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terça-feira, 31 de maio de 2011
Zé agricultor
A carta a seguir - tão somente adaptada por Barbosa Melo - foi escrita por Luciano Pizzatto que é engenheiro florestal, especialista em direito sócio ambiental e empresário, diretor de Parques Nacionais e Reservas do IBDF-IBAMA 88-89, detentor do primeiro Prêmio Nacional de Ecologia.
Prezado Luís, quanto tempo.
Eu sou o Zé, teu colega de ginásio noturno, que chegava atrasado, porque o transporte escolar do sítio sempre atrasava, lembra né? O Zé do sapato sujo? Tinha professor e colega que nunca entenderam que eu tinha de andar a pé mais de meia légua para pegar o caminhão por isso o sapato sujava.
Se não lembrou ainda eu te ajudo. Lembra do Zé Cochilo... hehehe, era eu. Quando eu descia do caminhão de volta pra casa, já era onze e meia da noite, e com a caminhada até em casa, quando eu ia dormi já era mais de meia-noite. De madrugada o pai precisava de ajuda pra tirar leite das vacas. Por isso eu só vivia com sono. Do Zé Cochilo você lembra, né, Luis?
Pois é. Estou pensando em mudar para viver aí na cidade que nem vocês. Não que seja ruim o sítio, aqui é bom. Muito mato, passarinho, ar puro... Só que acho que estou estragando muito a tua vida e a de teus amigos aí da cidade. Tô vendo todo mundo falar que nós da agricultura familiar estamos destruindo o meio ambiente.
Veja só. O sítio de pai, que agora é meu (não te contei, ele morreu e tive que parar de estudar) fica só a uma hora de distância da cidade. Todos os matutos daqui já têm luz em casa, mas eu continuo sem ter porque não se pode fincar os postes por dentro uma tal de APPA que criaram aqui na vizinhança.
Minha água é de um poço que meu avô cavou há muitos anos, uma maravilha, mas um homem do governo veio aqui e falou que tenho que fazer uma outorga da água e pagar uma taxa de uso, porque a água vai se acabar. Se ele falou deve ser verdade, né, Luís?
Pra ajudar com as vacas de leite (o pai se foi, né) contratei Juca, filho de um vizinho muito pobre aqui do lado. Carteira assinada, salário mínimo, tudo direitinho como o contador mandou. Ele morava aqui com nós num quarto dos fundos de casa. Comia com a gente, que nem da família. Mas vieram umas pessoas aqui, do sindicato e da Delegacia do Trabalho, elas falaram que se o Juca fosse tirar leite das vacas às 5 horas tinha que receber hora extra noturna, e que não podia trabalhar nem sábado nem domingo, mas as vacas daqui não sabem os dias da semana ai não param de fazer leite. Ô Luis, os bichos aí da cidade sabem se guiar pelo calendário?
Essas pessoas ainda foram ver o quarto de Juca, e disseram que o beliche tava 2 cm menor do que devia. Nossa! Eu não sei como encumpridar uma cama, só comprando outra, né, Luís? O candeeiro eles disseram que não podia acender no quarto, que tem que ser luz elétrica, que eu tenho que ter um gerador pra ter luz boa no quarto do Juca.
Disseram ainda que a comida que a gente fazia e comia juntos tinha que fazer parte do salário dele. Bom Luís, tive que pedir ao Juca pra voltar pra casa, desempregado, mas muito bem protegido pelos sindicatos, pelo fiscais e pelas leis. Mas eu acho que não deu muito certo. Semana passada me disseram que ele foi preso na cidade porque botou um chocolate no bolso no supermercado. Levaram ele pra delegacia, bateram nele e não apareceu nem sindicato nem fiscal do trabalho para acudi-lo.
Depois que o Juca saiu eu e Marina (lembra dela, né? casei) tiramos o leite às 5 e meia, ai eu levo o leite de carroça até a beira da estrada onde o carro da cooperativa pega todo dia, isso se não chover. Se chover, perco o leite e dou aos porcos, ou melhor, eu dava, hoje eu jogo fora.
