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quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A Respiração / Eckhart Tolle


Podemos descobrir o espaço interior criando lacunas no fluxo de pensamentos. Sem elas, o pensamento se torna repetitivo, desprovido de inspiração, sem nenhuma centelha criativa - e é assim que ele é para a maioria das pessoas. Não precisamos nos preocupar com a duração dessas lacunas. Alguns segundos bastam. 

Aos poucos, elas irão aumentar por si mesmas, sem nenhum esforço de nossa parte. Mais importante do que fazer com que sejam longas é criá-las com frequência para que nossas atividades diárias e nosso fluxo de pensamento sejam entremeados por espaços. 

Certa ocasião alguém me mostrou a programação anual de uma grande organização espiritual. Quando a examinei, fiquei impressionado pela rica seleção de seminários e palestras interessantes. A pessoa me perguntou se eu poderia recomendar uma ou duas atividades. 

"Não sei, não. Todas elas me parecem muito interessantes. Mas eu conheço esta: tome consciência da sua respiração sempre que puder, toda vez que se lembrar. Faça isso durante um ano e terá uma experiência transformadora bem mais forte do que a participação em qualquer uma dessas atividades. E é de graça." 

Tomar consciência da respiração faz com que a atenção se afaste do pensamento e produz espaço. É uma maneira de gerar consciência. 

Embora a plenitude da consciência já esteja presente como o não-manifestado, estamos aqui para levar a consciência a essa dimensão. 

Tome consciência da sua respiração. Observe a sensação do ato de respirar. Sinta o movimento de entrada e saída do ar ocorrendo em seu corpo. Veja como o peito e o abdômen se expande e se contrai ligeiramente quando você inspira e expira. 

Basta uma respiração consciente para produzir espaço onde antes havia a sucessão ininterrupta de pensamentos. Uma respiração consciente (duas ou três seria ainda melhor) feita muitas vezes ao dia é uma maneira excelente de criar espaços em sua vida. 

Mesmo que você medite sobre sua respiração por duas horas ou mais, o que é uma prática adotada por algumas pessoas, uma respiração basta para deixá-lo consciente. O resto são lembranças ou expectativas, isto é, pensamentos. 

Na verdade, respirar não é algo que façamos, mas algo que testemunhamos. A respiração acontece por si mesma. Ela é produzida pela inteligência inerente ao corpo. 

Portanto, basta observá-la. Essa atividade não envolve nem tensão nem esforço. Além disso, note a breve suspensão do fôlego - sobretudo no ponto de parada no fim da expiração - antes de começar a inspirar de novo. 

Muitas pessoas têm a respiração curta, o que não é natural. Quanto mais tomamos consciência da respiração, mais sua profundidade se estabelece sozinha. 

Como a respiração não tem forma própria, ela tem sido equiparada ao espírito - a Vida sem uma forma específica - desde tempos ancestrais. 

"O Senhor Deus formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida; e o homem se tornou um ser vivente." 

A palavra alemã para respiração - atmen - tem origem no termo sânscrito atman, que significa o espírito divino que nos habita, ou o Deus interior. 

O fato de a respiração não ter forma é uma das razões pelas quais a consciência da respiração é uma maneira eficaz de criar espaços na nossa vida, de produzir consciência. Ela é um excelente objeto de meditação justamente porque não é um objeto, não tem contorno nem forma. 

O outro motivo é que a respiração é um dos mais sutis e aparentemente insignificantes fenômenos, a "menor coisa", que, segundo Nietzsche, constitui a "melhor felicidade". Cabe a você decidir se vai ou não praticar a consciência da respiração como verdadeira meditação formal. 

No entanto, a meditação formal não substitui o empenho em criar a consciência do espaço na sua vida cotidiana. 

Ao tomarmos consciência da respiração, nos vemos forçados a nos concentrar no momento presente - o segredo de toda a transformação interior, espiritual. 

Sempre que nos tornamos conscientes da respiração, estamos absolutamente no presente. Percebemos também que não conseguimos pensar e nos manter conscientes da respiração ao mesmo tempo. 

 A respiração consciente suspende a atividade mental. No entanto, longe de estarmos em transe ou semi-despertos, permanecemos acordados e alerta. Não ficamos abaixo do nível do pensamento, e sim acima dele. 

E, se observarmos com mais atenção, veremos que essas duas coisas - nosso pleno estado de presença e a interrupção do pensamento sem a perda da consciência - são, na verdade a mesma coisa: o surgimento da consciência do espaço. 

Livro O Despertar de uma Nova Consciência de Eckhart Tolle 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Poema Teus Olhos


A poesia dos teus olhos
é a poesia mais linda...
e mais colorida.

Tem métrica, tem rima,
tem a sonoridade da música
mais suave da vida.

Teus olhos encantam e vibram
como início de sonho.
Teus olhos dizem doçura,
um mel mais do que doce,...
e mais perfumado.

A poesia que brilha em teus olhos
tem luzes intensas,
é alegria espargindo sorrisos,...
coloridamente felizes.

Teus olhos encantam,
teus olhos seduzem,
teus olhos fascinam.
São dádivas do Amor!

Wanderlino Arruda

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Os 9 Setênios (Antroposofia)







Primeiro Setênio – 0 a 7 anos

É na primeira infância, mais precisamente durante os primeiros 7 anos, que as forças da individualidade estão localizadas na cabeça, e a tarefa neste período, é crescer, desenvolver os órgãos físicos que estão sendo formados, independizar o pólo superior do corpo, do pensar.

Com o nascimento, tem início o trabalho da individualidade, daquele ser cósmico que começará uma vida terrestre de transformação do invólucro corpóreo recebido dos pais, apto às suas necessidades. Portanto, neste período, a individualidade se ocupará em se apropriar do corpo herdado, moldando-o e reestruturando-o conforme suas peculiaridades interiores.

A criança, por assim dizer, reforma, refina seu instrumento físico, que é a corporalidade. Essa transmutação significa, aos poucos, eliminação das substâncias herdadas, desde as células mais microscópicas, que se tornam cada vez mais individualizadas, até os dentes, que são as mais duras do corpo, quando no final dessa etapa, a criança perde a dentição de leite, substituindo-a pela permanente, que é aquela que construiu a partir de sua interioridade.

Olhando, para os nossos sentidos, que, com exceção do tato que permeia todo o corpo, estão localizados na cabeça, podemos ter uma idéia dos aspectos que devem ser cuidados neste período inicial, para que a criança possa gostar de estar na Terra, dentro de seu próprio corpo.

Assim, para a construção do corpo físico de forma equilibrada, a criança deveria ter vivências permeadas por situações e circunstâncias que a levassem a perceber que o mundo é bom.

À essa criança, deveriam ser providas oportunidades de movimento livre no espaço, na medida em que vai se apropriando dele ao longo de seu desenvolvimento, desde possibilitar o engatinhar quando é bebê, até trepar em árvores e correr no campo quando é maior.

É por experimentação que a criança aprende, por tentativa e erro, e pelo princípio da imitação. O que não queremos que ela faça, não deveríamos também fazer, pois ela seguramente imitará gestos, fala, atitude dos adultos ao seu redor.

Rapidamente as faculdades humanas vão sendo adquiridas, quando, aos 3 anos a criança já conquistou o espaço físico com o andar, o espaço social com o falar, e o espaço espiritual, com o pensar.

Em síntese, neste primeiro setênio os princípios são :

· imitação

· bondade

· órgãos dos sentidos

· desenvolvimento do pensar

· processo de individuação física


Segundo Setênio – 7 a 14 anos

Ao final do processo anterior, do 1o. setênio, as forças que estavam na cabeça se libertam e migram para a região do meio do corpo.

