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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
...aquele que nascemos para ser...
"O privilégio de toda uma vida
é ser aquele que nascemos para ser.
Siga a sua bem-aventurança,
lá onde há um profundo sentido do seu ser,
lá onde seu corpo e sua alma querem ir.
Encontre a paixão da sua vida e siga-a,
siga o caminho que não é caminho.
Quando tiver essa sensação,
fique aí e não deixe ninguém arrancá-lo desse lugar.
E portas se abrirão onde antes não havia portas
e você sequer imaginava que pudesse haver"
Joseph Campbell
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
E portas se abrirão...
"O privilégio de toda uma vida
é ser aquele que nascemos para ser.
Siga a sua bem-aventurança,
lá onde há um profundo sentido do seu ser,
lá onde seu corpo e sua alma querem ir.
Encontre a paixão da sua vida e siga-a,
siga o caminho que não é caminho.
Quando tiver essa sensação,
fique aí e não deixe ninguém arrancá-lo desse lugar.
E portas se abrirão onde antes não havia portas
e você sequer imaginava que pudesse haver"
Joseph Campbell
segunda-feira, 16 de julho de 2012
Os 9 Setênios (Antroposofia)
Primeiro Setênio – 0 a 7 anos
É na primeira infância, mais precisamente durante os primeiros 7 anos, que as forças da individualidade estão localizadas na cabeça, e a tarefa neste período, é crescer, desenvolver os órgãos físicos que estão sendo formados, independizar o pólo superior do corpo, do pensar.
Com o nascimento, tem início o trabalho da individualidade, daquele ser cósmico que começará uma vida terrestre de transformação do invólucro corpóreo recebido dos pais, apto às suas necessidades. Portanto, neste período, a individualidade se ocupará em se apropriar do corpo herdado, moldando-o e reestruturando-o conforme suas peculiaridades interiores.
A criança, por assim dizer, reforma, refina seu instrumento físico, que é a corporalidade. Essa transmutação significa, aos poucos, eliminação das substâncias herdadas, desde as células mais microscópicas, que se tornam cada vez mais individualizadas, até os dentes, que são as mais duras do corpo, quando no final dessa etapa, a criança perde a dentição de leite, substituindo-a pela permanente, que é aquela que construiu a partir de sua interioridade.
Olhando, para os nossos sentidos, que, com exceção do tato que permeia todo o corpo, estão localizados na cabeça, podemos ter uma idéia dos aspectos que devem ser cuidados neste período inicial, para que a criança possa gostar de estar na Terra, dentro de seu próprio corpo.
Assim, para a construção do corpo físico de forma equilibrada, a criança deveria ter vivências permeadas por situações e circunstâncias que a levassem a perceber que o mundo é bom.
À essa criança, deveriam ser providas oportunidades de movimento livre no espaço, na medida em que vai se apropriando dele ao longo de seu desenvolvimento, desde possibilitar o engatinhar quando é bebê, até trepar em árvores e correr no campo quando é maior.
É por experimentação que a criança aprende, por tentativa e erro, e pelo princípio da imitação. O que não queremos que ela faça, não deveríamos também fazer, pois ela seguramente imitará gestos, fala, atitude dos adultos ao seu redor.
Rapidamente as faculdades humanas vão sendo adquiridas, quando, aos 3 anos a criança já conquistou o espaço físico com o andar, o espaço social com o falar, e o espaço espiritual, com o pensar.
Em síntese, neste primeiro setênio os princípios são :
· imitação
· bondade
· órgãos dos sentidos
· desenvolvimento do pensar
· processo de individuação física
Segundo Setênio – 7 a 14 anos
Ao final do processo anterior, do 1o. setênio, as forças que estavam na cabeça se libertam e migram para a região do meio do corpo.
A criança vai acordando de cima para baixo, na direção da cabeça aos pés, e, nesta fase agora, coração e pulmão são os órgãos que ancoram o processo respiratório com o mundo.
O elemento do movimento de interiorização e exteriorização pauta a dinâmica desses órgãos e a relação da criança com o mundo.
Ela já não é mais um grande A, aberta para o mundo que a impregna, mas agora já possui uma interioridade maior e necessita de um elo de ligação entre o mundo de fora e o seu, interno.
O papel do adulto, pais e professores, tem uma grande influência neste período, pois é através dele, da autoridade que ela necessita e que eles possuem, que a criança receberá a imagem do mundo.
Portanto, os valores e ideais que o adulto possui pode beneficiar ou prejudicar a formação e visão do mundo infantil.
Se a autoridade é excessiva pode gerar uma maior inspiração do que expiração, desequilibrando o ritmo, e isso pode levar desde a uma timidez no futuro, à introversão, ou quadros somáticos de asma, etc.
Se, por outro lado, há falta de autoridade, se ela é insuficiente para o estabelecimento de normas tão essenciais neste período, a expiração maior pode conduzir à extroversão exagerada, que leva a criança a desconhecer seu limite e o do outro, até quadros mais histéricos, de dissolução da identidade.
Esses elementos precisam estar em harmonia para nos sentirmos bem e, se na fase correspondente à esses acontecimentos isto não ocorreu, é introduzindo o ritmo na vida do presente que se resgata o equilíbrio.
Assim como as normas, os hábitos estão sendo absorvidos, e portanto, a dosagem entre uma educação muito rígida ou muito liberal, deveria ser observada, pois tanto a imposição quanto a ausência de valores pode impedir um desenvolvimento sadio.
Nesta fase, onde o sentir está sendo tecido, a fantasia é muito importante, e daí a qualidade de imagens que a criança pode entrar em contato é fundamental; situações onde ela pode criar, como ouvindo estórias infantis, contos de fadas, ou mesmo brincar com brinquedos que promovam a sua participação, é muito diferente daquelas onde, por exemplo, ela é mera expectadora, como no caso da televisão, ou de jogos e brincadeiras que não estimulem a sua criação, com brinquedos prontos, acabados, sintéticos.
Arte e religião são também fundamentais para a alma da criança que anseia por veneração. Assim, tanto o mundo artístico quanto o religioso são ricos em possibilidades para fazer fluir a alma infantil para o mundo. Como há uma busca natural pela beleza e pela fé, vivências do belo são fundamentais para um respirar com o mundo, assim como o desejo pela ligação com uma qualidade superior, elevada e espiritualizada consigo mesmo e com a vida.
É então que, no meio desta fase, o sentimento de diferenciação, por assim dizer, se estabelece fortemente, e a criança percebe com verdadeiro sentimento e uma espécie de dor, que existem diferenças: de educação entre si e os irmãos, diferenças de tratamento entre as pessoas, de raça, religião, cultura, enfim, situações onde ela se dá conta de que o mundo não é igual para todo mundo, que a lei não é a mesma para todos.
É, na verdade, um profundo despertar do sentimento próprio.
