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sábado, 6 de abril de 2013

A Nuvem sobre o Santuário por Karl Von Eckartshausen




Primeira Carta


O nosso século é de preferência a qualquer outro o mais notável para o observador imparcial e sereno.

Por toda parte existe fermentação tanto na alma como no coração do homem; encontra-se a cada passo o combate da luz e das trevas, de idéias mortas e idéias vivas, da vontade morta e inerte com a força viva e ativa; se vê por todo lado enfim, a guerra entre o homem animal e o homem espiritual que desperta.

Homem natural renuncia às tuas últimas forças; até teu próprio combate revela a tua natureza superior que repousa em teu seio.

Presentes a tua dignidade, tu a sentes mesmo; porém tudo é ainda obscuro ao teu redor e a lâmpada da tua débil razão não é suficiente para iluminar os objetos aos quais deverias aspirar.

Diz-se que vivemos no século das luzes e seria mais justo dizer que vivemos no século do crepúsculo: aqui e ali, o raio luminoso penetra através da nuvem das trevas, mas ele não ilumina ainda com toda a sua pureza nossa razão e nosso coração.

Os homens não estão de acordo sobre as suas concepções: sábios disputam; e onde há disputa, não existe a luz nem se conhece a verdade.

Os objetos mais importantes para a humanidade são ainda indeterminados.

Não se está de acordo nem sobre o princípio da razão, nem sobre o princípio da moralidade ou do móbil da vontade.

Isto prova que mau grado estejamos na grande época das luzes, ainda não sabemos bem o que ela representa em nosso cérebro e em nosso coração.

Seria possível que nós soubéssemos tudo isto mais cedo, se não imaginássemos que temos já a flama do conhecimento em nossas mãos, ou se pudéssemos lançar um olhar sobre a nossa fraqueza e reconhecer que ainda nos falta uma luz mais elevada.

Nós vivemos nos tempos da idolatria da razão, depositamos uma tocha sobre o altar, proclamamos em altas vozes que a aurora está despontando e que por toda parte o dia aparece realmente, e deste modo o mundo se eleva cada vez mais da obscuridade à luz e a perfeição, pelas artes, as ciências, gosto refinado ou mesmo por uma perfeita compreensão da religião.

Pobres homens! Até onde haveis exaltado a felicidade dos homens?

Existiu jamais um século que tivesse custado tantas vítimas como o presente?


Existiu jamais um século no qual a imoralidade e o egoísmo tenham predominado mais do que neste?


Conhece-se a árvore pelos seus frutos.


Insensatos!...


Com o vosso falso raciocínio... onde obtivesses a luz com a qual quereis esclarecer os outros?

Será que todas as vossas idéias não são tiradas dos sentidos, que não vos dão qualquer verdade mas somente os fenômenos externos?

Tudo aquilo que dá o conhecimento no tempo e no espaço não é relativo?


Tudo aquilo que nós podemos chamar verdadeiro, não é apenas uma verdade relativa?...


Não se pode achar a verdade absoluta na esfera dos fenômenos externos.

Assim sendo, vosso raciocínio não possui a "Essencialidade" mas somente a aparência da verdade e da Luz; assim é que, quanto mais esta aparência aumenta e se expande, mais a "Essência da luz" decresce no interior, e o homem se perde na aparência e tateia para atingir as fantásticas imagens despidas de realidade.

A filosofia do nosso século eleva a fraca razão natural a objetividade independente; atribuindo-lhe mesmo um poder legislativo, isentando-a de uma autoridade superior.


Torna-a autônoma e a diviniza, suprimindo entre Deus e ela toda relação, toda comunicação, e esta razão deificada, que não tem outra lei que a sua própria, deve governar os homens e torná-los felizes!...

As trevas devem expandir a luz!...


A pobreza deve dar a riqueza!...


E a morte deve dar a vida!...

A verdade conduz os homens à felicidade... Podeis vós dá-la?

O que, vós chamais verdade é uma forma de concepção vazia de substância cujo conhecimento foi adquirido externamente, pelos sentidos; o entendimento coordena-os por uma síntese das relações observadas em ciência ou em opiniões.

Vós não tendes absolutamente verdade material, o princípio espiritual e material é para vós um Número.

Retirais das Escrituras e da tradição a verdade moral, teórica e prática; mas como a individualidade é o princípio de vossa razão, e o egoísmo é o móbil da vossa vontade, não vedes a vossa luz interior, a lei moral que governa todas as coisas, ou a rechaçais com a vossa vontade.


