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quinta-feira, 5 de abril de 2012
Meditação da Lua Cheia
"Por que meditação na Lua Cheia?
Porque há ciclos no fluxo e refluxo das energias espirituais, com os quais os grupos, tanto quanto os indivíduos, podem conscientemente cooperar.
Um dos principais ciclos de energia coincide com as fases da Lua, alcançando seu pico, sua maré alta, durante a Lua Cheia.
Este é o tempo, portanto, em que a canalização da energia, através da meditação grupal, pode ser eficaz de maneira ímpar.
Hoje, centenas de grupos de serviços de reúnem mensalmente para meditar, de maneira regular, no mundo todo, quando da Lua Cheia.
A Lua mesma não tem nenhuma influência sobre o trabalho, mas a sua esfera, plenamente iluminada, é indicativa de um alinhamento livre e desimpedido entre nosso Planeta Terra e o Sol, o Centro Solar, a fonte de energia para toda a vida na Terra.
Em tais ocasiões, estando a Lua "fora do caminho" e o contato entre o Centro Solar e o Planeta Terra alcançando seu ponto máximo, o homem pode fazer uma aproximação bem definida a Deus, o criador, o Centro da Vida e da Inteligência."
Fonte:
Texto extraído de Objetivos e Propósitos
Fundação Avatar
Dr. J. Treige
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
Encerrando ciclos...
"Encerrando ciclos...
Não por causa do orgulho,
por incapacidade ou por soberba,
mas
porque simplesmente
aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta,
mude o disco,
limpe a casa,
sacuda a poeira.
Deixe de ser quem era,
e se transforme em quem é.
Torna-te uma pessoa melhor
e assegura-te
de que sabes bem quem és tu próprio,
antes de conheceres alguém
e de esperares que ele veja quem tu és.
E lembra-te :
Tudo o que chega,
chega sempre por alguma razão."
Fernando Pessoa
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
A Senhora do Mar
“...Sou a estrela que surge do mar, o mar do crepúsculo,
Trago aos homens os sonhos que regem os seus destinos
Trago as marés do sonho às almas dos homens
As marés que fluem e refluem e tornam a fluir,
As silenciosas marés íntimas que governam os homens;
Elas são o meu segredo e pertencem a mim...”
A sacerdotisa do mar - Dion Fortune
O mar engloba as misteriosas origens da vida, que, após inúmeras transmutações e percursos, para ele volta no final do seu ciclo. Desde o instante em que nascemos do líquido salgado do ventre materno, até quando os nossos pulmões se preenchem com os fluidos corporais no momento da morte, somos um receptáculo para o caminho da água, o nosso mais precioso e sagrado presente. Desde a antiguidade o mar simbolizou vida, magia e mistério, sendo o berço da própria vida, pois ele existiu desde o começo dos tempos, antes que a terra fosse formada. Em muitas culturas a primeira imagem do mundo era de um oceano, ilimitado, indefinido e eterno, pleno de energias que podiam criar as variadas formas da vida. O primeiro estágio do mundo era descrito como uma massa aquática inerte, da qual emergiram a Terra, o céu e todos os seres. O mar primordial, informe, escuro e silencioso representava um modelo para o caos, que existia antes da criação e uma metáfora para o líquido amniótico que sustentava a vida.
Os povos antigos respeitavam o mar como uma força criadora e nutridora, mas também temiam o seu poder destruidor. O mar detinha segredos e mistérios, suas profundezas ocultavam seres sobrenaturais - benéficos ou não - e divindades que moravam em palácios repletos de riquezas e tesouros. As lendas sobre os tesouros enterrados no fundo do mar na realidade são as reminiscências das antigas lendas sobre as divindades que governavam a fertilidade representada pela riqueza da fauna e flora aquáticas.
A Deusa se manifesta em todos os elementos, Ela é a Mãe Terra, o Sopro da Inspiração, a Senhora das Chamas, mas o elemento em que A encontramos mais facilmente é a água, pois assim Ela está presente em todos nós. A vida começou no mar e o nosso corpo guarda esta lembrança no líquido amniótico, nas lágrimas, no sangue, nas células e nos fluidos corporais. Nossos ventres e nossas emoções respondem ao chamado das marés e da Lua e retornaremos ao ventre primordial seguindo o eterno fluir do tempo, do seu inicio até o fim. A Grande Deusa é a quintessência fluida formada das águas, as celestes e as subterrâneas (onde pertencem os córregos, riachos, rios, cachoeiras, fontes, lagos, mares), em cujo ventre a vida se formou como se fosse um peixe.
A Mãe do Mar aparece de várias formas, às vezes Ela é escura e profunda como o vazio primordial onde a vida apareceu primeiramente. Outras vezes Ela brinca e ri com as ondas na areia, brilha com a luz do Sol ou da Lua ou se enfurece e rodopia com o rugido da tempestade. A sua presença foi louvada e honrada em inúmeras canções e poemas, apareceu em mitos, histórias, contos e lendas em vários lugares do mundo. Dion Fortune - escritora, ocultista e sacerdotisa da Deusa - vê o mar como “origem de todos os seres, a vida nela aparecendo como uma onda silenciosa que segue seu rumo e volta para recolhê-la no final.”
Ao longo dos milênios a Mãe do Mar recebeu muitos nomes e representações, Ela era a Grande Deusa cujas marés seguiam as fases da Lua e que foi vista como Tiamat, o dragão das profundezas, Atargatis e Derceto, deusas sírias com caudas de peixe e regentes da fertilidade, equivalentes das deusas venusianas Astarte e Ishtar, Ísis e Maria adoradas como Stella Maris, a Estrela do Mar ou Iemanjá, a nossa Mãe das águas.
A Mãe do Mar como “Senhora dos peixes” tem uma origem muito antiga, foram encontradas esculturas de uma deusa–peixe datadas de 6000 a.C. no sitio arqueológico de Lepenski Vir na antiga Iugoslávia, indicando um culto exclusivo de moças, que nos períodos de seca ou enchente se ofertavam à Deusa - deixando-se levar pelos redemoinhos do rio Danúbio - para implorar Sua benevolência.
Na Grécia existiam antigos cultos da Senhora da navegação e da Mãe das criaturas marinhas que tinham vários altares. A Mãe do mar é um emblema universal do nascimento e renascimento, reproduzido nas religiões patriarcais de maneira oculta e simbólica pelo batismo e a pia batismal. O peixe é totem da Deusa Mãe e aparece como sua montaria ou emblema, estilizado como yoni, símbolo do órgão sexual feminino, uma imagem central do ventre nos mitos de fertilidade e renascimento, adotado depois como símbolo cristão (por ter sido considerado Cristo o pescador das almas).
No mito babilônio da criação o primeiro ser foi Tiamat, Mãe de todos os deuses e detentora das tábuas dos destinos, que se apresentava como uma grande serpente – ou dragão- e regia as águas salgadas dos mares. Fecundada pelas águas doces pertencendo ao seu amado Apsu, do seu imenso ventre nasceram todas as formas de vida, perfeitas e monstruosas, até que no final nasceram os deuses. Após um tempo, os filhos divinos se revoltaram contra seus pais, mataram Apsu e o primogênito Marduk despedaçou Tiamat, criando das metades do seu corpo o céu, a Terra e todas as águas.
Mari significava mar e ventre na tradição suméria, Afrodite Mari era conhecida como a Mãe de todos, nascida do mar e Criadora da essência da água. Como Afrodite, Pandemos é representada cavalgando um golfinho e foi reverenciada na Síria como Atargatis.
