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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Mesmo sem um aprofundamento da ciência espiritual... (Antroposofia)



Mesmo sem um aprofundamento da ciência espiritual pode-se reconhecer de tudo aquilo que brilha através da representação histórica exterior, superficial, que o [antigo] grego, quando conseguia o que hoje denominamos concepção intelectual do mundo, obtinha sua alegria, ou pelo menos satisfação, por acreditar que, depois de passar pelos diferentes níveis de formação de então, estava em condições de obter um engrandecimento de sua condição humana, por possuir uma visão de mundo mediante a força do intelecto.

Ele acreditava tornar-se um ser humano em um sentido melhor, se ele conseguisse captar o mundo intelectualmente, do que se não fosse capaz disso.

A alegria interior e a satisfação com a vida intelectual estavam plenamente disponíveis nessa quarta época pós-atlântica[séc. VII a.C. - séc. XV d.C.].

[...] Tão pálido e frio quanto o mundo das ideias é frequentemente sentido hoje, ele não era sentido não faz nem tanto tempo. Isso está relacionado com uma importante lei do desenvolvimento da humanidade.

Trata-se do fato de o ser humano ter adquirido uma relação totalmente diferente com o mundo das ideias que é construído intelectualmente.

Num tempo mais distante o mundo das ideias visava o que é vivo.

O cosmo era encarado como algo vivo.

Basta apenas compreender realmente as antigas formas conceituais, para se saber que o elemento morto era pensado como algo que se separa do elemento vivo, sendo este imaginado como se cobrisse todo o cosmo, como encontramos as cinzas restando do que queima.

O ser humano tinha um sentimento totalmente diverso diante do cosmo.

Ele o via como se fosse um grande organismo vivo, e o que é morto, como por exemplo a totalidade do reino mineral, ele considerava como as cinzas separadas dos processos cósmicos, que se tornaram mortas por serem despojos do elemento vivo.

Esse sentimento frente ao cosmo tornou-se essencialmente diferente nos últimos séculos.

Por exemplo, a cognição científica é plenamente admirada, ou foi ao menos sempre totalmente admirada na medida em que pôde abarcar o que é morto.

E cada vez mais apareceu o anseio de encarar o que é vivo simplesmente como combinação química do que é morto. Daí surgiu a ideia de uma convicção a partir do que é morto.

[...] Duas coisas surgiram como resultado de o ser humano ter-se tornado completamente morto em seus conceitos. De um lado, a consciência da liberdade; de outro, a possibilidade de aplicar os conceitos rígidos, retirados do que é morto e que só podem ser aplicados nele, na maravilhosa e triunfante técnica, destinada a ser uma concretização do sistema rígido de ideias.

Este é um lado do desenvolvimento que a humanidade moderna fez.

É necessário compreender também que o ser humano, por assim dizer, cortou seus laços com o que é vivo, como este tornou-se estranho para ele.

Deve-se também observar o seguinte: se o ser humano deve defrontar-se com o que é morto, e se não quiser permanecer no âmbito do que é morto, mas quiser tomar em seu íntimo o impulso do que é vivo, ele deve encontrar esse elemento vivo a partir de sua própria força.

Man kann aus allem, was hindurchleuchtet durch die äusserliche, man möchte sagen, oberflächliche geschichtliche Darstellung, auch ohne geistgeswissenschaftliche Vertiefung erkennen, das der Grieche, wenn er das erreicht, was wir heute eine intellektuelle Anschauung von der Welt nennen, darin seine Freude, zum mindesten seine Befriedigung hatte, dass er glaubte, wenn er durch die verschiedenen damaligen Bildungsstufen hindurchgegangen war und imstande war, durch die Kraft des Intellektes sich ein Weltbild zu machen, mit dem Besitz diesesWeltbildes eine Erhöhung seines Menschtums erreicht zu haben. Er glaubte in einem besseren Sinne Mensch zu sein, wenn er die Welt intellektuell erfassen konnte, als wenn er nicht dazu imstande war. Die innere Freude und Befriedigung am intellektuellen Leben, die war in diesem vierten nachatlantischen Zeitraum vollständig vorhanden.
[...] So blass und kalt, wie die Ideenwelt heute oftmals empfunden wird, so wurde sie eben vor gar nicht langer Zeit noch nicht empfunden. Und das hängt allerdings zusammen mit einem bedeutsamen Entwickelungsgesetz der Menscheit. Es hängt damit zusammen, das der Mensch zu der Ideenwelt, die intellektualistisch ausgebildet wird, selber ein ganz anderes Verhältnis bekommen hat, als er früher hatte. Die Ideenwelt ging in einer früheren Zeit auf das Lebendige. Das Weltall wurde als ein Lebendiges angesehen. Man braucht nur eine wirkliche Einsicht in ältere Begriffsgebilde zu bekommen, so weiss man, dass das Tote eingentlich etwas war aus dem Lebendingen, das ausgebreitet gedacht wurde über die ganze Welt, herausfallend gedacht wurde, so wie wir etwa die Asche aus dem Verbrennenden herausfallend finden. Es war eine ganz andere Empfindung gegenüber dem Weltall beim Menschen vorhanden. Er sah das Weltenall als einen grossen lebendigen Organismus an, und das Tote, also zum Beispiel die ganze Summe des mineralischen Reiches, sah er an wie die Asche, die herausgefallen ist aus dem Weltenprozesse, und die tot geworden ist, weil sie Abfall ist des Lebendigen.
Diese Empfindung gegenüber der Welt ist nun allerdings in den letzten Jahrhunderten wesentlich anders geworden. Wissenschaftliches Erkennen zum Beispiel wird voll geachtet, oder wurde wenigstens immer voll geachtet, insofern es sich über das, was tot ist, verbreiten kann. Und immer mehr und mehr kam die Sehnsucht herauf, das Lebendige selbst nur als eine etwa chemische Verbindung aus Totem anzusehen. Die Idee einer Überzeugung aus Totem, die kam herauf.
[...] Zweierlei ist es eben, was heraufgekommen ist dadurch, das der Mensch in seinen Begriffen völlig tot geworden ist. Auf der einen Seite das Bewusstsein der Freiheit, auf der anderen Seite die Möglichkeit, nun die starren Begriffe, die vom T genommen werden und nur auf das Tote andwendbar sind, in der grossartigen triumphalen Technik anzuwenden, die ja darauf angewiesen ist, eine Verwirklichung des starren Ideensystems zu sein.
Das ist die eine Seite der Entwickelung, welche die neuere Menschheit durchgemacht hat. Man muss ebenso verstehen, wie der Mensch aus dem Lebendingen gewissermassen sich herausgeschnürt hat, wie ihm das Lebendige fremd geworden ist, wie man auch einsehen muss: Wenn der Mensch dem Toten gegenüberzustehen hat, so hat er, wenn er nicht in dem Totem verbleiben will sondern in sein Gemüt den Impuls des Lebendigen aufnehmen will, aus seiner eigenen Kraft dieses Lebendigen zu finden.