Os porcos eu não tenho mais, pois veio outro homem e disse que a distância do chiqueiro para o riacho não podia ser só 20 metros. Disse que eu tinha que derrubar tudo e só fazer chiqueiro depois dos 30 metros de distância do rio, e ainda tinha que fazer umas coisas pra proteger o rio, um tal de digestor. Achei que ele tava certo e disse que ia fazer, mas só que eu sozinho ia demorar uns trinta dia pra fazer, mesmo assim ele ainda me multou, e pra poder pagar eu tive que vender os porcos as madeiras e as telhas do chiqueiro, fiquei só com as vacas. O promotor disse que desta vez, por esse crime, ele não ia mandar me prender, mas me obrigou a dar 6 cestas básicas pro orfanato da cidade. Ô Luis, ai quando vocês sujam o rio também pagam multa grande, né?
Agora pela água do meu poço eu até posso pagar, mas tô preocupado com a água do rio. Aqui agora o rio todo deve ser como o rio da capital, todo protegido, com mata ciliar dos dois lados. As vacas agora não podem chegar no rio pra não sujar, nem fazer erosão. Tudo vai ficar limpinho como os rios aí da cidade. A pocilga já acabou, as vacas não podem chegar perto. Só que alguma coisa tá errada, quando vou na capital nem vejo mata ciliar, nem rio limpo. Só vejo água fedida e lixo boiando pra todo lado.
Mas não é o povo da cidade que suja o rio, né, Luís? Quem será? Aqui no mato agora quem sujar tem multa grande, e dá até prisão. Cortar árvore então, Nossa Senhora!. Tinha uma árvore grande ao lado de casa que murchou e tava morrendo, então resolvi derrubá-la para aproveitar a madeira antes dela cair por cima da casa.
Fui no escritório daqui pedir autorização, como não tinha ninguém, fui no Ibama da capital, preenchi uns papéis e voltei para esperar o fiscal vim fazer um laudo, para ver se depois podia autorizar. Passaram 8 meses e ninguém apareceu pra fazer o tal laudo ai eu vi que o pau ia cair em cima da casa e derrubei. Pronto! No outro dia chegou o fiscal e me multou. Já recebi uma intimação do Promotor porque virei criminoso reincidente. Primeiro foi os porcos, e agora foi o pau. Acho que desta vez vou ficar preso.
Tô preocupado Luis, pois no rádio deu que a nova lei vai dá multa de 500 a 20 mil reais por hectare e por dia. Calculei que se eu for multado eu perco o sítio numa semana. Então é melhor vender, e ir morar onde todo mundo cuida da ecologia. Vou para a cidade, ai tem luz, carro, comida, rio limpo. Olha, não quero fazer nada errado, só falei dessas coisas porque tenho certeza que a lei é pra todos.
Eu vou morar aí com vocês, Luís. Mais fique tranquilo, vou usar o dinheiro da venda do sítio primeiro pra comprar essa tal de geladeira. Aqui no sítio eu tenho que pegar tudo na roça. Primeiro a gente planta, cultiva, limpa e só depois colhe pra levar pra casa. Ai é bom que vocês e só abrir a geladeira que tem tudo. Nem dá trabalho, nem planta, nem cuida de galinha, nem porco, nem vaca é só abri a geladeira que a comida tá lá, prontinha, fresquinha, sem precisá de nós, os criminosos aqui da roça.
Até mais Luis.
Ah, desculpe Luis, não pude mandar a carta com papel reciclado pois não existe por aqui, mas me aguarde até eu vender o sítio.
sábado, 2 de abril de 2011
Agricultura Biodinâmica / A arte de cuidar da Terra
Uma compreensão profunda das leis da vida, adquirida através de uma abordagem qualitativa e global da Natureza é a base da agricultura biodinâmica.
Ela abre novas vias para que o Homem se reconcilie com a Natureza e cumpra a sua missão de mediador entre o céu e a terra.
A agricultura biodinâmica foi fundada na Alemanha, em 1924, por Rudolf Steiner. Em resposta a um grupo de agricultores, que lhe solicitaram orientações para resolver os problemas de degradação ambiental decorrentes das práticas agrícolas, Steiner criou então o “curso aos agricultores”. As conferências que o integraram estão reunidas num livro que constitui os fundamentos da biodinâmica.
A abordagem proposta por Steiner baseia-se numa compreensão profunda das leis que regem o que é vivo, tendo por pano de fundo “a fecundação das forças terrestres pelas forças cósmicas”.