A Mãe primordial grega era Rhea, que separou os elementos sólidos e líquidos do abismo primordial e criou assim a Terra e o mar. Tetis, descrita como a Grande Rainha grega do oceano, filha de Gaia e Urano, chamada de Mare Nostrum pelos romanos, era mãe de 6000 filhos, suas 3000 filhas sendo as Ocêanides. Depois da revolta e vitória dos deuses olímpicos sobre as divindades pré-helênicas, a regência do mar foi conferida a Posêidon. Para poder governar ele teve que casar-se com a regente ancestral do mar, a deusa Anfitrite, que continuou governando as profundezas do mar, enquanto Posêidon dirigia sua carruagem na superfície das ondas, acompanhado pelas ninfas marinhas, as Nereidas. Na mitologia celta a deusa Fand também regia as profundezas do mar, enquanto seu marido Manannan Mac Lyr navegava na superfície. O casal de gigantes nórdicos Ran e Aegir era temido pelos navegantes, que lhes pediam proteção fazendo oferendas e orações, para evitar que as tempestades levassem seus barcos para as moradas divinas do fundo do mar. Suas filhas, as Donzelas das Ondas em número de nove eram as mães do deus Heimdall, o guardião de Bifrost, a ponte do arco-íris da mitologia nórdica. Temu era o nome egípcio do vazio uterino cósmico e primordial, do qual foram criadas as divindades e os mundos.
Na China existe a lenda de uma moça - Lin Mo Ning - cujas qualidades extraordinárias de devoção a Kwan Yin, a sua bondade e as curas milagrosas por ela realizadas lhe permitiram a iluminação e ascensão. Aos 28 anos ela foi elevada para o céu em uma nuvem dourada e se transformou em um arco-íris, equivalente chinês do dragão e símbolo de cura e boa sorte. Ela foi deificada e tornou-se Mat-su ou Mazu, a deusa do mar reverenciada até hoje em inúmeros templos a Ela dedicados, como protetora dos barcos nas tempestades e das pessoas nas inundações.
O mito de Sedna, deusa do mar dos inuits - Senhora dos animais marinhos, Doadora da fertilidade - retrata a trajetória mítica de uma jovem mortal passando por decepções afetivas e filiais. Ao ser sacrificada pelo seu pai (para ele se salvar) representa o caos seguido pela abundância, pois ao mergulhar nas profundezas do mar, a jovem Sedna se transformou na mãe arquetípica fornecedora do alimento para o seu povo.
Na África a regência do mar é dividida entre Olokun (que aparece ora como orixá masculino, ora como feminino) e Yemayá ou Iemanjá, também honrada como Iyá Mo Ayé, a Mãe dos mundos, Criadora do céu e do mar. Originariamente Iemanjá era divindade das águas doces, regente do rio Ogum, associada à fertilidade das mulheres, maternidade, criação do mundo e continuidade da vida. Por ser regente do plantio e colheita (dos inhames) e da pesca, seu nome ficou Yeyé Omo Ejá, a “Mãe dos filhos peixes”. Nas representações míticas e nas várias imagens seus poderes - gerador e nutridor - são revelados pelos seios fartos e as ancas largas. Nos mitos Ela aparece como uma Grande Mãe, protetora das cabeças dos mortais, generosa nas suas dádivas e representando os diversos papéis da mulher: mãe, filha, esposa, irmã.
Na transposição para o Brasil foi transferido para Iemanjá a regência do mar, que na África pertencia a seu pai ou mãe, Olokun, pois segundo conta uma lenda “ as lágrimas derramadas pelos escravos na travessia do oceano salgaram as águas doces de Iemanjá”. Mas mesmo considerada orixá do mar, Iemanjá continua sendo saudada no Candomblé como Odo Iyá, Mãe do rio, da qual sua filha Oxum herdou o domínio das águas doces. Outro aspecto de Iemanjá no Brasil é relacionado à sua denominação deRainha do mar, que a associa à figura da sereia, de origem africana (as três sereias de Angola: do mar, do rio e da lagoa) e europeia (dos mitos gregos, celtas, e nórdicos). Como divindade marinha Iemanjá tem um papel duplo: de mãe que controla as marés e propicia a pesca, e também de sereia sedutora e sensual que atrai o pescador ou o navegante para as profundezas do mar.
Concebida popularmente como a Mãe propiciadora de saúde, prosperidade e boa sorte, além de garantir sanidade, equilíbrio e clareza mental como “dona das cabeças”, Iemanjá aos poucos foi perdendo seus atributos originais de divindade guerreira e mulher sensual dos mitos africanos e foi sendo ampliado o seu papel de deusa mãe. À medida do fortalecimento do seu papel materno, Iemanjá foi sendo aproximada da figura de Nossa Senhora com quem Ela é sincretizada em Cuba e Brasil e suas festas comemoradas de acordo com o calendário católico (como Nossa Senhora das Candeias na Bahia, do Carmo no Recife, dos Navegantes no Rio Grande do Sul, da Conceição em São Paulo). Aos poucos Ela foi assumindo novos aspectos iconográficos trocando seus traços africanos por características europeias e sendo retratada como uma mulher branca, com longos cabelos negros e lisos, de vestido azul com cauda, caminhando sobre as ondas do mar, espalhando rosas brancas e usando uma tiara em forma de estrela, aparecendo assim como a própria Stella Maris. Na Umbanda foi atribuída à Iemanjá a chefia de falanges de “caboclos e caboclas do mar”; associada a diferentes Mães d’Água indígenas foi sendo chamada de Iara, a Mãe d’Água ou Senhora Janaina. Seus atributos de sedução e sensualidade foram transferidos para uma entidade complexa e controvertida - Pomba Gira - e realçados apenas os atributos maternos e protetores. Na Santeria cubana Iemanjá é sincretizada com La Virgem dela Regla e retratada como uma Madona Negra, protetora dos navegantes.
A crescente participação da população nas Suas festas nas praias brasileiras - principalmente nos dias 31 de janeiro e dois de fevereiro - tornou Iemanjá o orixá mais popular e reverenciado no Brasil, não somente pelos adeptos de Candomblé e Umbanda, mas pela sociedade como um todo.
Transcendendo as tradições afro-caribenhas que deram origem aos cultos modernos, Iemanjá é cultuada atualmente pelos círculos sagrados femininos, os adeptos dos grupos da tradição Wicca e neo-pagãos, nos Estados Unidos e no Brasil, como uma Deusa Mãe. Apesar das suas modificações ao longo do tempo e espaço, os atributos de amor e nutrição que Iemanjá traz para seus adeptos são prova do seu poder milenar como protetora das crianças, mulheres e famílias. Enquanto Olokum detém os poderes de destruição subindo enfurecida das profundezas do mar, Iemanjá rege em contrapartida a superfície e a calmaria. A suavidade da filha pode acalmar a fúria da mãe, pois ambas representam os ciclos de mudança: dar a vida, proteger, abrigar, nutrir, transformar ou dar-lhe o fim. Com a ajuda de Iemanjá podemos superar as marés e mudanças na nossa vida e buscar a tranqüilidade mesmo no meio da tempestade.
Os mitos da Mãe do Mar refletem o mundo natural ao nosso redor e principalmente o poder do oceano, que inspira respeito e medo pela sua força destruidora como vemos nostsunamis, tufões e maremotos. A mutabilidade do mar nos ensina como buscar o equilíbrio e a conciliação dos opostos na nossa própria natureza, alternando a ação e a quietude, a aceitação da dor e da alegria, as fases de tumulto ou de estagnação.
Ao longo dos séculos os seres humanos lidaram com os desafios do mar e por isso o reverenciavam por saberem que estavam à mercê das suas forças. Mas agora, pela primeira vez na história da humanidade, os homens têm o poder de envenenar as suas águas, de matar sem discernimento ou necessidade os seres vivos que nele habitam. Para continuarmos a receber as bênçãos e dádivas da Mãe do Mar precisamos nos envolver em alguma atividade ecológica para impedir a destruição dos recifes de corais, a extinção das espécies marinhas, a poluição pelos resíduos industriais e domésticos. Precisamos honrar a Mãe do Mar e lhe pedir compaixão e generosidade para o nosso renascimento, nos elevando da cobiça, violência, falta de respeito e compaixão com os outros seres para a harmonia, o convívio pacifico e a serenidade, exterior e interior.