A criança vai acordando de cima para baixo, na direção da cabeça aos pés, e, nesta fase agora, coração e pulmão são os órgãos que ancoram o processo respiratório com o mundo.

O elemento do movimento de interiorização e exteriorização pauta a dinâmica desses órgãos e a relação da criança com o mundo.

Ela já não é mais um grande A, aberta para o mundo que a impregna, mas agora já possui uma interioridade maior e necessita de um elo de ligação entre o mundo de fora e o seu, interno.

O papel do adulto, pais e professores, tem uma grande influência neste período, pois é através dele, da autoridade que ela necessita e que eles possuem, que a criança receberá a imagem do mundo.

Portanto, os valores e ideais que o adulto possui pode beneficiar ou prejudicar a formação e visão do mundo infantil.

Se a autoridade é excessiva pode gerar uma maior inspiração do que expiração, desequilibrando o ritmo, e isso pode levar desde a uma timidez no futuro, à introversão, ou quadros somáticos de asma, etc.

Se, por outro lado, há falta de autoridade, se ela é insuficiente para o estabelecimento de normas tão essenciais neste período, a expiração maior pode conduzir à extroversão exagerada, que leva a criança a desconhecer seu limite e o do outro, até quadros mais histéricos, de dissolução da identidade.

Esses elementos precisam estar em harmonia para nos sentirmos bem e, se na fase correspondente à esses acontecimentos isto não ocorreu, é introduzindo o ritmo na vida do presente que se resgata o equilíbrio.

Assim como as normas, os hábitos estão sendo absorvidos, e portanto, a dosagem entre uma educação muito rígida ou muito liberal, deveria ser observada, pois tanto a imposição quanto a ausência de valores pode impedir um desenvolvimento sadio.

Nesta fase, onde o sentir está sendo tecido, a fantasia é muito importante, e daí a qualidade de imagens que a criança pode entrar em contato é fundamental; situações onde ela pode criar, como ouvindo estórias infantis, contos de fadas, ou mesmo brincar com brinquedos que promovam a sua participação, é muito diferente daquelas onde, por exemplo, ela é mera expectadora, como no caso da televisão, ou de jogos e brincadeiras que não estimulem a sua criação, com brinquedos prontos, acabados, sintéticos.

Arte e religião são também fundamentais para a alma da criança que anseia por veneração. Assim, tanto o mundo artístico quanto o religioso são ricos em possibilidades para fazer fluir a alma infantil para o mundo. Como há uma busca natural pela beleza e pela fé, vivências do belo são fundamentais para um respirar com o mundo, assim como o desejo pela ligação com uma qualidade superior, elevada e espiritualizada consigo mesmo e com a vida.

É então que, no meio desta fase, o sentimento de diferenciação, por assim dizer, se estabelece fortemente, e a criança percebe com verdadeiro sentimento e uma espécie de dor, que existem diferenças: de educação entre si e os irmãos, diferenças de tratamento entre as pessoas, de raça, religião, cultura, enfim, situações onde ela se dá conta de que o mundo não é igual para todo mundo, que a lei não é a mesma para todos.

É, na verdade, um profundo despertar do sentimento próprio.


Terceiro Setênio – 14 a 21 anos

Seguindo o sentido descendente das forças que do Cosmo vão se encarnando na Terra, neste período elas chegam aos membros; passaram da cabeça ao peito, e agora acordam e se localizam nos membros, no sistema metabólico motor.

Se observamos a postura da criança pequena, percebemos que ela anda meio que suspensa, pendurada; depois, um pouco maior, ela pula, e na adolescência, se arrasta, e neste caminho da humanização, aos poucos conquista a postura ereta.

Então, da mesma forma que o princípio da imitação regia a criança de 0 a 7 anos, o princípio da autoridade de 7 a 14 anos, agora o princípio da liberdade é o regente.

O processo de metamorfose do ser humano o leva agora a necessitar do aprendizado através da liberdade, onde vivências da verdade são fundamentais – assim como a vivência do bom no 1o.  setênio, e do belo no 2o. setênio.

A sociedade agora desempenhará um papel mais preponderante, assim como no passado o foram a família e a escola. É sempre uma ampliação da atuação de elementos, e não uma exclusão daqueles que já foram prioritários.

O jovem necessita de um espaço libertador externo e interno, pois nesta fase, vivenciará uma grande tensão, uma luta entre as forças cósmicas e terrestres, onde no palco está em jogo a sua identidade. É natural que, na busca de si mesmo, ele rompa com os esquemas vigentes em casa, na escola e na sociedade, e a forma, nesta época, é através de crítica, em movimentos abruptos e acusativos, sendo muito pouco provável um processo harmonioso.

O adolescente vivencia o âmago de seu ser, e o impulso da vontade, da ação é que vigora - por as coisas para fora é a palavra de ordem. Espinhas e desejos saem em borbotões, ele quer dar a sua opinião em tudo, modificar o mundo, reformar a família, os hábitos e costumes vigentes.

É uma força interior que quer se expandir no mundo, e a maneira de lidar com ela é através do diálogo, do encontro, da troca de opiniões, onde o jovem pode expor seus pensamentos e sentimentos, assim como ouvir seu ressoar no mundo.

No centro da luta entre estas forças, o adolescente vivencia duas polaridades intrigantes: o desejo por um mundo ideal, que corresponda ao que ele enxerga de mais puro na imagem do ser humano, e o desejo pelas coisas mais terrestres, que atuam de forma incisiva sobre sua sexualidade pelos prazeres terrenos, os prazeres da carne.

Ele busca no mundo representações desta vivência ideal e mundana ao mesmo tempo, ele tem sede espiritual e física.

E assim, fica então vulnerável a todas as espécies de filosofias, na esperança de encontrar aquela que corresponda à sua realidade interna – é nesse período que precisa romper com as crenças familiares, ou, pelo menos, questionar as existentes; se os pais são católicos, ele buscará o espiritismo, protestantismo, budismo, e vice-versa, do mesmo jeito que fará com a comida, com a roupa, com a postura, com os gestos.

As drogas representam, nesta época, uma possibilidade de encontro com este mundo idealizado, ou fuga da angústia de não poder encontrá-lo. É importante que saibamos que é uma fase extremamente difícil, onde o adolescente precisa negar e se opor, para que, a partir da percepção do que não é, encontrar-se a si mesmo. Não sabe que ao longo de toda a sua vida buscará, de formas diferentes, a mesma coisa, e que as pessoas que o cercam, e que percebe como sendo tão prontas e acabadas, vivem o mesmo conflito.

O 'nó lunar' aos 18 ½ anos, quando o sol e a lua se encontram na mesma configuração do nascimento, propicia uma abertura, uma ligação cósmico terrestre, que nos dispõe a vislumbrarmos o real sentido de nosso destino.

É a partir desta idade que começamos a ter um pensamento mais autônomo, ainda que, nesta época, acreditemos estar amadurecidos para efetuar julgamentos.

Há também o questionamento profissional, quando o jovem se pergunta sobre seu caminho e escolhas.

A opção entre o que lhe foi imposto e o que quer, cria rupturas. Buscar a si mesmo e descobrir o que é seu, o que é do outro, o que pode ser compartilhado, propicia ao jovem conhecer novas paragens e alargar seu horizonte antes de completar a idéia e impressão sobre si mesmo, que aos 21 anos se realizará com mais firmeza.


Quarto Setênio – 21 a 28 anos

Retomando a idéia do homem como cidadão de dois mundos, o celeste e o terrestre, e a vida como uma conversa, um encontro destas duas forças, chega-se aos 21 anos de vida com o fim da fase do crescimento corporal, e princípio da auto-educação.