Terceiro Setênio – 14 a 21 anos
Seguindo o sentido descendente das forças que do Cosmo vão se encarnando na Terra, neste período elas chegam aos membros; passaram da cabeça ao peito, e agora acordam e se localizam nos membros, no sistema metabólico motor.
Se observamos a postura da criança pequena, percebemos que ela anda meio que suspensa, pendurada; depois, um pouco maior, ela pula, e na adolescência, se arrasta, e neste caminho da humanização, aos poucos conquista a postura ereta.
Então, da mesma forma que o princípio da imitação regia a criança de 0 a 7 anos, o princípio da autoridade de 7 a 14 anos, agora o princípio da liberdade é o regente.
O processo de metamorfose do ser humano o leva agora a necessitar do aprendizado através da liberdade, onde vivências da verdade são fundamentais – assim como a vivência do bom no 1o. setênio, e do belo no 2o. setênio.
A sociedade agora desempenhará um papel mais preponderante, assim como no passado o foram a família e a escola. É sempre uma ampliação da atuação de elementos, e não uma exclusão daqueles que já foram prioritários.
O jovem necessita de um espaço libertador externo e interno, pois nesta fase, vivenciará uma grande tensão, uma luta entre as forças cósmicas e terrestres, onde no palco está em jogo a sua identidade. É natural que, na busca de si mesmo, ele rompa com os esquemas vigentes em casa, na escola e na sociedade, e a forma, nesta época, é através de crítica, em movimentos abruptos e acusativos, sendo muito pouco provável um processo harmonioso.
O adolescente vivencia o âmago de seu ser, e o impulso da vontade, da ação é que vigora - por as coisas para fora é a palavra de ordem. Espinhas e desejos saem em borbotões, ele quer dar a sua opinião em tudo, modificar o mundo, reformar a família, os hábitos e costumes vigentes.
É uma força interior que quer se expandir no mundo, e a maneira de lidar com ela é através do diálogo, do encontro, da troca de opiniões, onde o jovem pode expor seus pensamentos e sentimentos, assim como ouvir seu ressoar no mundo.
No centro da luta entre estas forças, o adolescente vivencia duas polaridades intrigantes: o desejo por um mundo ideal, que corresponda ao que ele enxerga de mais puro na imagem do ser humano, e o desejo pelas coisas mais terrestres, que atuam de forma incisiva sobre sua sexualidade pelos prazeres terrenos, os prazeres da carne.
Ele busca no mundo representações desta vivência ideal e mundana ao mesmo tempo, ele tem sede espiritual e física.
E assim, fica então vulnerável a todas as espécies de filosofias, na esperança de encontrar aquela que corresponda à sua realidade interna – é nesse período que precisa romper com as crenças familiares, ou, pelo menos, questionar as existentes; se os pais são católicos, ele buscará o espiritismo, protestantismo, budismo, e vice-versa, do mesmo jeito que fará com a comida, com a roupa, com a postura, com os gestos.
As drogas representam, nesta época, uma possibilidade de encontro com este mundo idealizado, ou fuga da angústia de não poder encontrá-lo. É importante que saibamos que é uma fase extremamente difícil, onde o adolescente precisa negar e se opor, para que, a partir da percepção do que não é, encontrar-se a si mesmo. Não sabe que ao longo de toda a sua vida buscará, de formas diferentes, a mesma coisa, e que as pessoas que o cercam, e que percebe como sendo tão prontas e acabadas, vivem o mesmo conflito.
O 'nó lunar' aos 18 ½ anos, quando o sol e a lua se encontram na mesma configuração do nascimento, propicia uma abertura, uma ligação cósmico terrestre, que nos dispõe a vislumbrarmos o real sentido de nosso destino.
É a partir desta idade que começamos a ter um pensamento mais autônomo, ainda que, nesta época, acreditemos estar amadurecidos para efetuar julgamentos.
Há também o questionamento profissional, quando o jovem se pergunta sobre seu caminho e escolhas.
A opção entre o que lhe foi imposto e o que quer, cria rupturas. Buscar a si mesmo e descobrir o que é seu, o que é do outro, o que pode ser compartilhado, propicia ao jovem conhecer novas paragens e alargar seu horizonte antes de completar a idéia e impressão sobre si mesmo, que aos 21 anos se realizará com mais firmeza.
Quarto Setênio – 21 a 28 anos
Retomando a idéia do homem como cidadão de dois mundos, o celeste e o terrestre, e a vida como uma conversa, um encontro destas duas forças, chega-se aos 21 anos de vida com o fim da fase do crescimento corporal, e princípio da auto-educação.
Aqui, de uma forma geral, as forças completaram e estiveram a serviço do desenvolvimento físico, e o homem emancipa-se de uma educação herdada; ele chega nesta idade com um patrimônio: um corpo adulto e uma estória pessoal, familiar, escolar.
Aos 21 anos, a entidade psíquica individual, o “Eu” começa realmente a se formar. Uma parte supra-sensível do ser humano, mais exterior, é desperta, acordada, e é aquela que está em contato com o mundo exterior – e por isso mesmo, muito mais impressionável por ele.
O ser humano, nesta fase, depende muito da aprovação de fora, e funciona em altos e baixos, deixando-se influenciar pelo externo, e a luta é não se deixar impregnar demasiadamente, paralisar ou impedir-se de viver emoções - neste período a vida está para isto. São momentos fortes, onde temos que pesar e refletir sobre o que herdamos, olhar para o que ganhamos e o que temos, e avaliar deste patamar o que serve aos nossos propósitos de vida, o que devemos incrementar e do que podemos abrir mão – valores que nos serviam até então, mas que a partir de agora podem impedir nossa própria evolução, assim como uma roupa fora de moda, que não combina ou não cabe mais.
Em olhando o que recebemos, devemos avaliar o que pode e o que deve ser mudado em favor do nosso próprio caminhar.
Temos que ter a flexibilidade e habilidade para nos despojarmos daquilo que não nos identificamos mais, da mesma forma como temos que nos reconciliar com o que não dá muito para mudar, por exemplo, com a constituição física. Na verdade, esse é o começo de um processo que vamos depurar a vida inteira.
Com o “EU” mais livre do trabalho no corpo físico, e agora ocupado com a constituição da alma, temos então maior distanciamento daquele, e por isso podemos vê-lo deste novo ângulo.
Portanto, concretamente nesta fase, podemos estar:
-procurando emprego
-terminando a faculdade
-namorando /noivando /casando
-iniciando nova constituição familiar
-tendo filhos
-estabelecendo as bases para a sobrevivência financeira
Quinto Setênio – 28 a 35 anos
A fase do 5o. setênio começa com uma das grandes crises na vida, por volta dos 28 anos, onde somos reivindicados a uma emancipação da imagem que até então tínhamos de nós mesmos, da nossa própria vida, dos nossos talentos, enfim, da nossa identidade.