“Devemos nos lembrar de que o nosso espírito nos leva de volta para a água, pois ele flui no pulsar do rio e retorna para o mar onde a vida começou. Nossas almas são pesadas com tanta dor e decepção e difíceis de carregar, mas nós pediremos ao rio levar nosso peso para o mar e oraremos ao mar lavar e renovar os nossos espíritos. Nossas lágrimas de dor e tristeza lavam nossas almas e nos libertam de tudo o que nos atordoa, removendo as marcas de sofrimento. Levantemo-nos radiantes e sigamos em paz, pois o nosso espírito foi lavado pelas ondas do mar e por elas renovado”.
Adaptado do “Book of Daily Prayer for Today’s Changeable World”
Mirella Faur
Fonte:
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
Quando deveriam ser celebrados os festivais no Hemisfério Sul? (Antroposofia)
Sem que tomemos consciência da geografia espiritual da porção sul da Terra passando certo tempo nela, qualquer resposta a esta questão terá de ser provisória. Mas a ciência espiritual permite-nos contribuir com uma observação para este tema.
Devido à configuração física e etérica da Terra ocorre que certos processos anímico-espirituais no homem estejam em harmonia com o ritmo anual da natureza no hemisfério norte, mas não no hemisfério sul.
Todos os relacionamentos entre terra e água, ou seja, entre os elementos físico e etérico, são diferentes no hemisfério sul quando comparados aos do hemisfério norte; podendo mesmo ser em muitos aspectos, opostos. Assim, no hemisfério norte há uma considerável preponderância de terra sobre água, enquanto no hemisfério sul dá-se o inverso.
De acordo com o ensinamento científico-espiritual sobre os éteres, a água está mais conectada com a atuação do éter sonoro e a terra seca com o éter vital. Assim, uma vez que o éter sonoro tem um relacionamento com a Lua e que o éter vital com o Sol, o hemisfério Norte, com seu centro no círculo polar Ártico, pode ser considerado de natureza solar, enquanto o hemisfério sul com seu centro na Antártida é de natureza mais lunar. Portanto, no norte temos um princípio mais formativo, e no sul uma tendência mais ao amorfo, à ausência de forma. Isto se manifesta no grau consideravelmente menor do contraste entre verão e inverno (e entre as estações em geral) que encontramos no hemisfério sul se comparado ao hemisfério norte, onde as estações são marcadamente distintas e há maiores variações na temperatura.
Nós também podemos observar o efeito destas tendências respectivamente mais formativa e mais amorfa na evolução cultural dos hemisférios norte e sul. Por esta razão a evolução da humanidade, desde a era Atlante até nosso tempo presente, teve lugar especialmente no hemisfério norte; este foi o caso até do maior evento da história da Terra, o Mistério do Golgota.
Historicamente, os povos do hemisfério norte tiveram a tarefa de conquistar o domínio do mundo material, a fim de, então, tendo se emancipado completamente do mundo divino-espiritual, chegar a uma experiência da individualidade livre.
Nós agora alcançamos este ponto mais profundo da evolução. E o aparecimento da Antroposofia corresponde hoje à necessidade histórica mundial de que a humanidade ascenda novamente aos mundos espirituais, embora agora plenamente consciente, a partir desta experiência recém-alcançada da liberdade.
A humanidade do Norte pode encontrar suporte para esta tarefa que tanto lhe exige no ciclo anual, se certos processos da evolução anímico-espiritual puderem entrar em harmonia com ele. Ademais, no futuro próximo, a ascensão ao mundo espiritual dificilmente poderá se realizar para a humanidade sem a ajuda das forças cósmicas que se manifestam no ciclo do ano. Pois os obstáculos contra tal ascensão oriundos da civilização materialista do presente são tão consideráveis em nossos tempos que os seres humanos necessitarão desse suporte em medida crescente se realmente quiserem cumprir a tarefa de chegar da quinta à sexta época pós-atlante, quando uma cultura puramente espiritual florescerá na Terra.
A mais perfeita harmonia entre a alma humana e a atuação das forças cósmico-espirituais será então atingida, pois esta cultura espiritual da sexta época consistirá, em extensão significativa, justamente na conquista deste equilíbrio entre homem e natureza (o ciclo do ano).
Os homens então se desenvolverão de tal maneira, interiormente, que forças espirituais superiores fluirão em direção a ele através de sua relação com a natureza.
Aquilo que Michael espera hoje dos homens – que eles aprendam a ler no livro da natureza – representa o primeiro passo nesta direção.
Tal possibilidade de levar à harmonia o anímico-espiritual no homem com o cósmico-espiritual na natureza não existirá para sempre, e é por isso que é tão importante que uma ponte para a espiritualidade cósmica seja edificada enquanto as condições permitam que se o faça.
Esta possibilidade somente existirá até aproximadamente o fim da sexta época cultural (Eslava), pois já na sétima época (Americana) condições bem diversas, tanto do ponto de vista natural quanto espiritual penetrarão na evolução terrestre.
Rudolf Steiner descreve estas poderosas mudanças com as seguintes palavras: “ Ora, os senhores sabem que a Lua voltará a unir-se à Terra. Este momento em que a Terra e a Lua se unirão será estabelecido por aqueles astrônomos e geólogos que vivem em abstrações daqui a milhares de anos no futuro, mas isto é mera ilusão. A verdade é que este momento não está assim tão distante...” E Rudolf Steiner prossegue dizendo que este momento virá no sétimo ou oitavo milênio após o nascimento de Cristo. (GA 204, 13/05/1921)
“E assim, tal como a partida da Lua, nos tempos Lemúricos, foi um evento de extraordinária importância, da mesma forma, a re-entrada da Lua será um acontecimento de magnitude similar.” Na descrição da separação da Lua em seu livro ‘A Crônica do Akasha’, Steiner escreve: “Desse modo a contemplação da crônica do Akasha avançou até o ponto imediatamente anterior àquela catástrofe cósmica que foi produzida pelo afastamento da Lua em relação à Terra”.
Na palestra de 31 de dezembro de 1910, Rudolf Steiner refere-se a um ritmo bem particular da evolução terrestre que dura de ‘seis a sete ou oito milênios’ e se revela em manifestações de natureza polarmente opostas. Estas manifestações estariam associadas à atividade dos Espíritos da Forma (os Exusiai) que agora atuam externamente nos relacionamentos físicos da Terra, e interiormente nas almas dos seres humanos. A última manifestação exterior se deu no tempo da grande catástrofe atlântica. A manifestação interior mais poderosa, por outro lado, ocorreu no ano de 1250. A próxima grande penetração nas condições físicas exteriores ocorrerá por volta do oitavo milênio, quando mediante a atividade conjunta dos Espíritos da Forma, e principalmente do mais poderoso deles, Yahveh, a Lua se reunirá à Terra – acontecimento que estará ligado à mudança na posição do eixo da Terra.
Isto significa, contudo, que ao receber novamente a Lua em seu seio, na Terra, os processos de orientação espiritual e etérica na natureza serão completamente alterados. O ciclo do ano tal como o conhecemos atualmente já não existirá. Porém se o homem trouxer as forças espirituais da Lua sob seu domínio de forma correta ele será capaz de atuar sobre a natureza de maneira mágica, de sorte que os novos processos que emergirão dela corresponderão ao ciclo anual de hoje.
De acordo com afirmações de Steiner, na Antiga Lemúria, a Lua foi expulsa a partir do hemisfério sul da Terra, tendo sido esta a causa do fato de os relacionamentos entre água e terra ( etérico e físico ) neste hemisfério terem se tornado tão diferentes daqueles do hemisfério norte. Esta região está predestinada a preparar em nosso tempo o retorno da Lua à Terra na sétima época cultural. Também poder-se-ia dizer: toda a configuração físico-etérica do hemisfério sul é uma indicação das condições passadas e futuras da Terra que foram descritas (separação e re-entrada da Lua).
A evolução cultural do hemisfério norte tem como tarefa trazer o mistério solar do Cristo à plena manifestação por toda a Terra, e desse modo, forjar a transição, a construção da ponte entre estes dois eventos cósmico-terrenos associados ao hemisfério sul.
Portanto vemos que o ideal da sexta época é chegar à completa harmonia espiritual com o aspecto cósmico da natureza bem como ser capaz de extrair dela os mais elevados impulsos culturais. O ideal da sétima época cultural é, entretanto, determinar magicamente os processos naturais a partir dos próprios recursos.