Aqui, de uma forma geral, as forças completaram e estiveram a serviço do desenvolvimento físico, e o homem emancipa-se de uma educação herdada; ele chega nesta idade com um patrimônio: um corpo adulto e uma estória pessoal, familiar, escolar.

Aos 21 anos, a entidade psíquica individual, o “Eu” começa realmente a se formar. Uma parte supra-sensível do ser humano, mais exterior, é desperta, acordada, e é aquela que está em contato com o mundo exterior – e por isso mesmo, muito mais impressionável por ele.

O ser humano, nesta fase, depende muito da aprovação de fora, e funciona em altos e baixos, deixando-se influenciar pelo externo, e a luta é não se deixar impregnar demasiadamente, paralisar ou impedir-se de viver emoções - neste período a vida está para isto. São momentos fortes, onde temos que pesar e refletir sobre o que herdamos, olhar para o que ganhamos e o que temos, e avaliar deste patamar o que serve aos nossos propósitos de vida, o que devemos incrementar e do que podemos abrir mão – valores que nos serviam até então, mas que a partir de agora podem impedir nossa própria evolução, assim como uma roupa fora de moda, que não combina ou não cabe mais.

Em olhando o que recebemos, devemos avaliar o que pode e o que deve ser mudado em favor do nosso próprio caminhar.

Temos que ter a flexibilidade e habilidade para nos despojarmos daquilo que não nos identificamos mais, da mesma forma como temos que nos reconciliar com o que não dá muito para mudar, por exemplo, com a constituição física. Na verdade, esse é o começo de um processo que vamos depurar a vida inteira.

Com o “EU” mais livre do trabalho no corpo físico, e agora ocupado com a constituição da alma, temos então maior distanciamento daquele, e por isso podemos vê-lo deste novo ângulo.

Portanto, concretamente nesta fase, podemos estar:

-procurando emprego

-terminando a faculdade

-namorando /noivando /casando

-iniciando nova constituição familiar

-tendo filhos

-estabelecendo as bases para a sobrevivência financeira


Quinto Setênio – 28 a 35 anos

A fase do 5o. setênio começa com uma das grandes crises na vida, por volta dos 28 anos, onde somos reivindicados a uma emancipação da imagem que até então tínhamos de nós mesmos, da nossa própria vida, dos nossos talentos, enfim, da nossa identidade.

A sensação anterior de ser dono do mundo sofre um abalo e o que toma o seu lugar, é uma sensação de angústia, de vazio, de desconhecimento de si mesmo, e insatisfação. Sentimo-nos impotentes nesta passagem da juventude para a maturidade, de um viver mais impulsivo para um viver mais sério, responsável.

Temos a sensação de que nada que aprendemos ou fizemos, tem muito mais valor, sentimo-nos incapazes de termos idéias, e começamos a viver ao nível da alma um tipo de espelhamento, o mesmo sofrimento vivido no corpo físico enquanto adolescentes até 14 anos.

Vivemos intensamente a influência dos ritmos cósmicos, que na verdade, buscam conectar-nos e alinhar-nos com nossa real intenção pré-natal.

Temos então o 30o ano, que coincide com a passagem das forças de Saturno e nos cobra estrutura, bases, pilares, e no corpo, corresponde aos nossos ossos, o que há de mais duro no organismo humano.

Temos, logo após, o 31 ½ ano, que corresponde à metade do 63o. ano de vida, marca final das atuações planetárias e zodiacais. Depois dessa idade, ficamos mais livres.

E para completar, o 33o. ano, que pontua o máximo de encarnação do homem na Terra, e ano da morte de Cristo. Sentimos o sofrimento da densidade, do espírito aprisionado na matéria, da via crucis.

Em verdade, a vivência desse período é sentida como uma morte e, realmente, para podermos nos individualizar e tornarmo-nos autônomos, precisam morrer valores que não mais correspondam ao “EU” verdadeiro, para que o ego dê lugar à esta individualidade, esteja a seu serviço, evolua, se integre a ela.

O sentimento de ressurreição ocorre quando, passando pelas provações, percebemo-nos mais inteiros e vivendo de acordo com um código de leis mais próprio, uma renovação moral a partir de uma maior interiorização, uma libertação do velho e disposição para o novo.

Portanto, concretamente nesta fase podemos estar:

-tendo crises no casamento, fazendo separações ou novas uniões.

-tendo rupturas no trabalho ou vendo-o sob novas perspectivas

-buscando o isolamento

-trocando o círculo da amizades


Sexto Setênio – 35 a 42 anos

· Relação com a Essência no mundo / No outro / Em si

· Mais capacidade de julgamento

· Desgaste físico x Maturidade Psíquica

· Conquista de mundo material

· O desafio é encontrar valores espirituais

· A pergunta é: como é que encontro o caminho para a essência do mundo e para a minha própria essência?

Chegamos aos 35 anos e entramos na formação da alma da consciência, última fase do desenvolvimento da alma propriamente dita, onde o Eu adentra mais profundamente na corporalidade supra-sensível. E nesse sucessivo despertar da alma, sentímo-nos levados a uma busca ao essencial no mundo, no outro, em nós mesmos.

O mundo material teve já suas conquistas, construímos uma carreira, relações, família e, de repente, atentamos para a importância do mais recôndito nos seres ao nosso redor, no sentido do que fizemos, nas leis que regem o mundo.

A vida exige que demos um passo do anímico ao espiritual, e, como as forças atuam no pólo superior do corpo, sentimos que conseguimos ver mais verdadeiramente do que até então, a real natureza das coisas.

A capacidade de julgamento aumenta e se torna mais livre dos invólucros superficiais, que a visão das fases anteriores possuía.

Vivencia-se um novo nascimento, precedido pela morte e o vazio dos velhos princípios. Reinicia um período de percepção dos limites e aceitação de si mesmo. Nos tornamos mais disponíveis para o mundo, porque deixamos gradativamente de nos ocupar conosco mesmos. É o desabrochar do desenvolvimento espiritual que chega quando o homem vai chegando aos 40 anos e ele se questiona se há ainda algo de novo que possa ser vivido. Começa a se perguntar sobre sua missão na vida. Sente aos poucos que algo está por vir, e acontece um verdadeiro renascimento, quando se julgava tudo pronto e definido.

A aceitação do desgaste físico, e a busca de um ritmo adequado se faz necessário para que a consciência se amplie em todas as direções.

A relação com a vida é mais intensa, lapidada e autêntica, e é grande a possibilidade de vivência como ser espiritual, de se reconhecer como entidade espiritual incorporada.


Sétimo Setênio – 42 a 49 anos

Como um novo recomeço, a entrada nesta fase traz a vivência interna de que algo novo necessariamente há de vir.

Percebe-se que, como está, não dá para ficar ou continuar, e que a vida dá sinais de grande mudanças, as pessoas sentem algo de novo em si.

O princípio desta fase coincide com o final do período mais quente e ensolarado da vida, a saber, os últimos 20 anos; os próximos setênios correspondem ao desenvolvimento da natureza espiritual do homem, assim como o período anterior ao desenvolvimento da alma, e o primeiro, ao desenvolvimento físico.

A entrada nos 40 traz, quase que inevitavelmente, uma crise existencial, e como é uma fase que espelha fisiologicamente os 14 – 21 anos, vários fatores da adolescência influenciam nesta época. Eclode uma necessidade de rejuvenescimento que pode tomar as mais variadas formas na mulher e no homem.