A sensação anterior de ser dono do mundo sofre um abalo e o que toma o seu lugar, é uma sensação de angústia, de vazio, de desconhecimento de si mesmo, e insatisfação. Sentimo-nos impotentes nesta passagem da juventude para a maturidade, de um viver mais impulsivo para um viver mais sério, responsável.
Temos a sensação de que nada que aprendemos ou fizemos, tem muito mais valor, sentimo-nos incapazes de termos idéias, e começamos a viver ao nível da alma um tipo de espelhamento, o mesmo sofrimento vivido no corpo físico enquanto adolescentes até 14 anos.
Vivemos intensamente a influência dos ritmos cósmicos, que na verdade, buscam conectar-nos e alinhar-nos com nossa real intenção pré-natal.
Temos então o 30o ano, que coincide com a passagem das forças de Saturno e nos cobra estrutura, bases, pilares, e no corpo, corresponde aos nossos ossos, o que há de mais duro no organismo humano.
Temos, logo após, o 31 ½ ano, que corresponde à metade do 63o. ano de vida, marca final das atuações planetárias e zodiacais. Depois dessa idade, ficamos mais livres.
E para completar, o 33o. ano, que pontua o máximo de encarnação do homem na Terra, e ano da morte de Cristo. Sentimos o sofrimento da densidade, do espírito aprisionado na matéria, da via crucis.
Em verdade, a vivência desse período é sentida como uma morte e, realmente, para podermos nos individualizar e tornarmo-nos autônomos, precisam morrer valores que não mais correspondam ao “EU” verdadeiro, para que o ego dê lugar à esta individualidade, esteja a seu serviço, evolua, se integre a ela.
O sentimento de ressurreição ocorre quando, passando pelas provações, percebemo-nos mais inteiros e vivendo de acordo com um código de leis mais próprio, uma renovação moral a partir de uma maior interiorização, uma libertação do velho e disposição para o novo.
Portanto, concretamente nesta fase podemos estar:
-tendo crises no casamento, fazendo separações ou novas uniões.
-tendo rupturas no trabalho ou vendo-o sob novas perspectivas
-buscando o isolamento
-trocando o círculo da amizades
Sexto Setênio – 35 a 42 anos
· Relação com a Essência no mundo / No outro / Em si
· Mais capacidade de julgamento
· Desgaste físico x Maturidade Psíquica
· Conquista de mundo material
· O desafio é encontrar valores espirituais
· A pergunta é: como é que encontro o caminho para a essência do mundo e para a minha própria essência?
Chegamos aos 35 anos e entramos na formação da alma da consciência, última fase do desenvolvimento da alma propriamente dita, onde o Eu adentra mais profundamente na corporalidade supra-sensível. E nesse sucessivo despertar da alma, sentímo-nos levados a uma busca ao essencial no mundo, no outro, em nós mesmos.
O mundo material teve já suas conquistas, construímos uma carreira, relações, família e, de repente, atentamos para a importância do mais recôndito nos seres ao nosso redor, no sentido do que fizemos, nas leis que regem o mundo.
A vida exige que demos um passo do anímico ao espiritual, e, como as forças atuam no pólo superior do corpo, sentimos que conseguimos ver mais verdadeiramente do que até então, a real natureza das coisas.
A capacidade de julgamento aumenta e se torna mais livre dos invólucros superficiais, que a visão das fases anteriores possuía.
Vivencia-se um novo nascimento, precedido pela morte e o vazio dos velhos princípios. Reinicia um período de percepção dos limites e aceitação de si mesmo. Nos tornamos mais disponíveis para o mundo, porque deixamos gradativamente de nos ocupar conosco mesmos. É o desabrochar do desenvolvimento espiritual que chega quando o homem vai chegando aos 40 anos e ele se questiona se há ainda algo de novo que possa ser vivido. Começa a se perguntar sobre sua missão na vida. Sente aos poucos que algo está por vir, e acontece um verdadeiro renascimento, quando se julgava tudo pronto e definido.
A aceitação do desgaste físico, e a busca de um ritmo adequado se faz necessário para que a consciência se amplie em todas as direções.
A relação com a vida é mais intensa, lapidada e autêntica, e é grande a possibilidade de vivência como ser espiritual, de se reconhecer como entidade espiritual incorporada.
Sétimo Setênio – 42 a 49 anos
Como um novo recomeço, a entrada nesta fase traz a vivência interna de que algo novo necessariamente há de vir.
Percebe-se que, como está, não dá para ficar ou continuar, e que a vida dá sinais de grande mudanças, as pessoas sentem algo de novo em si.
O princípio desta fase coincide com o final do período mais quente e ensolarado da vida, a saber, os últimos 20 anos; os próximos setênios correspondem ao desenvolvimento da natureza espiritual do homem, assim como o período anterior ao desenvolvimento da alma, e o primeiro, ao desenvolvimento físico.
A entrada nos 40 traz, quase que inevitavelmente, uma crise existencial, e como é uma fase que espelha fisiologicamente os 14 – 21 anos, vários fatores da adolescência influenciam nesta época. Eclode uma necessidade de rejuvenescimento que pode tomar as mais variadas formas na mulher e no homem.
A desvitalização do corpo físico gera medos reais do envelhecimento e da morte. As mulheres, próximas da menopausa, percebem que o corpo não é mais rijo como antes, que o rosto fica enrugado de um jeito difícil de dissimular, e então as plásticas imperam. Os homens sentem que as pernas afinaram, que a barriga cresceu muito, e então o cooper e as academias de ginástica e musculação desempenham seu papel.
A preocupação com a perda da beleza física e da sexualidade existe, podemos cuidar de manter o corpo bonito e sadio porque é ele o instrumento espiritual na Terra, mas os artifícios para a manutenção física não deveriam impedir ou tomar o lugar da beleza interior.
As forças desprendidas dos órgãos sexuais e da reprodução podem ser metamorfoseadas em criatividade, o elemento central dessa fase, imagens criadoras, renovadoras.
Além dos artifícios para a manutenção do corpo físico, existem também os artifícios que emergem como saída para a manutenção da vida emocional, que são o álcool e a cocaína.
Com a sensação de perda de força e de morte, o ser humano, nesta etapa da vida, pode ter muitas depressões e se apegar ao que é velho e conhecido no trabalho, nas relações familiares e pessoais, numa tentativa de manter intacto o que já têm.
As mudanças que a vida pede, geram muitas inseguranças que impedem o indivíduo de abrir mão do que é velho, como valores, preconceitos, papéis, e ir de encontro ao renascimento que o espera.
É com muita dificuldade e sofrimento que esta etapa é transposta para conseguirmos vislumbrar os frutos que possuímos para doar.
A resistência a mudanças impede o indivíduo de desenvolver talentos que ficaram para traz, tesouros que ficaram escondidos, e reativá-los.