Fonte: GA 221, palestra de 18/2/1923, pp. 123-7. Trad. VWS. Rev. SALS.
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sociedade antroposófica brasileira


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Evolução do Ser Humano / Parte IV (Antroposofia)





A HUMANIDADE NA ENCRUZlLHADA

Desde o começo do século XV, vivemos no 5o. período pós-atlântico, caracterizado pela eclosão da alma da consciência.

Agora, o homem não só compreende o mundo e quer dominá-lo (para isso bastava a alma do intelecto), mas ele se sente como um indivíduo, em oposição ao mundo, e a relação "eu-mundo" torna-se-lhe quase insuportável.

A auto-consciência nasce e, com ela, a solidão, a angústia, a insistência nas "perguntas eternas".

Surgem figuras como Lutero, revoltando-se com todo o peso da sua personalidade contra a Igreja, os heréticos, que morrem por suas idéias, Michelângelo, Rembrandt, Beethoven, criações como Fausto, Hamlet e Raskolnikoff, sofredores como Kierkegaard e Nietzche, filósofos corajosos como Sartre e Camus. Em todas essas figuras, inconcebíveis em épocas anteriores, manifesta-se essa alma da consciência.

E não a sentimos em nós, inspirando nossas dúvidas e nossas perguntas eternas?

A época da ciência e da técnica começou com o Renascimento. O intelecto e o espírito crítico tomaram conta de tudo. Ruíram as religiões e as crenças, a representação de um mundo espiritual, de um Deus criador e mantenedor do universo, ruíram as vetustas instituições sociais do Estado e da família, as tradições, incluindo as de respeito perante os mestres e os pais, a autoridade e os valores humanos em geral. Reinam o cinismo, o nihilismo e o desespero.

Não vamos fazer ressuscitarem as velhas tradições e instituições. O que morreu, está morto. Mas devemos perguntar: onde estamos e qual o sentido dessa crise?

Ela se nos afigura assim: o homem foi separado da harmonia divina pela "tentação"; perdeu a perfeição e a saúde, mas ganhou o intelecto, o livre arbítrio e a dignidade humana em potencial.

Todavia, esse desenvolvimento levou-o ao caos, ao nihilismo; em uma palavra, à situação que acaba de ser esboçada. O homem deve futuramente voltar à harmonia, ao "Paraíso", ao mundo divino do Amor, mas desta vez não como um autômato (como o era antes da "queda" na matéria), mas com todas as conquistas da sua peregrinação terrena: o intelecto, a consciência, o livre arbítrio.

Livremente, por uma série infinita de atos de Amor (a palavra tomada em sua acepção mais universal), não obstante e contra todos os obstáculos e tentações, o homem deve realizar em si e por si a harmonia eterna. Esse é o "reino de Deus", essa é a volta à origem, esse é o sentido da evolução da humanidade.

Estamos no ponto crucial: ou acharemos o caminho da nova subida, amparando-nos no verdadeiro impulso de Cristo e vencendo todos os obstáculos, ou mergulharemos definitivamente num estado de tecnicismo, de desumanização, de caos moral, e quiçá, de completa automatização despersonalizada.

Devemos olhar para a frente, para a tarefa futura, e não lamentar condições passadas, seja qual for a atração exercida pela sua harmonia e pela sua beleza.

Devemos tomar o destino em nossas mãos, livres, conscientes, com pleno aproveitamento do nosso intelecto e de tudo que conquistamos, mas tendo como ideal uma nova imagem do Homem.

Isso implica numa espiritualização lenta do nosso mundo por nós mesmos, cabendo-nos abrir-nos ativamente, conscientes, quais criadores autônomos, aos impulsos espirituais, a fim de realizá-los na Terra.

É grandiosa a idéia de que o ser humano poderá redimir a Criação e fazer voltar todo o nosso universo à harmonia primitiva, desde que trabalhe incessantemente em si próprio. Para poder fazê-lo, deve estar consciente dos perigos que o rodeiam e do ideal que deve procurar atingir.

Esse processo se estenderá por séculos e milênios. Rudolf Steiner disse que haveria, depois do nosso, mais dois períodos pós-atlânticos. Em seguida, começará um processo lento de desagregação da matéria, em meio a terríveis lutas sociais, que provocarão grandes catástrofes, em nada inferiores ao Dilúvio.

Paralelamente à desintegração da matéria haverá uma lenta desmaterialização da nossa Terra.

A humanidade passará a viver menos "encarnada".

Após um novo Pralaya haverá mais três "encarnações" da nossa Terra, onde o ser humano transcenderá o seu estado "humano", alcançando graus de evolução correspondentes ao atual estado dos anjos, etc.

Todavia, isso só acontecerá com aqueles homens que, vencendo todos os obstáculos, chegarão à sua reintegração na harmonia divina. Os outros, definitivamente dominados por Lúcifer e Árimã, ficarão para trás e não passarão do estado humano constituindo, em encarnações futuras da Terra, reinos "atrasados" como o é, hoje, por exemplo, o reino animal em comparação com o reino humano.

Mas voltemos à época atual. O título deste capítulo, "A humanidade na encruzilhada", torna consciente a importância histórica justamente da nossa época.

Por que?

Porque em épocas anteriores a humanidade, não possuindo uma consciência tão desenvolvida, ainda foi guiada pelas influências "boas" ou "más" dos mundos espirituais. Somos hoje conscientes e responsáveis; temos o nosso destino em nossas mãos. Por isso precisamos ter em vista a nossa tarefa futura e os perigos que a ameaçam.

A tarefa é simples: desenvolver o nosso eu, a nossa consciência, o nosso livre arbítrio; conhecer, amar e dominar a Terra, mas sempre de acordo com a inspiração crística; afirmar a nossa auto-consciência e espiritualizar-nos ao mesmo tempo.