Esta ciência agrícola não é um simples método ou um conjunto de receitas; é antes um caminho, uma arte de cuidar da terra, onde cada agricultor ou jardineiro precisa de desenvolver uma percepção e sensibilidade abrangentes. Através delas, pode adaptar a prática agrícola às condições concretas de cada região e entender o que se passa na sua quinta ou jardim.
Segundo a concepção biodinâmica, a Natureza está de tal modo degradada pelo Homem que já não é capaz de se regenerar por si mesma. Hoje, é necessário que o mesmo Homem exerça uma ação terapêutica para incrementar a vitalidade e a saúde do solo, das plantas e dos animais. Esta ação é essencial para se produzir alimentos saudáveis e melhorar a qualidade do ambiente.
Em Sintonia com o Universo
Na perspectiva biodinâmica, o Homem tem uma missão a cumprir na terra: trazer a ordem do Universo à matéria virgem, espiritualizando-a.
Para isso, deve procurar entender a dinâmica da vida e equilibrar as duas categorias de forças que atuam nos seres vivos: as forças da luz e as forças da terra.
Assim, o agricultor biodinâmico coopera com as diferentes formas de vida, criando relações com todos os reinos da Natureza, e promove a canalização e concentração de energias para transformar a matéria.
A ideia subjacente é a de que “o Céu faz nascer, a Terra alimenta e o Homem afina”.
As quintas biodinâmicas funcionam como antenas que captam a energia cósmica e impregnam a matéria com essa informação. Como resultado, o agro-sistema é vivificado e são produzidos alimentos que, pelas suas qualidades, ajudam o homem a sintonizar-se com a sua natureza espiritual.
Na prática, a agricultura biodinâmica partilha alguns aspectos com a agricultura biológica.
As unidades produtivas têm uma elevada diversidade biológica, o que minimiza o desenvolvimento de pragas e doenças. São usadas a rotação e a consociação de culturas, bem como a fertilização orgânica e é totalmente rejeitado o uso de agro-químicos. No entanto, a biodinâmica toma em consideração outros aspectos para além dos meramente materiais.
O que a distingue são três elementos fundamentais: o uso de preparados biodinâmicos para tratar o solo e as plantas, o composto usado como fertilizante e a utilização de um calendário astrológico na escolha dos momentos para realizar as actividades agrícolas.
Religar a Terra ao Céu
Este calendário, desenvolvido por Maria Thun, indica, para os dias de cada ano, as atividades que devem e não devem ser realizadas, de acordo com as energias cósmicas que chegam à Terra (interpretadas à luz de conhecimentos astrológicos).
Através dele, o agricultor sabe quais são os momentos favoráveis para impregnar o solo e as plantas com as qualidades que os vivificam.
Por exemplo, ao lavrar um solo num momento favorável a esta prática, ele concentra energias que promovem a vida microbiana e a microfauna que nele vivem - e são fundamentais à sua fertilidade.
As constelações zodiacais simbolizam (ou informam sobre) as forças formadoras que atuam na Terra. O calendário leva em linha de conta não apenas os signos em que os planetas transitam mas também os ângulos que estes formam entre si, tomando a Terra como referencial. São ainda considerados os movimentos ascendentes e descendentes do Sol e da Lua (relativamente à altura máxima face ao horizonte terrestre), pois a eles está ligada a actividade dos elementais.
As três atividades agrícolas mais fortemente influenciadas pela energia que chega do céu, e que, portanto, devem seguir mais de perto as indicações do calendário são: as lavouras, as sementeiras, e a dinamização e aplicação do preparado 501, que regula a assimilação da luz por parte da clorofila.
Nas palavras de Xavier Florin, engenheiro agrónomo do Mouvement de Culture Bio-Dynamique (Confederação das Associações de Biodinâmica Francesas), “o calendário ajuda a pôr-nos novamente em contacto com o cosmos”. Porém, não basta seguir as indicações nele contidas para promover esta ligação: um sistema agrícola convencional (onde a fertilização é química e se utilizam pesticidas e herbicidas) praticamente não reage à utilização do calendário.
O organismo agrícola
Para que uma unidade agrícola possa responder às influências cósmicas, é necessário que nela se cultive segundo o método biodinâmico já há algum tempo, dado que este permite reduzir a poluição (que está na base da não resposta face às forças da luz). Aliás, quanto maior for o número de anos de cultura biodinâmica, maior é essa resposta.