A desvitalização do corpo físico gera medos reais do envelhecimento e da morte. As mulheres, próximas da menopausa, percebem que o corpo não é mais rijo como antes, que o rosto fica enrugado de um jeito difícil de dissimular, e então as plásticas imperam. Os homens sentem que as pernas afinaram, que a barriga cresceu muito, e então o cooper e as academias de ginástica e musculação desempenham seu papel.

A preocupação com a perda da beleza física e da sexualidade existe, podemos cuidar de manter o corpo bonito e sadio porque é ele o instrumento espiritual na Terra, mas os artifícios para a manutenção física não deveriam impedir ou tomar o lugar da beleza interior.

As forças desprendidas dos órgãos sexuais e da reprodução podem ser metamorfoseadas em criatividade, o elemento central dessa fase, imagens criadoras, renovadoras.

Além dos artifícios para a manutenção do corpo físico, existem também os artifícios que emergem como saída para a manutenção da vida emocional, que são o álcool e a cocaína.

Com a sensação de perda de força e de morte, o ser humano, nesta etapa da vida, pode ter muitas depressões e se apegar ao que é velho e conhecido no trabalho, nas relações familiares e pessoais, numa tentativa de manter intacto o que já têm.

As mudanças que a vida pede, geram muitas inseguranças que impedem o indivíduo de abrir mão do que é velho, como valores, preconceitos, papéis, e ir de encontro ao renascimento que o espera.
É com muita dificuldade e sofrimento que esta etapa é transposta para conseguirmos vislumbrar os frutos que possuímos para doar.

A resistência a mudanças impede o indivíduo de desenvolver talentos que ficaram para traz, tesouros que ficaram escondidos, e reativá-los.

E para complicar a falta e os excessos desta fase, há a questão do sósia, da sombra, daquilo que encarna no parceiro, no patrão, nos filhos, enfim, que é tão difícil de lidar, porque está diretamente ligado aos aspectos pessoais não resolvidos, não integrados.

As forças do sósia se tornam extremamente intensas em torno dos 40 anos. São aspectos para os quais somos levados a hostilizar, ou nos identificar cegamente, por uma força que se ergue em nós. Em geral, nos confrontamos com o sósia do outro, já que a própria sombra é difícil de ver.

Assim, grandes confusões, agressões e descasamentos acontecem, porque as relações ficam contaminadas por aquilo que se vê no outro, que é profundamente unilateral – algo expurgado daquilo em nós que não admitimos, não conseguimos lidar, mais o do outro.

Projetamos nossos aspectos indesejáveis e/ou renegados no outro, e somos vulneráveis à sua sombra – seus vícios, manias, defeitos, enfim.

Se não trabalharmos conscientemente na relação, e procurarmos ver a essência do outro, sua inteireza, o sósia, ou seja, a soma de todas as qualidade negativas comanda.

Temos que nos esforçar para integrarmos nossa sombra à nossa personalidade, e não alimentá-la, deixando que a força da raiva, da inveja, do desprezo, dominem a situação.

Há que se desenvolver muita calma interior!

Devemos ter em mente que tudo o que fazemos contra a vontade é alimento para o sósia.

E fica, então, difícil reconhecer nele uma oportunidade para a transformação de seu conteúdo.

A sombra e a luz são condições inerentes à existência humana, e uma, certamente, não existe sem a outra na vida terrena.


Oitavo Setênio – 49 a 56 anos

A entrada nos 50 anos equivale à época mediana do desenvolvimento do espírito, e por isso mesmo, para aquele que vive espiritualmente, a mais tranquila e produtiva da vida.

As forças, que na fase anterior estavam se desprendendo da região metabólica e dos órgãos correspondentes, estão agora se libertando da área mediana do corpo, coração e pulmão, e se dispondo para uma moralidade e uma ética de qualidade superior, refinada, mais humanizada.

É a época da vida denominada jupteriana, pois possibilita uma visão mais ampla e geral da própria estória, do desenvolvimento da humanidade, do sentido das coisas, da existência.

Os valores pessoais deveriam agora dar lugar a valores mais humanitários, e a preocupação se concentrar na família universal e não apenas na individual.

Dependendo da evolução do ego do indivíduo, ele pode dispor da sua sabedoria para o mundo, ou continuar apegado às próprias necessidades ou às do grupo familiar, desconhecendo a maravilha que é colocar seu patrimônio interior a serviço do mundo.

É a fase do pai e da mãe universal.

Como esta fase espelha fisiologicamente o setênio 7 a 14 anos, o elemento do ritmo tem de ser priorizado, e os órgãos rítmicos, assim como o ritmo cotidiano, têm de ser cuidados, preservados e respeitados.

É comum o aparecimento de problemas respiratórios, principalmente se a relação respiratória com o mundo foi difícil na pré puberdade; stress e enfarte também ocorrem.

Deve-se procurar um novo ritmo biológico mais adequado às características físico emocionais.

A vida nos ensina nesta época uma nova audição, temos a possibilidade de ouvir a voz do coração para esta renovação ético / moral que agora é propícia.

No concreto, neste período ocorrem as aposentadorias, o que por sua vez traz o sentimento de inutilidade e vazio.

Há que se preparar para esse momento e refletir no que se fará após, planejar a vida para o depois desse acontecimento, afim de não ser uma passagem muito brusca que pode assustar e  levar o indivíduo a exceder no trabalho para ainda se sentir útil e não velho, impotente, incapaz.

A sociedade como um todo ainda valoriza muito a força biológica e não tem olhos e condições de discernimento para as capacidades de liderar dos 50 anos, e, sobretudo, de abençoar, principalmente aqueles que puderam, entre 7 e 14 anos, aprender a venerar.


Nono Setênio – 56 a 63 anos

Os mesmos órgãos dos sentidos que foram as portas para a entrada na vida terrestre no 1º setênio, vão, aos poucos, se tornando portas de saída; não se vê, nem se ouve tão bem como antigamente, o paladar já não consegue sentir direito o gosto dos alimentos, os cheiros e as texturas não são mais sentidos tão intensamente.

A vida começa a dar sinais de que o ser humano têm agora que ir-se voltando para dentro de si mesmo, internalizar-se, desenvolver os sentidos espirituais.

O portal de comunicação com o mundo externo começa a se fechar.

Como um eremita, a partir desta fase, necessitamos da auto reflexão na busca da nossa essência, para o desenvolvimento de intuições a partir da força do amor que torna-se então a representante do verdadeiro e supremo conhecimento.

O 56º ano de vida traz uma brusca mudança que é sempre crítica, pois penetra-se numa esfera onde tudo parece ter que morrer para depois ressuscitar de uma forma muito sofrida.

Por vezes tem-se a sensação de fracasso de tudo aquilo que se desejou, e que nada do que se almejou foi alcançado.

Questiona-se muito o que se realizou no passado, e se torna importante avaliar o que ainda deseja realizar, o que pode e o que não pode mais ser realizado pela própria condição desvitalizadora, pelo tempo.

Certos cuidados se fazem muito importante, como a estimulação da memória, mudanças de hábitos, recursos criativos.

O trabalho é importante na vida, mas não deve ser a única fonte de realização pessoal. Pessoas excessivamente voltadas para o trabalho tornam-se resistentes às mudanças, perdem a visão global, sentem-se ameaçadas e, muitas vezes, são menos produtivas e criativas do que aquelas que possuem outras fontes de realização.

Aquelas que, além do trabalho, lecionam, tocam algum instrumento, freqüentam outras atividades e amigos, realizam viagens com certa dose de aventura, se dedicam a um hobby, praticam esporte, escrevem textos, crônicas ou livros, enfim, são pessoas com uma visão do mundo, de seu trabalho e da própria vida muito mais rica e feliz.

