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segunda-feira, 3 de abril de 2023

Feliz Páscoa 2023!

 



Feliz Páscoa!

Tempo de renovação!



A sabedoria antiga vê a semana como unidade de tempo relacionada à tradição religiosa: no Gênesis, temos a descrição da criação do mundo em sete dias. 

Os dias da semana recebem o nome de sete planetas, arquétipos, que regem a ordem do Universo.

Se olharmos a Semana Santa como unidade de tempo, percebemos nela um ciclo que se inicia no Domingo de Ramos e acaba no Sábado de Aleluia. Esse período compõe uma via sacra, através da qual podemos trilhar verdades existenciais. Isso significa que, por meio da reflexão e da busca de imagens do desenvolvimento humano, podemos encontrar relações diretas entre a semana santa e a nossa própria vida.

A Semana Santa oferece uma bela e terapêutica imagem para o nosso desenvolvimento, sobre a qual podemos refletir e na qual encontramos relações com a própria vida.

Os acontecimentos da Semana Santa compõem uma Via Sacra através da qual trilhamos verdades existenciais.

Do ponto de vista da sabedoria antiga, a Semana como unidade de tempo tem relação com a tradição religiosa no Gênesis e nela temos a descrição da criação do mundo em Sete Dias. 

Os dias da semana recebem seus nomes dos Sete Planetas, arquétipos, princípios que ordenam a vida no universo, sendo que das esferas dos Sete Planetas emanam forças espirituais que impulsionam o desenvolvimento humano. 

A cosmovisão antiga descreve o universo através de imagens, numa linguagem analógica que, por ser poética, toca mais profundamente a nossa alma. 

Ela nos proporciona a vivência de estarmos integrados a uma ordem cósmica que não contradiz a visão racional que temos do universo, mas contribui, vivificando o pensar lógico.

A Semana Santa começa no Domingo de Ramos e vai até o Sábado de Aleluia, sendo que o Domingo da Ressurreição, denominado de Domingo de Páscoa (do hebraico "Pessach", que significa passagem) é o primeiro dia da passagem para o Novo Sol que será a Terra vivificada pelo Eu do Cristo. 

Acompanhemos, então, os seus acontecimentos, segundo o ponto de vista da antroposofia: 


Domingo de Ramos

Dia do Antigo Sol – Centro, Eu, Humanização

Entrada de Jesus Cristo na cidade santa de Jerusalém, montado em um burrinho branco. O povo da cidade o saúda com ramos de palmeiras.

Cristo atravessa em silêncio a vibração popular, pois sabe que aquele entusiasmo logo passará.

Para Cristo, essa era a transição da antiga exaltação visionária inconsciente, desencadeada pelos elementos externos da natureza, para a atitude receptiva, fruto da presença do espírito, do Sol interior na alma individual e vigorosa.

No primeiro dia da Semana Santa, Jesus Cristo entra na cidade de Jerusalém, montado em um burrinho branco. Com brados de "Hosana", o povo o saúda com ramos de palmeiras.

A força luminosa que emana do Cristo reascende no povo a antiga clarividência, vivenciada nos rituais das festividades em homenagem ao sol. A palmeira sempre fora considerada o símbolo do sol natural.

O Cristo atravessa em silêncio a vibração popular sem se contagiar. Interiormente sabe que aquele entusiasmo, logo passará. Não tem consistência interna. É o entusiasmo natural que logo se transfere para outra novidade, para outro acontecimento externo. Cristo sabe o que ele próprio representa e a que veio. Ele quer penetrar na camada mais consciente da alma humana. O seu brilho é o brilho próprio que emana da essência de seu ser espiritual. 

O seu estado de alma é autoconsciente e acolhedor. Permanecerá. Entrar em Jerusalém, montado no burrinho tinha para o Cristo o sentido de deixar clara a transição: da antiga exaltação visionária, semi-consciente, desencadeada por elementos externos, para a atitude equilibrada, fruto da presença de espírito, do Sol interior na alma individualizada.


Segunda-feira Santa

Dia da Lua – Manter, Revitalizar, Repetição, Revitalização, Reflexo, Refletir

Em Betfagé, Cristo se aproxima da figueira, local de meditação onde se atingia um estado inconsciente de re-ligação com o mundo espiritual.

Lá, Cristo pronuncia a sentença: “Para todo o sempre, ninguém mais comerá destes figos”. Com a condenação da figueira, cessa-se o antigo dom lunar das visões de êxtase, antiga forma de clarividência.

É fundamental para Cristo que o ser humano trilhe o caminho da autoconsciência clara e explícita que, embora muitas vezes se constitua de processo doloroso, levará o homem à liberdade individual. “Retornará o tempo em que os homens serão clarividentes como um fato consciente”.

Chegando mais tarde no templo, Cristo expulsa de lá os vendedores, lembrando a eles e aos peregrinos que aquele era um lugar sagrado. Betfagé era uma aldeia cercada pôr figueiras consideradas sagradas por seus moradores. Fora de lá que Cristo, no Domingo de Ramos, mandara Pedro e João trazer um burrinho, também considerado um animal sagrado. Ali, cultivava-se uma antiga forma de clarividência, ou seja, praticava-se "o sentar-se sob a figueira", uma série de exercícios físicos e meditativos através dos quais se atingia um estado onírico de religação com o mundo espiritual.

Betfagé era uma aldeia cercada pôr figueiras consideradas sagradas por seus moradores. Fora de lá que Cristo, no Domingo de Ramos, mandara Pedro e João trazer um burrinho, também considerado um animal sagrado. Ali, cultivava-se uma antiga forma de clarividência, ou seja, praticava-se "o sentar-se sob a figueira", uma série de exercícios físicos e meditativos através dos quais se atingia um estado onírico de religação com o mundo espiritual.