Ao contrário da agricultura convencional, o método biodinâmico não tem por objetivo a maximização das produções no curto prazo.
No centro do seu interesse está a vida.
Toda a prática converge no sentido da busca da saúde, da beleza (como resultado da harmonia) e da perenidade.
Assim, as quintas biodinâmicas são concebidas como um organismo vivo, onde as suas componentes mineral, vegetal e animal estão em equilíbrio.
Enquanto que na agricultura biológica pode haver uma unidade que apenas produz vegetais, numa quinta biodinâmica há sempre uma grande diversidade de animais, em relação de equilíbrio com as produções vegetais.
Essa diversidade também é procurada relativamente às plantas, incluindo-se muitas que não se destinam à produção agrícola.
Cada planta tem uma relação com o céu e nela há influências planetárias dominantes. Por isso, a escolha das plantas e da sua disposição espacial numa quinta tem em conta estas influências, para criar harmonia e equilíbrio de forças. É respeitada também a simpatia e a antipatia que existe entre plantas vizinhas para que se desenvolvam melhor.
O solo de uma quinta biodinâmica é considerado um órgão vivo do sistema e não um mero suporte para as culturas. A própria fertilização, mais do que alimentar quantitativamente as plantas, visa manter e estimular a vitalidade do solo. É por isso que é dada uma tão grande importância ao processo de compostagem, com vista a integrar os minerais em formas vivas e utilizáveis pelas plantas. Para guiar o processo de maturação do composto são usadas preparações feitas a partir de aquilea milfolhas, camomila, urtiga, casca de carvalho, dente de leão e valeriana.
Procurando minimizar os danos à estrutura do solo, as lavras são superficiais e em número reduzido. O solo é modelado em micro-relevos (faixas sobrelevadas de 60 ou 120 centímetros de largura) para promover um maior arejamento e, portanto, uma maior interpenetração das forças terrestres e da água com as energias cósmicas. Para além das vantagens ao nível de uma maior estruturação do solo e do incremento da infiltração e retenção da água, o cultivo em montículos estimula o desenvolvimento radicular profundo, tornando as plantas menos frágeis face às variações externas.
A semelhança das chamadas medicinas alternativas, a biodinâmica considera que os parasitas surgem em plantas doentes. As plantas atraem-nos para corrigir o dano que existe na sua força vital. Por isso, a atenção do agricultor centra-se nas causas desse dano. Entretanto, são muitos os truques usados para proteger as culturas de pragas e doenças. Usam-se plantas que atraem os pulgões, para que estes não ataquem as árvores de fruto. Planta-se eufórbia para afastar as toupeiras. Dispõem-se algas marinhas calcáreas sobre o solo para afastar as lesmas. Coloca-se rede sobre as culturas para as proteger dos pássaros.
Ação terapêutica
Os desequilíbrios ao nível da força vital das plantas são corrigidos com a aplicação de preparados biodinâmicos, feitos a partir de plantas, minerais e estrume de vaca, e administrados como se de medicamentos se tratassem.
Para além das preparações usadas no composto (da 502 à 507), utiliza-se uma preparação sobre o solo (a 500), antes de este receber as sementeiras ou plantações, a fim de incrementar a vida microbiana, essencial à absorção de minerais por parte das plantas. A aplicação deste preparado, feito a partir de estrume de vaca, estimula o desenvolvimento das raízes.
Sobre as plantas utiliza-se o preparado 501. Consiste em cristais de quartzo moídos, que foram enterrados no solo, da Páscoa ao Outono, dentro de um corno de vaca. Este preparado intervém ao nível da maturação e frutificação, tendo uma ação determinante nos processos ligados à formação do gosto, do aroma e da coloração dos frutos.
Os preparados 500 e 501 são dinamizados antes da aplicação. Após diluição numa grande quantidade de água, submetem-se a uma agitação rítmica, feita manualmente, durante uma hora. Esta prática permite estabelecer uma ponte com alguns dos princípios da homeopatia.
As preparações biodinâmicas chamam as forças necessárias às plantas e ao solo, quando aplicadas no momento cósmico favorável. Não atuam como adubos químicos, que restituem uma substância em falta, nem combatem os sintomas; agem estimulando o organismo vivo no seu meio natural, levando-o a um estado ótimo, de sanidade.