E para complicar a falta e os excessos desta fase, há a questão do sósia, da sombra, daquilo que encarna no parceiro, no patrão, nos filhos, enfim, que é tão difícil de lidar, porque está diretamente ligado aos aspectos pessoais não resolvidos, não integrados.
As forças do sósia se tornam extremamente intensas em torno dos 40 anos. São aspectos para os quais somos levados a hostilizar, ou nos identificar cegamente, por uma força que se ergue em nós. Em geral, nos confrontamos com o sósia do outro, já que a própria sombra é difícil de ver.
Assim, grandes confusões, agressões e descasamentos acontecem, porque as relações ficam contaminadas por aquilo que se vê no outro, que é profundamente unilateral – algo expurgado daquilo em nós que não admitimos, não conseguimos lidar, mais o do outro.
Projetamos nossos aspectos indesejáveis e/ou renegados no outro, e somos vulneráveis à sua sombra – seus vícios, manias, defeitos, enfim.
Se não trabalharmos conscientemente na relação, e procurarmos ver a essência do outro, sua inteireza, o sósia, ou seja, a soma de todas as qualidade negativas comanda.
Temos que nos esforçar para integrarmos nossa sombra à nossa personalidade, e não alimentá-la, deixando que a força da raiva, da inveja, do desprezo, dominem a situação.
Há que se desenvolver muita calma interior!
Devemos ter em mente que tudo o que fazemos contra a vontade é alimento para o sósia.
E fica, então, difícil reconhecer nele uma oportunidade para a transformação de seu conteúdo.
A sombra e a luz são condições inerentes à existência humana, e uma, certamente, não existe sem a outra na vida terrena.
Oitavo Setênio – 49 a 56 anos
A entrada nos 50 anos equivale à época mediana do desenvolvimento do espírito, e por isso mesmo, para aquele que vive espiritualmente, a mais tranquila e produtiva da vida.
As forças, que na fase anterior estavam se desprendendo da região metabólica e dos órgãos correspondentes, estão agora se libertando da área mediana do corpo, coração e pulmão, e se dispondo para uma moralidade e uma ética de qualidade superior, refinada, mais humanizada.
É a época da vida denominada jupteriana, pois possibilita uma visão mais ampla e geral da própria estória, do desenvolvimento da humanidade, do sentido das coisas, da existência.
Os valores pessoais deveriam agora dar lugar a valores mais humanitários, e a preocupação se concentrar na família universal e não apenas na individual.
Dependendo da evolução do ego do indivíduo, ele pode dispor da sua sabedoria para o mundo, ou continuar apegado às próprias necessidades ou às do grupo familiar, desconhecendo a maravilha que é colocar seu patrimônio interior a serviço do mundo.
É a fase do pai e da mãe universal.
Como esta fase espelha fisiologicamente o setênio 7 a 14 anos, o elemento do ritmo tem de ser priorizado, e os órgãos rítmicos, assim como o ritmo cotidiano, têm de ser cuidados, preservados e respeitados.
É comum o aparecimento de problemas respiratórios, principalmente se a relação respiratória com o mundo foi difícil na pré puberdade; stress e enfarte também ocorrem.
Deve-se procurar um novo ritmo biológico mais adequado às características físico emocionais.
A vida nos ensina nesta época uma nova audição, temos a possibilidade de ouvir a voz do coração para esta renovação ético / moral que agora é propícia.
No concreto, neste período ocorrem as aposentadorias, o que por sua vez traz o sentimento de inutilidade e vazio.
Há que se preparar para esse momento e refletir no que se fará após, planejar a vida para o depois desse acontecimento, afim de não ser uma passagem muito brusca que pode assustar e levar o indivíduo a exceder no trabalho para ainda se sentir útil e não velho, impotente, incapaz.
A sociedade como um todo ainda valoriza muito a força biológica e não tem olhos e condições de discernimento para as capacidades de liderar dos 50 anos, e, sobretudo, de abençoar, principalmente aqueles que puderam, entre 7 e 14 anos, aprender a venerar.
Nono Setênio – 56 a 63 anos
Os mesmos órgãos dos sentidos que foram as portas para a entrada na vida terrestre no 1º setênio, vão, aos poucos, se tornando portas de saída; não se vê, nem se ouve tão bem como antigamente, o paladar já não consegue sentir direito o gosto dos alimentos, os cheiros e as texturas não são mais sentidos tão intensamente.
A vida começa a dar sinais de que o ser humano têm agora que ir-se voltando para dentro de si mesmo, internalizar-se, desenvolver os sentidos espirituais.
O portal de comunicação com o mundo externo começa a se fechar.
Como um eremita, a partir desta fase, necessitamos da auto reflexão na busca da nossa essência, para o desenvolvimento de intuições a partir da força do amor que torna-se então a representante do verdadeiro e supremo conhecimento.
O 56º ano de vida traz uma brusca mudança que é sempre crítica, pois penetra-se numa esfera onde tudo parece ter que morrer para depois ressuscitar de uma forma muito sofrida.
Por vezes tem-se a sensação de fracasso de tudo aquilo que se desejou, e que nada do que se almejou foi alcançado.
Questiona-se muito o que se realizou no passado, e se torna importante avaliar o que ainda deseja realizar, o que pode e o que não pode mais ser realizado pela própria condição desvitalizadora, pelo tempo.
Certos cuidados se fazem muito importante, como a estimulação da memória, mudanças de hábitos, recursos criativos.
O trabalho é importante na vida, mas não deve ser a única fonte de realização pessoal. Pessoas excessivamente voltadas para o trabalho tornam-se resistentes às mudanças, perdem a visão global, sentem-se ameaçadas e, muitas vezes, são menos produtivas e criativas do que aquelas que possuem outras fontes de realização.
Aquelas que, além do trabalho, lecionam, tocam algum instrumento, freqüentam outras atividades e amigos, realizam viagens com certa dose de aventura, se dedicam a um hobby, praticam esporte, escrevem textos, crônicas ou livros, enfim, são pessoas com uma visão do mundo, de seu trabalho e da própria vida muito mais rica e feliz.
Caminhando para a terceira idade, e mais livre dos compromissos da 1ª e da 2ª, temos a chance de rever o que ficou de lado e que, com frequência, dá novo sentido à vida. Entregar-se ao que pede para ser vivido com satisfação, de maneira renovada, e ao mesmo tempo, livrar-se do inútil e supérfluo que se carrega por hábito.
Inclusive de preconceitos, pois vivemos em uma época com tantos recursos para a renovação do corpo e da alma, que deveríamos fazer bom uso do livre arbítrio e decidir que rumo tomar no caminho do amor, do encontro com outros seres humanos, da alegria de viver.
Como tudo no Universo está em constante transformação, e nada é estável e permanente, somente existe possibilidade de evolução onde há possibilidade de mudança.
Após os 63 anos, o ser humano vai, cada vez mais se libertando das leis e ritmos do destino.