Na manhã de Segunda-feira, ao retornar de Betânia à Jerusalém, com seus discípulos, Cristo aproxima-se da figueira e pronuncia a sentença: "Para todo o sempre, ninguém mais comerá destes figos". Isso significaria que, no dia seguinte, a árvore estaria seca.

Com a condenação da figueira, Cristo cessa o antigo dom lunar da consciência visionária, a antiga forma de clarividência na qual predominavam os processos vitais. 

Cristo veio para que o ser humano trilhasse o caminho da autoconsciência que o conduzirá à liberdade.

"A capacidade da autoconsciência teria que ser conquistada e isso exigia em troca a antiga clarividência". Retornará o tempo no futuro, em que todos os homens serão clarividentes por terem cultivado o "eu sou", ou seja, a "autoconsciência". 

Chegando mais tarde ao Templo que fervilhava de atividades comerciais, Cristo expulsa os vendedores. Devolve ao Templo sua condição de lugar sagrado e aos peregrinos, que chegavam de todos os lados para as cerimônias de Páscoa, devolve a consciência de que aquela era a casa de Deus. 


Terça-feira Santa

Dia de Marte – Luta, Autenticidade, Coragem

Jesus volta a Jerusalém e se encontra com o povo no templo. Lá é indagado com questões que são verdadeiras armadilhas, mas as responde com parábolas, reafirmando a natureza do seu Eu e colocando seus adversários em seu devido lugar. No final do dia, reúne-se com os apóstolos no Monte das Oliveiras, onde lhes transmite as metas que prepararão a humanidade para a sua volta.

Neste dia, Cristo mostra que a maior batalha é a travada no interior, entre o medo e a vontade de colocar o Eu. É preciso autenticidade e coragem para enfrentar as adversidades.

O Cristo volta a Jerusalém trazendo as oferendas para o ritual que antecede a festa pascal. No Templo, enquanto o povo o ouvia, seus adversários o abordam com questões que são verdadeiras armadilhas, para fazê-lo cair em contradição.

Cristo responde a cada uma das questões com parábolas que caem como verdadeiros golpes de espada sobre os sacerdotes e escribas, que nelas se reconhecem como protagonistas.

A cada parábola, Cristo reafirma a natureza espiritual do seu Eu, assumindo seu lugar próprio e colocando os adversários no devido lugar. Sua força se intensifica.

Sem temor, pergunta por pergunta, a identidade espiritual do Cristo vai se revelando.

Ele mostra aos oponentes quem realmente é, e a que veio. É uma luta intensa, travada em palavras e em intenções. De um lado, a intenção dos inquisidores que por desconfiarem dele, queriam desmascará-lo. Do lado de Cristo, a intenção poderosa do seu Eu manifestando-se em toda a sua inteireza e culminando com as palavras: "Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus."

No final do dia, reunido com os apóstolos no Monte das Oliveiras, Cristo lhes transmite as metas que prepararão a humanidade para a sua volta, no futuro. Neste dia Cristo mostra que a maior das lutas é a batalha travada no interior, entre o medo e a vontade de colocar o nosso Eu no mundo. Nesta luta interna, nos apropriamos dos dons de Marte: a autenticidade e a coragem de enfrentar as adversidades.


Quarta-feira Santa

Dia de Mercúrio – Fluidez, Devoção, Cura

Ao entardecer em Bethânia, Cristo se reúne com seu círculo mais íntimo à mesa, na casa de Simão.

Maria Madalena unge os pés de Cristo com óleo e os enxuga com seus próprios cabelos. A postura de Cristo é de disponibilidade.

Esse gesto desencadeia a revolta que se acumulava na alma inquieta de Judas, que sai para encontrar os sumo-sacerdotes e concretiza a traição que o levará ao suicídio.

A agitação interna de Judas fui para o mundo como revolta.

A interiorização da força do amor, que antes arrastava Maria Madalena para o mundano, agora flui para o mundo como devoção.

Cristo acolhe as forças mercuriais e as transforma em capacidade de cura.

Ao entardecer daquele dia em Betânia, Jesus se reuniu com seu círculo mais íntimo à mesa de refeição, na casa de Simão.

Aproxima-se do Cristo, Maria Madalena e ungindo seus pés com um óleo precioso os enxuga com seus próprios cabelos. O gesto de Madalena provoca uma reação de crítica nos presentes e desencadeia a revolta que se acumulava na alma inquieta de Judas.

Argumentado, Judas conta o desperdício em detrimento dos pobres e sai para se encontrar com os sacerdotes e concretizar a traição que o levará ao suicídio.

É a segunda vez que Madalena unge os pés do Cristo. Na primeira unção, Ele dissera aos presentes: "Calem-se. Ela muito amou e muito lhe será perdoado". A postura do Cristo é de receptividade.

Em relação a Judas, Cristo compreende que este não possui em sua alma forças de coesão para ordenar suas impressões e esta agitação flui para o mundo como uma revolta. 

Maria Madalena, entretanto, interiorizara as forças de amor que antes a arrastavam para o mundano. Essas forças fluem para o mundo como devoção. Ambos são tipos mercuriais, sempre em contínua atividade externa, sempre mobilizando tudo ao seu redor.

Marta, a irmã de Maria Madalena, é a terceira pessoa com qualidades mercuriais, também presente à ceia. Está sempre fazendo algo pelos outros, sempre na lida da casa. "Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada." Lucas 10.41

Na Quarta Feira Santa, Cristo acolhe as forças mercuriais transformadas em paz interiores e devoção e assim metamorfoseadas em capacidade de cura. 


Quinta-feira Santa

Dia de Júpiter – Sabedoria, Grandeza, Harmonia

Cai a noite e Cristo se reúne com os doze apóstolos para celebrar o Pessach.

Antes da ceia, Jesus lava os pés de cada um dos apóstolos, num gesto de amor humilde, singelo e cheio de sabedoria, que é a síntese de todos os seus ensinamentos: “Amai-vos uns aos outros”.