Caminhando para a terceira idade, e mais livre dos compromissos da 1ª e da 2ª, temos a chance de rever o que ficou de lado e que, com frequência, dá novo sentido à vida. Entregar-se ao que pede para ser vivido com satisfação, de maneira renovada, e ao mesmo tempo, livrar-se do inútil e supérfluo que se carrega por hábito.

Inclusive de preconceitos, pois vivemos em uma época com tantos recursos para a renovação do corpo e da alma, que deveríamos fazer bom uso do livre arbítrio e decidir que rumo tomar no caminho do amor, do encontro com outros seres humanos, da alegria de viver.

Como tudo no Universo está em constante transformação, e nada é estável e permanente, somente existe possibilidade de evolução onde há possibilidade de mudança.

Após os 63 anos, o ser humano vai, cada vez mais se libertando das leis e ritmos do destino.

O envelhecer vai chegando com o florescimento interno que é percebido no olhar do idoso que vive muito mais em uma realidade supra sensível do que sensível – para além dos sentidos.

O corpo vai ficando mais leve e transparente, o espírito se torna mais visível, os “avós” irradiam aquela força onde o sol interior consegue aparecer.

Por Eliane Utescher




ACESSE TAMBÉM:

Os 4 Temperamentos

http://sandralage.blogspot.com.br/2012/08/os-4-temperamentos-sanguineo-colerico.html


quarta-feira, 21 de março de 2012

Vida é Ritmo: as leis vitais do nosso corpo


Com o desenvolvimento do intelecto, diminuiu e perdeu-se a vivência do ritmo da Natureza, o homem se libertou da dependência dos fenômenos da Natureza. O decorrer da evolução do homem traria consigo esta auto-afirmação, o anseio de liberdade em todos os sentidos: não depender da Natureza, criar um ritmo de vida próprio, não seguir cegamente tradições já vazias. Mas a Natureza continua tendo ritmos cíclicos que também nos influenciam, e a perda de interesse pela Natureza levou ao que hoje chamamos problemas de ecologia, devido à ação irresponsável do homem.

Podemos sentir isto como um chamado da Natureza, de atuar com ela e não contra ela, conscientes de que a Natureza continua nos dominando, de que só podemos atuar livremente quando em consenso com ela. Por amor, por interesse verdadeiro, não por mera tradição, podemos viver, acompanhar esses ritmos.

Antigamente os povos eram guiados a celebrar, a festejar o retorno cíclico de fenômenos como os solstícios, a noite e o dia mais longos do ano, e o equinócio da primavera e do outono. Nesses dias ou semanas festejavam-se, comemoravam-se os seres divinos que eram vivenciados como as forças atuantes que se manifestam nas mudanças e transformações do clima, da vegetação do curso dos astros.

Com devoção e veneração eram seguidas e observadas essas manifestações de sabedoria cósmica que tudo criou e tudo mantém, fazendo com que o homem tenha as condições necessárias para viver na Terra. Sentia-se uma profunda gratidão, sentimento este de intensa religiosidade.

O homem ainda não se sentia tanto um indivíduo, um ser independente, mas muito mais um membro, uma parte integrante do mundo todo, uno com o mundo todo. Da mesma maneira como um dedo da mão, se tivesse sensação e reflexão própria, sentir-se-ia parte unida ao corpo todo e não algo desligado, independente, assim era a sensação de dependência dos homens no passado.

Esta mesma sensação é muito forte em nós quando somos crianças: não nos sentimos apenas ligados ao núcleo familiar, mas sim unos com o ar, o sol, o vento, o mundo todo. É este fato que torna impossível para a criança pequena poder ter uma reflexão própria: ela se sente carregada, guiada, dirigida por forças superiores, sem questioná-las, sente-se parte delas.

Para refletirmos sobre algo, temos que estar desligados, desprendidos do objeto em questão. Fazer isto, a criança aprende só depois dos nove anos de vida, pelo menos de uma forma consciente. Antes, é como se ela repetisse estados de consciência da humanidade no passado.

Poderíamos dizer que o homem, em parte, é Natureza, e, em outra, é espírito independente. Sua parte Natureza é o corpo com todas as funções vitais.

A parte espírito consta da consciência, das representações mentais, dos seus sentimentos, seus impulsos, seus sonhos, ideais, apetites, etc, que se centram na vivência de ser uma personalidade, um individuo que, através dos instrumentos que lhe proporciona o corpo, os órgãos dos sentidos, por exemplo, se relaciona com o mundo ao seu redor. Se olharmos mais de perto, vemos que este espírito, estes indivíduos com seus impulsos e cismas, nem sempre atua em consenso com seu corpo, que lhe permite a existência do mundo físico. Muitas vezes perturba processos, cria desequilíbrios funcionais, causa fadigas exageradas, disritmias, enfim, todo tipo de distúrbios e doenças.

O médico sábio, então, não receita apenas medicamentos, mas estuda com o paciente as causas que muitas vezes têm sua raiz na maneira inconsciente de desrespeitar as leis da natureza que regem nosso corpo. Isto é, criarmos como ser espiritual-anímico, desequilíbrios ecológicos em nosso ser corporal-vital. É o preço que pagamos por nossa liberdade de ação adquirida. Como seres conscientes, teremos então o desejo de atuar ao máximo possível em consenso com as leis vitais de nosso corpo.

Queremos ser livres, mas também inteligentes, sábios! E assim surgem novos modos de vida que se expressam na alimentação, nas vestimentas e até na arquitetura e na procura da volta à Natureza. O anseio de independência, característica de nossa civilização moderna, causa muitos problemas às crianças que estão em pleno crescimento e desenvolvimento de seu corpo e, ao mesmo tempo, procurando a própria personalidade e o relacionamento com o meio ambiente.

Fala-se tanto de educação hoje em dia, os consultórios dos pediatras e psiquiatras estão cheios, fala-se de problemas de ambientação, de integração, e aumentam os casos de autismo e suicídio infantil, fugas de adolescentes, etc.

Vida é ritmo! Tudo que tem ritmo, tudo que dá força e não cansa é o que apresenta processos rítmicos. 


É só pensar como nosso sistema rítmico-circulatório é o sistema central que mantém nosso organismo com boa saúde, coordena e harmoniza os sistemas neuro-sensorial e metabólico-motor. 


O ritmo da respiração e do fluxo de sangue pelo coração não para, é sinal de vida. E existem outros ritmos em nossa vida, que na infância devem ser respeitados, como o ritmo entre vigília e sono. Se ele corre com regularidade, como também aquele das refeições, da higiene, etc., então a criança pode crescer harmoniosamente e terá saúde.

Para ajudar na procura da personalidade do futuro ser adulto, há ritmos que a família e o meio ambiente podem respeitar e marcar conscientemente, fazendo com que a convivência social seja harmoniosa, sadia e até terapêutica para grandes e pequenos.

Penso em comemorações de dias especiais na semana, de festas familiares, festas cíclicas do ano etc. Mesmo cada dia pode ter momentos de pausa, de calma interior, intercalados com os afazeres diários da rotina. O ritmo sadio não é como o compasso da música ou a regularidade morta de uma máquina.

Ritmo tem: 

  • vida, 
  • aceleração, 
  • intensificação, 
  • variação, 
  • transformação. 

Porém, para não se perder, precisa apoiar-se num compasso, numa batida básica. Por exemplo, todos os dias levanta e deita o sol, (compasso do dia e noite), mas quantos ritmos diferentes não existem no número de horas de luz e de escuridão! E destas variações surge outro ritmo, o das estações, que também não ocorrem em ciclos rígidos.