O envelhecer vai chegando com o florescimento interno que é percebido no olhar do idoso que vive muito mais em uma realidade supra sensível do que sensível – para além dos sentidos.
O corpo vai ficando mais leve e transparente, o espírito se torna mais visível, os “avós” irradiam aquela força onde o sol interior consegue aparecer.
Por Eliane Utescher
ACESSE TAMBÉM:
Os 4 Temperamentos
http://sandralage.blogspot.com.br/2012/08/os-4-temperamentos-sanguineo-colerico.html
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quarta-feira, 18 de abril de 2012
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Princípios Para a Prática da Plena Consciência (Thich Nhat Hanh)
1. Os Dharmas São Mente
Todos os dharmas – físicos, fisiológicos e psicológicos – são objetos da mente, mas isso não significa que eles existam separadamente (da mente).
Todos os Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência – corpo, sensações, mente e dharmas – são objetos da mente. Como a mente e os dharmas são um, ao observar seus objetos, a mente é essencialmente mente observadora.
A palavra dharma no budismo é entendida como significando tanto o objeto quanto o conteúdo da mente. Os dharmas são classificados em doze reinos (em sânscrito, ayatanas). Os primeiros seis são os órgãos do sentido: olhos, ouvido, nariz, língua, corpo e mente. Os seis restantes são: forma, som, cheiro, gosto, tato e dharmas. Os dharmas são os objetos da mente assim como os sons são os objetos dos ouvidos. O objeto da cognição e o sujeito da cognição não existem independentemente um do outro. Tudo o que existe tem que emergir da mente. A melhor maneira de expressar essa verdade é “Tudo é apenas mente. Todas as coisas são somente consciência”, conceito que se desenvolveu na escola Vijñanavada do Budismo Mahayana.
Todos os Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência – corpo, sensações, mente e dharmas – são objetos da mente. Como a mente e os dharmas são um, ao observar seus objetos, a mente é essencialmente mente observadora.
A palavra dharma no budismo é entendida como significando tanto o objeto quanto o conteúdo da mente. Os dharmas são classificados em doze reinos (em sânscrito, ayatanas). Os primeiros seis são os órgãos do sentido: olhos, ouvido, nariz, língua, corpo e mente. Os seis restantes são: forma, som, cheiro, gosto, tato e dharmas. Os dharmas são os objetos da mente assim como os sons são os objetos dos ouvidos. O objeto da cognição e o sujeito da cognição não existem independentemente um do outro. Tudo o que existe tem que emergir da mente. A melhor maneira de expressar essa verdade é “Tudo é apenas mente. Todas as coisas são somente consciência”, conceito que se desenvolveu na escola Vijñanavada do Budismo Mahayana.
Nas tradições do Budismo do Sul, a idéia da mente como fonte de todos os dharmas também é muito clara. O termo cittasamutthana (o que emerge da mente) e o termo cittaraja (nascido da mente) são frequentemente usados nos escritos do Abhidhamma em Páli. No Patthana (equivalente ao sânscrito Mahapakarana) encontramos a frase cittam samutthanam ca rupanam (“e a mente é o ponto de emergência das formas”).
O objeto de nossa observação consciente pode ser a nossa respiração ou nosso dedo do pé (objeto fisiológico), uma sensação, uma percepção (objeto psicológico) ou uma forma (objeto físico).
Seja o fenômeno que observamos fisiológico, psicológico ou físico, sabemos que ele não é separado da nossa mente e é substância única com ela. A mente pode ser entendida como individual e coletiva.
Os ensinamentos da Escola Vijñanavada dizem de maneira clara: Precisamos evitar a noção de que o objeto que observamos é independente de nossa mente. Temos que nos lembrar que esse objeto se manifesta a partir de nossa consciência individual e coletiva. Nossa mente observadora é também um fenômeno que se manifesta devido à consciência. Observamos de modo a que nossa mão direita tome a nossa mão esquerda e se tornem um.
Seja o fenômeno que observamos fisiológico, psicológico ou físico, sabemos que ele não é separado da nossa mente e é substância única com ela. A mente pode ser entendida como individual e coletiva.
Os ensinamentos da Escola Vijñanavada dizem de maneira clara: Precisamos evitar a noção de que o objeto que observamos é independente de nossa mente. Temos que nos lembrar que esse objeto se manifesta a partir de nossa consciência individual e coletiva. Nossa mente observadora é também um fenômeno que se manifesta devido à consciência. Observamos de modo a que nossa mão direita tome a nossa mão esquerda e se tornem um.
2. Observar é ser um com o objeto da observação
O sujeito de nossa observação é a nossa plena consciência, a qual também emana da mente. A plena consciência tem a função de iluminar e transformar.
Quando, por exemplo, a nossa respiração é objeto da nossa plena consciência, ela se torna respiração consciente. A plena consciência joga sua luz sobre nossa respiração, transforma o esquecimento embutido nela em plena consciência e dá a ela sua qualidade de calma e cura.
Nosso corpo e nossas sensações também são iluminados e transformados sob a luz da consciência. A plena consciência é a mente observadora, mas ela não fica fora do objeto de observação. Ela vai diretamente no objeto e se torna um com ele. Justamente porque a natureza da mente observadora é a plena consciência, ela não se perde no objeto, mas o transforma ao iluminá-lo, como faz a luz penetrante do sol ao transformar árvores e plantas.
Quando, por exemplo, a nossa respiração é objeto da nossa plena consciência, ela se torna respiração consciente. A plena consciência joga sua luz sobre nossa respiração, transforma o esquecimento embutido nela em plena consciência e dá a ela sua qualidade de calma e cura.
Nosso corpo e nossas sensações também são iluminados e transformados sob a luz da consciência. A plena consciência é a mente observadora, mas ela não fica fora do objeto de observação. Ela vai diretamente no objeto e se torna um com ele. Justamente porque a natureza da mente observadora é a plena consciência, ela não se perde no objeto, mas o transforma ao iluminá-lo, como faz a luz penetrante do sol ao transformar árvores e plantas.
Se quisermos ver e compreender, teremos que penetrar e se tornar um com o objeto. Se ficarmos fora do objeto para observá-lo, não poderemos vê-lo e entendê-lo. O trabalho de observação é um trabalho de penetrar e transformar.
É por isso que o Sutra (Acerca dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência, NT) diz “observar o corpo no corpo, observar as sensações nas sensações, observar a mente na mente, observar os dharmas nos dharmas”. A descrição é muito clara. A mente da observação profunda não é meramente observadora, mas participante. Somente quando o observador é participante poderá haver transformação.
É por isso que o Sutra (Acerca dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência, NT) diz “observar o corpo no corpo, observar as sensações nas sensações, observar a mente na mente, observar os dharmas nos dharmas”. A descrição é muito clara. A mente da observação profunda não é meramente observadora, mas participante. Somente quando o observador é participante poderá haver transformação.