Segue-se a ceia do cordeiro, após a qual Cristo toma o pão e o vinho e os oferece: “Tomai, pois este é o meu corpo e o meu sangue”.

O antigo sacrifício do cordeiro acontecia como ato de ligar a alma humana ao mundo espiritual, através do sangue, porém em estado de êxtase.



Cristo se torna ele próprio o cordeiro, cessando a reminiscência do sacrifício de animais puros e trazendo a interiorização do Eu na alma humana, até o nível do sacrifício, da entrega, da aceitação do destino. “Eis o Cordeiro de Deus, que assume os pecados do mundo”.



Cai a noite de Pessach. Lá fora reina o silêncio; todos estão reunidos em casa para a ceia do cordeiro pascal.



No convento da Ordem dos Esseus, no Monte Sion, lugar antigo e sagrado reúne-se Cristo e os Doze Apóstolos, para também celebrarem a festividade.



Antes da ceia, Cristo realiza o ato de amor humilde, singelo e cheio de sabedoria que para sempre irá tocar o coração dos cristãos: o Lava-pés.

Cristo, em toda a sua grandeza espiritual, ajoelha-se e lava os pés de cada um dos seus discípulos, em um gesto que é a síntese de todos os seus ensinamentos: "amai-vos uns aos outros".

Segue-se a ceia do cordeiro, após a qual Cristo abre mão de si por algo que reconhece maior. Tomando o pão e o vinho, Cristo os oferece aos discípulos: "Tomai, pois este é o meu corpo e este é o meu sangue".

Doa-se nos frutos da terra, permeados com a força da sua sabedoria transformadora, para que se renovasse continuamente o que havia se desgastado da Terra e do Homem.

O antigo sacrifício do cordeiro era um ato externo: o sangue fresco dos animais puros tinha no passado a força de induzir a alma humana a se reconectar com o mundo espiritual em estado de êxtase.

Com esse ato sacramental, Cristo intensifica o esforço volitivo da alma que quer acolher em si o Eu espiritual. Cristo se torna ele próprio, o Cordeiro e traz a interiorização até o nível do sacrifício, da entrega, da aceitação do destino. "Eis o Cordeiro de Deus que assume os pecados do mundo"

O conteúdo dessa noite compõe um sacramento que revivifica no homem religioso, a cada ato, a comunhão com o espiritual no íntimo do ser.


Sexta-feira Santa

Dia de Vênus – Paixão, Amor Universal

Na madrugada de quinta para sexta-feira, Cristo, ao ser identificado pelo beijo de Judas, é preso. Ironizado, flagelado, coroado com espinhos, carrega sua cruz em direção à própria morte. Esse é o grande símbolo de que além do umbral da morte física, começa uma vida nova. Tendo se tornado suficientemente firme na sua alma, por possuir algo imensamente sagrado, suporta todos os sofrimentos e dores que lhe são impostos. Cristo resgata para o ser humano a sua herança espiritual. “No Cristo, torna-se vida a morte”. 

Na madrugada de Quinta para Sexta-feira, Cristo, ao ser identificado pelo beijo traiçoeiro de Judas enquanto orava no Getsemane, é arrastado e preso.

Ironizado, flagelado, coroado com espinhos, carrega sua cruz sobre as costas e é crucificado na colina do Gólgota. Tendo se tornado suficientemente firme na sua alma, por possuir algo imensamente sagrado, suporta todos os sofrimentos e dores que lhe são impostos.

Com a força de sua alma elevada, carrega seu próprio corpo em direção à morte; une-se à morte e lega aos seres humanos a mensagem de que a morte não extingue a vida.

A imagem do Cristo carregando a sua própria cruz em direção à morte é o sinal de que além do umbral da morte física, começa uma nova vida. 

Um dos documentos mais sagrados da história da humanidade, o Livro dos Mortos, o livro de orações do antigo Egito continha preces e instruções para, após a morte, o homem encontrar o seu caminho de volta para o mundo espiritual. Há cinco mil anos, nos rituais de iniciação, os discípulos eram induzidos em um sono. A morte era considerada irmã do sono. 

A imortalidade, a visão de um mundo espiritual após a morte era ainda vivenciada. Os sepulcros eram, ao mesmo tempo, altares e as almas dos mortos eram mediadoras entre a Terra e o mundo espiritual. Na medida em que a Terra se tornou mais densa em sua matéria física e o homem desenvolveu a autoconsciência, a morte tornou-se o grande medo da humanidade.

Na Sexta-feira Santa, Cristo resgata para o ser humano a sua herança espiritual. "No Cristo torna-se vida, a morte".


Sábado de Aleluia

Dia de Saturno – Profundidade, Consciência, Resistência, Tempo

O Cristo desce ao reino dos mortos, pleno da luz solar de sua consciência. A Terra recebe o corpo e o sangue do Cristo, penetrando nela sua alma que irá criar um novo centro luminoso. “O que é aqui refletido como Luz do Cristo é o que o Cristo denomina Espírito Santo (...) A Terra começa a criar a sua volta um anel espiritual que mais tarde se tornará uma espécie de planeta ao seu redor. Estamos diante do ponto de partida de um Novo Sol em formação.” 
O Cristo desce ao reino dos mortos, pleno da luz solar de sua consciência.

A Terra recebe o corpo e o sangue do Cristo. No local, entre o Golgota e o Sepulcro, existira outrora uma fenda primária na superfície terrestre.

Esse abismo que fora aterrado por Salomão era considerado pelos antigos como a porta para o inferno. Os terremotos da Sexta-feira reabrem esta fenda e a terra inteira se torna o túmulo do Cristo.

O espírito de Cristo penetra na Terra criando nela um centro luminoso.

"Temos em volta da Terra uma espécie de reflexo da luz do Cristo. O que é refletido como luz do Cristo, é o que Cristo denomina Espírito Santo. Ao mesmo tempo em que a Terra inicia sua evolução para se tornar um Sol, também é verdade que, a partir do evento de Gólgota, a Terra começa a criar em sua volta um anel espiritual que mais tarde se tornará uma espécie de planeta. Estamos diante do ponto de partida de um novo Sol em formação."