Vejamos agora o ritmo das Festas Cristãs:

A Páscoa, festa máxima, representando a morte e ressurreição de Cristo, retorna cada ano num ritmo muito especial. Não podemos fixar esta festa em nosso calendário anual sem levantar os olhos ao céu, às manifestações cósmicas, como o equinócio em março e, relacionado a isto, as fases da lua.

Festas representam uma intensificação dos ritmos regulares diários, e, ao mesmo tempo, também uma interrupção, um intervalo, uma inspiração profunda depois de muita expiração do corre-corre diário. Somos chamados a respeitar os ritmos de vida do nosso corpo e, para a vida do nosso ser espiritual, nosso eu, podemos nos sentir chamados a criar, a programar e festejar tantos momentos altos, elevados sobre o comum, quanto queiramos e acharmos sadios. Exemplos e conteúdos, a vida oferece um sem-fim. Porém, quanto mais nos ligam com a Natureza, aprofundando nossa vivência da imensidão dos mistérios da vida, tanto mais força e vitalidade nos darão e tanto mais harmonia existirá no dia-a-dia na vida da família, no meio ambiente social. Vamos compor sobre o compasso dado pela natureza, a nossa própria melodia.

À obra!
Vamos dirigir a nossa vida de forma que ela dê mais vida e harmonia ao nosso próximo, e então poderá conviver conosco, em todos estes ritmos, Aquele que disse: - “Eu sou a vida, a luz e o caminho...”

Na Terra vivemos no espaço e no tempo. O espaço fecha, encerra, exclui, limita, acaba, termina. O tempo flui, é ilimitado e nós sempre corremos atrás dele. Isto cria a insegurança, incerteza, problemas sociais. Para nos sentirmos melhor, criamos espaços de tempo: uma hora, um dia, um ano, etc. E estes espaços nos são dados pelo cosmo, pelo sol que levanta diariamente e deita em horário rítmico.

O decorrer de nossa vida pode ser um simples fluir do tempo, do qual participamos e somos levados pelos acontecimentos mais ou menos inconscientemente. A pessoa que quer determinar a sua vida deve saber organizar-se dentro do tempo. Se ela quer se conhecer como um ser espiritual-anímico, oriundo de um mundo superior, não físico, sem deixar de pisar conscientemente com seus dois pés no chão da terra, achará uma grande ajuda na vivência sempre mais intensa do que chamamos o ano cristão, ou as festas cristãs.

Cada ano em que acompanhamos as comemorações dos feitos crísticos pode tornar-se um passo à frente no caminho do autoconhecimento, do aprofundamento e ampliação da nossa compreensão da vida e do sentido da existência. Que isto seja uma necessidade para todos os que querem educar e formar futuros adultos, é óbvio.

E por isso, cabe a nós estudar e tentar nos aprofundar no conteúdo destas festas. Vejamos primeiramente o ritmo em que elas decorrem. Em dezembro, último mês no calendário, na noite do 24 ao 25, logo depois do solstício de verão, a cristandade comemora o nascimento de Jesus que, como adulto, devia ser o portador de Cristo.

Já a grande festa da Páscoa, da Ressurreição de Nosso Senhor Cristo, depende para sua fixação no calendário, da relação entre o Sol e Lua, em torno do equinócio de março.

Quarenta dias depois da Páscoa, em maio geralmente, temos o dia da Ascensão do Nosso Senhor, seguido dez dias mais tarde pela festa de Pentecostes, ou a descida do Espírito Santo nos discípulos como “línguas de fogo”.

No sexto mês do ano, comemora-se outro nascimento: o do precursor, do anunciador do Cristo, João Batista.

Seis dias depois do segundo equinócio do ano (23 de setembro), o calendário católico marca o dia de um arcanjo. O dia 29 de setembro é o dia do Arcanjo Miguel, ou Micael, como preferimos chamá-lo.

Se entre o nascimento de Jesus e o de João existe uma relação bem nítida, surge a pergunta se haveria alguma relação entre o acontecimento na Páscoa e o dia do Arcanjo Micael. Na Antroposofia, podemos encontrar um novo sentido nas mensagens dos Evangelhos e, assim, o ano cristão pode se tornar um guia para nós no caminho iniciático.

Na evolução da consciência da humanidade, podemos ver a morte do conhecimento do espírito. 

Houve tempos em que a humanidade tinha pouca vivência através dos sentidos, mas vivia normalmente entre os seres espirituais. Depois, abriu mais os olhos para a manifestação física da criação, continuando ainda consciente do mundo espiritual. Os dois mundos eram totalmente reais para os homens daquela época. Porém, quando o Cristo veio à Terra e se encarnou num corpo humano, sofreu a morte e ressuscitou, só poucas pessoas tinham ainda restos de clarividência atávica. A partir de então era sempre mais difícil imaginar-se algo real com o fato da ressurreição do Cristo. Era necessário que o homem desenvolvesse o intelecto, o pensar com um órgão físico, como o cérebro; mas assim o seu pensar se limitou ao mundo sensorial, e idéias religiosas, espirituais, tornaram-se algo abstrato, algo dogmático, longe da realidade do dia-a-dia. Quer dizer, as pessoas acreditaram num Deus que criou a Terra, mas não queria ou não podia ver esse Deus atuar na sua criação. Quase como se Deus tivesse deixado a sua criação para trás, afastando-se dela e deixando o homem se “virar” nela. Um pensar conseqüente deve também afastar a Divindade Criadora e procurar razões intrínsecas na matéria, às quais pode atribuir uma criação do acaso. Não uma vontade divina que atua e manifesta seu atuar na matéria, mas mutações e evoluções à toa, não impulsionadas por uma inteligência com finalidade.
O acontecimento do Gólgota, a morte e a ressurreição do Deus Homem, é como uma imagem do que deve acontecer com a consciência do homem no curso da evolução.

O Cristo morreu para o mundo espiritual quando se incorporou no Jesus de Nazaré. Mas Ele ressurgiu para o mundo espiritual, vencendo a matéria. Ele penetrou neste mundo que é dominado pela morte da matéria, mostrando à humanidade a sua origem espiritual, que ela estava a ponto de esquecer.

Ele se uniu com a Terra e implantou no homem uma força com a qual este poderá reconquistar o mundo espiritual ou a consciência do espírito. A ressurreição do Cristo se torna uma realidade na alma do homem, um impacto que a modifica, assim como algo do mundo físico pode nos modificar.

Como avisa Rudolf Steiner, a separação total da realidade espiritual, que ocorreu com o pensar humano, já pode ser ultrapassada. Isto, porém, somente por uma atividade espiritual enriquecendo, ampliando nosso pensar com conteúdos da ciência espiritual antroposófica. Somente uma ciência que leve sua pesquisa às realidades do mundo espiritual pode ajudar na ressurreição da consciência humana. A vivência do Mistério do Gólgota é necessária para podermos criar novas festas, especialmente a festa da primavera, a festa Micaélica.

O que é contemplação na Páscoa deve tornar-se força de vontade em Micael. A Antroposofia nos descreve outras formas de vida diferentes das que conhecemos no mundo físico. Ela pode nos aproximar do fenômeno da ressurreição. Em vez de festejar, comemorar na forma tradicional as festas anuais, podemos criar novas maneiras de festejar. A humanidade recebeu a forma de festejar por forças divinas, dos deuses; agora é hora de o homem criar suas festas com a força do seu interior. Ou seja: a divindade atuava de fora, agora deve ser acordada dentro do homem e atuar a partir de dentro dele. Aprofundar-se no sentido do conteúdo das festas anuais é uma oportunidade de relacionar a vivência do mundo visível com conteúdos espirituais, ou seja: ver as manifestações da Natureza, do clima etc., como expressão de seres supra-sensíveis, mas tão reais e atuantes como nós mesmos, criando o compasso do ritmo das festas.