Na prática chamada de observação una, a plena consciência já influencia o objeto da consciência. Quando chamamos uma inspiração de “inspiração”, a existência da nossa respiração se torna muito clara. A plena consciência já penetrou nossa respiração. Ao continuarmos a nossa observação consciente, não haverá mais dualidade entre observador e observado.
Plena consciência e respiração são um. Nós e nossa respiração somos um. Se nossa respiração é calma, estamos calmos. Nossa respiração acalma o nosso corpo e nossas sensações. Este é o método ensinado no Sutra Acerca dos Quatro estabelecimentos da Plena Consciência e no Sutra Sobre a Plena Consciência da Respiração.
Quando a nossa mente é consumida por um desejo ou por aquilo que observamos, a plena consciência não está presente. A respiração consciente alimenta a plena consciência e esta gera a respiração consciente. Quando a plena consciência está presente, não temos nada a temer. O objeto de nossa observação se torna vívido e sua fonte, origem e verdadeira natureza se tornam evidentes. É assim que ele (o objeto, NT) será transformado. Não terá mais o efeito de nos segurar.
Plena consciência e respiração são um. Nós e nossa respiração somos um. Se nossa respiração é calma, estamos calmos. Nossa respiração acalma o nosso corpo e nossas sensações. Este é o método ensinado no Sutra Acerca dos Quatro estabelecimentos da Plena Consciência e no Sutra Sobre a Plena Consciência da Respiração.
Quando a nossa mente é consumida por um desejo ou por aquilo que observamos, a plena consciência não está presente. A respiração consciente alimenta a plena consciência e esta gera a respiração consciente. Quando a plena consciência está presente, não temos nada a temer. O objeto de nossa observação se torna vívido e sua fonte, origem e verdadeira natureza se tornam evidentes. É assim que ele (o objeto, NT) será transformado. Não terá mais o efeito de nos segurar.
Quando o objeto de nossa observação consciente é totalmente claro, a mente que observa é também revelada completamente com grande clareza. Ver os dharmas claramente é ver a mente claramente. Quando os dharmas se revelam na sua verdadeira natureza, a mente obtém a natureza da mais alta compreensão. O sujeito e o objeto da cognição não são separados.
3. A Mente Verdadeira e a Mente Ilusória São Um.
“Mente Verdadeira” e “Mente Ilusória” são dois aspectos da mente. Ambas emergem da mente. A mente ilusória é a mente esquecida e dispersa que emerge do esquecimento. A base da mente verdadeira é a compreensão desperta, o qual emerge da plena consciência.
A observação consciente revela a luz que existe na mente verdadeira, de modo que a vida poderá ser revelada em sua realidade. Sob esta luz, confusão se torna compreensão, visões errôneas se tornam visões corretas, miragens se tornam realidade e a mente ilusória se torna mente verdadeira. Uma vez que a observação consciente nasça, penetrará o objeto da observação, iluminá-lo-á e, gradualmente, revelará sua verdadeira natureza. A mente verdadeira emerge da mente ilusória. As coisas em sua verdadeira natureza e as ilusões são da mesma substância básica. É por isso que praticar é uma questão de transformar a mente ilusória e não buscar a mente verdadeira em outro lugar. Do mesmo modo como a superfície de um mar agitado e a de um mar tranqüilo são, ambas, manifestações do mesmo mar, a mente verdadeira não poderia existir se não houvesse a mente ilusória.
No ensinamento das Três Portas da Libertação (em páli: vimokkhamukha), a ausência de meta (em sânscrito: apranihita) é uma das fundações para a realização. O que a ausência de meta quer dizer é que não devemos procurar algo fora de nós de nós mesmos. No Budismo Mahayana, o ensinamento da não-realização é a mais alta expressão da unidade entre a mente verdadeira e a mente ilusória.
A observação consciente revela a luz que existe na mente verdadeira, de modo que a vida poderá ser revelada em sua realidade. Sob esta luz, confusão se torna compreensão, visões errôneas se tornam visões corretas, miragens se tornam realidade e a mente ilusória se torna mente verdadeira. Uma vez que a observação consciente nasça, penetrará o objeto da observação, iluminá-lo-á e, gradualmente, revelará sua verdadeira natureza. A mente verdadeira emerge da mente ilusória. As coisas em sua verdadeira natureza e as ilusões são da mesma substância básica. É por isso que praticar é uma questão de transformar a mente ilusória e não buscar a mente verdadeira em outro lugar. Do mesmo modo como a superfície de um mar agitado e a de um mar tranqüilo são, ambas, manifestações do mesmo mar, a mente verdadeira não poderia existir se não houvesse a mente ilusória.
No ensinamento das Três Portas da Libertação (em páli: vimokkhamukha), a ausência de meta (em sânscrito: apranihita) é uma das fundações para a realização. O que a ausência de meta quer dizer é que não devemos procurar algo fora de nós de nós mesmos. No Budismo Mahayana, o ensinamento da não-realização é a mais alta expressão da unidade entre a mente verdadeira e a mente ilusória.
Se a rosa está a caminho de se tornar lixo, o lixo também está a caminho de se tornar uma rosa. Aquela que observa com discernimento verá o caráter não-dual da rosa e do lixo. Ela será capaz de ver que existe lixo na rosa e que existem rosas no lixo. Ela saberá que a rosa precisa do lixo para sua existência e que o lixo precisa da rosa, pois logo ela se tornará lixo. Portanto, ela saberá aceitar o lixo para transformá-lo em rosas e não sentirá medo quando a rosa murchar e se transformar em lixo. Este é o princípio da não-dualidade. Se a mente verdadeira (a rosa) pode ser descoberta no material bruto da mente ilusória (o lixo), então poderemos reconhecer a mente verdadeira na substância mesma da ilusão, na substância mesma da ilusão, na substância do nascimento e da morte.
Libertar-se não é fugir ou abandonar os Cinco Skhandas: forma, sensações, percepções, formações mentais e consciência.
Mesmo que nosso corpo seja cheio de impurezas e mesmo que o mundo seja da natureza da ilusão, isso não significa que para nos libertarmos tenhamos que fugir do nosso corpo ou do mundo. O mundo da libertação e da compreensão desperta vem diretamente deste corpo e deste mundo. Uma vez que a Correta Compreensão se realize, transcendemos as discriminações entre puro e impuro e entre objetos da percepção ilusórios e reais.
Se o jardineiro for capaz de ver que a rosa vem diretamente do lixo, então o praticante no caminho da meditação poderá ver que o nirvana vem diretamente do nascimento e da morte, e não mais fugirá ou buscará o nirvana (fora de si mesmo, NT). “As raízes da aflição (em sânscrito: klesha) são as mesmas do estado desperto. O nirvana e o nascimento/morte são imagens ilusórias no espaço”. Esta citação expressa um profundo insight acerca da não-dualidade. A substância deste insight é a equanimidade ou o largar (to let go, NT. Em sânscrito: upeksha), uma das Quatro Mentes Incomensuráveis (também conhecida como as Quatro Moradas de Brahma, brahmaviharas em sânscrito, NT).