DOMINGO DE PÁSCOA – DIA DO SOL


"Ente nascido do cosmos
Oh, vulto luminoso!
Fortalecido pelo Sol no poder da Lua.
Tu és doado pelo ressoar criador de Marte
E a vibração de Mercúrio que move os membros.
Ilumina-te a sabedoria radiante de Júpiter
E a beleza de Vênus, portadora do amor.
E a interioridade espiritual de Saturno antiga dos mundos
Consagre-te à existência espacial
E ao desenvolvimento temporal." 

Rudolf Steiner 


Texto de Edna Andrade

Fontes:
Todas as frase entre aspas foram tiradas do livro o Evangelho de João de Rudolf Steiner
O Evangelho de João – Rudolf Steiner – Editora Antroposófica
Os acontecimentos da Semana Santa – Emil Bock – Editora Nova Jornal





sexta-feira, 1 de abril de 2022

domingo, 20 de abril de 2014

Do Getsêmani à Ressurreição






Por ocasião de comemorar a Páscoa...




Música: O Jardim do Getsêmani
Compositor Atapoã Feliz
Edição: Daniella Oliveira

Publicado com a autorização do autor


domingo, 8 de abril de 2012

Boa Páscoa!!! A Páscoa e seu significado: ovo, coelho, chocolate





A Páscoa surgiu entre os pastores nômades na época pré-mosaica, anterior ao profeta Moisés. Um tempo remoto para nós, era celebrada para festejar a abertura da primavera. Naquela época as pessoas viviam apegadas apenas a pequenos rebanhos e pequenas plantações temporárias. Viajavam de um lugar para o outro sem parar e por isso eram chamadas de nômades. A proximidade da natureza fazia com que as mudanças de estação fossem motivo de festa.

A Páscoa entre os hebreus, marca a memória da saída desse povo da escravidão no Egito. Também tornou-se uma data fundamental para os cristãos quando se comemora a ressurreição de Cristo, celebrada no primeiro Domingo depois da lua cheia do equinócio de março. Equinócio é a passagem do sol pela linha do Equador quando muda de hemisfério. Essa passagem provoca mudanças climáticas. Aqui no Brasil por exemplo, no sertão nordestino as pessoas rezam pela chegada da chuva.

Por isso além do aspecto cultural, religioso há uma mudança na natureza que podemos sentir, no frescor do vento, na força da chuva. A idéia de que nossas esperanças se renovam em datas festivas carregadas de tantos significados nos deixa mais solidários, alegres e naturalmente buscamos trocar essa alegria.

Ovos representam na Páscoa o que pode nascer e vir a ser. Além das toneladas de doce chocolate, devemos adoçar nossas vidas com boas idéias, que possam germinar novas descobertas. Acreditar nessa simples possibilidade já faz da Páscoa um momento super feliz.

O significado da Páscoa...

A Páscoa é uma festa cristã que celebra a ressurreição de Jesus Cristo. Depois de morrer na cruz, seu corpo foi colocado em um sepulcro, onde ali permaneceu, até sua ressurreição, quando seu espírito e seu corpo foram reunificados. É o dia santo mais importante da religião cristã, quando as pessoas vão às igrejas e participam de cerimônias religiosas.

Muitos costumes ligados ao período pascal originam-se dos festivais pagãos da primavera. Outros vêm da celebração do Pessach, ou Passover, a Páscoa judaica. É uma das mais importantes festas do calendário judaico, que é celebrada por 8 dias e comemora o êxodo dos israelitas do Egito durante o reinado do faraó Ramsés II, da escravidão para a liberdade. Um ritual de passagem, assim como a "passagem" de Cristo, da morte para a vida.

No português, como em muitas outras línguas, a palavra Páscoa origina-se do hebraico Pessach.Os espanhóis chamam a festa de Pascua, os italianos de Pasqua e os franceses de Pâques.

A festa tradicional associa a imagem do coelho, um símbolo de fertilidade, e ovos pintados com cores brilhantes, representando a luz solar, dados como presentes. A origem do símbolo do coelho vem do fato de que os coelhos são notáveis por sua capacidade de reprodução. Como a Páscoa é ressurreição, é renascimento, nada melhor do que coelhos, para simbolizar a fertilidade!

Vamos ver agora como surgiu o chocolate...

Quem sabe o que é "Theobroma"? Pois este é o nome dado pelos gregos ao "alimento dos deuses", o chocolate. "Theobroma cacao" é o nome científico dessa gostosura chamada chocolate. Quem o batizou assim foi o botânico sueco Linneu, em 1753. Mas foi com os Maias e os Astecas que essa história toda começou.

O chocolate era considerado sagrado por essas duas civilizações, tal qual o ouro. Na Europa chegou por volta do século XVI, tornando rapidamente popular aquela mistura de sementes de cacau torradas e trituradas, depois juntada com água, mel e farinha. Vale lembrar que o chocolate foi consumido, em grande parte de sua história, apenas como uma bebida.

Em meados do século XVI, acreditava-se que, além de possuir poderes afrodisíacos, o chocolate dava poder e vigor aos que o bebiam. Por isso, era reservado apenas aos governantes e soldados.

Aliás, além de afrodisíaco, o chocolate já foi considerado um pecado, remédio, ora sagrado, ora alimento profano. Os astecas chegaram a usá-lo como moeda, tal o valor que o alimento possuía.
Chega o século XX, e os bombons e os ovos de Páscoa são criados, como mais uma forma de estabelecer de vez o consumo do chocolate no mundo inteiro. É tradicionalmente um presente recheado de significados. E não é só gostoso, como altamente nutritivo, um rico complemento e repositor de energia. Não é aconselhável, porém, consumí-lo isoladamente. Mas é um rico complemento e repositor de energia.