Qualidade versus Quantidade
Devido a esse fato, a utilização de preparados biodinâmicos não tem relação direta com a produtividade das culturas agrícolas.
Os estudos científicos realizados desde os anos 50, comparando os efeitos dos métodos convencionais, biológicos e biodinâmicos, mostraram que em solos naturalmente ricos os preparados tendem a baixar o rendimento das culturas. Pelo contrário, em solos pobres, conduzem a produções mais abundantes do que os dois outros métodos agrícolas.
A explicação destes resultados reside no efeito de harmonizar e compensar os desequilíbrios devidos ao solo, clima ou outros fatores externos. Se uma cultura tende a produzir demasiadas substâncias por um crescimento desmesurado, os preparados baixam um pouco o rendimento em favor da qualidade.
Apesar dos inequívocos benefícios ambientais decorrentes da prática da biodinâmica, é neste ponto - a qualidade dos alimentos - que reside a maior distinção entre os três métodos agrícolas.
Ao falar-se aqui de qualidade nutritiva, alude-se não apenas ao aumento do teor de certas substâncias essenciais, como as vitaminas, mas também ao incremento de uma certa forma de vitalidade.
Recorrendo a métodos qualitativos, que permitem uma abordagem global, pode testar-se esta qualidade supra-material. As cristalizações sensíveis de cloreto de cobre, desenvolvidas por Ehrenfried Pfeiffer, permitem objectivar e verificar essa vitalidade, ou seja, a vida na matéria. Uma solução do produto a ser testado e cloreto de cobre é cristalizada sobre uma placa de vidro, resultando uma imagem que traduz a qualidade do produto.
É curioso comparar-se, por exemplo, as cristalizações sensíveis de uma amostra de leite biodinâmico cru e do mesmo leite após ter sido submetido a 2 minutos de fervura. O padrão de cristalização encontrado no primeiro é meramente residual no segundo, apesar de quimicamente o produto se manter inalterado.
São usados ainda outros métodos qualitativos, como a morfocromotografia ou as gotas sensíveis (que não cabe aqui descrever) para testar objetivamente a qualidade sutil dos produtos. Estes testes têm revelado que a agricultura biológica traz um acréscimo de vitalidade (forças de crescimento) aos alimentos, enquanto que o contributo da biodinâmica se traduz numa estruturação mais equilibrada (forças de organização).
Costuma dizer-se que “somos aquilo que comemos”. Não será de estranhar, então, que vários autores refiram que comer alimentos biodinâmicos facilita uma ligação mais consciente com o universo.
Peter Kunz afirma que “Todas as percepções estimulam processos interiores no ser humano, vivificam ou perturbam parcialmente órgãos específicos e influenciam o nosso estado geral”. Reforçando a qualidade sensorial dos alimentos, permite-se aos seres humanos reencontrar as suas forças formativas.
Neste momento, em que o ser humano mergulhou profundamente na materialidade, e a poluição cria um ambiente de “excesso de forças da terra”, a biodinâmica parece ser um caminho certo para nos ajudar a evoluir no sentido de uma maior espiritualização.
Cristina Nogueira Baptista
Fonte
biosofia net
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Agricultura Biodinâmica (Antroposofia)
A Agricultura Biodinâmica é um dos desenvolvimentos das teorias de Rudolf Steiner, junto com a Medicina Antroposófica e a Pedagogia Waldorf.
Conceitos e princípios
Rudolf Steiner (1861 – 1925), fundador da Antroposofia, colocou, durante o Congresso de Pentecostes, em 1924, a pedra fundamental do berço do Movimento Biodinâmico, em forma de um ciclo de oito palestras para agricultores. Esse congresso teve lugar no castelo Koberwitz, perto de Wroclaw/Breslau, que hoje abriga a prefeitura de Kobierzyce, Polônia.
O impulso da Agricultura Biodinâmica, sendo uno com a Antroposofia, tem como conseqüência natural à renovação do manejo agrícola, a sanação do meio ambiente e a produção de alimentos realmente condignos ao ser humano.
Esse impulso quer devolver à agricultura sua força original criadora e fomentadora cultural e social, força que ela perdeu no caminho à industrialização direcionada à monocultura e à criação em massa de animais fora do seu ambiente natural.
