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domingo, 1 de junho de 2025

É melhor ser alegre que ser triste... Samba da Bênção


 




SAMBA DA BÊNÇÃO


É melhor ser alegre que ser triste

Alegria é a melhor coisa que existe

É assim como a luz no coração


Mas pra fazer um samba com beleza

É preciso um bocado de tristeza

É preciso um bocado de tristeza

Senão, não se faz um samba não


Senão é como amar uma mulher só linda

E daí? Uma mulher tem que ter

Qualquer coisa além de beleza

Qualquer coisa de triste

Qualquer coisa que chora

Qualquer coisa que sente saudade


Um molejo de amor machucado

Uma beleza que vem da tristeza

De se saber mulher

Feita apenas para amar

Para sofrer pelo seu amor

E pra ser só perdão


Fazer samba não é contar piada

E quem faz samba assim não é de nada

O bom samba é uma forma de oração


Porque o samba é a tristeza que balança

E a tristeza tem sempre uma esperança

A tristeza tem sempre uma esperança

De um dia não ser mais triste não


Feito essa gente que anda por aí

Brincando com a vida

Cuidado, companheiro!

A vida é pra valer

E não se engane não, tem uma só

Duas mesmo que é bom


Ninguém vai me dizer que tem

Sem provar muito bem provado

Com certidão passada em cartório do céu

E assinado embaixo: Deus

E com firma reconhecida!


A vida não é de brincadeira, amigo

A vida é arte do encontro

Embora haja tanto desencontro pela vida

Há sempre uma mulher à sua espera

Com os olhos cheios de carinho

E as mãos cheias de perdão

Ponha um pouco de amor na sua vida

Como no seu samba


Ponha um pouco de amor numa cadência

E vai ver que ninguém no mundo vence

A beleza que tem um samba, não


Porque o samba nasceu lá na Bahia

E se hoje ele é branco na poesia

Se hoje ele é branco na poesia

Ele é negro demais no coração


Eu, por exemplo, o capitão do mato

Vinicius de Moraes

Poeta e diplomata

O branco mais preto do Brasil

Na linha direta de Xangô, saravá!


A bênção, Senhora

A maior ialorixá da Bahia

Terra de Caymmi e João Gilberto

A bênção, Pixinguinha

Tu que choraste na flauta

Todas as minhas mágoas de amor


A bênção, Sinhô, a benção, Cartola

A bênção, Ismael Silva

Sua bênção, Heitor dos Prazeres

A bênção, Nelson Cavaquinho

A bênção, Geraldo Pereira

A bênção, meu bom Cyro Monteiro

Você, sobrinho de Nonô


A bênção, Noel, sua bênção, Ary

A bênção, todos os grandes

Sambistas do Brasil

Branco, preto, mulato

Lindo como a pele macia de Oxum


A bênção, maestro Antonio Carlos Jobim

Parceiro e amigo querido

Que já viajaste tantas canções comigo

E ainda há tantas por viajar

A bênção, Carlinhos Lyra

Parceiro cem por cento


Você que une a ação ao sentimento

E ao pensamento

A bênção, a bênção, Baden Powell

Amigo novo, parceiro novo

Que fizeste este samba comigo

A bênção, amigo


A bênção, maestro Moacir Santos

Não és um só, és tantos como

O meu Brasil de todos os santos

Inclusive meu São Sebastião

Saravá! A bênção, que eu vou partir

Eu vou ter que dizer adeus


Ponha um pouco de amor numa cadência

E vai ver que ninguém no mundo vence

A beleza que tem um samba, não


Porque o samba nasceu lá na Bahia

E se hoje ele é branco na poesia

Se hoje ele é branco na poesia

Ele é negro demais no coração



Composição: Baden Powell / Vinícius de Moraes



segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Tomara.... Vinícius de Moraes






Tomara

Que a tristeza te convença
Que a saudade não compensa
E que a ausência não dá paz
E o verdadeiro amor de quem se ama
Tece a mesma antiga trama
Que não se desfaz

E a coisa mais divina
Que há no mundo
É viver cada segundo
Como nunca mais.

Vinicius de Moraes

sexta-feira, 1 de abril de 2016

Poema Pátria Minha de Vinicius de Moraes






A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu…

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda…
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha… A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão…
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes.”


segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Poema de Natal





"Natal...
Somos Nós! 

Somos o Natal
quando decidimos nascer de novo, 
a cada dia, nos transformando. 

Somos o pinheiro de natal 
quando resistimos vigorosamente 
aos tropeços da caminhada. 

Somos os enfeites de natal 
quando nossas virtudes, 
nossos atos, 
são cores que adornam. 

Somos os sinos do natal 
quando chamamos, 
congregamos 
e procuramos unir. 

Somos luzes do natal 
quando simplificamos 
e damos soluções. 

Somos presépios do natal 
quando somos humildes 
para enriquecer a todos. 

Somos os anjos do natal 
quando cantamos ao mundo 
o amor e a alegria. 

Somos os pastores de natal 
quando enchemos nossos corações 
vazios com Aquele que tudo tem. 

Somos estrelas do natal 
quando conduzimos alguém ao Senhor. 

Somos os Reis Magos 
quando damos o que temos de melhor, 
não importando a quem. 

Somos as velas do natal 
quando distribuímos harmonia 
por onde passamos. 

Somos Papai Noel 
quando criamos lindos sonhos 
nas mentes infantis. 

Somos os presentes de natal 
quando somos verdadeiros amigos para todos. 

Somos cartões de natal 
quando a bondade está escrita em nossas mãos. 

Somos as missas do natal 
quando nos tomamos louvor, 
oferenda e comunhão. 

Somos as ceias do natal 
quando saciamos de pão, 
de esperança, 
qualquer pessoa do nosso lado. 

Somos as festas de natal 
quando nos despimos do luto 
e vestimos a gala. 

Somos sim, 
a Noite Feliz do Natal, 
quando conscientemente, 
mesmo sem símbolos e aparatos, 
sorrimos com confiança e ternura 
na contemplação interior 
com o espírito de Natal
durante todos os dias do Ano Novo  
que estabelece seu Reino em nós. 

Obrigado Jesus! 
Por vossa luz!
Feliz Natal, Amigo!"

Autor Desconhecido

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

100 Anos Vinícius de Moraes






Soneto de Fidelidade


Vinicius de Moraes


De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.