E o coelho?

A tradição do coelho da Páscoa foi trazida à América por imigrantes alemães em meados de 1700. O coelhinho visitava as crianças, escondendo os ovos coloridos que elas teriam de encontrar na manhã de Páscoa.

Uma outra lenda conta que uma mulher pobre coloriu alguns ovos e os escondeu em um ninho para dá-los a seus filhos como presente de Páscoa. Quando as crianças descobriram o ninho, um grande coelho passou correndo. Espalhou-se então a história de que o coelho é que trouxe os ovos. A mais pura verdade, alguém duvida?

No antigo Egito, o coelho simbolizava o nascimento e a nova vida. Alguns povos da Antigüidade o consideravam o símbolo da Lua. É possível que ele se tenha tornado símbolo pascal devido ao fato de a Lua determinar a data da Páscoa.

Mas o certo mesmo é que a origem da imagem do coelho na Páscoa está na fertililidade que os coelhos possuem. Geram grandes ninhadas!

Mas por que a Páscoa nunca cai no mesmo dia todo ano?

O dia da Páscoa é o primeiro domingo depois da Lua Cheia que ocorre no dia ou depois de 21 março (a data do equinócio). Entretanto, a data da Lua Cheia não é a real, mas a definida nas Tabelas Eclesiásticas. (A igreja, para obter consistência na data da Páscoa decidiu, no Conselho de Nicea em 325 d.C, definir a Páscoa relacionada a uma Lua imaginária - conhecida como a "lua eclesiástica").

A Quarta-Feira de Cinzas ocorre 46 dias antes da Páscoa, e portanto a Terça-Feira de Carnaval ocorre 47 dias antes da Páscoa. Esse é o período da quaresma, que começa na Quarta-Feira de Cinzas.

Com esta definição, a data da Páscoa pode ser determinada sem grande conhecimento astronômico. Mas a seqüência de datas varia de ano para ano, sendo no mínimo em 22 de março e no máximo em 24 de abril, transformando a Páscoa numa festa "móvel".

De fato, a sequência exata de datas da Páscoa repete-se aproximadamente em 5.700.000 anos no nosso calendário Gregoriano.

E o Ovo, afinal?!

Bem, o ovo também simboliza o nascimento, a vida que retorna. O costume de presentear as pessoas na época da Páscoa com ovos ornamentados e coloridos começou na antigüidade. Eram verdadeiras obras de arte!

Os egípcios e persas costumavam tingir ovos com as cores primaveris e os davam a seus amigos. Os persas acreditavam que a Terra saíra de um ovo gigante.

Os cristãos primitivos da Mesopotâmia foram os primeiros a usar ovos coloridos na Páscoa. Em alguns países europeus, os ovos são coloridos para representar a alegria da ressurreição. Na Grã-Bretanha, costumava-se escrever mensagens e datas nos ovos dados aos amigos. Na Alemanha, os ovos eram dados às crianças junto de outros presentes na Páscoa. Na Armênia decoravam ovos ocos com retratos de Cristo, da Virgem Maria e de outras imagens religiosas.

No século XIX, ovos de confeito decorados com uma janela em uma ponta e pequenas cenas dentro eram presentes populares.

Mas os ovos ainda não eram comestíveis. Pelo menos como a gente conhece hoje, com todo aquele chocolate. Atualmente, as crianças encontram ovos de chocolate ou "ninhos" cheios de doces nas mesas na manhã de Páscoa. No Brasil, as crianças montam seus próprios "cestinhos de Páscoa", enchem-no de palha ou papel, esperando o coelhinho deixar os ovinhos durante a madrugada. Nos Estados Unidos e outros países as crianças saem na manhã de Páscoa pela casa ou pelo quintal em busca dos ovinhos escondidos. Em alguns lugares os ovos são escondidos em lugares públicos e as crianças da comunidade são convidadas a encontrá-los, celebrando uma festa comunitária.

Mas depois de falar tanto em ovinhos deu vontade de comer um. Mas só se for de chocolate!

Boa Páscoa!

Fonte:
rdc puc rio

sábado, 7 de abril de 2012

A Festa da Páscoa (Antroposofia)


A Páscoa é uma festa repleta de imagens fortes e marcantes. No hemisfério sul, ela ocorre no outono, no primeiro domingo após a primeira lua cheia. 

A Páscoa é sempre comemorada no domingo, mostrando uma relação com o Sol, astro que rege esse dia da semana, mas também tem relação com a Lua cheia, lembrando que a lua não tem luz própria, apenas reflete a luz do sol.

Antigamente, porém, ela acontecia apenas no hemisfério norte, na época da primavera, quando as pessoas ainda tinham grande relação com as forças da natureza. Naquela época, sobreviver ao rigor do inverno era um grande desafio, e chegar à primavera era motivo de grande celebração. Era nesta época do ano que a vida recomeçava, as cores retornavam, tudo desabrochava. Era a vitória da vida sobre a morte.

A palavra Páscoa, vem do hebraico 'Pessach', que significa passagem. Quando Moisés desafiou o faraó e conduziu seu povo rumo à Terra Prometida, libertando-os da escravidão. Neste fato histórico, mais uma vez ocorreu a vitória da vida sobre a morte.

Na tradição cristã, a Páscoa novamente ocupa uma importância fundamental. Após os quarenta dias da quaresma e depois de refletir sobre os acontecimentos vivenciados por Jesus Cristo durante a Semana Santa (domingo de ramos, condenação da figueira, encontro com adversários no templo, unção, santa ceia e lava pés, morte, descida ao reino dos mortos e ressurreição), os cristãos comemoram, no domingo de Páscoa, a glória da ressurreição de Cristo.

Com sua paixão, morte e ressurreição, Cristo deixou-nos o precioso legado de uma nova vida após a morte, e quando seu corpo e sangue penetraram nas profundezas da terra ela se torna um centro de luz, vivificada pelo Eu do Cristo. Diante desta consciência, podemos refletir sobre nossas atitudes perante esta Terra, nosso planeta, tão sagrado.