A Agricultura Biodinâmica quer ajudar aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade materialista na concepção da Natureza, para que eles possam, cada um por si mesmo, achar uma relação espiritual–ética com o solo, com as plantas e os animais e com os co-irmãos humanos.
A Biodinâmica quer lembrar todos os homens que:
"A Agricultura é o fundamento de toda cultura, ela tem algo a ver com todos".
O ponto central da Agricultura Biodinâmica é o Ser Humano que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais baseadas numa verdadeira cognição da Natureza.
Esse quer transformar sua fazenda ou sítio em um organismo em si concluso e maximamente diversificado; um organismo que a partir de si mesmo for capaz de produzir uma renovação. O sítio natural deve ser elevado a uma "espécie de individualidade agrícola".
O fundamento para tal é a integração de todos os elementos ambientais agrícolas como culturas do campo e da horta, pastos, fruticulturas e outras culturas permanentes, florestas, sebes e capões arbustivos, mananciais hídricas e várzeas etc. Caso o organismo agrícola se ordene em volta desses elementos, nasce uma fertilidade permanente e a saúde do solo, das plantas, dos animais e dos seres humanos.
A partida e a continuidade desse desenvolvimento ascendente da totalidade do organismo-empresa é assegurado pelo manejo biodinâmico dos tratos culturais agrícolas e do uso de preparados apresentados pela primeira vez por Rudolf Steiner durante o Congresso de Pentecostes. Trata-se de preparados que incrementam e dinamizam a capacidade intrínseca da planta a ser produtora de nutrientes, seja por mobilização química, transmutação ou transubstanciação do mineral morto ou por harmonização e adequação na reciclagem das sobras da biomassa produzida. Preparados que simultaneamente apóiam a planta a ser transmissor, receptor e acumulador do intercâmbio da Terra com o Cosmo.
Adubar na biodinâmica significa, portanto, aviventar ou vivificar o solo e não apenas fornecer nutrientes para as plantas.
A única preocupação que devemos ter é o que fazer para que isso aconteça. Nesse caso é possível abster-se de tudo que hoje em dia parece ser imprescindível. Na Agricultura Biodinâmica não se usam adubos nitrogenados minerais, pesticidas sintéticos, herbicidas e hormônios de crescimento etc. A concepção do melhoramento biodinâmico dos cultivares ou das raças está em irrestrita oposição à tecnologia transgênica. A ração para os animais é produzida no próprio sítio ou fazenda e a quantidade dos animais mantidos está em relação com a capacidade natural da área ocupada.
O agricultor biodinâmico está empenhado em fazer somente aquilo pelo qual ele mesmo pode responsabilizar-se, a saber, o que serve ao desenvolvimento duradouro da "individualidade agrícola". Isso inclui o cultivo e a seleção das suas próprias sementes como também a adaptação e a seleção própria de raças de animais. Além disso, significa uma orientação renovada na pesquisa, consultoria e formação profissional.
O agricultor biodinâmico aprende, dentro do processo de trabalho, a ser ele mesmo um pesquisador, aprende a participar e transmitir sua experiência a outros e formar dentro do seu estabelecimento um local de formação profissionalizante para gerações vindouras.
Uma renovação desta natureza desperta o interesse das pessoas que vivem nas cidades. Elas ligam-se com esta ou aquela fazenda ou sítio, apóiam e ajudam como podem, tornando-se fieis fregueses. Elas colaboram na formação de mercados regionais tornando-se como associados solidários mútuos. Há iniciativas novas de importância fundamental em toda parte para que a Agricultura possa enfrentar com sua autonomia regional a globalização do mercado mundial. Agricultura não é somente profissão para ganhar dinheiro, mas é principalmente encargo de vida, é vocação.
Em mais de cinqüenta países da Terra, a Agricultura Biodinâmica é praticada ao serviço do cultivo do meio ambiente e alimentação saudável do ser humano. No mundo inteiro os produtos biodinâmicos são uniformemente comercializados sob a marca deméter. A marca garante uma cultura agrícola baseada em medidas novas nos campos culturais, espirituais, políticos, legais, econômicos e ecológicos.
Para o desenvolvimento da agricultura e da cultura em geral no Brasil, será de maior significação achar personalidades suficientes que tenham a coragem e a força de iniciativa de se colocar ao serviço desta renovação da agricultura.
Fonte: wikipédia
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