Ciclo de Festas

O Ritmo e as Festas Anuais (Leonore Bertalot)
Fonte: Revista Chão Gente, março de 1998.

(Texto extraído da apostila Cotovia, que é uma publicação dirigida aos educadores da Educação Infantil da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura da Estância de Atibaia e interessados na proposta aqui apresentada. Março/2006)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Quando deveriam ser celebrados os festivais no Hemisfério Sul? (Antroposofia)


Sem que tomemos consciência da geografia espiritual da porção sul da Terra passando certo tempo nela, qualquer resposta a esta questão terá de ser provisória. Mas a ciência espiritual permite-nos contribuir com uma observação para este tema.

Devido à configuração física e etérica da Terra ocorre que certos processos anímico-espirituais no homem estejam em harmonia com o ritmo anual da natureza no hemisfério norte, mas não no hemisfério sul. 

Todos os relacionamentos entre terra e água, ou seja, entre os elementos físico e etérico, são diferentes no hemisfério sul quando comparados aos do hemisfério norte; podendo mesmo ser em muitos aspectos, opostos. Assim, no hemisfério norte há uma considerável preponderância de terra sobre água, enquanto no hemisfério sul dá-se o inverso.

De acordo com o ensinamento científico-espiritual sobre os éteres, a água está mais conectada com a atuação do éter sonoro e a terra seca com o éter vital. Assim, uma vez que o éter sonoro tem um relacionamento com a Lua e que o éter vital com o Sol, o hemisfério Norte, com seu centro no círculo polar Ártico, pode ser considerado de natureza solar, enquanto o hemisfério sul com seu centro na Antártida é de natureza mais lunar. Portanto, no norte temos um princípio mais formativo, e no sul uma tendência mais ao amorfo, à ausência de forma. Isto se manifesta no grau consideravelmente menor do contraste entre verão e inverno (e entre as estações em geral) que encontramos no hemisfério sul se comparado ao hemisfério norte, onde as estações são marcadamente distintas e há maiores variações na temperatura.

Nós também podemos observar o efeito destas tendências respectivamente mais formativa e mais amorfa na evolução cultural dos hemisférios norte e sul. Por esta razão a evolução da humanidade, desde a era Atlante até nosso tempo presente, teve lugar especialmente no hemisfério norte; este foi o caso até do maior evento da história da Terra, o Mistério do Golgota.

Historicamente, os povos do hemisfério norte tiveram a tarefa de conquistar o domínio do mundo material, a fim de, então, tendo se emancipado completamente do mundo divino-espiritual, chegar a uma experiência da individualidade livre. 

Nós agora alcançamos este ponto mais profundo da evolução. E o aparecimento da Antroposofia corresponde hoje à necessidade histórica mundial de que a humanidade ascenda novamente aos mundos espirituais, embora agora plenamente consciente, a partir desta experiência recém-alcançada da liberdade.

A humanidade do Norte pode encontrar suporte para esta tarefa que tanto lhe exige no ciclo anual, se certos processos da evolução anímico-espiritual puderem entrar em harmonia com ele. Ademais, no futuro próximo, a ascensão ao mundo espiritual dificilmente poderá se realizar para a humanidade sem a ajuda das forças cósmicas que se manifestam no ciclo do ano. Pois os obstáculos contra tal ascensão oriundos da civilização materialista do presente são tão consideráveis em nossos tempos que os seres humanos necessitarão desse suporte em medida crescente se realmente quiserem cumprir a tarefa de chegar da quinta à sexta época pós-atlante, quando uma cultura puramente espiritual florescerá na Terra. 

A mais perfeita harmonia entre a alma humana e a atuação das forças cósmico-espirituais será então atingida, pois esta cultura espiritual da sexta época consistirá, em extensão significativa, justamente na conquista deste equilíbrio entre homem e natureza (o ciclo do ano). 

Os homens então se desenvolverão de tal maneira, interiormente, que forças espirituais superiores fluirão em direção a ele através de sua relação com a natureza. 

Aquilo que Michael espera hoje dos homens – que eles aprendam a ler no livro da natureza – representa o primeiro passo nesta direção. 

Tal possibilidade de levar à harmonia o anímico-espiritual no homem com o cósmico-espiritual na natureza não existirá para sempre, e é por isso que é tão importante que uma ponte para a espiritualidade cósmica seja edificada enquanto as condições permitam que se o faça.

Esta possibilidade somente existirá até aproximadamente o fim da sexta época cultural (Eslava), pois já na sétima época (Americana) condições bem diversas, tanto do ponto de vista natural quanto espiritual penetrarão na evolução terrestre. 

Rudolf Steiner descreve estas poderosas mudanças com as seguintes palavras: “ Ora, os senhores sabem que a Lua voltará a unir-se à Terra. Este momento em que a Terra e a Lua se unirão será estabelecido por aqueles astrônomos e geólogos que vivem em abstrações daqui a milhares de anos no futuro, mas isto é mera ilusão. A verdade é que este momento não está assim tão distante...” E Rudolf Steiner prossegue dizendo que este momento virá no sétimo ou oitavo milênio após o nascimento de Cristo. (GA 204, 13/05/1921)

“E assim, tal como a partida da Lua, nos tempos Lemúricos, foi um evento de extraordinária importância, da mesma forma, a re-entrada da Lua será um acontecimento de magnitude similar.” Na descrição da separação da Lua em seu livro ‘A Crônica do Akasha’, Steiner escreve: “Desse modo a contemplação da crônica do Akasha avançou até o ponto imediatamente anterior àquela catástrofe cósmica que foi produzida pelo afastamento da Lua em relação à Terra”.

Na palestra de 31 de dezembro de 1910, Rudolf Steiner refere-se a um ritmo bem particular da evolução terrestre que dura de ‘seis a sete ou oito milênios’ e se revela em manifestações de natureza polarmente opostas. Estas manifestações estariam associadas à atividade dos Espíritos da Forma (os Exusiai) que agora atuam externamente nos relacionamentos físicos da Terra, e interiormente nas almas dos seres humanos. A última manifestação exterior se deu no tempo da grande catástrofe atlântica. A manifestação interior mais poderosa, por outro lado, ocorreu no ano de 1250. A próxima grande penetração nas condições físicas exteriores ocorrerá por volta do oitavo milênio, quando mediante a atividade conjunta dos Espíritos da Forma, e principalmente do mais poderoso deles, Yahveh, a Lua se reunirá à Terra – acontecimento que estará ligado à mudança na posição do eixo da Terra.

Isto significa, contudo, que ao receber novamente a Lua em seu seio, na Terra, os processos de orientação espiritual e etérica na natureza serão completamente alterados. O ciclo do ano tal como o conhecemos atualmente já não existirá. Porém se o homem trouxer as forças espirituais da Lua sob seu domínio de forma correta ele será capaz de atuar sobre a natureza de maneira mágica, de sorte que os novos processos que emergirão dela corresponderão ao ciclo anual de hoje.

De acordo com afirmações de Steiner, na Antiga Lemúria, a Lua foi expulsa a partir do hemisfério sul da Terra, tendo sido esta a causa do fato de os relacionamentos entre água e terra ( etérico e físico ) neste hemisfério terem se tornado tão diferentes daqueles do hemisfério norte. Esta região está predestinada a preparar em nosso tempo o retorno da Lua à Terra na sétima época cultural. Também poder-se-ia dizer: toda a configuração físico-etérica do hemisfério sul é uma indicação das condições passadas e futuras da Terra que foram descritas (separação e re-entrada da Lua). 