Outra imagem, que claramente mostra à idéia de vida, morte e ressurreição é a metamorfose da lagarta em borboleta, representando a morte do corpo, a transformação e o renascer. A imagem arquetípica da borboleta que, quando lagarta, fecha-se num escuro casulo deixando a luz e o calor transformarem sua existência em cor e leveza.

O coelho e os ovos também possuem um significado especial nas comemorações pascais. O ovo representa uma vida interior, ainda em estado germinal, que se desenvolve, rompe uma casca dura e em seguida desabrocha em sua plenitude, assim como Cristo ressuscitado saiu de sua tumba. O coelho, por sua vez, representa um animal puro, digno de carregar e trazer os ovos da Páscoa. Além disso, é um animal muito fértil, que se reproduz com facilidade.

Atualmente, porém, a Páscoa, assim como as outras festas anuais, não é encarada sob um ponto de vista espiritual. Na maioria das vezes, não vivenciamos a possibilidade de deixar morrer em nós o que não queremos mais, o que já não nos serve, e também não permitimos que o novo em nós possa florescer. Deveríamos ter claro dentro de nós a possibilidade da vida, morte e ressurreição de hábitos, atitudes e modos de pensar, para tornarmos pessoas melhores, menos endurecidos e insensíveis diante da realidade atual, com seus constantes altos e baixos. Se tivermos consciência da necessidade de cada um realizar este exercício interior, poderemos então resgatar o real sentido da Páscoa.

Por Silberto Azevedo e Eliane Azevedo

domingo, 1 de abril de 2012

Meditação para a Semana Santa / Domingo de Ramos ao Domingo de Páscoa (Antroposofia)


A Semana Santa nos oferece uma das mais poéticas e terapêuticas imagens para o desenvolvimento humano, sobre a qual podemos meditar e na qual encontramos estímulos para o aprimoramento do nosso caráter.

Quais são as leis de desenvolvimento humano que se evidenciam nos acontecimentos da Semana Santa?

A semana como unidade de tempo tem sua origem no Gênesis onde encontramos, do ponto de vista da tradição esotérica a descrição da criação do mundo em sete dias. 

Os dias da semana receberam seus nomes dos sete planetas que, na visão dos povos ancestrais regiam a ordem do universo e impulsionavam o desenvolvimento do ser humano e de todas as coisas.

“Façam-se luzeiros no firmamento dos céus para separar o dia da noite; sirvam eles de sinais e marquem o tempo, os dias e os anos; resplandeçam no firmamento dos céus para iluminar a terra.”

“Faça-se o homem à nossa imagem e semelhança e que ele reine sobre toda a terra.” (1)

No estudo das leis que regem a biografia humana a influência das forças planetárias torna-se visível no desenvolvimento de um indivíduo, na passagem da puberdade para a adolescência. Nesta fase ocorre o amadurecimento da vida emocional. Do ponto de vista das leis biográficas, isto significa que na adolescência a alma humana, ao mesmo tempo que torna-se refém dos instintos, inicia o seu processo de emancipação, orientando-se por aspirações de liberdade e aprimoramento pessoal. 

Os 21 anos é considerado como o marco deste desabrochar da vida anímica própria sendo comemorado como um segundo nascimento, o que inicia uma etapa de humanização do indivíduo que vai culminar na autoconsciência plena, aos 42 anos. Nesta etapa o indivíduo pode intensificar a consciência de si na medida em que educa e coloca sob sua liderança os potenciais associados às qualidades planetárias.

No ciclo de lendas do Graal que reúne as mais belas sagas medievais de desenvolvimento humano, os sete planetas são citados por seus nomes originais no momento em terminam as privações do heroi Parsifal :

“Zval, Almustri, Almaret, Samsi, Alligafir, Aklkiter e Alkamer, Saturno, Júpiter, Marte, Sol, Vênus, Mercúrio e Lua."

“Eles são os esteios do firmamento, pois com seu movimento retrógrado impedem que sua rotação seja demasiada rápida. Tudo aquilo que está contido na trajetória dos planetas e iluminados por sua luz estará ao teu alcance. Tuas penas se desvanecerão. Mas, evita os excessos pois o Graal e sua força miraculosa rejeitam as pessoas sem autenticidade.”

“Parsifal rejubilou-se com tal notícia. Tão feliz ficou que as lágrimas – essa água viva que brota do coração – lhe afloraram aos olhos. ” (3)

Entretanto, embora todas as qualidades planetárias encontrem-se potencialmente presentes no firmamento da alma humana, uma se destaca, caracterizando um determinado tipo humano.

Esta qualidade desperta por volta dos 12 anos e se apresenta como a força de liderança típica daquele indivíduo. A abordagem de desenvolvimento humano orientada pela antroposofia estuda os sete tipos humanos fundamentados nesta sabedoria antiga e a dinâmica que se estabelece na relação de cada um destes tipos, com o mundo.

Algumas das características dos Sete Tipos Anímicos:

Saturnino (Saturno)

É o tipo responsável, autoconsciente, pesquisador nato, orientado por princípios. Encara tudo com seriedade e profundidade e busca até a exaustão a essência e verdade das coisas. A sua vida interior pode tornar–se tão rica e intensa que ele tende a negligenciar o contato com o mundo externo e a tornar-se enfático e sisudo. As forças saturninas são necessárias quando se trata de desacelerar os processos anímicos desenfreados e são consideradas forças de resguardo da vida interna da alma.

Lunar (Lua)

É o tipo intelectual, mentalmente ativo que se destaca pela memória e acúmulo de conhecimento, que gosta de contribuir com o bem estar do ambiente e que valoriza os laços familiares mais do que todos os outros. Sua tendência a elaborar teorias faz com que muitas vezes perca o pé na realidade tornando-o uma pessoa facilmente influenciável e sujeita a devaneios. As forças lunares são necessárias para a preservação da saúde e para sustentar a vitalidade anímica imprescindível para o aprendizado .