É até lá que as luzes atuais foram conduzidas.


A individualidade sob o manto da hipocrisia filosófica, é a filha da corrupção.

Quem pode afirmar que o sol está em pleno meio dia, se nenhum raio luminoso alegra a terra e nenhum calor vivifica as plantas?

Se a sabedoria não melhora os homens e o amor não os torna mais felizes, bem pouca coisa se fez ainda para o todo.

Oh! se somente o homem natural ou o homem dos sentidos pudesse perceber que o principio de sua razão e o móbil de sua vontade, são somente a individualidade, e que por isto mesmo, ele devia ser extremamente miserável, procuraria um princípio mais elevado no seu interior, e aproximar-se-ia da única fonte que pode saciar a todos, porque ela é a "Sabedoria na sua própria essência".

Jesus Cristo é a Sabedoria, a Verdade e o Amor.


Como Sabedoria Ele é o princípio da razão, a fonte do conhecimento, a mais pura.


Como Amor Ele é o princípio da moralidade, o móbil essencial e puro da vontade.

O Amor e a Sabedoria engendram o Espírito da Verdade, a luz interior, esta luz ilumina em nós os objetos sobrenaturais e os torna objetivos.


É inconcebível observar até que ponto o homem cai no erro quando ele abandona as verdades simples da fé, e a elas opõe a sua própria opinião.

Nosso século procura definir cerebralmente o princípio da razão e da moralidade, ou do móbil da vontade; se os senhores sábios estivessem atentos, veriam que estas coisas encontrariam melhor resposta no coração do homem, mais simples, que em todos os seus brilhantes raciocínios.

O cristão prático encontra este móbil da vontade, princípio de toda imoralidade, objetiva e realmente no seu coração e este móbil se exprime na seguinte fórmula:

"Ama a Deus sobre todas as coisas e ao teu próximo como a ti mesmo".

O amor de Deus e do próximo é, o móbil da vontade do cristão; e a essência do próprio amor é Jesus Cristo em nós.

Assim é que o princípio da razão é a sabedoria em nós; e, a essência da sabedoria, a sabedoria em sua substância é ainda Jesus Cristo - a Luz do Mundo.


Assim encontramos nele o principio da razão e da moralidade.

Tudo o que eu digo aqui não é, uma extravagância hiperfísica, é a realidade, a verdade absoluta que cada um pode comprovar experimentalmente desde que recebe em si o princípio da razão e da moralidade, Jesus Cristo como sendo a Sabedoria e o Amor essenciais.

Mas a visão do homem dos sentidos é profundamente inapta para captar a base absoluta de tudo aquilo que é verdadeiro o transcendental.

Mesmo a razão que nós queremos elevar hoje sobre o trono como legisladora, é tão somente a razão dos sentidos, cuja luz difere da luz transcendental, como a fosforescência do fogo-fátuo difere do esplendor do sol.

A verdade absoluta não existe para o homem dos sentidos mas somente para o homem interior e espiritual que possui um sensorium próprio; ou, para dizer mais precisamente, que possui sentido interior para perceber a verdade absoluta do mundo transcendental; um sentido espiritual que percebe os objetos espirituais tão naturalmente em objetividade, como o sentido exterior percebe os objetos exteriores.

Este sentido interior do homem espiritual, este sensorium de um mundo metafísico não é, infelizmente ainda conhecido de todos, é um mistério do reino de Deus.

A incredulidade atual para todas as coisas onde a razão dos nossos sentidos não encontra ponto de objetividade sensível, é a causa que nos faz desconhecer as verdades, as mais importantes para o homem.

Mas, como poderia ser de outra forma?

Para ver é necessário ter olhos; para ouvir, ouvidos.

Todo objeto sensível requer seu sentido.

Assim é que o objeto transcendental requer também seu sensorium, - e este mesmo sensorium está fechado para a maioria dos homens.

Desta forma o homem dos sentidos julga o mundo metafísico como o cego julga as cores, e como o surdo julga o som.

Existe um princípio objetivo e substancial da razão e um móbil objetivo e substancial da vontade.


Estes dois conjuntos formam o novo princípio da vida cuja imoralidade, é essencialmente inerente.


Esta substância pura da razão e da vontade reunidas é o divino e o humano em nós; J.C. a Luz do mundo que deve entrar em relação direta conosco para ser realmente conhecida.

Este conhecimento real é a fé viva onde tudo se passa em espírito e em verdade.