A evolução cultural do hemisfério norte tem como tarefa trazer o mistério solar do Cristo à plena manifestação por toda a Terra, e desse modo, forjar a transição, a construção da ponte entre estes dois eventos cósmico-terrenos associados ao hemisfério sul.

Portanto vemos que o ideal da sexta época é chegar à completa harmonia espiritual com o aspecto cósmico da natureza bem como ser capaz de extrair dela os mais elevados impulsos culturais. O ideal da sétima época cultural é, entretanto, determinar magicamente os processos naturais a partir dos próprios recursos. 

Em outras palavras: Se na sexta época a ponte para o cosmo espiritual é formada, na sétima o homem estará em condição de realizar por si mesmo, a partir de seus poderes espirituais, aquilo que será necessário para o prosseguimento da evolução da humanidade sobre a Terra, e que na época anterior ele próprio moldara da natureza.

Disto, vê-se claramente a natureza da tarefa que aguarda os seres humanos que por seu carma vivem no hemisfério sul – em contra-distinção àqueles que vivem no hemisfério norte – com respeito ao ciclo anual e seus festivais.

De conformidade com as palavras de Steiner acima citadas, o tempo do retorno da Lua não está tão distante – entre o sétimo e oitavo milênio, ou seja, no terço final da sétima época cultural. 

Como, entretanto, este processo da re-entrada da Lua e as mudanças de todas as leis naturais associadas a ela só acontecerá gradualmente, pode-se também dizer que em certa medida toda a sétima época cultural estará sob o signo deste evento que chegará à conclusão com seu fim.

Como já foi dito, isto também pode ser visto do ponto de vista histórico-cultural. No ‘Sul’, em virtude do considerável excesso de água sobre a terra sólida, há um senso de isolamento na paisagem, de cósmica expectativa por aquilo que um dia terá lugar ali. É devido a esta qualidade particular que, enquanto no Sul existem de fato relíquias de antigas culturas, não há qualquer evolução cultural “conseqüente” como no Norte, isto é, na evolução através das sucessivas épocas culturais pós-atlantes não há a participação decisiva do hemisfério sul.

Desde os tempos modernos as terras ao Sul tornaram-se partícipes na evolução cultural Cristã vinda do Norte, e têm com isso sua tarefa espiritual diante de si: a de formar festivais cristãos somente a partir do poder humano interior sem buscar qualquer suporte na natureza, a fim de preparar desse modo a já mencionada futura era da humanidade. Os seres humanos que vivem nessas regiões podem, uma vez que pertencem culturalmente à grande corrente cristã da evolução, preparar já na quinta época os fundamentos para aquele estágio que na sétima época cultural será destino de toda a humanidade.

Consequentemente, existem basicamente dois possíveis caminhos para o hemisfério Sul. A diferença entre eles é que no primeiro caso a sexta época é preparada e no segundo, a sétima; e a tarefa do hemisfério sul em favor da humanidade está essencialmente conectada com a última.

Aqui, os seguintes pensamentos também podem ser considerados: A presente quinta época cultural tem como principal característica o desenvolvimento do pensar humano, enquanto que a característica da sexta época será o desenvolvimento do sentir e aquela da sétima, a vontade. Assim, para aquelas pessoas que vivem no hemisfério Sul é possível ou conectar-se mais pelo sentir à vida da natureza à sua volta, ou seguir por caminhos totalmente novos e não trilhados a partir de seus impulsos volitivos interiores e independentes.

Há, ademais, o grande mistério que só a ciência espiritual pode revelar-nos hoje, qual seja, que todo o mundo natural que nos circunda carrega consigo somente forças do passado. Se, no entanto, estivermos buscando forças do futuro, então teremos de nos voltar para o interior do homem, onde em seu corpo astral e Eu ele é capaz de desenvolver sua natureza livre e criativa em completa independência do mundo natural.

Aqui se inicia a tarefa por cuja realização se lutará até o fim dos tempos terrestres. Rudolf Steiner se referiu ao tema com as seguintes palavras: “Se, portanto, não quisermos ver morrer a natureza, então dever-se-á doar a ela aquilo que o homem tem através de seu corpo astral e ego. Isto significa que, como o homem possui por meio de seu astral e eu idéias autoconscientes, ele deve – caso queira assegurar um futuro à Terra, de outro modo falecente – trazer a ela o que nele vive de natureza invisível, supra-sensível.” 

Em outras palavras, toda a Terra à nossa volta – uma vez que por sua substância físico-etérica pertence ao que podemos considerar como existência natural – não tem qualquer futuro. Assim, numa perspectiva mais ampla das circunstâncias naturais e espirituais que se estendem pela sexta e sétima épocas culturais, a Terra só poderá ser salva da morte física por meio de seres humanos que tragam a ela, a partir de sua livre vontade, o que é de natureza invisível e supra-sensível neles.

Isto não tem nada a ver com o mundo natural como tal, uma vez que provem do corpo astral e do Eu humanos, mas deve penetrá-lo como uma força transformadora e redentora. Pois somente “quando formos capazes de implantar na Terra aquilo que ela não possui enquanto entidade puramente natural é que uma Terra do Futuro pode surgir.”

Naturalmente, é extremamente difícil celebrar festivais cristãos sem contar com o suporte do ciclo do ano tal como este transcorre na natureza. A fim de celebrar o Natal no solstício de verão porém, não se deveria imitar as condições do hemisfério norte ( neve, etc) mas antes encontrar formas totalmente novas para as celebrações, mais fundamentadas num background espiritual oculto.

Este será um verdadeiro trabalho pioneiro que pode, no entanto, encontrar suporte no pensamento de que dessa forma toda a humanidade gradualmente se prepara para um futuro mais distante que aquele cuja preparação permanece uma tarefa particular da humanidade do norte.

Apenas se esta tarefa for cumprida pela humanidade do Sul (e isto já deve ocorrer em certa medida durante a quinta época pós-atlante) a raça humana seguirá vivendo na Terra como uma entidade espiritual passando através dos festivais cristãos. 

Pois o significado mais profundo da celebração simultânea dos festivais sobre toda a Terra é que após o Mistério do Gólgota estes festivais representam os estágios de união do Espírito Crístico com a Terra. 

Assim, por meio de celebrações simultâneas por todos os povos da Terra, um verdadeiro vaso pode ser moldado para o grande Eu da humanidade, o Cristo, que então conduzirá a humanidade em direção ao grande ideal da humanidade divina.

O que aqui foi dito não tem a pretensão de ser a resposta definitiva para a questão em consideração, mas antes, quer indicar as conseqüências para aqueles que, interessados no tema, vivem no hemisfério sul de nosso planeta.

Outro aspecto desse problema está associado à obra de Rudolf Steiner intitulada “Calendário da Alma” em que o relacionamento da alma com processos cósmico-espirituais da natureza é muito mais uma necessidade. 

Por esta razão Rudolf Steiner respondeu à pergunta de Fred Poeppig sobre como se deveria trabalhar com tais versos no hemisfério sul, da seguinte maneira: “Os versos semanais do calendário da alma devem ser invertidos, ou seja, deveriam ser usados de acordo com os ritmos sazonais da localidade particular”. 

Naturalmente, se alguém age dessa forma com os versos, os ritmos da natureza não estarão em correspondência com os quatro festivais anuais. A fim de restaurar a correspondência, o verso oposto deve então ser incluído, o que muito antropósofos vivendo no hemisfério norte já realizam. Desse modo, o elemento unificador na evolução humana também pode ser mantido no trabalho meditativo com o Calendário da Alma.

Fonte:
Livro "O Ciclo do Ano como Caminho de Iniciação" de Sergei Prokofieff