Jupiteriano (Júpiter)

É o tipo dominante, sensato, benévolo, o lider nato que tem visão global e gosta de ordenar o caos . Tende ao formalismo, ao perfeccionismo, à imponência e a guardar uma certa distância dos outros. As forças jupiterianas são forças anímicas que se tornam atuantes nos processos de ordenação de pensamentos e sentimentos. São essencialmente configurativas e se tornam necessárias na busca de justiça e organização do mundo.

Mercurial (Mercúrio)

É o tipo amável, dinâmico, bem humorado, espontâneo, que tem um pensamento bastante associativo e grande capacidade de adaptação. Sua tendência a se deixar levar pelos impulsos, improvisar e a ficar no muro podem entretanto, caotizar o ambiente. As forças mercuriais possuem o poder de associar as diferenças e colocar em fluxo os processos que estão enrijecidos e estagnados sendo necessárias em todos os processos de mediação.

Marciano (Marte)

É o tipo agressivo, pragmático, realista, que se posiciona e fala o que sente, indo direto ao ponto. Tem grande capacidade de atuar em embates e vencer as adversidades. Tende a ser belicoso e a desencadear conflitos pois através deles tem uma vivência mais concreta de si próprio. As forças marcianas são necessárias em processos de transformação e reformulação que exijam coragem, decisão e coesão.

Venusiano (Vênus)

É o tipo estético, caloroso, querido, aquele que costuma levar em consideração os sentimentos dos outros e tem inclinação para a arte e a beleza. Tende a exagerar nos sentimentos, perder a objetividade e emitir julgamentos baseados em simpatias em antipatias correndo o risco de seduzir ou se deixar seduzir facilmente. As forças venusianas são forças de empatia e compaixão que precisam estar presentes em processos onde se tornam necessárias forças humanitárias.

Solar (Sol)

É o tipo radiante, cordial, positivo que consegue se apropriar e integrar todas as demais qualidades colocando-as a serviço da sua essência e do seu ideal. É um tipo especial e raro! As forças solares são as forças morais, éticas, altruístas e são necessárias em processos de integração e harmonização quando torna-se imperativo ir além das versões e pontos de vistas individualistas para criar conexão com uma dimensão espiritual da existência humana.

Os acontecimentos da Semana Santa

A Semana Santa começa no Domingo de Ramos e vai até o Sábado de Aleluia. 

No Domingo da Ressurreição, denominado Domingo de Páscoa (do hebraico Pessach = passagem) é o primeiro dia da passagem para o Novo Sol que será a Terra vivificada pelo Eu do Cristo.

Os acontecimentos da Semana Santa compõem uma via sacra que mostra como o Cristo humanizou cada uma das suas qualidades anímicas e colocou-as a serviço do seu Eu.

Domingo de Ramos

Master of de Monogram

No primeiro dia da Semana Santa, Jesus Cristo entra na cidade santa de Jerusalém, montado em um burrinho branco. Com brados de “Hosana” o povo o saúda com ramos de palmeiras. Cristo atravessa em silêncio a vibração popular. A força que emana dele reascende no povo a antiga clarividência, vivenciada nas festividades em homenagem ao sol. Na antiguidade, a palmeira era considerada o símbolo do sol natural. Entrar em Jerusalém montado no burrinho, tinha para o Cristo, o sentido de deixar clara a transição da antiga exaltação visionária desencadeada pelos elementos externos da natureza, para uma atitude interiorizada, fruto da presença de espírito, do Sol interior na alma individualizada. Internamente o Cristo sabe que aquele entusiasmo logo passará. É como o entusiasmo natural que logo se transfere para outra novidade, para outro acontecimento externo.

Segunda-feira Santa – Dia da Lua

A Purificação do Templo 1650
Jacob Joardaens - Louvre

Betfagé era uma aldeia cercada por figueiras consideradas por seus moradores, sagradas. Fora de lá que Cristo, no domingo de Ramos, mandara Pedro e João trazer o burrinho, também considerado um animal sagrado. Ali cultivava-se uma antiga forma de clarividência, ou seja, praticava-se “o sentar-se sob a figueira”, bem como uma série de exercícios físicos e contemplativos através dos quais se atingia um estado de extase.

Na manhã de segunda feira, ao retomar de Betânia à Jerusalém com seus discípulos, Cristo se aproxima da figueira e pronuncia a sentença: “Para todo o sempre, ninguém mais comerá destes figos”. Isto significava que, no dia seguinte a árvore estaria seca. Chegara o tempo em que o ser humano deveria trilhar um caminho espiritual fundamentado na autoconsciência, no livre arbítrio e na liberdade individual. Com a condenação da figueira, Cristo quiz cessar o antigo dom lunar das visões de êxtase.

Chegando mais tarde ao Templo que fervilhava de atividades comerciais, Cristo expulsou os vendedores devolvendo ao Templo sua condição de lugar sagrado e, aos peregrinos que chegavam de todos os lados para as cerimônias de Páscoa, a consciência de que aquela era uma casa de Deus.

Terça-feira Santa – Dia de Marte

Michelangelo
Afresco - Capela Sistina - Roma

Jesus volta a Jerusalém trazendo as oferendas para o ritual que antecediam a festa pascal.

No Templo, enquanto o povo o ouvia, seus adversários o abordam com questões que são verdadeiras armadilhas, para fazê-lo cair em contradição.

Cristo responde a cada uma das questões com parábolas que caem como verdadeiros golpes de espada sobre os sacerdotes e escribas que nelas se reconhecem como protagonistas. A cada parábola, Cristo reafirma a natureza espiritual do seu Eu, assumindo seu lugar próprio e colocando os adversários no devido lugar. Sem temor, pergunta por pergunta, a identidade espiritual do Cristo, vai se revelando. Sua força se intensifica. É uma luta intensa, travada em palavras e em intenções. De um lado, a intenção dos questionadores que, por desconfiarem dele queriam desmacará-lo. De outro lado, a intenção poderosa do seu Eu manifestando-se em toda a sua inteireza .