Assim, deve existir necessariamente para essa comunicação um sensorium organizado e espiritual, um órgão espiritual e interior, susceptível de receber essa luz, mas que está fechado na maioria dos homens pela espessura dos sentidos.

Esse órgão interior é o sentido intuitivo do mundo transcendental, e antes que esse sentido de intuição seja aberto em nós, não podemos ter nenhuma certeza objetiva da verdade mais elevada.

Este órgão foi fechado por conseqüência da queda, que atirou o homem no mundo dos sentidos.

A matéria grosseira que envolve esse sensorium interior é uma catarata, ou véu que cobre a visão interior, tornando a visão exterior inapta à visão do mundo espiritual.

Esta mesma natureza ensurdece nosso ouvido interior, de maneira que não ouvimos mais os sons do mundo metafísico; ela paralisa nossa língua interior, de maneira que nós não podemos mais nem mesmo balbuciar as palavras de força do espírito que pronunciávamos outrora pelas quais nós governávamos a natureza exterior e os elementos.

A abertura desse sensorium espiritual é o mistério do Novo Homem, o mistério da Regeneração e da união a mais íntimo do homem com Deus; é a meta mais elevada da religião aqui em baixo, desta religião cuja finalidade mais sublime é de unir os homens a Deus em Espírito e Verdade.

Podemos facilmente perceber por meio disto, porque a religião tende sempre à sujeição do homem material.

Ela age assim porque quer tornar o homem espiritual dominante, afim de que o homem espiritual ou verdadeiramente racional governe o homem dos sentidos.

O filósofo sente também esta verdade; seu erro somente consiste em não conhecer o Verdadeiro princípio da razão e querer colocar em seu lugar a sua individualidade, sua razão dos sentidos.

Como o homem possui em seu interior um órgão espiritual e um sensorium para receber o principio real da razão ou a Sabedoria divina, e o móbil real da vontade, ou o Amor divino, ele possui também no seu exterior, um sensorium físico e material para receber “a aparência” da, luz e da verdade.

Como a natureza exterior não possui a verdade absoluta, mas somente a verdade relativa do mundo fenomenal, assim também a razão humana não pode mais adquirir verdades inteligíveis, mas somente a aparência do fenômeno que apenas excita nela, para móbil de sua vontade, a concupiscência, no que consiste a corrupção do homem sensorial e a degradação da natureza.

O sensorium externo do homem é composto de matéria corruptível, enquanto que o sensorium interior tem por substrato fundamental, substância incorruptível, transcendental e metafísica.

O primeiro é causa de nossa depravação e nossa mortalidade; o segundo é o princípio de nossa incorruptibilidade e imortalidade.

Nos domínios da natureza material e corruptível, a mortalidade esconde a imortalidade e a causa de nosso estado miserável é a matéria corruptível e perecível.

Para que o homem seja libertado desta angústia, é necessário que o princípio imortal e incorruptível que está em seu íntimo se exteriorize e absorva o princípio corruptível, a fim de que o invólucro dos sentidos seja destruído e que o homem possa aparecer na sua pureza original.

Este invólucro da natureza sensível é uma substância essencialmente corruptível, que se encontra em nosso sangue, forma as ligações da carne e escraviza nosso espírito imortal a essa carne mortal.

É possível romper mais ou menos esse envoltório em cada homem e em conseqüência conceder a seu espírito, uma liberdade mais ampla, para que ele chegue a um conhecimento mais preciso do mundo transcendental.

Há três graus sucessivos de abertura em nosso sensorium espiritual.

O primeiro apenas nos eleva ao plano moral e o mundo transcendental, aí age em nós por impulsos interiores, chamados inspirações.

O segundo grau, mais elevado, abre nosso sensorium para a recepção do espiritual e do intelectual, e o mundo metafísico age em nós por iluminações interiores.

O terceiro é mais alto grau - o mais raramente alcançado - desperta o homem interior por completo. Ele nos revela o Reino do Espírito e nos torna susceptíveis de experimentar objetivamente as realidades metafísicas e transcendentais; daí todas as visões são explicadas fundamentalmente.

Assim sendo, nós temos no interior, o sentido e a objetividade, como no exterior.

Somente os objetos e os sentidos são diferentes.

No exterior, existe o móbil animal e sensual que age sobre nós, e a matéria corruptível dos sentidos sofre a ação.

No interior, é a substância indivisível e metafísica que se introduz em nós, e o ser incorruptível e imortal do nosso espírito recebe suas influências.