Em outras palavras: Se na sexta época a ponte para o cosmo espiritual é formada, na sétima o homem estará em condição de realizar por si mesmo, a partir de seus poderes espirituais, aquilo que será necessário para o prosseguimento da evolução da humanidade sobre a Terra, e que na época anterior ele próprio moldara da natureza.
Disto, vê-se claramente a natureza da tarefa que aguarda os seres humanos que por seu carma vivem no hemisfério sul – em contra-distinção àqueles que vivem no hemisfério norte – com respeito ao ciclo anual e seus festivais.
De conformidade com as palavras de Steiner acima citadas, o tempo do retorno da Lua não está tão distante – entre o sétimo e oitavo milênio, ou seja, no terço final da sétima época cultural.
Como, entretanto, este processo da re-entrada da Lua e as mudanças de todas as leis naturais associadas a ela só acontecerá gradualmente, pode-se também dizer que em certa medida toda a sétima época cultural estará sob o signo deste evento que chegará à conclusão com seu fim.
Como já foi dito, isto também pode ser visto do ponto de vista histórico-cultural. No ‘Sul’, em virtude do considerável excesso de água sobre a terra sólida, há um senso de isolamento na paisagem, de cósmica expectativa por aquilo que um dia terá lugar ali. É devido a esta qualidade particular que, enquanto no Sul existem de fato relíquias de antigas culturas, não há qualquer evolução cultural “conseqüente” como no Norte, isto é, na evolução através das sucessivas épocas culturais pós-atlantes não há a participação decisiva do hemisfério sul.
Desde os tempos modernos as terras ao Sul tornaram-se partícipes na evolução cultural Cristã vinda do Norte, e têm com isso sua tarefa espiritual diante de si: a de formar festivais cristãos somente a partir do poder humano interior sem buscar qualquer suporte na natureza, a fim de preparar desse modo a já mencionada futura era da humanidade. Os seres humanos que vivem nessas regiões podem, uma vez que pertencem culturalmente à grande corrente cristã da evolução, preparar já na quinta época os fundamentos para aquele estágio que na sétima época cultural será destino de toda a humanidade.
Consequentemente, existem basicamente dois possíveis caminhos para o hemisfério Sul. A diferença entre eles é que no primeiro caso a sexta época é preparada e no segundo, a sétima; e a tarefa do hemisfério sul em favor da humanidade está essencialmente conectada com a última.
Aqui, os seguintes pensamentos também podem ser considerados: A presente quinta época cultural tem como principal característica o desenvolvimento do pensar humano, enquanto que a característica da sexta época será o desenvolvimento do sentir e aquela da sétima, a vontade. Assim, para aquelas pessoas que vivem no hemisfério Sul é possível ou conectar-se mais pelo sentir à vida da natureza à sua volta, ou seguir por caminhos totalmente novos e não trilhados a partir de seus impulsos volitivos interiores e independentes.
Há, ademais, o grande mistério que só a ciência espiritual pode revelar-nos hoje, qual seja, que todo o mundo natural que nos circunda carrega consigo somente forças do passado. Se, no entanto, estivermos buscando forças do futuro, então teremos de nos voltar para o interior do homem, onde em seu corpo astral e Eu ele é capaz de desenvolver sua natureza livre e criativa em completa independência do mundo natural.
Aqui se inicia a tarefa por cuja realização se lutará até o fim dos tempos terrestres. Rudolf Steiner se referiu ao tema com as seguintes palavras: “Se, portanto, não quisermos ver morrer a natureza, então dever-se-á doar a ela aquilo que o homem tem através de seu corpo astral e ego. Isto significa que, como o homem possui por meio de seu astral e eu idéias autoconscientes, ele deve – caso queira assegurar um futuro à Terra, de outro modo falecente – trazer a ela o que nele vive de natureza invisível, supra-sensível.”
Em outras palavras, toda a Terra à nossa volta – uma vez que por sua substância físico-etérica pertence ao que podemos considerar como existência natural – não tem qualquer futuro. Assim, numa perspectiva mais ampla das circunstâncias naturais e espirituais que se estendem pela sexta e sétima épocas culturais, a Terra só poderá ser salva da morte física por meio de seres humanos que tragam a ela, a partir de sua livre vontade, o que é de natureza invisível e supra-sensível neles.
Isto não tem nada a ver com o mundo natural como tal, uma vez que provem do corpo astral e do Eu humanos, mas deve penetrá-lo como uma força transformadora e redentora. Pois somente “quando formos capazes de implantar na Terra aquilo que ela não possui enquanto entidade puramente natural é que uma Terra do Futuro pode surgir.”
Naturalmente, é extremamente difícil celebrar festivais cristãos sem contar com o suporte do ciclo do ano tal como este transcorre na natureza. A fim de celebrar o Natal no solstício de verão porém, não se deveria imitar as condições do hemisfério norte ( neve, etc) mas antes encontrar formas totalmente novas para as celebrações, mais fundamentadas num background espiritual oculto.
Este será um verdadeiro trabalho pioneiro que pode, no entanto, encontrar suporte no pensamento de que dessa forma toda a humanidade gradualmente se prepara para um futuro mais distante que aquele cuja preparação permanece uma tarefa particular da humanidade do norte.
Apenas se esta tarefa for cumprida pela humanidade do Sul (e isto já deve ocorrer em certa medida durante a quinta época pós-atlante) a raça humana seguirá vivendo na Terra como uma entidade espiritual passando através dos festivais cristãos.
Pois o significado mais profundo da celebração simultânea dos festivais sobre toda a Terra é que após o Mistério do Gólgota estes festivais representam os estágios de união do Espírito Crístico com a Terra.
Assim, por meio de celebrações simultâneas por todos os povos da Terra, um verdadeiro vaso pode ser moldado para o grande Eu da humanidade, o Cristo, que então conduzirá a humanidade em direção ao grande ideal da humanidade divina.
O que aqui foi dito não tem a pretensão de ser a resposta definitiva para a questão em consideração, mas antes, quer indicar as conseqüências para aqueles que, interessados no tema, vivem no hemisfério sul de nosso planeta.
Outro aspecto desse problema está associado à obra de Rudolf Steiner intitulada “Calendário da Alma” em que o relacionamento da alma com processos cósmico-espirituais da natureza é muito mais uma necessidade.
Por esta razão Rudolf Steiner respondeu à pergunta de Fred Poeppig sobre como se deveria trabalhar com tais versos no hemisfério sul, da seguinte maneira: “Os versos semanais do calendário da alma devem ser invertidos, ou seja, deveriam ser usados de acordo com os ritmos sazonais da localidade particular”.
Naturalmente, se alguém age dessa forma com os versos, os ritmos da natureza não estarão em correspondência com os quatro festivais anuais. A fim de restaurar a correspondência, o verso oposto deve então ser incluído, o que muito antropósofos vivendo no hemisfério norte já realizam. Desse modo, o elemento unificador na evolução humana também pode ser mantido no trabalho meditativo com o Calendário da Alma.