Mesmo que nosso corpo seja cheio de impurezas e mesmo que o mundo seja da natureza da ilusão, isso não significa que para nos libertarmos tenhamos que fugir do nosso corpo ou do mundo. O mundo da libertação e da compreensão desperta vem diretamente deste corpo e deste mundo. Uma vez que a Correta Compreensão se realize, transcendemos as discriminações entre puro e impuro e entre objetos da percepção ilusórios e reais.
Se o jardineiro for capaz de ver que a rosa vem diretamente do lixo, então o praticante no caminho da meditação poderá ver que o nirvana vem diretamente do nascimento e da morte, e não mais fugirá ou buscará o nirvana (fora de si mesmo, NT). “As raízes da aflição (em sânscrito: klesha) são as mesmas do estado desperto. O nirvana e o nascimento/morte são imagens ilusórias no espaço”. Esta citação expressa um profundo insight acerca da não-dualidade. A substância deste insight é a equanimidade ou o largar (to let go, NT. Em sânscrito: upeksha), uma das Quatro Mentes Incomensuráveis (também conhecida como as Quatro Moradas de Brahma, brahmaviharas em sânscrito, NT).
O Buda ensinou muito claramente que não deveríamos nos apegar ao ser ou ao não-ser. Ser significa o reino do desejo. Não-ser significa o reino do niilismo. Libertar-se é tornar-se livre de ambos.
4. O Caminho do Não-Conflito
A realização da não-dualidade naturalmente leva à prática de oferecermos alegria, paz e não-violência. Se o jardineiro sabe lidar com o lixo orgânico sem conflito e nem discriminação, então o praticante de meditação também deveria saber como lidar com os Cinco Agregados sem conflito e nem discriminação.
Os Cinco Agregados são a base do sofrimento e da confusão, mas também são a base da paz, da alegria e da libertação. Não deveríamos desenvolver uma atitude de apego ou aversão a eles. É claramente dito no Sutra (Acerca dos Quatros Estabelecimentos da Plena Consciência, NT) que o praticante faz a observação pondo de lado todo sentimento de apego e rejeição para com esta vida (vineyya loke abhijjha domanassam).
Os Cinco Agregados são a base do sofrimento e da confusão, mas também são a base da paz, da alegria e da libertação. Não deveríamos desenvolver uma atitude de apego ou aversão a eles. É claramente dito no Sutra (Acerca dos Quatros Estabelecimentos da Plena Consciência, NT) que o praticante faz a observação pondo de lado todo sentimento de apego e rejeição para com esta vida (vineyya loke abhijjha domanassam).
Antes de realizar o estado desperto, Siddharta manteve práticas austeras, reprimindo seu corpo e suas sensações. Este tipo de método é violento por natureza e os resultados são sempre negativos. Depois desta fase, ele mudou e praticou a não-violência e o não-conflito em relação ao seu corpo e às suas sensações.
O método ensinado pelo Buda no Sutra Acerca dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência claramente expressa o espírito da não-violência e do não-conflito. A plena consciência reconhece o que está acontecendo no corpo e na mente e continua a iluminar e observar em profundidade esses objetos. Durante essa prática, não há apego, busca ou repressão do objeto. Este é o verdadeiro significado do termo observação nua. Não há cobiça e nem rejeição. Sabemos que o nosso corpo e as nossas sensações somos nós mesmos e, portanto, não os reprimimos, pois se assim o fizermos estaremos reprimindo a nós mesmos. Ao contrário, aceitamos nosso corpo e nossas sensações. Aceitar não significa apegar-se. Ao aceitar, atingimos um grau de paz e compreensão. Paz e alegria surgem quando abandonamos as discriminações entre certo e errado; entre mente que observa e corpo observado (que costumamos dizer que é impuro); entre a mente que observa e as sensações que são observadas (que costumamos dizer que são dolorosas).
Ao aceitarmos nosso corpo e nossas sensações, nós os tratamos de maneira terna e não-violenta. O Buda nos ensinou a praticar a plena consciência dos fenômenos fisiológicos e psicológicos para observá-los e não para suprimi-los. Quando aceitamos nosso corpo, fazemos as pazes com ele e acalmamos o seu funcionamento, sem sentirmos aversão, estamos seguindo os ensinamentos do Buda: “Inspirando, sou consciente de todo o meu corpo, expirando acalmo as funções do meu corpo” (Sutra Acerca dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência).
Na observação feita enquanto meditamos, não nos transformamos num campo de batalha entre um lado bom e um lado mal. Se pudermos ver a não-dualidade da rosa e do lixo, das raízes da aflição e da mente desperta, não sentiremos mais medo. Aceitaremos essas aflições e as trataremos como as mães tratam os filho, conseguindo assim transformá-las.
Na observação feita enquanto meditamos, não nos transformamos num campo de batalha entre um lado bom e um lado mal. Se pudermos ver a não-dualidade da rosa e do lixo, das raízes da aflição e da mente desperta, não sentiremos mais medo. Aceitaremos essas aflições e as trataremos como as mães tratam os filho, conseguindo assim transformá-las.
Quando reconhecemos as raízes da aflição em nós e nos tornamos um com elas, a possibilidade de nos enredarmos nelas ou não vai depender do estado da nossa mente. Quando estamos em estado de esquecimento, podemos ser apanhados por essas raízes transformando-nos nelas. Quando estamos conscientes, podemos ver claramente as raízes da nossa aflição e transformá-las. Portanto, é essencial ver as raízes de nossa aflição com plena consciência. Enquanto a lâmpada da plena consciência jorrar sua luz, as trevas serão transformadas. Precisamos nutrir a plena consciência em nós mesmos pela prática da respiração consciente, da escuta do sino, da recitação de gathas e de muitos outros meios hábeis.
Precisamos de uma atitude de ternura e não-violência em relação ao nosso corpo. Não devemos olhar o nosso corpo apenas como um instrumento ou tratá-lo mal. Quando estamos cansados ou sentindo dor, nosso corpo está tentando nos dizer que ele não está feliz e nem tranquilo. O corpo tem sua própria linguagem.
Como praticantes da plena consciência, deveríamos saber o que o nosso corpo está querendo nos dizer. Se sentirmos muita dor nas pernas durante a meditação sentada, devemos sorrir e mudar a posição nossa posição lenta e gentilmente, com plena consciência. Não há nada de mal em mudar nossa posição. Não é perda de tempo. Enquanto a plena consciência for mantida o trabalho de meditação continua. Não devemos nos intimidar. Quando fazemos força demais não apenas perdemos a nossa paz e nossa alegria, perdemos também a plena consciência e a concentração. Nós praticamos a meditação sentada para sentirmos libertação, paz e alegria e não para nos tornarmos heróis capazes de aguentar dor.