Mas, em geral, no interior, as coisas se passam tão naturalmente como no exterior; a lei é por toda parte a mesma.

Portanto, como o espírito, ou nosso homem interior tem um senso completamente diferente e uma outra objetividade do homem natural, não devemos de maneira alguma surpreender-nos que ele fique um enigma para os sábios do nosso século, que não conhecem estes sentidos, e não tiveram jamais a percepção objetiva do mundo transcendental e espiritual.

Eis aí porque eles medem o sobrenatural com a medida dos sentidos, confundem a matéria corruptível com a substância incorruptível, e seus julgamentos são necessariamente falsos sobre um assunto para a percepção do qual eles não possuem nem sentidos nem objetividade, e, por conseguinte, nem verdade relativa nem verdade absoluta.

No que concerne as verdades que anunciamos aqui, temos que agradecer infinitamente à filosofia de Kant.

Kant incontestavelmente provou que a razão em seu estado natural, não sabe absolutamente nada do sobrenatural, do espiritual e do transcendental, e que ela nada pode conhecer, nem analiticamente, nem sinteticamente, e que assim sendo, ela não pode provar nem a possibilidade nem a realidade dos espíritas, das almas e de Deus.

Isto é uma grande verdade, elevada e benéfica para os nossos tempos; é verdade que São Paulo já a havia estabelecido (primeira epístola aos Coríntios Cap. I, V. 2-24); mas a filosofia pagã dos sábios cristãos soube ignorá-la até Kant.

O benefício desta  verdade é duplo.


Primeiramente ela põe limites intransponíveis ao sentimento, ao fanatismo e à extravagância da razão carnal.


Em seguida põe na mais resplandecente luz a necessidade e a divindade da Revelação.


O que prova que a nossa razão humana, em seu estado obtuso não tem nenhuma fonte objetiva para o sobrenatural sem a revelação; nenhuma fonte para instruirse de Deus, do mundo espiritual, da alma e da sua imortalidade; de onde se segue que seria absolutamente impossível sem revelação, saber ou conjeturar nada sobre essas coisas.

Por isto nós somos devedores a Kant por ter provado nos nossos dias aos filósofos, como já o havia sido desde muito tempo em escola mais elevada da comunidade da Luz, que "Sem revelação, nenhum conhecimento de Deus e nenhuma doutrina sobre a alma seriam possíveis".

Por onde, é claro que uma revelação universal deve servir de base fundamental a todas as religiões de mundo.

Assim, segundo Kant está provado que o mundo inteligível é inteiramente inacessível à razão natural, e que Deus habita uma luz na qual nenhuma especulação da razão limitada pode penetrar.

Desta forma o homem dos sentidos ou homem natural não tem nenhuma objetividade do transcendental; daí, à revelação de verdades mais elevadas lhe é necessária e por isto também a fé na revelação, porque a fé lhe dá os meios de abrir seu sensorium interior, pelo qual as verdades inacessíveis ao homem natural lhe podem ser perceptíveis.

É perfeitamente plausível que com os novos sentidos possamos adquirir novas realidades.


Estas realidades existem já, mas nós não as distinguimos porque nos falta o órgão da receptividade.

É assim que, embora as cores existam, o cego não as vê; o som também existe, mas o surdo não o escuta.

Não devemos procurar a falta no objeto perceptível mas no órgão receptor.


Com o desenvolvimento de um novo órgão nós temos uma nova percepção, novas objetividades.

O mundo espiritual não existe para nós porque o órgão que o torna objetivo em nós não está desenvolvido.

Com o desenvolvimento deste novo órgão, a cortina levanta-se imediatamente, o véu impenetrável até o momento, é rasgado, a nuvem à frente do santuário é dissipada, um novo mundo surge num relance para nós; as vendas tombam dos olhos e nós somos, no mesmo instante, transportados da legião dos fenômenos para a da verdade.

Só Deus é Substância, Verdade absoluta, Ele só é aquele que É, e nós somos aquilo que Ele nos fez.

Para Ele, tudo existe na unidade; para nós, tudo existe na multiplicidade.

Muitos homens não têm a menor idéia deste despertar do sensorium interior como também não a têm para o "objeto" verdadeiro e interior da "Vida do Espírito", que não conhecem; nem sequer pressentem de nenhuma maneira.

Daí, ser-lhes impossível saber que se pode perceber o espiritual e o transcendental e que se pode ser levado ao sobrenatural até à visão.