Fonte:
Livro "O Ciclo do Ano como Caminho de Iniciação" de Sergei Prokofieff
domingo, 25 de setembro de 2011
2012 The Movie
Part I -- THE HISTORY BEHIND 2012 -- How time changes consciousness, rare 26,000 yr occurrences, how the RCC ties into 2012, 11:11, solar maximum, 2011 vs 2012, acceleration of creation, the numbers behind 2012, time speeding up, transformation of consciousness, corruption of Gregorian calendar, other 2012 end dates, the New Earth, world chakras, time travelers and 2012, Schumann resonance, alchemy and our solar system, climate change, the photon belt, the I Ching, Mayan astrology, Galactic Alignment, Mayan obsession over time, the cycles of time, the end of a world age,timewave zero
Part 2 -- THE MAYAN CALENDAR EXPLAINED -- Ian Lungold thoroughly explains the levels of creation in the Mayan calendar
Part 3 -- CROP CIRCLES AND 2012 -- Daniel Pinchbeck, David Wilcock, Geoff Stray and Gregg Braden talk about crop circles and 2012
Part 4 -- FEAR AND 2012 -- The roots of terrorism, 911, social engineering, how the few control the many, Illuminati, RFID chips, love, fear and spirituality, vaccinations, aspartame, fluoride, GMO's and Monsanto, government propaganda, mind control, TV mind manipulation, ET help from above, neocons, fear mongering, consciousness and fear, Freemasons, ordo abchao (order out of chaos), 33 longitude and latitude, reduction of stress, the mind and illnesses, the gift of fear, fear and love vibrations,
Part 5 -- DNA UPGRADE? -- the DNA of love and fear, activation of DNA, phantom DNA effect, emotions and DNA, Fibonacci sequence, DNA upgrade, gratitude and DNA
Part 6 -- SPIRITUALITY AND 2012 -- negative prophecies will not occur, synchronicities and 2012, metaphysical phenomena, consciousness shapes reality, left brained versus right brained thinking, suppression of the feminine, spiritual transition of the psyche, seeking inner truth, repression of emotions, intention, how some people may get left behind, the Mandelbrot sequence, thoughts = manifestations, harmonic unity, the miracle of YOU, centering yourself spiritually, torsion fields and consciousness, the power of meditation, opening a channel to your higher self, following your intuition, the power of light, now is the time to expand your consciousness, time travel, expanded consciousness, listening to your heart, the end of a 26,000 year opportunity, research tools, the bottom line
PLEASE NOTE: This video was made to promote global consciousness.
domingo, 26 de junho de 2011
Home / Documentário
Sensacional documentário alemão: HOME,
com áudio em inglês (tempo: 1 hora e 33 min).
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sábado, 2 de abril de 2011
Agricultura Biodinâmica / A arte de cuidar da Terra
Uma compreensão profunda das leis da vida, adquirida através de uma abordagem qualitativa e global da Natureza é a base da agricultura biodinâmica.
Ela abre novas vias para que o Homem se reconcilie com a Natureza e cumpra a sua missão de mediador entre o céu e a terra.
A agricultura biodinâmica foi fundada na Alemanha, em 1924, por Rudolf Steiner. Em resposta a um grupo de agricultores, que lhe solicitaram orientações para resolver os problemas de degradação ambiental decorrentes das práticas agrícolas, Steiner criou então o “curso aos agricultores”. As conferências que o integraram estão reunidas num livro que constitui os fundamentos da biodinâmica.
A abordagem proposta por Steiner baseia-se numa compreensão profunda das leis que regem o que é vivo, tendo por pano de fundo “a fecundação das forças terrestres pelas forças cósmicas”.
Esta ciência agrícola não é um simples método ou um conjunto de receitas; é antes um caminho, uma arte de cuidar da terra, onde cada agricultor ou jardineiro precisa de desenvolver uma percepção e sensibilidade abrangentes. Através delas, pode adaptar a prática agrícola às condições concretas de cada região e entender o que se passa na sua quinta ou jardim.
Segundo a concepção biodinâmica, a Natureza está de tal modo degradada pelo Homem que já não é capaz de se regenerar por si mesma. Hoje, é necessário que o mesmo Homem exerça uma ação terapêutica para incrementar a vitalidade e a saúde do solo, das plantas e dos animais. Esta ação é essencial para se produzir alimentos saudáveis e melhorar a qualidade do ambiente.
Em Sintonia com o Universo
Na perspectiva biodinâmica, o Homem tem uma missão a cumprir na terra: trazer a ordem do Universo à matéria virgem, espiritualizando-a.
Para isso, deve procurar entender a dinâmica da vida e equilibrar as duas categorias de forças que atuam nos seres vivos: as forças da luz e as forças da terra.
Assim, o agricultor biodinâmico coopera com as diferentes formas de vida, criando relações com todos os reinos da Natureza, e promove a canalização e concentração de energias para transformar a matéria.
A ideia subjacente é a de que “o Céu faz nascer, a Terra alimenta e o Homem afina”.
As quintas biodinâmicas funcionam como antenas que captam a energia cósmica e impregnam a matéria com essa informação. Como resultado, o agro-sistema é vivificado e são produzidos alimentos que, pelas suas qualidades, ajudam o homem a sintonizar-se com a sua natureza espiritual.
Na prática, a agricultura biodinâmica partilha alguns aspectos com a agricultura biológica.
As unidades produtivas têm uma elevada diversidade biológica, o que minimiza o desenvolvimento de pragas e doenças. São usadas a rotação e a consociação de culturas, bem como a fertilização orgânica e é totalmente rejeitado o uso de agro-químicos. No entanto, a biodinâmica toma em consideração outros aspectos para além dos meramente materiais.
O que a distingue são três elementos fundamentais: o uso de preparados biodinâmicos para tratar o solo e as plantas, o composto usado como fertilizante e a utilização de um calendário astrológico na escolha dos momentos para realizar as actividades agrícolas.
Religar a Terra ao Céu
Este calendário, desenvolvido por Maria Thun, indica, para os dias de cada ano, as atividades que devem e não devem ser realizadas, de acordo com as energias cósmicas que chegam à Terra (interpretadas à luz de conhecimentos astrológicos).
Através dele, o agricultor sabe quais são os momentos favoráveis para impregnar o solo e as plantas com as qualidades que os vivificam.
Por exemplo, ao lavrar um solo num momento favorável a esta prática, ele concentra energias que promovem a vida microbiana e a microfauna que nele vivem - e são fundamentais à sua fertilidade.
As constelações zodiacais simbolizam (ou informam sobre) as forças formadoras que atuam na Terra. O calendário leva em linha de conta não apenas os signos em que os planetas transitam mas também os ângulos que estes formam entre si, tomando a Terra como referencial. São ainda considerados os movimentos ascendentes e descendentes do Sol e da Lua (relativamente à altura máxima face ao horizonte terrestre), pois a eles está ligada a actividade dos elementais.
As três atividades agrícolas mais fortemente influenciadas pela energia que chega do céu, e que, portanto, devem seguir mais de perto as indicações do calendário são: as lavouras, as sementeiras, e a dinamização e aplicação do preparado 501, que regula a assimilação da luz por parte da clorofila.
Nas palavras de Xavier Florin, engenheiro agrónomo do Mouvement de Culture Bio-Dynamique (Confederação das Associações de Biodinâmica Francesas), “o calendário ajuda a pôr-nos novamente em contacto com o cosmos”. Porém, não basta seguir as indicações nele contidas para promover esta ligação: um sistema agrícola convencional (onde a fertilização é química e se utilizam pesticidas e herbicidas) praticamente não reage à utilização do calendário.
O organismo agrícola
Para que uma unidade agrícola possa responder às influências cósmicas, é necessário que nela se cultive segundo o método biodinâmico já há algum tempo, dado que este permite reduzir a poluição (que está na base da não resposta face às forças da luz). Aliás, quanto maior for o número de anos de cultura biodinâmica, maior é essa resposta.
Ao contrário da agricultura convencional, o método biodinâmico não tem por objetivo a maximização das produções no curto prazo.
No centro do seu interesse está a vida.
Toda a prática converge no sentido da busca da saúde, da beleza (como resultado da harmonia) e da perenidade.
Assim, as quintas biodinâmicas são concebidas como um organismo vivo, onde as suas componentes mineral, vegetal e animal estão em equilíbrio.
Enquanto que na agricultura biológica pode haver uma unidade que apenas produz vegetais, numa quinta biodinâmica há sempre uma grande diversidade de animais, em relação de equilíbrio com as produções vegetais.
Essa diversidade também é procurada relativamente às plantas, incluindo-se muitas que não se destinam à produção agrícola.
Cada planta tem uma relação com o céu e nela há influências planetárias dominantes. Por isso, a escolha das plantas e da sua disposição espacial numa quinta tem em conta estas influências, para criar harmonia e equilíbrio de forças. É respeitada também a simpatia e a antipatia que existe entre plantas vizinhas para que se desenvolvam melhor.