Resultam daí duas possibilidades de aberração:

Podemos desprezar a Terra e a autoconsciência, procurando voltar o quanto antes a um reino espiritual. Quem nos induz a essa atitude é Lúcifer. Ele atua por trás de tudo que faz o homem perder a plena consciência de si e a sua firmeza na Terra: são os estados inconscientes ou de êxtase, o entusiasmo e as excitações de toda espécie. Como já dissemos, Lúcifer fez muitas contribuições valiosíssimas: as artes, os ideais e qualquer elevação da alma são obra sua. A influência luciférica é ótima, desde que dominada por um eu consciente; nefasta, quando torna o homem inconsciente, quando lhe tira a sobriedade e a serenidade, o raciocínio e a contemplação refletida, provocando a excitação e o irracionalismo.

O outro pólo é Árimã. Despreza o verdadeiro espírito, nega os mundos espirituais e quer dar ao homem a ilusão de que o que é racional e lógico na Terra já é o verdadeiro espírito. Daí a luta de Árimã em prol de todas as formas de materialismo, de intelectualização, da abstração (o verdadeiro espírito nunca é abstração). Como Lúcifer, Árimã nos deu dádivas de grande valor: o pensamento lógico e a matemática são manifestações arimânicas. Mas em sua luta contra os impulsos espirituais, Árimã recorre amiúde ao cinismo e à ironia.

Não existe, pois, na Antroposofia, o "Diabo" como força do mal. Existem, sim, duas forças cósmicas, que têm, cada uma, sua missão específica, e que se tornam "más" quando o ser humano deixa-se dominar por elas.

Do ponto de vista exposto, muitos fenômenos e instituições da vida moderna aparecem sob uma luz nova. Examinaremos rapidamente alguns desses aspectos:

Toda a vida científica atual é determinada pela tendência de fugir das qualidades e fenômenos qualitativos para expressá-los quantitativamente.

As fórmulas, a lei abstrata, são as finalidades supremas.

Por exemplo, a fórmula da velocidade: v = c/t, é considerada como a última explicação da velocidade v.

Mas o que é um caminho c dividido pelo tempo t?

Uma realidade? Certamente não.

Afirmar que a "qualidade" vermelho é dúbia, porque "subjetiva", e que deve ser substituída por: "radiação de uma frequência de ..." não diz nada sobre o vermelho, como sensação, sobre as qualidades intrínsecas. O perigo, é que essa mentalidade generalize-se fora da própria Física, passando para o subconsciente do homem. O mesmo aconteceu com a Biologia: ensinaram ao homem, durante gerações, que ele descende do animal, nada possuindo que já não exista no animal; ele acabou comportando-se como um animal...!

Essa abstração, manifestação de Árimã, faz considerar o corpo humano como um laboratório ou uma máquina. O médico é uma espécie de chefe de oficina, encarregado de consertar o defeito, e não estamos longe do tempo em que o exame, o diagnóstico, terapia e controle, serão feitos por computadores, realização máxima do espírito arimânico.

O psicólogo tem uma posição das mais ingratas: deve falar de algo que tem a certeza de não existir: a alma. Daí as suas afirmações muitas vezes ridículas. Negando por completo a existência de uma psique autônoma, muitos psicanalistas consideram-na como uma espécie de conglomerado de funções biológicas e, quando falam de qualidades anímicas, apressam-se em achar-lhes as causas fisiológicas ou químicas: é a negação de qualquer elemento espiritual superior e, por isso, atitude tipicamente arimânica.

Na política como na vida econômica, o homem moderno esqueceu que está em presença de verdadeiros organismos. A aplicação de critérios puramente intelectuais e "lógicos" não pode resolver os problemas desses setores.

Quanta inteligência não está sendo gasta para a solução dos problemas sociais e econômicos, sem qualquer resultado!

Por que?

Esqueceram-se de uma coisa: do ser humano completo, que é um ser não somente econômico, político ou social, mas também anímico e espiritual, que não pode ser captado pela aplicação unilateral dos princípios da antropologia e sociologia, "ciências" que constituem uma contradictio in adjecto.

Uma atitude mais realista implica na superação desses pontos de vista abstratos, arimânicos.

Um elemento puramente racional penetrou, também, nas artes. Mais do que nunca, o elemento cerebral predomina. Até o espontâneo e o caótico são calculados, desde a música eletrônica até a plástica de ferros retorcidos. Com isso não queremos julgar essas criações, mas apenas indicar-lhes o caráter.

Por outro lado, aparecem também nas artes inúmeros impulsos emocionais onde predomina o elemento luciférico. Raramente, porém, podemos dizer, frente a uma obra contemporânea, que achamos nela o perfeito equilíbrio entre o elemento "conteúdo" (que seria o equivalente de luciférico) e o elemento "forma" (elemento arimânico).

Passaremos agora para o campo extremamente vasto dos "passatempos", frisando, em primeiro lugar, o contra-senso dessa nova indústria.

A racionalização do trabalho deveria ter por objeto libertar o homem da escravatura do trabalho, dando-lhe o tempo e as forças necessárias para dedicar-se atividades superiores.

Como seria bom se o ser humano, dono da máquina, usasse realmente o tempo poupado para tornar-se mais digno e mais consciente das suas tarefas, aspirando a realizar valores novos e elevados!

Mas o que faz com o tempo economizado? Procura "matá-lo". Tomado de pânico de ficar a sós consigo mesmo, de ter que concentrar o seu espírito em algo mais elevado, ele se refugia nos passatempos: rádio, revistas, baralho, TV, leituras superficiais de livros "cativantes", festas, narcóticos. Esquecer e fugir de si próprio, eis o lema e a razão de ser da indústria de passatempos, umas das maiores vergonhas da humanidade, que tem por única finalidade tornar o homem inconsciente ou semi-inconsciente, alienando-o da sua tarefa primordial. Temos aqui a técnica acoplada à inconsciência, triste exemplo de colaboração de Árimã e Lúcifer.

Vejamos as mais recentes conquistas nesse domínio: a TV, as revistas de estórias em quadrinhos (essas caricaturas do mundo nas quais nem o esforço consciente da leitura é mais necessário...), o nível da média dos filmes, as viagens frenéticas, os jogos de azar... uma geração inteira que se afunda na alienação de si mesma. E o aspecto mais diabólico, é que as crianças são inundadas, desde o nascimento, pelas "benfeitorias" dessa indústria. Como é que uma geração de seres humanos maduros e conscientes pode nascer de crianças viciadas desde o berço?