A verdadeira edificação do templo consiste unicamente em destruir a miserável cabana adâmica e construir a templo da divindade; isto é, em outros termos, desenvolver em nós o sensorium interior ou órgão que recebe Deus; depois deste desenvolvimento, o principio metafísico e incorruptível reina sobre o princípio terrestre e o homem começa a viver, não mais no princípio do amor próprio, mas no Espírito e na Verdade de que ele é o templo.

A lei moral passa então a ser amor ao próximo e, o mais puro, enquanto que, ela não é para o homem natural exterior dos sentidos, senão uma simples forma de pensamento; e o homem espiritual regenerado no espírito, vê tudo no ser, do qual o homem natural tem somente formas vazias do pensamento, o som vazio, os símbolos e a letra, que são todos imagens mortas, sem o espírito interior.

O fim mais elevado da religião é a união a mais íntima do homem com Deus, e esta união já é possível mesmo aqui em baixo, mas ela não o é senão pela abertura de nosso sensorium interior e espiritual que torna nosso coração susceptível de receber Deus.

Aí estão os grandes mistérios dos quais a nossa filosofia não duvida, e cuja chave não pode ser encontrada entre os sábios de escola.

Contudo sempre existiu uma escola mais elevada, à qual este depósito de toda ciência foi confiado, e esta escola era a comunidade interior e luminosa do Senhor, a sociedade dos Eleitos que se propagou, sem interrupção, desde o primeiro dia da criação até aos tempos presentes; seus membros, é verdade, estão dispersas pelo mundo, mas eles estiveram sempre unidos por um espírito e por urna verdade, e não tiveram jamais senão um só conhecimento, uma única fonte de verdade, um senhor, um doutor e um mestre, em que reside substancialmente a plenitude Universal de Deus, e que os iniciou, Ele só, nos mistérios elevados da natureza e do Mundo Espiritual.

Esta comunidade da luz foi denominada em todos os tempos a Igreja invisível e interior, ou a comunidade, a mais antiga, da qual nós vos falaremos mais detalhadamente na próxima carta.

Conselheiro D'Eckartshausen
Fonte:
livro esoterico

Imagem:
Nebulosa Tarantula (Hubble/Nasa)

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

...a alegria de ser criança...

A criança que fui chora na estrada. 
Deixei-a ali quando vim ser quem sou; 
Mas hoje, vendo que o que sou é nada, 
Quero ir buscar quem fui onde ficou. 

Ah, como hei-de encontrá-lo? Quem errou 
A vinda tem a regressão errada. 
Já não sei de onde vim nem onde estou. 
De o não saber, minha alma está parada. 

Se ao menos atingir neste lugar 
Um alto monte, de onde possa enfim 
O que esqueci, olhando-o, relembrar, 

Na ausência, ao menos, saberei de mim, 
E, ao ver-me tal qual fui ao longe, achar 
Em mim um pouco de quando era assim.

Fernando Pessoa

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Inteligência: Exercite a sua!


Amante do mundo, das pessoas e das artes. Poeta quando pode e não o quanto gostaria. Esta auto-definição é de Marsyl Bulkool Mettrau, professora universitária e pesquisadora especializada em Altas Habilidades. Inteligência para os leigos. Autora do livro “Inteligência, Patrimônio Social” e de vários trabalhos sobre cognição. 

Nesta entrevista para a Oficina da Memória, Marsyl chama a atenção para o fato de que todos temos talentos, mas que precisam ser ativados. Marsyl viveu um ano na Argélia, no norte da África, período em que dirigiu a Escola Jardim Brasil, para filhos de trabalhadores brasileiros lá residentes. Durante cinco anos seguidos, organizou, em uma universidade pública, a Jornada de Talentos, iniciativa que se destinava, predominantemente, a pessoas pobres, que, em sua maioria, nunca puderam perceber o valor social da arte e da beleza, indo do cordel ao origami, culinária, poesia, coral, pintura, entre outras formas de expressão do talento pessoal. 

Professora e pesquisadora da Universidade Universo, Marsyl coloca em prática o que preconiza como ensinamento. Embora tenha um cotidiano atribulado - amenizado pela presença da netinha Alicia, de apenas seis anos, a quem ela considera sua “delícia”-, encontra tempo para se dedicar à poesia, e está escrevendo o livro “Ninguém Nasce Pronto”. 

Pretende, com a publicação do livro, democratizar uma informação ainda de circulação restrita ao meio acadêmico e especialistas da área: a de que o cérebro se mantém vivo, com capacidade cognitiva mesmo com a chegada da velhice. Para tanto, ela adverte, é preciso estimular o cérebro constantemente, de forma a mantê-lo funcionando em plenitude. 