O solo de uma quinta biodinâmica é considerado um órgão vivo do sistema e não um mero suporte para as culturas. A própria fertilização, mais do que alimentar quantitativamente as plantas, visa manter e estimular a vitalidade do solo. É por isso que é dada uma tão grande importância ao processo de compostagem, com vista a integrar os minerais em formas vivas e utilizáveis pelas plantas. Para guiar o processo de maturação do composto são usadas preparações feitas a partir de aquilea milfolhas, camomila, urtiga, casca de carvalho, dente de leão e valeriana.
Procurando minimizar os danos à estrutura do solo, as lavras são superficiais e em número reduzido. O solo é modelado em micro-relevos (faixas sobrelevadas de 60 ou 120 centímetros de largura) para promover um maior arejamento e, portanto, uma maior interpenetração das forças terrestres e da água com as energias cósmicas. Para além das vantagens ao nível de uma maior estruturação do solo e do incremento da infiltração e retenção da água, o cultivo em montículos estimula o desenvolvimento radicular profundo, tornando as plantas menos frágeis face às variações externas.
A semelhança das chamadas medicinas alternativas, a biodinâmica considera que os parasitas surgem em plantas doentes. As plantas atraem-nos para corrigir o dano que existe na sua força vital. Por isso, a atenção do agricultor centra-se nas causas desse dano. Entretanto, são muitos os truques usados para proteger as culturas de pragas e doenças. Usam-se plantas que atraem os pulgões, para que estes não ataquem as árvores de fruto. Planta-se eufórbia para afastar as toupeiras. Dispõem-se algas marinhas calcáreas sobre o solo para afastar as lesmas. Coloca-se rede sobre as culturas para as proteger dos pássaros.
Ação terapêutica
Os desequilíbrios ao nível da força vital das plantas são corrigidos com a aplicação de preparados biodinâmicos, feitos a partir de plantas, minerais e estrume de vaca, e administrados como se de medicamentos se tratassem.
Para além das preparações usadas no composto (da 502 à 507), utiliza-se uma preparação sobre o solo (a 500), antes de este receber as sementeiras ou plantações, a fim de incrementar a vida microbiana, essencial à absorção de minerais por parte das plantas. A aplicação deste preparado, feito a partir de estrume de vaca, estimula o desenvolvimento das raízes.
Sobre as plantas utiliza-se o preparado 501. Consiste em cristais de quartzo moídos, que foram enterrados no solo, da Páscoa ao Outono, dentro de um corno de vaca. Este preparado intervém ao nível da maturação e frutificação, tendo uma ação determinante nos processos ligados à formação do gosto, do aroma e da coloração dos frutos.
Os preparados 500 e 501 são dinamizados antes da aplicação. Após diluição numa grande quantidade de água, submetem-se a uma agitação rítmica, feita manualmente, durante uma hora. Esta prática permite estabelecer uma ponte com alguns dos princípios da homeopatia.
As preparações biodinâmicas chamam as forças necessárias às plantas e ao solo, quando aplicadas no momento cósmico favorável. Não atuam como adubos químicos, que restituem uma substância em falta, nem combatem os sintomas; agem estimulando o organismo vivo no seu meio natural, levando-o a um estado ótimo, de sanidade.
Qualidade versus Quantidade
Devido a esse fato, a utilização de preparados biodinâmicos não tem relação direta com a produtividade das culturas agrícolas.
Os estudos científicos realizados desde os anos 50, comparando os efeitos dos métodos convencionais, biológicos e biodinâmicos, mostraram que em solos naturalmente ricos os preparados tendem a baixar o rendimento das culturas. Pelo contrário, em solos pobres, conduzem a produções mais abundantes do que os dois outros métodos agrícolas.
A explicação destes resultados reside no efeito de harmonizar e compensar os desequilíbrios devidos ao solo, clima ou outros fatores externos. Se uma cultura tende a produzir demasiadas substâncias por um crescimento desmesurado, os preparados baixam um pouco o rendimento em favor da qualidade.
Apesar dos inequívocos benefícios ambientais decorrentes da prática da biodinâmica, é neste ponto - a qualidade dos alimentos - que reside a maior distinção entre os três métodos agrícolas.
Ao falar-se aqui de qualidade nutritiva, alude-se não apenas ao aumento do teor de certas substâncias essenciais, como as vitaminas, mas também ao incremento de uma certa forma de vitalidade.
Recorrendo a métodos qualitativos, que permitem uma abordagem global, pode testar-se esta qualidade supra-material. As cristalizações sensíveis de cloreto de cobre, desenvolvidas por Ehrenfried Pfeiffer, permitem objectivar e verificar essa vitalidade, ou seja, a vida na matéria. Uma solução do produto a ser testado e cloreto de cobre é cristalizada sobre uma placa de vidro, resultando uma imagem que traduz a qualidade do produto.
É curioso comparar-se, por exemplo, as cristalizações sensíveis de uma amostra de leite biodinâmico cru e do mesmo leite após ter sido submetido a 2 minutos de fervura. O padrão de cristalização encontrado no primeiro é meramente residual no segundo, apesar de quimicamente o produto se manter inalterado.
São usados ainda outros métodos qualitativos, como a morfocromotografia ou as gotas sensíveis (que não cabe aqui descrever) para testar objetivamente a qualidade sutil dos produtos. Estes testes têm revelado que a agricultura biológica traz um acréscimo de vitalidade (forças de crescimento) aos alimentos, enquanto que o contributo da biodinâmica se traduz numa estruturação mais equilibrada (forças de organização).
Costuma dizer-se que “somos aquilo que comemos”. Não será de estranhar, então, que vários autores refiram que comer alimentos biodinâmicos facilita uma ligação mais consciente com o universo.
Peter Kunz afirma que “Todas as percepções estimulam processos interiores no ser humano, vivificam ou perturbam parcialmente órgãos específicos e influenciam o nosso estado geral”. Reforçando a qualidade sensorial dos alimentos, permite-se aos seres humanos reencontrar as suas forças formativas.
Neste momento, em que o ser humano mergulhou profundamente na materialidade, e a poluição cria um ambiente de “excesso de forças da terra”, a biodinâmica parece ser um caminho certo para nos ajudar a evoluir no sentido de uma maior espiritualização.
Cristina Nogueira Baptista
Fonte
biosofia net
segunda-feira, 24 de janeiro de 2011
Cronobiologia / Ritmos Biológicos
Até há pouco tempo, a Biologia buscava seus modelos e explicações através da descrição espacial de estruturas de organismos, sistemas, tecidos, células ou panes de células. O tempo nesses modelos representa nada mais do que um cenário no qual as estruturas funcionam e eventualmente se transformam.
A Cronobiologia pretende entender o tempo não mais como cenário, mas sim como personagem, ou seja, como elemento organizador da matéria viva.
Na Física contemporânea, o tempo já é entendido como uma dimensão do real; na Biologia, o tempo está sendo introduzido pelos cronobiologistas como uma dimensão importante da matéria viva.
Sentimos a existência do tempo através das transformações no meio ambiente e nos nossos organismos. Sabemos intuitivamente que o tempo passa, independente da nossa vontade. Uma das sensações que temos é a da existência de ciclos, ou seja, fenômenos que se repetem de tempos em tempos, sugerindo uma imagem de avanço do tempo em círculos ou em espiral. Os seres vivos normalmente expressam esses ciclos de forma em geral bem clara, através de hábitos diurnos ou noturnos, sono e vigília, reprodução etc.
Hoje sabemos que tais ciclos estão presentes não apenas nesse nível mais geral do comportamento das espécies, mas são encontrados em todos os níveis de organização dos seres vivos: desde funções celulares até comportamento social. Além disso, sabemos hoje também que os ciclos estão presentes em praticamente todas as espécies vivas, desde organismos unicelulares até o homem. Uma característica tão geral da matéria viva como essa organização temporal deve, portanto, ser encarada como componente fundamental dos seres vivos.