A propaganda, sob todas as suas formas, constitui outro atentado contra a consciência. Apela habilmente para os instintos menos elevados - cobiça, vaidade, egoísmo, sensualismo - mas o faz subrepticiamente, dirigindo-se ao subconsciente, quando não trabalha cinicamente com efeitos subliminares. Triste espetáculo numa hora em que o homem devia estar sempre mais lúcido e consciente em todos os seus pensamentos e decisões.

Devemos dizer o mesmo dos slogans políticos ou sociais, das ideologias, dos falsos fanatismos e de tudo o que fortalece o espírito gregário, a mentalidade puramente emocional de grupos e, por isso mesmo, semi-inconsciente. Todas essas nefastas influências luciféricas contribuem para a esquizofrenia do ser humano moderno, que é atraído pelos extremos do materialismo e da abstração de um lado, e da embriaguez e da inconsciência da sua vida emotiva, de outro. Falta-Ihe o ponto de apoio, do meio. Parece que o ser humano moderno prefere a justaposição incoerente e chocante dos dois extremos em lugar da sua harmonização.

A polaridade Lúcifer/Árimã aparece até na configuração espiritual da nossa Terra.

Rudolf Steiner foi o primeiro a insistir no fato de que o mundo oriental (Rússia-Ásia) era caracterizado pelas emoções, pelo espírito de comunidade (em detrimento do eu individual) e pelo idealismo extático (Dostoiewski, o messianismo comunista), enquanto o Ocidente era dominado pelo intelecto, pelo individualismo extremo (muitas vezes em detrimento do amor pelo próximo) e pelo utilitarismo.

Poderíamos prolongar infinitamente essa lista de manifestações das influências de Lúcifer e Árimã. O leitor atento poderá continuar essa análise e chegar à mesma conclusão de que a nossa tão decantada civilização moderna contém em seu cerne os mais graves perigos para uma aberração definitiva da humanidade, a não ser que um número suficientemente grande de pessoas se torne consciente da existência desses perigos e faça os esforços necessários para combatê-los.

A Antroposofia quer fomentar essa consciência e despertar as contra-forcas. Ela identifica essa sua doutrina com um verdadeiro cristianismo que não tem por centro o Jesus Cristo adocicado e banalizado das religiões cristãs, mas o Ser Supremo sob cujo impulso devemos realizar nossos atos, sob pena de perder a dignidade humana.

Texto de R. Lenz

Fonte:
sociedade antroposófica brasileira

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

A Evolução do Ser Humano / Parte III (Antroposofia)




ÉPOCA PÓS-ATLÂNTICA

A Ásia Central, para onde se tinha dirigido o grupo conduzido por Manu, constituiu por muito tempo um centro de irradiação de impulsos espirituais.

A evolução se fez desde essa época em ritmo mais acelerado.

Assistimos a ciclos culturais menores, e a ciência espiritual nos ensina que cada um desses ciclos é naturalmente um fenômeno da humanidade inteira, embora encontrem seus protagonistas principais sempre em determinados povos, que lhe deram seus nomes.

É como se um grupo saísse da penumbra para fazer uma contribuição valiosa para toda a humanidade, sendo substituído por outro, uma vez terminada sua missão.

Nesse sentido, dividimos a época pós-atlântica em vários períodos:

Um primeiro período pós-atlântico teve por cenário principal a Índia daí o seu nome de "Período Proto-índico". O "proto" significa que estamos ainda em épocas anteriores às das civilizações históricas; assim, as grandes culturas históricas da Índia, com suas belas criações no campo da literatura, da religião e da filosofia, situam-se em épocas muito mais recentes; são, todavia, impregnadas pelo espírito da época proto-índica que durou, aproximadamente, de 7.200 a 5.000 A.C.

Os homens dessa época tinham ainda uma mentalidade bem diferente da atual.

Viviam na recordação da origem espiritual da humanidade.

Possuindo ainda uma certa clarividência, os mundos espirituais se lhes afiguravam como a "verdadeira" realidade.

A existência no mundo físico era para eles como que uma expulsão passageira da sua verdadeira pátria espiritual.

Não se sentiam à vontade na Terra, nem se interessavam pela existência terrena almejando, ao contrário, cortar o quanto antes os laços que os uniam à Terra.

O mundo físico era, para eles, ilusão ou Maya.

Encontramos a influência dessa atitude de fuga do mundo visível em toda a civilização hindu posterior, inclusive no bramanismo e no budismo.

Data da época proto-índica o sistema das castas, que era inicialmente uma divisão dos homens de acordo com o grau da sua pureza e evolução espiritual.

Já na segunda época pós-atlântica vemos aparecer um tipo de homem diferente. Essa época, a proto-persa, durou de 5.000 - 2.900 A.C.

Seu guia espiritual era um grande iniciado, Zaratustra (personagem diferente do Zaratustra histórico, contemporâneo de Buda).

Ele é descrito nas lendas como o inventor da domesticação dos animais e do cultivo das plantas, sobretudo dos cereais.

Vemos, por essa lenda, que os homens dessa época se viraram resolutamente para a Terra, vendo nela o alvo de suas tarefas.

Havia naturalmente uma consciência de que existiam mundos espirituais e de que o homem era um ser espiritual.

Não obstante, o amor pela Terra e a vontade de dominá-la constituíam o fundo da mentalidade dos velhos persas.

Zaratustra sabia que o velho Sol, sede dos Exusiai, era o centro espiritual do nosso mundo.

Vislumbrava no grande Espírito Solar (Ahura Mazdao-Ormuzd = Grande Aura do Sol) o ser divino que representava, por assim dizer, todas as forças do Bem. Mas conhecia também a existência das forças adversas sob a conduta de Árimã, deus das Trevas.

O Universo se lhe afigurava como campo de batalha entre essas duas forças adversas, ambas de igual realidade. Temos aí a origem de todas as religiões e correntes "dualistas", em particular do maniqueísmo e também dos cultos caracterizados pela adoração do Fogo ou do Sol.

O centro dessa época era a região iraniana.

Com a terceira época pós-atlântica entramos na História propriamente dita. Conhecemos a civilização dessa época, a egipto-babilônico-caldaica (2-900 - 750 A.C.) pelas ciências históricas comuns e sabemos que, nelas, o homem adquiriu definitivamente o sentimento de que esta Terra era o seu campo de ação.

Havia ainda alguma clarividência, mas o interesse dos homens se concentrava na Terra. As grandes teocracias eram sistemas terrenos, embora o rei-sacerdote ainda fosse considerado como sendo de origem divina e recebendo as suas inspirações "de cima".