Aos 68 anos, Marsyl dá dicas para que todos possam exercer seus respectivos talentos e treinar a inteligência, e, assim, tornem a vida mais interessante e envelheçam com dignidade. “Ao idoso que queira manter-se vivo no sentido pleno, digo que tem de ter avidez pelo que é novo, criar expectativas, manter o olhar de criança, de jovem, de modo a poder ficar maravilhado com as coisas novas. Desfrutar o prazer da descoberta!”, ensina a pesquisadora. 

Oficina da Memória – Por que ser criativo é considerado difícil? 

Marsyl – Porque o processo criativo, a criatividade em si, é algo que remete ao novo, ao que não é considerado usual, e isto envolve as pessoas, de um modo geral, em um “medo” de não saber lidar com esse novo. Esse falso medo leva a maioria das pessoas, independentemente da faixa etária, a considerar que ser criativo, necessariamente, é algo complexo. E não é. Além disso, ainda não é costumeiro o estímulo à criatividade. 

Oficina da Memória – O que é criar? 

Marsyl – Criar é dar forma a algo novo em qualquer campo da atividade e, portanto, o ato de criar abrange a capacidade de compreender, que, por sua vez, envolve outras capacidades, tais como: relacionar, ordenar, configurar, significar. Por isto, vemos a criação como uma dimensão da inteligência. Os indivíduos mais altamente criativos têm necessidades fortes voltadas para o desconhecido, o inusitado, o paradoxal, o misterioso, enfim o inexplicado e conservam estas características também na Terceira Idade. O criar, o conhecer e o sentir são as diferentes expressões da inteligência humana, pois é possível ao homem expressar sua inteligência de variadas maneiras e formas, porque ele é capaz de criar (criação), perceber e conhecer o que cria (cognição) e sentir emoções. 

Oficina da Memória – Como identificar uma pessoa criativa? 

Marsyl – Podemos chamar de criativa uma pessoa que sempre faz perguntas, que descobre problemas aonde os outros encontram respostas satisfatórias; que é capaz de juízos e julgamentos autônomos e independentes (do pai, da escola, da sociedade etc.). Ela recusa o já codificado e remanuseia objetos e conceitos sem se deixar inibir pelo conformismo de aceitar as idéias como elas já se apresentam. 

Oficina da Memória – O que é a inteligência? 

Marsyl – É a expressão de um processo dinâmico profundamente afetado pela emoção, desejo e afeto. 

Oficina da Memória – O funcionamento da inteligência humana é um processo dinâmico, sem local de início nem fim, que englobaria três expressões distintas, mas indissociáveis e que se iniciam, se realizam e se desenvolvem no contexto do grupo social. É o que você afirma. O isolamento a que são submetidas as pessoas da Terceira Idade não contribui de forma negativa para a continuidade da dinâmica desse processo? 

Marsyl – Contribui consideravelmente, porque os circunstantes percebem em alguns idosos um ar mais desligado e acham, equivocadamente, que isto se dá pelo fato deles já terem vivido tudo, daí estarem imersos nesse processo de desinteresse em relação ao mundo. Embora estejamos vivendo um período de grande avanço nas pesquisas sobre o cérebro e a mente, ainda não deu tempo de as pessoas, em geral, conhecerem a capacidade efetiva desse órgão. Percebe-se que há um desconhecimento sobre a capacidade permanente do cérebro de interagir e que, para isto, precisa ser também permanentemente estimulado. 

Oficina da Memória – Por falar em estímulo, como incentivar o talento para que ele não se perca? 

Marsyl – Antes de tudo, é preciso assumir que uma mesma pessoa possa ter um ou mais de um deles e se conscientizar de que o talento importa para o que se está em volta. E aquelas pessoas que acham que não o tem, precisam ficar atentas para estimular o seu talento. E para despertá-lo é indispensável ter uma vida participativa. E participação não apenas na chamada vida social, mas ir com frequência aos museus, às galerias de artes, às livrarias, para se manter alerta cognitivamente. Infelizmente, esse tipo de atividade não está tão difundida quanto as atividades sociais, tais como dança de salão e hidroginástica, por exemplo, que são importantes, mas são complementares. As trocas cognitivas, intelectuais são imprescindíveis na vida de qualquer pessoa, independentemente da faixa etária. Oscar Niemeyer, com 99 anos, por exemplo, acaba de se casar. Esse prazer de viver só se mantém porque ele permanece criando, sendo inventivo e produzindo, porque não se permitiu o susto, o lapso da parada. 