O tempo parece ser de fato um personagem importante na história evolutiva dos seres vivos. Quando observamos o nascimento de qualquer indivíduo, temos uma expectativa do tempo de vida médio de sua espécie, algo que parece estar contido no patrimônio genético da espécie e que diz respeito ao tempo. Esse mesmo indivíduo aparentemente também traz em seu patrimônio a inscrição de seus hábitos futuros, diurnos ou noturnos, seus ciclos reprodutivos, etapas de desenvolvimento, enfim, diversos marcadores de tempo que regularão as diversas atividades desse organismo ao longo de sua existência.
Uma das maneiras mais simples de detectar a organização temporal dos seres vivos é através da constatação da existência de ciclos regulares nas suas funções, avaliando a regularidade desses ciclos através da comparação com marcadores de tempo exteriores ao organismo em questão.
Uma marcação universal é dada pelos movimentos do nosso planeta, os quais geram ciclos geofísicos de diversas durações, como o dia/noite e as estações do ano. Diversos ciclos nos seres vivos tendem a acompanhar esses ciclos geofísicos, como é, por exemplo, o caso do ciclo sono/vigília, que se repete aproximadamente a cada 24 horas. Aliás, essa coincidência leva muita gente a acreditar que esses ciclos dos seres vivos não passam de reflexos dos organismos em relação aos ciclos ambientais. Pretendo demonstrar ao longo deste artigo que esses ciclos biológicos funcionam independentemente da exposição dos organismos aos ciclos ambientais. Uma maneira interessante de chegar a essa conclusão é acompanhar a história da Cronobiologia.
Um astrônomo francês, J. J. De Mairan, foi provavelmente o primeiro pensador a propor a possível existência de um relógio biológico. Ele observou o movimento regular de abertura e fechamento das folhas de uma sensitiva (provavelmente a Mimosa pudica) em um vaso na janela junto a seu telescópio. Curioso com a regularidade dos movimentos, levou o vaso para o porão da casa, colocou-o dentro de um baú e, nessas condições de obscuridade constante, observou a persistência dos movimentos das folhas coincidindo, aparentemente, com o dia/noite ambiental. De Mairan relatou o experimento a um amigo botânico, que fez uma comunicação do fato à Academia Real de Ciências de Paris, publicando o relato em 1729. Evidentemente, essa suposição da existência de um relógio biológico nas plantas entrava em choque com a noção, bastante difundida, segundo a qual os ciclos biológicos nada mais eram do que reflexos das flutuações ambientais. Por isso o relato do astrônomo foi encarado mais como uma curiosidade mal-explicada: talvez o baú não estivesse bem-vedado, o porão não tão escuro ou a sensitiva tivesse recebido algum estímulo não-identificado sinalizando claro ou escuro, e por aí vai. Em 1759, Du Monceau mostrou que o movimento das folhas da sensitiva não dependia de variações da temperatura ambiental. Em 1832, A. de Candolle repetiu as observações na espécie Mimosa pudica e não só constatou a persistência do ciclo de movimento das folhas, mas também demonstrou que na condição de obscuridade constante a duração dos ciclos era de 22 a 23 horas, portanto, diferente do ciclo ambiental de 24 horas. Em 1814, Virey obteve o grau de Doutor em Medicina com uma tese sobre as flutuações diárias da temperatura na saúde e na doença. Darwin escreveu em 1880 que o movimento diário das folhas era uma propriedade inerente das plantas. Nessa mesma época, Pfeffer, fisiologista de plantas, refletindo a mentalidade vigente, supôs que os movimentos observados em obscuridade constante eram devidos a vazamentos de luz; levando essa suposição para o laboratório, acabou convencido do contrário: o movimento tinha origem em algum mecanismo endógeno e não era, como supunha, resposta reflexa a vazamentos de luminosidade ambiental. Todas essas observações pioneiras e fundamentais não puderam ser bem compreendidas na época, justamente em razão da dificuldade de conviver com o conceito de relógios biológicos, ainda malformulado e improvável.
Nestes últimos dois séculos, as evidências foram-se acumulando a tal ponto que hoje praticamente nenhum cientista bem informado duvida da existência dos relógios biológicos. As demonstrações seguem todas o esquema original do astrônomo francês De Mairan: coloca-se o organismo sob condições constantes, isolando-o de variações ambientais que possam causar a ciclagem, e assim constata-se a persistência de ciclos. Esse desenho experimental é denominado situação de livre-curso e os ciclos observados são chamados ritmos biológicos em livre-curso. Aliás, a denominação ritmos biológicos será adotada daqui em diante como designação genérica para os diversos ciclos encontrados nos mais variados níveis de organização dos seres vivos.
Retomando a perspectiva histórica, deve ser registrado um outro marco importante: em 1935, Bünning demonstrou a transmissão hereditária do ritmo do movimento do caule e das folhas do feijão, revelando a existência de duas linhagens distintas quanto ao período endógeno desse ritmo: uma com período de 23 horas e outra com período de 27 horas; a hibridização entre essas duas linhagens produziu uma nova, com ciclo de movimentos de 25 horas. Esses achados foram confirmados mais recentemente na mosca da fruta, a Drosophila melanogaster. Em 1963, foi demonstrado a capacidade dos organismos de medir o tempo, monstrando que as plantas possuem reatividade variável em relação à luz, dependendo do momento de exposição. Essa linha de investigação deu origem ao reconhecimento do fenômeno do fotoperiodismo, que consiste basicamente na capacidade de avaliação da duração da fase de luz do ciclo claro/escuro, especialmente importante em seres cujo ambiente está sujeito a grandes variações sazonais como nas zonas temperadas do globo.
Podemos datar a origem da Cronobiologia mais ou menos por essa época, metade do século XX, quando se firmaram os conceitos de ritmos endógenos e relógios biológicos, entre outros.
Uma questão que surge geralmente nesta altura é por que a Cronobiologia demorou tanto a ser reconhecida no meio acadêmico internacional. As respostas estão em dois níveis: de um lado a precariedade de algumas demonstrações da existência de ritmos ou relógios, de outro, a compreensão limitada dos fenômenos ligados à variabilidade biológica.
A precariedade foi superada pelo avanço tecnológico, que passou a tornar viáveis coisas como a monitoração contínua de parâmetros fisiológicos ou comportamentais e, também, o desenvolvimento de metodologia matemática e estatística adequada para lidar com fenômenos cíclicos, Conceitos Fundamentais.
No que se refere à limitação da compreensão, sabemos que certas idéias acabam sendo aceitas ou rejeitadas muitas vezes pelo grau de coerência que estabelecem com as idéias dominantes em um dado campo do saber.
Ora, no caso da Biologia e principalmente nas áreas de aplicação médica, os princípios teóricos dominantes desde o final do século XIX derivam dos conceitos originais de Claude Bernard, especialmente na proposta de W. Cannon sobre a homeostasia como princípio organizador geral dos seres vivos. Segundo essa proposta, os sistemas fisiológicos buscariam um estado de equilíbrio constante, entendendo-se as variações em torno dos valores de equilíbrio como perturbações a serem corrigidas pelo sistema.
Fica mais fácil entender por que a Cronobiologia demorou a ser aceita, uma vez que dados de variações eram entendidos como perturbações e não como evidências de uma organização mais essencial dos sistemas fisiológicos.
Um exemplo pode ajudar a compreender melhor a diferença entre a hipótese homeostática e a abordagem cronobiológica: qual a temperatura normal de um ser humano? A resposta homeostática será algo parecido com 36,5 º (para mais, para menos 0,5 grau) Celsius, ou seja, um valor médio que oscila entre extremos de 36,0 e 37,0 graus. Já a versão cronobiológica nos dirá que a temperatura corporal humana apresenta um ritmo com valores mínimos e máximos em diferentes momentos do dia; por exemplo: próximo dos 36,0 graus no início da manhã e próximo de 37,0 graus no final da tarde. O cronobiologista nos dirá também que a média dos valores do dia tem muito pouco valor, dada a grande variabilidade, e que é melhor falar em valores médios para cada momento do dia.