Mas, de um modo geral, o homem se comprazia na Terra e fazia tudo para ser feliz nesta vida, organizando-a de maneira prática. Assistimos ao surgimento da geometria e de outras ciências, embora ainda não sob forma abstrata. Invenções técnicas, como a da roda, e dos aparelhos mais simples, a arte da irrigação, a elaboração de princípios de direito e administração, caracterizam essa época.

Mas quando os homens queriam conhecer as forças motrizes do nosso planeta, voltavam-se para os espíritos localizados nos astros.

Em estados excepcionais de clarividência, sentiam a influência desses espíritos, de acordo com a posição e a ação combinada das estrelas.

Dessa astrologia nasceu a primeira astronomia, o conhecimento das trajetórias aparentes dos astros, dos eclipses e dos demais fenômenos celestes.

Ainda não era uma ciência matemática e mecânica, onde os movimentos eram determinados pela lei da gravitação, mas sim uma sabedoria captada diretamente pelo conhecimento das forças espirituais dos astros!

Apesar do seu afastamento progressivo dos seres superiores, os homens dessa época sabiam muito bem quais as hierarquias superiores mais diretamente ligadas ao destino do homem.

O supremo Deus Solar reaparece como Osíris e Tamuz, enquanto o conjunto das forças lunares era sentido como que personificado em Isis ou Ishtar. As forças adversas eram representadas por demônios ou deuses como Seth.

Contudo, muitos seres humanos não se podiam elevar à sabedoria suprema; inspirados por divindades inferiores ou anormais (seres luciféricos e arimânicos) dedicavam-se a uma sabedoria degenerada, origem de superstições e cultos selvagens.

Devemos ainda assinalar um fato importante. Na evolução anterior, o eu tinha "ocupado" os três corpos inferiores, e desse lento entrosamento tinham nascido as várias formas de consciência, que se manifestaram exteriormente pelos progressos do ser humano através das várias civilizações.

Sua atitude perante o mundo marca o aparecimento de um novo elemento nessa terceira época pós-atlântica.

Pela primeira vez o homem integrou-se totalmente no mundo físico pelo conjunto dos seus sentidos.

Estes transmitiram-lhe, de maneira direta, o conhecimento do ambiente.

É verdade que o pensamento do ser humano ainda não era conceitual e abstrato, mas apesar disso, o seu eu, em conjunto com os seus sentidos, permitiu-lhe situar-se conscientemente no mundo.

Para isso era imprescindível um novo "órgão", um novo elemento da sua personalidade, e nós vemos de fato desenvolver-se nessa época a "alma da sensação" ou "alma sensível". Esta já existia antes; do contrário o homem não poderia ter tido sentimentos, em consequência das impressões sensoriais, mas só nesta altura ela foi "ocupada" e dominada pelo eu, e participou, de maneira relevante, de sua vida consciente.

A quarta época pós-atlântica, a greco-romana, estende-se aproximadamente de 750 A.C. até 1413 D.C. À primeira vista, pode parecer estranho que toda a Idade Média seja unida à chamada "Antiguidade Clássica", num mesmo período. De fato, essas culturas são bem distintas entre si, mas acharemos a solução ao lembrar que as épocas pós-atlânticas da Antroposofia não são divisões históricas, mas sim períodos dominados por uma identidade de evolução espiritual. Todo esse período é caracterizado pela preponderância do intelecto, do raciocínio, da faculdade de pensar Em termos antroposóficos: o eu "vive" agora na alma do intelecto.

Os celtas e germanos, contemporâneos da civilização greco-romana, não eram, nesse sentido, intelectuais. Apresentavam um outro aspecto, desconhecido até então: a sua mentalidade e suas manifestações eram imbuídas de uma vida emocional harmoniosa, decorrente de um mundo anímico interior rico e equilibrado. Esse aspecto também é uma característica dessa segunda parcela de alma, fazendo jus à sua denominação de "alma do intelecto" ou "alma do sentimento".

A presença dessa alma do intelecto ou alma do sentimento manifesta-se quase que abruptamente em todas as civilizações da época. Não somente na Grécia e em Roma, mas no mundo inteiro, vemos aparecerem pela primeira vez as religiões sistemáticas, a filosofia, a ciência racional etc. Basta lembrarmos Confúcio e Lao-tsé na China, Buda e os Vedanta, na Índia, os grandes profetas do Judaísmo, o Zaratustra histórico na Pérsia, todos contemporâneos dos primeiros pensadores gregos e da eclosão da civilização helênica.

Jubilante, o ser humano conquista o mundo, pelo pensamento, pela ciência, pela organização, pelas artes. Pela primeira vez temos cosmovisões homogêneas e racionais. Platão e Aristóteles criaram a base do raciocínio, das formas políticas, dos métodos científicos e do direito. Seria bom meditar sobre o quanto a nossa vida material e mental repousa em conquistas dos gregos e romanos.

Vemos, pois, o ser humano da Antiguidade lançar-se à conquista deste mundo, deixando atrás de si o conhecimento dos mundos superiores. Os laços com o supra-sensível tornam-se cada vez mais fracos. Podemos até dizer que filosofia e ciência nasceram justamente porque não havia mais suficiente conhecimento da realidade espiritual para que os fenômenos terrenos fizessem sentido.

Mas esses laços, embora completamente esquecidos na vida social comum, não deixavam de ser cultivados em centros isolados, onde alguns homens preparados continuavam mantendo a velha tradição esotérica: eram os chamados "Mistérios", onde os adeptos tinham que passar por uma iniciação que lhes restituísse a comunhão com os mundos superiores. Encontramos em todas as partes do mundo vestígios desses lugares, onde a tradição esotérica era mantida em segredo, longe da sabedoria comum.

Toda essa evolução impetuosa da humanidade era o fruto do impulso provocado pelas forças luciféricas e arimânicas. Foi simbolizado mais tarde pela expressão "expulsão do Paraíso". As influências combinadas dessas entidades e das hierarquias superiores "normais" deram origem à eclosão do homem na plenitude da sua genialidade e à riqueza da sua vida espiritual.

Mas se, nessa altura, a imagem do homem civilizado era ainda brilhante e admirável, o seu lado espiritual estava cheio de presságios sombrios! Com efeito, o ímpeto triunfal das forças luciféricas e arimânicas era tal que, em pouco tempo, a sua atuação teria tido consequências funestas para a vida dos mundos espirituais. Estes se teriam retirado do homem, abandonando-o ao triunfo das forças que iriam dominá-lo definitivamente, empurrando-o num caminho errado, onde o seu eu se tornaria uma caricatura daquilo que deveria ser.