Oficina da Memória – Você disse que criar, perceber o que cria e sentir são, exatamente, as dimensões que distinguem o ser humano dos demais animais. Como continuar fazendo isso, mesmo quando envelhecemos e, em tese, já não estaríamos dispostos a isso? 

Marsyl – Essa tese está errada. Esse diagrama é equivocado, porque o cérebro só deixa de funcionar por falta de estímulos, sejam orgânicos ou sociais. Até que ocorra a morte cerebral, que é algo definitivo, tem que se acreditar no poder criativo de cada um, cultivar o cognitivo, se propondo desafios dessa ordem, como, por exemplo, aprender uma língua nova e ler a respeito da cultura do povo que pratica essa língua específica. Não adianta ficar apenas repetindo o que se está acostumado a fazer, como palavras cruzadas, embora elas desempenhem o seu papel. 

Oficina da Memória – Apesar de você assegurar não haver diferenciação de funcionamento das três expressões da inteligência humana em qualquer faixa etária, por que os jovens são considerados mais criativos? 

Marsyl – Porque os jovens se dedicam mais à absorção do mundo, enquanto as pessoas da Terceira Idade acham que entre 70% a 80% do que acontece já é conhecido e não merece a atenção delas. Se um idoso começa a praticar aquarela, ele já sabe que terá que comprar uma tinta e um papel especiais e que terá que representar determinadas situações propícias a esse tipo de expressão artística. Ao idoso que queira manter-se vivo no sentido pleno, é imprescindível que tenha avidez pelo que é novo, crie expectativas, mantenha o olhar de criança, de jovem, de modo a poder ficar maravilhado com as coisas novas. Desfrutar o prazer da descoberta! 

Oficina da Memória – O senso comum dá conta de que a velhice estaria associada à decrepitude não apenas da parte física, mas também da mental. E isto não é verdade, de acordo com os seus estudos. Por que a sociedade pensa assim? Isto é mito ou preconceito? 

Marsyl – Nem mito, nem preconceito: é puro desconhecimento. A sociedade precisa saber que o cérebro se mantém vivo, com capacidade cognitiva mesmo com a chegada da velhice, mas que para isto é preciso ser constantemente estimulado, de forma a mantê-lo funcionando em plenitude. Como essa informação ainda é de circulação restrita aos meios acadêmicos, ainda está em poder dos especialistas da área, vou escrever um livro, cujo objetivo principal é democratizar esse saber; o título é “Ninguém Nasce Pronto”. Não quero colaborar e corroborar com esse desconhecimento. 

Oficina da Memória – Porque algumas pessoas são consideradas talentosas, enquanto outras não? 

Marsyl – O talento é a expressão muito boa do saber e do fazer e, potencialmente, qualquer pessoa pode desenvolvê-lo. Mas como a maioria das pessoas não sabe disso e acha que o talento é algo fatalmente artístico, acaba não indo em frente, não dando asas à criatividade em outras áreas da expressão, pois há vários tipos de talento. Infelizmente, muitos desses outros tipos de talento não são aceitos como os convencionais. Um exemplo: se um jovem demonstra talento em Filosofia, ele passa a ser mal entendido, porque sempre terá alguém para taxar aquele jovem de jovem velho ou jovem com cabeça de velho, como se costuma dizer. Isso faz com que pessoas que tenham talentos diferenciados passem a não acreditar em si próprias e temam o risco de serem expostas, até mesmo ridicularizadas. Essas pessoas precisam é ser encorajadas a demonstrarem esses outros talentos. E esse encorajamento deve ser feito aos jovens inclusive pelas pessoas de maior idade que deixaram de exercer os seus talentos diferenciados. 

Oficina da Memória – Como se cultivar o talento? 