Neste dia, Cristo mostra que a maior das lutas é a batalha travada no interior, entre o medo e a vontade de colocar o Eu no mundo. Nesta luta interna, conquistamos os dons de Marte: a autenticidade e a coragem para enfrentar as adversidades.

Quarta-feira Santa – Dia de Mercúrio

Donatello - Madonna di casa
Pazzi Staaliche Museen - Berlin 

Ao entardecer daquele dia em Betânia, Jesus se reuniu com o seu círculo mais intimo na casa de Simão. Aproxima-se do Cristo, Maria Madalena que após ungir os seus pés com um óleo precioso, os enxuga com seus próprios cabelos. O gesto de Madalena provoca uma reação de crítica nos presentes e desencadeia a revolta que se acumulava na alma inquieta de Judas. Argumentando contra o desperdício em detrimento dos necessitados, Judas sai para se encontrar com os sumo-sacerdotes e concretizar a traição que o levará mais tarde ao suicídio.

É a segunda vez que Madalena unge os pés do Cristo. Na primeira unção ele dissera aos presentes: “Calem-se. Ela muito amou e muito lhe será perdoado”. Em relação a Judas, Cristo compreende que ele não desenvolveu forças internas para ordenar as suas impressões exteriores. A agitação interna de Judas flui para o mundo como revolta. Maria Madalena, entretanto, interiorizara as forças de amor que antes a arrastavam para o mundano. Estas forças anímicas fluem então para o mundo como devoção. Ambos são tipos mercuriais sempre em contínua atividade externa, sempre mobilizando tudo ao seu redor.

Marta, a irmã de Maria Madalena, é a terceira pessoa com qualidades mercuriais, também presente à ceia. Está sempre fazendo algo pelos outros, sempre na lida da casa. “Marta, Marta, andas muito inquieta e te preocupas com muitas coisas. Maria escolheu a boa parte, que não lhe será tirada.”(3)

Na quarta feira santa, Cristo acolhe na sua alma as forças mercuriais metamorfoseadas em paz interior, devoção e transformadas em capacidade de cura.

Quinta-feira Santa – Dia de Júpiter


Cai a noite de Pessach. Lá fora reina o silêncio enquanto todos estão em casa reunidos para a ceia do cordeiro pascal.

No convento da Ordem dos Esseus, no Monte Sion, lugar antigo e sagrado, reunem-se o Cristo e os Doze Apóstolos para também celebrarem o Pessach.

Antes da ceia, Jesus realiza o ato de amor humilde e singelo que para sempre irá tocar o coração dos cristãos: o Lava Pés. Ajoelha-se e lava os pés de cada um dos seus apóstolos, num gesto que é a síntese de todos os seus ensinamentos: “amai-vos uns aos outros”.

Segue-se a ceia e Cristo tomando pão e vinho, os oferece aos discípulos: “Tomai, pois este é meu corpo e este é meu sangue.”

Com este ato sacramental, Cristo intensifica o esforço volitivo da alma humana que quer acolher em si a sua essência espiritual. Ele traz a interiorização do Eu até o nível da aceitação do destino, até a comunhão com o espiritual, no intimo do ser.

Sexta-feira Santa – Dia de Vênus


Ecce Homo – Caravaggio 1600
Palazzo Rosso, Genoa, Italy
 

Na madrugada de quinta para sexta-feira, Cristo, ao ser identificado pelo beijo traiçoeiro de Judas enquanto orava no Getsemane, é arrastado e preso.

Ironizado, flagelado e coroado com espinhos, carrega sua cruz sobre as costas e é crucificado na colina de Gólgota.

Tendo se tornado suficientemente firme na sua alma, por possuir algo imensamente sagrado, suporta todos os sofrimentos e dores e carrega seu próprio corpo em direção à morte; une-se à morte e deixa como legado a mensagem de que a morte não extingue a vida do Eu.

Sábado de Aleluia – Dia de Saturno

Caspar David Friedrich
O altar de Tetschen (1807) 115 × 110.5 cm.
Gemäldegalerie
Dresden – Alemanha
 

“Temos à volta da Terra uma espécie de reflexo da luz do Cristo. O que aqui reflete-se como Luz do Cristo, é o que o próprio Cristo denominou de Espírito Santo. A partir do evento de Gólgota a Terra começa a criar a sua volta um anel espiritual que mais tarde se tornará uma espécie de planeta ao seu redor. Estamos diante do ponto de partida de um Novo Sol em formação.”(4)

Domingo de Páscoa – Dia do Sol

Matthias Grünewald 1483-1528
Painel do Altar de Isenheimer
Unterlinden Museum
Colmar – França
 

O espírito de Cristo penetra na Terra criando nela um novo centro luminoso.

O Ente nascido do cosmos
Oh, vulto luminoso!
Fortalecido pelo Sol no poder da Lua.
Tu és doado pelo ressoar criador de Marte
E a vibração de Mercúrio que move os membros.
Ilumina-te a sabedoria radiante de Júpiter
E a beleza de Vênus, portadora do amor.
E a interioridade espiritual de Saturno antiga dos mundos
Te consagre à existência espacial e ao desenvolvimento temporal (5)


Rudolf Steiner

Texto de Edna Andrade

Referências
(1) Gênesis 14 (2) Parsifal de Wolfram von Eschenbach livro XV – Editora Antroposófica (3) Lucas 10.41 (4) Rudolf Steiner (5) Rudolf Steiner
O Evangelho de João – Rudolf Steiner – Editora Antropósofica / Os Acontecimentos da Semana Santa – Emil Bock – Editora Nova Jornal / Seven Soul Types de Max Stibbe – Hawthorn Press