Essa evolução, esse perigo tremendo, eram previstos pelos iniciados, Em Osiris, assassinado por Seth, em Dionísio, despedaçado pelas Mênadas, no "Crepúsculo dos Deuses" dos germanos, na luta entre Ormuzd e Árimã e no Hades lúgubre de Homero, mundo "espiritual" reservado aos mortos, temos imagens desse receio.

Abandonado às influências de Lúcifer e Árimã, o homem não tinha forças suficientes para resistir-lhes. Por isso os mundos espirituais resolveram proporcionar-lhe a ajuda por meio de um ato cósmico de suprema importância.

Sem influir de maneira alguma em sua liberdade e em seu livre arbítrio, esse acontecimento marcante deveria trazer ao seu alcance uma possibilidade de salvação. Um impulso novo deveria permitir-lhe encontrar uma fonte regeneradora das forças cósmicas puras. Estamo-nos referindo ao Mistério do Gólgota, à morte e a ressurreição de Jesus Cristo.

Um ente cósmico estava desde o início designado para compartilhar da formação e da evolução do homem.

Atuava na "criação" do nosso mundo.

Agia na formação do eu, atuando, por assim dizer, por trás e por meio dos Exusiai, que tinham dado ao ser humano o primeiro germe dessa "substância" espiritual do seu eu. Esse ente deixava o homem entregue às influências de Lúcifer e Árimã, a fim de que estes contribuíssem para amadurecê-lo. Mas no momento histórico aludido, diante do perigo de ver frustrada a sua obra, esse ente tinha que intervir. E tinha que intervir na esfera que era o habitat do ser humano, isto é, o mundo físico.

Esse ente - podemos chamá-lo de Eu Cósmico; os gregos chamaram-no de Logos - era, no período proto-persa, o Grande Espírito Solar que apareceu como Ormuzd; ele se escondeu atrás das divindades solares das várias religiões pré-cristãs (Osíris, Baldur, etc.). Os grandes iniciados sabiam do seu caminho descendente das esferas celestes em direção à Terra.

Foi ele que se manifestou a Moisés nos elementos quando, aparecendo no meio da sarça ardente, "Deus" e Moisés tiveram um diálogo de significado cósmico (Exodus, 3:13-14):

"Disse Moisés a Deus [Elohim, no original]: 'Eis que quando eu vier aos Filhos de Israel e lhes disser: O Deus [Elohim, no original] de vossos pais enviou-me a vós, e eles me perguntarem: Qual é o seu nome? Que lhes hei eu de responder?' Disse Deus [Elohim] a Moisés: 'EU SOU O QUE SOU' e acrescentou: 'Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU enviou-me a vós'."

Quem assim falou foi o Eu Cósmico!

Finalmente, esse ente supremo devia levar o seu ser até à matéria terrena, encarnando-se num ser humano. Isso aconteceu quando, no momento do batismo no Jordão, o ser divino (Cristo) entrou num homem (Jesus de Nazaré), permanecendo nele até a morte na cruz.

Não vamos tentar analisar aqui o sentido desse mistério. Basta dizer que a ressurreição significa que a queda do homem no Paraíso, a derrota ante as forças negativas foi superada por esse ato de sacrifício, que a pureza do corpo paradisíaco foi restabelecida no corpo da ressurreição e que a imolação do Ser Crístico significa a entrada, no próprio corpo da Terra, do impulso desse ser. Doravante, pode o homem haurir desse impulso, e procurar realizá-lo através da moralidade dos seus atos. Cristo, que passou a ser o espírito da Terra, depois de ter sido o Espírito Solar, oferece-lhe a possibilidade da sua própria ressurreição, desde que o homem queira aproveitar-se dessa graça.

O ser humano pode, pois, sair da situação atual. Para isso, não deve repudiar Lúcifer e Árimã. Com efeito, estes lhe deram impulsos que nunca deveria renegar. Mas em vez de ser dominado por eles, deve mantê-los em equilíbrio, deixando-se inspirar por eles, mas sempre de acordo com a sua própria decisão.

Torna-se mister manter em equilíbrio os impulsos de Lúcifer e Árimã neutralizando-lhes o ímpeto excessivo. Essa tarefa não cessou com o aparecimento do Cristo na Terra. Ao contrário, os esforços de Lúcifer e Árimã são redobrados na época atual, e nunca antes a humanidade estava de tal maneira ameaçada por um fracasso em sua missão cósmica.

Toda a crise da nossa época pode ser interpretada a partir dessa premissa.

Compreenderemos então não só o drama cósmico que se desenrola ante os nossos olhos, mas também o papel fundamental que cabe a cada um de nós para levá-lo a um desfecho favorável.

Texto de R. Lanz

Fonte:
sociedade antroposófica brasileira

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A Evolução do Ser Humano / Parte II (Antroposofia)




O COMEÇO DA EXISTÊNCIA TERRESTRE

Ao emergir do terceiro pralaya, o nosso sistema solar era uma formação anímico-espiritual homogênea.

Percorridos alguns estados não-físicos da matéria ele apareceu, inicialmente, sob a forma de calor, ao qual mais tarde se juntaram o elemento gasoso e o elemento líquido.

Mas, antes da formação deste último, verificou-se um fato de suma importância: não podendo participar dessa densificação progressiva, seres muito elevados da hierarquia dos espíritos da forma, ou Exusiai, afastaram-se do resto da massa gaseiforme e deram origem a um corpo separado: o Sol atual. Este era, pois, originalmente, a sede espiritual dos Exusiai, e sua "matéria" foi acrescentada mais tarde sem nunca atingir a densidade de nossa Terra.

Os Exusiai, que antes dessa separação tinham atuado de dentro da Terra, passaram a atuar agora apenas de fora. Daí resultaram estados alternados de influência maior ou menor, e que provocaram movimentos rotativos, origem de fenômenos comparáveis ao dia e à noite, e de estados de consciência mais ou menos clara (vigília e sono).

Após a separação, do Sol, o elemento líquido, e mais tarde também o sólido, manifestaram-se pela primeira vez, mas ainda numa forma extremamente fina: Se falarmos a seguir de "endurecimento" progressivo, devemos lembrar-nos de que a "dureza" dos objetos mais densos nem de longe atingia a de um cristal de hoje.