Marsyl – O cultivo do talento deve começar desde pequeno. A pessoa deve ir a exposições, ouvir palestras, ler muito, participar de debates, conversar com os mais variados tipos de profissionais, como capoeiristas e carnavalescos, apenas para citar dois exemplos. Falar em carnavalescos, a pessoa deve ir visitar os barracões das escolas de samba, para perceber a imensidão de caminhos possíveis permitidos pela criatividade. Outro dia, vi na televisão um jovem médico dizendo que iria trocar de profissão, pois ele tinha feito um curso sobre carnaval e queria ser carnavalesco daqui para frente. Outro caminho para se cultivar o talento é não parar nunca de procurar se atualizar, se informar. Não ficar preso à uma única resposta, pois esta é o anti-cultivo do talento. Procurar respostas alternativas é fundamental, de forma a romper com esse modelo das respostas padronizadas, como se constata hoje no mundo acadêmico. Para se cultivar o talento, é fundamental estar sempre pronto a identificar o novo, encará-lo, no sentido de incorporá-lo à vivência. Devem-se cultivar os talentos no sentido de incentivá-los ou, pelo menos, evitar que se percam em todos e também na Terceira Idade. Talento não se desperdiça, principalmente em um país tão carente de mudanças em que só altas doses de criatividade conseguirão possibilitar seu crescimento com qualidade e rapidez. Além de tornar as pessoas que os usam e são reconhecidas e valorizadas mais felizes. 

Oficina da Memória – Você destaca o papel fundamental da motivação no pensamento criativo e na vida em geral. Como se exercitar para praticá-lo? 

Marsyl – Motivação é mola propulsora das forças todas que impulsionam a vida. Uma vez detonada, ela funciona como o diferencial que faz a pessoa ficar permanentemente em estado de perceber o que está acontecendo ou o que está para acontecer de interessante. Uma orquídea que, depois de florescer, murcha e cai, tem que despertar na pessoa, depois que voltar a florescer, o caráter imprescindível do tempo necessário para que isto volte a acontecer. Outra forma de praticá-lo é a pessoa se dedicar à leitura das biografias dos personagens que se dedicaram às descobertas. Acreditar em algo que não se está vendo, estar sempre sintonizado com o novo. 

Oficina da Memória – O que uma pessoa pode fazer no dia-a-dia para ajudar na construção da inteligência ao longo da vida? 

Marsyl – Nosso dia-a-dia já representa um conjunto de desafios mas devemos ter “consciência” dessas dificuldades e de como resolvemos, damos solução, acertadas ou não. Isto é para toda a vida. Reunir grupos e conversar sobre estes fatos e as suas soluções também é algo interessante a ser feito para expressar e usar nossa inteligência maximamente. 

Oficina da Memória – E que dicas você daria às pessoas, sobretudo idosas, para desenvolver e manter a inteligência e, ainda, até mesmo expressá-la? 

Marsyl – Utilizar a leitura com reflexão, discussão, realização de jogos, palavras cruzadas, passeios e participação em variados tipos de eventos sociais, acadêmicos, familiares, etc. Conhecer novas pessoas, novos locais e outras profissões diferentes da que exerce e com as quais está habituada a conviver. Ter curiosidade e saciá-la. Definir um ou mais objetivos a serem alcançados, determinando o tempo e planejando etapas para isto. Listar, a cada ano, esses objetivos e analisar, deixando escrito, se possível: por que consegui? por que não consegui? E assim caminhar sempre: determinando objetivos e criando expectativas próprias e não seguindo as dos outros. Expectativa e desejo são muito importantes e é nos objetivos que reconhecemos os desejos. Reitero aqui o aprendizado da cultura e da língua de outros povos, tais como os italianos, os espanhóis, os franceses, americanos ou outros. Fazer uso amplo do computador, para se sentir em dia e “na moda”, assim como procurar falar a mesma linguagem atual. Aprender e tentar fazer coisas que nunca fez antes é fundamental. Participar de exposições, leituras, rodas de poesia, mas de forma intensa e sistemática, isto é, com continuidade. Observar que a palavra-chave é aprender sempre de variadas maneiras e em variados campos do conhecimento: fotografia, floricultura, carnaval, atividades, etc. 

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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Sistema de crenças: como se instalam no cérebro


Com rapidez não leia as palavras, só as cores.


E aí?
Como foi?
Tente mais uma vez.

A capacidade de nosso cérebro de perceber as letras na sequência certa é mais forte do que a nossa percepção das cores.

Então podemos chegar à conclusão de que estamos presos, condicionados nos nossos costumes e experiências. Uma informação, uma vez registrada no nosso cérebro tem a possibilidade de passar a ser sempre processada do mesmo jeito, repetidamente.

Temos, então, que ver as coisas como elas são, e não como pensamos que são.

A percepção de padrões nos facilita a vida, mas como pode ser percebido através do simples exercício acima, isto pode nos limitar.

No momento em que percebemos padrões repetitivos e queremos mudá-los, começa a nossa jornada em direção à cura, ao bem-estar, a harmonia e ao equilíbrio.

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