Um outro exemplo talvez ajude: como pensar um estado de equilíbrio intermediário entre o sono e a vigília? Seria este o estado normal do ser humano, sendo o sono profundo e a vigília em alerta máximo os pontos extremos de perturbação no sistema? Parece evidente que essa rota não leva muito longe. A Cronobiologia nos dirá que os estados de sono e vigília fazem parte de um ciclo e que têm seus mecanismos de produção próprios, não podendo ser entendidos como perturbações do sistema, uma vez que este consiste justamente em um mecanismo produtor da oscilação entre esses dois estados.
As inúmeras demonstrações da existência e mesmo a identificação de alguns relógios biológicos ao longo das últimas décadas contribuíram para o reconhecimento da Cronobiologia como ramo importante do conhecimento biológico.
BIORRITMOS OU RITMOS BIOLÓGICOS?
Sob o nome de biorritmos, procura-se divulgar comercialmente uma versão popular e laica pretensamente aplicada da Cronobiologia. Essa versão, que não deve ser confundida com o estudo científico dos ritmos biológicos, propõe a predição das condições físicas e psicológicas dos indivíduos a partir de curvas traçadas desde o nascimento deles. A origem dos conceitos fundamentais dos biorritmos pode ser situada em fins do século XIX e início do século XX, quando Hermann Swoboda, psicólogo vienense, e Wilhelm Fliess, médico berlinense, amigo de Freud, sugeriram a existência de periodicidade na ocorrência de distúrbios físicos e emocionais. Posteriormente, na década de 50, a tentativa de encontrar-se um método científico capaz de predizer o estado físico e emocional tomou novo impulso, continuando pelas décadas de 60 e 70, quando então diversos trabalhos sérios foram publicados demonstrando a falta de rigor metodológico e fundamentação estatística para os supostos biorritmos.
A teoria dos biorritmos sustenta a existência de três ciclos com períodos fixos, que têm origem no momento do nascimento e que se repetem ao longo da vida do indivíduo. Esses ciclos teriam períodos de 23, 28 e 33 dias e estariam relacionados com os estados físico, emocional e intelectual, respectivamente. Ainda segundo a teoria, os dias críticos na vida do indivíduo seriam aqueles em que as curvas se achassem no ponto zero, ou seja, na transição da fase positiva para a negativa ou vice-versa. Nesses dias críticos seria maior a possibilidade de ocorrência de acidentes, devido à instabilidade do indivíduo.
Desta forma, baseadas nesta suposição, empresas japonesas e norte-americanas passaram a adotar o cálculo dos biorritmos, convencidas de estar usando uma ferramenta científica na elaboração das escalas de trabalho de seus funcionários, com vistas a uma redução dos acidentes de trabalho. Uma dessas empresas, o Ohmi Railway Co. do Japão, chegou inclusive a divulgar resultados favoráveis obtidos com o auxílio dos biorritmos. Entretanto, em estudo em que examinam a incidência de acidentes aéreos e automobilísticos, assim como flutuações em desempenho esportivo, não há nenhuma base estatística para atribuir-se quaisquer correlações entre acidentes de trabalho e os biorritmos, o mesmo valendo para desempenho esportivo. Dados como esses da empresa japonesa devem ser creditados principalmente a fatores psicológicos, predispondo os indivíduos analisados.
Com base no conhecimento atual em Cronobiologia, os seguintes aspectos da teoria dos biorritmos são criticáveis:
1. O significado das curvas.
A existência de um ciclo de vigor físico de 23 dias é fundamentada por uma única evidência: o caso de um paciente que apresentou um ciclo de temperatura de 24 a 26 dias, não existindo nenhuma outra evidência experimental da existência de tal ciclo. Além do fato de tratar-se de um dado isolado e, portanto dificilmente generalizável, deve-se questionar também a suposta correlação direta entre temperatura e vigor físico.
O ciclo emocional de 28 dias possui relação evidente com o ciclo menstrual, que apresenta realmente correlatos emocionais, para os quais contribuem as alterações hormonais verificadas ao longo do ciclo. Entretanto, a existência de um ciclo semelhante para homens ainda é discutível, já que existem poucas evidências experimentais. O próprio ciclo feminino apresenta periodicidade bastante variável, tanto na população de mulheres, como em cada mulher individualmente.
Já o ciclo intelectual de 33 dias surgiu em decorrência de observações feitas em ferroviários no período de 1929 a 1932, além de observações casuísticas do desempenho de estudantes da Universidade de Innsbruck.
2. A origem dos biorritmos.
A suposição de que esses ciclos têm origem exata no momento do nascimento dos indivíduos é arbitrária, pois conhecemos hoje ritmos existentes antes do nascimento, como é o caso de ritmos hormonais, geralmente vinculados aos ritmos maternos, bem como ritmos que se instalam bem mais tarde, como é o caso dos ciclos sono/vigília e menstrual.
3. A invariabilidade dos biorritmos.
Pelo que se conhece dos trabalhos em Cronobiologia, é bem pouco provável a existência de ritmos biológicos absolutamente invariáveis, com períodos exatos de 23, 28 ou 33 dias, como supõe a doutrina dos bíorritmos.
Na realidade, todos os ritmos biológicos conhecidos apresentam certa variabilidade, ou flutuações, aparentemente inerentes à própria estrutura temporal do organismo.
O rigor absoluto contido na doutrina dos biorritmos certamente tornaria os organismos incapazes de promover certas adaptações ou ajustes aos diversos esquemas temporais existentes no seu ambiente, sejam decorrentes de fenômenos como estações do ano, sejam decorrentes de alterações em horários de trabalho, doenças etc.
A própria variabilidade interindividual, amplamente demonstrada em estudos cronobiológicos, não é levada em consideração no cálculo dos biorritmos. Igualmente improvável é a estrita sincronização dos biorritmos; para que isso ocorra, é preciso que essa sincronização se mantenha ao longo de toda a vida do indivíduo dentro de uma margem de variação da ordem de segundos, o que é praticamente impossível, segundo o conhecimento atual do modo de funcionamento dos relógios biológicos.
4. A interpretação das curvas.
A falta de um critério objetivo para análise dos altos e baixos das curvas torna a interpretação dos biorritmos extremamente subjetiva e variável. Tal fato não é de causar estranheza, conhecendo-se a origem obscura e imprecisa dos biorritmos, o que torna inevitável o uso de critérios frouxos para encaixar eventos da vida das pessoas na doutrina dos biorritmos. Trabalhos recentes demonstram a total falta de coerência entre os prognósticos e os resultados da aplicação da doutrina dos biorritmos.
A despeito de todas essas incongruências, os biorritmos tendem a assumir um papel semelhante ao do horóscopo sobre o comportamento social, pois tanto a astrologia como os biorritmos possuem como maior trunfo a capacidade de produzir autosugestão nos consumidores, à semelhança de certas drogas miraculosas que dependem muito mais da crença do indivíduo do que dos efeitos reais que elas produzem no organismo. A atitude dos astrônomos em relação à Astrologia tem sido simplesmente ignorá-Ia, o que não impede sua grande penetração social em escala maior do que a própria Astronomia.
No caso dos biorritmos, as incoerências do método são necessárias justamente para possibilitar a ilusão de explicação universal, válida para todos os casos, e, portanto vendável; prevalece nitidamente o interesse comercial dos produtores e divulgadores de biorritmos.
Uma consideração importante: se por um lado é fácil demonstrar a incoerência e falsificação contidas na doutrina dos biorritmos, por outro lado como explicar seu consumo generalizado nas últimas décadas?
Acontece que de fato todos nós temos curiosidade de conhecer e, principalmente, poder prever variações do nosso comportamento, e as explicações científicas dessas variações não têm sido satisfatórias, daí o espaço aberto para mistificações.
A Cronobiologia tem como uma de suas tarefas suprir essa necessidade social de conhecimento e análise dos ritmos biológicos. Através da demonstração cada vez mais clara da universalidade dos ritmos biológicos em todos os níveis de organização dos seres vivos, da expansão crescente da aplicação de métodos científicos no estudo dos ritmos e do desenvolvimento de métodos próprios na análise dos fenômenos biológicos cíclicos, será possível enfrentar e vencer a batalha contra a deformação de idéias relacionadas com a existência real dos ritmos.
Por Adalberto Tripicchio
Fonte:
rede psi portal
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