Esse endurecimento, fruto da atuação de outros seres espirituais, ia aumentando até chegar ao perigo muito concreto de que toda a vida se tornasse impossível aos entes humanos e aos outros, que tinham chegado da antiga Lua e que existiam na nova Terra desde o seu início. Diante desse perigo esses entes se retiraram da Terra formando, sob a tutela de espíritos mais elevados, novos corpos celestes: os planetas Marte, Júpiter e Saturno. Ao mesmo tempo, os planetas interiores foram formados por seres solares que não puderam acompanhar a evolução dos seus companheiros no Sol, separando-se deste. Todo o nosso sistema planetário teve, pois, uma origem espiritual.

Quando o perigo de petrificação da Terra estava no seu máximo, ameaçando para sempre a sua futura evolução, os entes divinos que vigiavam todo o desenvolvimento descrito frustraram esse perigo, deslocando os seres petrificadores para fora do próprio corpo da Terra onde formaram um novo corpo à parte: a nossa Lua, a partir da qual passaram a exercer sua influência endurecedora de maneira mais amena.

Os entes (precursores dos homens, etc.) que, ante a impossibilidade de permanecer na Terra, haviam emigrado para os outros planetas, começaram a regressar, pouco a pouco, na medida em que a Terra foi-se tornando novamente mais "mole", após a saída dos seres lunares.

Nessa volta progressiva chegaram primeiro aqueles que, sendo pouco evoluídos, podiam contentar-se com corpos físicos relativamente "duros" foram as plantas inferiores e superiores, seguidas, mais tarde, pelos animais, sempre na ordem do seu grau de desenvolvimento.

Os "homens" aos quais o mundo ainda não oferecia condições de vida adequada, permaneceram nos planetas e fizeram a sua aparição na Terra em último lugar.

Nesse ínterim, o elemento sólido havia se implantado progressivamente; estamos chegando às épocas das quais nos fala a paleontologia.

Convém por em relevo que a evolução, tal como a descreve a Antroposofia, corresponde inteiramente aos achados paleontológicos; camadas puramente minerais, sem vida nas formações mais antigas; traços de vida vegetal e animal nas camadas mais recentes ainda e, finalmente, depois de muitas formas transitórias, o homem.

Foi ele, o homem, pois, o ser que soube esperar mais tempo. Aqueles que voltaram antes não atingiram o estado humano, pois não puderam encarnar-se num corpo individualizado. Destes, os mais evoluídos eram os "Eus de grupo", que emprestaram cada qual sua individualidade a toda uma espécie de animais sobre a qual agiam "de fora" (leões, elefantes, etc.).

Vemos, pois, a interpretação dos fatos segundo a Antroposofia repousar, como a teoria de Darwin, sobre o aparecimento gradativo de formas cada vez mais perfeitas. Mas enquanto o darwinismo postula que o ser mais complicado "descende" de um ser terrestre mais simples, a Antroposofia mostra que, ao contrário, os seres mais avançados existiam desde o início - embora numa forma apenas espiritual - e que os seres mais simples se "encarnaram", aparecendo na Terra antes dos mais evoluídos, porque ela não oferecia ainda, a estes últimos, condições físicas adequadas. A verdadeira corrente evolucionista é a do homem. Todos os demais seres ficaram para trás.

Paralelamente à descida do homem, assistimos a um progresso na sua consciência.

Enquanto o corpo astral era a parte mais alta da entidade humana, vemos agora os primeiros germes do eu nela implantados, num progresso extremamente lento. A "substância" espiritual desses eus era como que uma emanação dos Exusiai, os espíritos solares que podem, portanto, ser considerados como "criadores" do homem, nesta Terra.

O grau de consciência desses eus era muito baixo.

Nem de longe tinham consciência de si próprios.

Viviam, por assim dizer, num estado de sonho onde ainda se sentiam "unos" com seus criadores e com os mundos espirituais, que percebiam mediante uma vivência supra-sensível generalizada.

Era um estado de perfeita harmonia, uma existência "na presença de Deus". Era o Paraíso da nossa Bíblia.

Nas ciências ocultas, dá-se a essa época o nome de "época lemúrica", pois a humanidade vivia principalmente numa região da nossa Terra (que ainda não possuía a sua configuração atual), situada a leste da África e atualmente coberta pelo Oceano Índico: o lendário continente da Lemúria (ou Gondwdnaland).

Esse período lemúrico (ao qual precederam dois outros períodos desde a formação física da Terra) foi muito longo: incluía a separação da Lua a volta progressiva dos seres emigrados e os acontecimentos que passaremos a expor.

Repetindo sua façanha da antiga Lua, um grande grupo de seres espirituais de todas as hierarquias se revoltaram contra a evolução traçada pela Providência (se nos é permitido chamar assim ao plano cósmico inspirado pelas mais altas hierarquias), procurando um desenvolvimento independente caracterizado por uma autonomia mais-ampla.

Essa revolução é conhecida nas várias mitologias e religiões como a "queda dos anjos".

Chamaremos esses seres de luciféricos, de acordo com o nome tradicional do seu inspirador e chefe.

Irradiando a sua influência e a sua sede de autonomia, esses seres luciféricos atingiram também o homem cujo eu ainda pouco desenvolvido foi arrebatado ao ambiente protegido das hierarquias humanas normais.

O ser humano caiu então sob a influência do seu corpo astral repleto de paixões e instintos pouco domados.

Em consequência disso, iniciou-se uma alienação progressiva do homem em relação ao seu ambiente.

Vivera até então na "presença de Deus", isto é, num estado onírico de comunhão com os mundos superiores.

Sob a influência luciférica nasceu-lhe uma consciência mais clara, e os sentidos físicos se lhe abriram na mesma medida em que a vidência superior cessava.

Enquanto até esse momento o seu ser estivera permeado pelas forças harmoniosas dos seres "bons", a separação provocou defeitos cada vez mais graves em toda a sua organização: o eu e o corpo astral tornaram-se fontes de cobiças e maus instintos, o corpo etérico passou a apresentar doenças e fraquezas, e a morte fez sua entrada na Terra, como necessidade de um descanso regenerador.

Do ponto de vista espiritual, o homem adquiriu a capacidade de agir em desacordo com as leis divinas, isto é, de pecar.

Na verdade, ele passou ao mesmo tempo a ser um ente responsável e moral, pois somente quem tem a possibilidade de pecar tem o mérito de não pecar.

No Paraíso, o homem era perfeito; mas era um ser sem autonomia, um autômato, sem qualquer mérito pela perfeição.

