecimento do indivíduo.
Parece, portanto, que os gregos conheciam essa capacidade da imaginação de transformar em formas visíveis o aspecto inconsciente da personalidade. E isso apenas recentemente foi redescoberto pela psicologia moderna. Daí a importância de certos testes psicológicos que requerem o desenho, a pintura, e outras formas de expressão. Johnson (1989) chama a essa região da personalidade simplesmente de “reino invisível”, e afirma que para Platão ele correspondia ao mundo das formas ideais e para outros antigos à esfera dos deuses, como o Olimpo.
A realidade do mundo interior era expresso nas formas ideais ou nas qualidades universais, que se revestiam nas imagens dos deuses gregos. “Para eles, phantasía era o órgão pelo qual o mundo divino falava à mente humana”, conclui Johnson (1989, p. 32).