Afastado da sua origem divina, ele tornou-se exposto a todas as fraquezas, aos defeitos e ao pecado.

Mas em compensarão libertou-se dos velhos laços tornando-se dono das suas decisões, e adquirindo o livre arbítrio e a plena consciência de si; e com isso, a verdadeira dignidade humana, ou pelo menos a esperança de possuí-la um dia!

A evolução até agora esboçada estendeu-se naturalmente por muitos milênios.

Estamos ainda em meio a esse processo, que é o drama central da humanidade.

A imagem da queda do homem, do seu pecado original e da expulsão do paraíso, encontrou a sua expressão mais condigna nas frases lapidares do Velho Testamento (Gênesis, 2, 16 e ss.):

"Ordenou Deus Jeová ao homem: De toda árvore do jardim podes comer livremente, mas da árvore do conhecimento do Bem e do Mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás".
- Sobrevém o "diabo", a serpente, isto é, o anjo caído (Gên. 3, A e ss.):
"Então a serpente disse à mulher:
Certamente não morrereis, porque Deus sabe que no dia em que comerdes do fruto, abrir-se-vos-ão os olhos, e sereis como Deus, conhecendo o Bem e o Mal".

E os homens sucumbiram a essa influência, com o resultado seguinte (Gênesis 3, 7):
"Foram abertos os olhos de ambos, e conhecendo que estavam nus, coseram folhas de figueira . . ."

Que imagem grandiosa para dizer que os sentidos físicos iam despertando e que os homens se tornavam conscientes de si, experimentando o sentimento de pudor!

E foram expulsos do Paraíso.

As imagens do Paraíso, da tentação, do pecado e da expulsão, encontramo-las em muitíssimos mitos e religiões; prova insofismável de que se trata de uma tradição arquétipa de toda a humanidade.

A tentação luciférica abriu caminho para um outro grupo de seres negativos, os chamados "espíritos arimânicos", dos quais falaremos mais tarde.

A sua influência nefasta se fez sentir em épocas posteriores, com o intuito de velar ao homem o conhecimento da sua verdadeira natureza espiritual.

Os seres arimânicos trouxeram o erro, a mentira, a morte e o isolamento, cada vez maior do homem em relação às suas origens divinas.

Seria ingênuo chamar as forças luciféricas e arimânicas de "más", e as outras de "boas", simplificando por demais a sua classificação.

Na realidade, sem a tentação e sem o pecado original, o homem não teria atingido seu pleno desenvolvimento.

Os seres "negativos" o afastaram do caminho original e o atraíram egoisticamente para as suas esferas.

Mas com isso fizeram nascer nele a consciência de si, o intelecto, o amor pela Terra e o livre arbítrio; tudo isso são qualidades sem as quais não podemos falar em homem, nem em dignidade humana.

Como consequência de sua queda, o homem pôde utilizar certas forças que dominava, graças ao seu antigo entrosamento nos mundos espirituais (podemos chamar essas forças de mágicas), em completo desacordo com esses mundos. Tais abusos, ditados pelo triunfo da sua astralidade ainda caótica e mal-intencionada, provocaram o fim da Lemúria; o continente desapareceu em meio a grandes catástrofes de fogo, resultado direto dos excessos mágicos dos homens lemúricos.

Um novo centro de vida humana formou-se, então, na Atlântida, velho continente, a oeste da Europa, do qual nos falaram Platão e outros autores antigos.

Apesar da expulsão do paraíso, os homens atlânticos ainda possuíam contatos muito mais íntimos com os mundos superiores, do que nós.

Sentindo em particular uma certa ligação com os planetas dos quais originalmente provieram, formaram centros de inspiração onde restabeleceram o contato com os entes inspiradores desses planetas.

Esses lugares, os chamados oráculos, eram verdadeiros centros iniciáticos onde os mais avançados entre os homens recebiam as suas inspirações.

Esses guias transmitiam as instruções dos deuses aos outros homens. Eram os chefes dos vários grupos sociais.

Na Atlântida formaram-se pouco a pouco as raças primitivas e as línguas, estas a partir de uma proto-língua única.

Devemos imaginar os homens atlânticos como ainda bem diferente de nós. Somente no fim da época atlântida, o seu aspecto exterior, tornou-se igual ao nosso.

Os seres humanos tinham ainda muitos poderes que seriam considerados hoje como supra-naturais. Podiam, por exemplo, modificar a sua forma e tamanho, de acordo com os sentimentos que os animavam.

Em comparação com o ser humano de hoje, sua consciência era muito mais nebulosa; sua inteligência, no sentido atual da palavra, era rudimentar.

Mas a evolução se fazia no sentido de um despertar cada vez maior do intelecto.

Vemos em muitas imagens de epopéias clássicas a vitória do homem fisicamente frágil, porém mais inteligente, sobre um adversário que representava as forças mágicas nebulosas e indisciplinadas do passado, como as histórias de Davi e Golias e de Ulisses e Polifemo. Os gigantes e dragões dos antigos mitos e fábulas ainda nos lembram aspectos de seres dessa espécie, transformados em imagens simbólicas.

Como na velha Lemúria, ocorreram na Atlântida abusos de forças mágicas, inicialmente reservadas aos iniciados dos oráculos.

Esses abusos produziram uma série de catástrofes aquáticas, que puseram fim à Altantida; ela afundou, deixando em seu lugar o oceano que traz seu nome.

Antes e depois dessa catástrofe, houve grandes migrações de grupos humanos, que se foram fixar nos vários pontos da Terra, formando as raças históricas.

Houve tais migrações com destino à América, à África, à Ásia oriental.

Os homens mais evoluídos emigraram em último lugar para a Ásia Central, sob a condução de um grande iniciado chamado Manu.

Esse nome está relacionado com o de Noé (Noah) da Bíblia, e, de fato, ambos são a mesma individualidade. Encontramos ainda a mesma raiz fonética em Manitu (grande espírito dos índios norte-americanos), no Manas dos hindus e no Maná (alimento dos israelitas após a fuga do Egito), e também em Menes e Minos, fundadores lendários das civilizações do Egito e de Creta, respectivamente.

Também a história do Dilúvio (pois o fim da Atlântida corresponde ao Dilúvio) faz parte de muitas religiões; coincide com as últimas épocas glaciais, e leva-nos quase ao limiar dos tempos históricos que se desenrolam no chamado período pós-atlântico.
Texto de R. Lanz

Fonte:
sociedade antroposófica brasileira