Como praticantes da plena consciência, deveríamos saber o que o nosso corpo está querendo nos dizer. Se sentirmos muita dor nas pernas durante a meditação sentada, devemos sorrir e mudar a posição nossa posição lenta e gentilmente, com plena consciência. Não há nada de mal em mudar nossa posição. Não é perda de tempo. Enquanto a plena consciência for mantida o trabalho de meditação continua. Não devemos nos intimidar. Quando fazemos força demais não apenas perdemos a nossa paz e nossa alegria, perdemos também a plena consciência e a concentração. Nós praticamos a meditação sentada para sentirmos libertação, paz e alegria e não para nos tornarmos heróis capazes de aguentar dor.
Também precisamos de uma atitude não-violenta em relação às nossas sensações. Quando somos conscientes de que somos as nossas sensações, não as negligenciamos e nem as oprimimos. Nós as abraçamos afetivamente com os braços da plena consciência, como uma mãe abraça seu filho recém-nascido quando ele chora. Uma mãe abraça o filho com todo o seu amor para que ele se sinta confortável e pare de chorar. A plena consciência, nutrida pela respiração consciente, tomas as sensações nos seus braços, torna-se um com elas, acalma-as e transforma-as.
Antes de o Buda atingir a plena realização do caminho, tentou vários métodos que usavam a mente para suprimir a mente, mas nunca conseguiu. Foi por isso que ele terminou por escolher praticar de um modo não-violento. No Mahasaccaka Sutra (Madhyama Agama 36) o Buda nos diz:
“Então pensei, por que não trinco meus dentes, pressiono a língua contra o céu da boca e utilizo a mente para reprimir a minha própria mente? Como um lutador que segura firmemente a cabeça ou o torço de alguém mais fraco e, para restringi-lo e coagi-lo, tem que segurá-lo todo o tempo sem relaxar nem um momento, assim trinquei meus dentes, pressionei minha língua contra o palato e usei minha mente para dominar e reprimir a minha mente. Ao fazer isso, fiquei banhado de suor. Apesar de não me faltar forças, e apesar de ter mantido a plena consciência sem cessar, meu corpo e minha mente não estavam em paz e senti-me exaurido por esses esforços. Esta prática causou outras sensações de dor, além das dores associadas às práticas austeras, e não fui capaz de domar minha mente”.
Torna-se claro, a partir dessa passagem, que o Buda encarava esse tipo de prática como inútil. Apesar disso, a seguinte passagem foi inserida noVitakkasanthana Sutra (Madhyama Agama 20), com o sentido oposto à intenção do Buda:
“Da mesma forma que um lutador pega a cabeça ou o torço de alguém mais fraco, restringe-o e o coage e o segura sem relaxar um só momento, assim também um monge que medita para frear todos os pensamentos não-saudáveis de desejo e aversão, e eles continuam a emergir, deve trincar os dentes, pressionar a língua contra o palato e fazer o possível para usar sua mente para abater e derrotar sua mente”.
A mesma passagem foi inserida no Sutra Acerca dos Quatro Fundamentos da Plena Consciência, que aparece como a segunda versão neste livro: “O praticante que observa o corpo enquanto corpo fecha seus lábios com força ou trinca seus dentes, pressiona sua língua contra o palato e usa sua mente para restringir e se opor à sua mente”. Esta passagem não aparece na maioria das versões do Sutra (observem a primeira e terceira versões), mas se acha também no Kayasmrti Sutra (Madhyama Agama 81) cujo conteúdo é bastante similar ao da segunda versão. Como os sutras foram, por séculos, transmitidos oralmente antes de serem registrados por escrito, esse tipo de erro era inevitável. É necessário fazer estudos comparativos dos sutras, à luz de nossa própria experiência de meditação, para ver o que é o material original e o que foi adicionado depois.
5. Observação Não Significa Doutrinação
Em centros budistas espalhados pelo mundo, ensina-se aos estudantes a recitação de frases do tipo “corpo é impuro, sensações são sofrimento, mente é impermanente, dharmas não possuem ego” enquanto observam os Quatro Estabelecimentos. O autor dessas linhas foi ensinado dessa maneira, quando era noviço, e sentiu que era um tipo de lavagem cerebral.
O método dos Quatro Estabelecimentos da Plena Consciência é observar profundamente no espírito do “não-desejo e sem sentir repugnância“. A plena consciência não se apega, despreza, repreende ou reprime, desse modo a verdadeira natureza de todos os dharmas pode revelar-se à luz da observação consciente. Que a natureza impermanente, impura e sem identidade intrínseca de todos os dharmas tem por efeito causar sofrimento, pode ser vista enquanto observamos, não é por que repetimos fórmulas como essas acima de maneira automática. Quando olhamos em profundidade e vemos a natureza de todos os dharmas, eles se revelarão por si mesmos.
Se repetirmos mecanicamente, “o corpo é impuro”, estaremos recitando um dogma. Se observarmos todos os fenômenos fisiológicos e vemos sua natureza impura, isto não é dogma. É nossa experiência. Se, durante a nossa observação consciente, vemos que os fenômenos são, às vezes, puros e, às vezes, impuros, então esta é a nossa experiência. Se olharmos ainda mais profundamente e vermos que os fenômenos não são puros ou impuros, que eles transcendem os conceitos de puro e impuro, descobriremos aquilo que é ensinado no Sutra do Coração Prajñaparamita.
Este sutra também nos ensina a resistir a todas as atitudes dogmáticas. Não devemos nos forçar a ver o corpo como impuro ou as sensações como sofrimento. Mesmo que haja alguma verdade nessas sentenças, repeti-las dogmaticamente tem apenas o efeito de nos encher com conhecimento. Enquanto observamos com plena consciência, veremos que existem muitas sensações dolorosas, mas também vemos que também existem sensações de alegria e paz e muitas sensações neutras. E se olharmos mais profundamente, veremos que as sensações neutras podem se tornar sensações de alegria e que sofrimento e felicidade são interdependentes. O sofrimento é porque a felicidade é e a felicidade é porque o sofrimento é. Ao repetirmos “mente é impermanente”, nossa atitude ainda é dogmática. Se a mente é impermanente, então o corpo deve ser impermanente e assim também as sensações. O mesmo é verdadeiro para “dharmas são sem ego”. Se os dharmas são sem ego, assim também o são o corpo, a mente e as sensações.
Este sutra também nos ensina a resistir a todas as atitudes dogmáticas. Não devemos nos forçar a ver o corpo como impuro ou as sensações como sofrimento. Mesmo que haja alguma verdade nessas sentenças, repeti-las dogmaticamente tem apenas o efeito de nos encher com conhecimento. Enquanto observamos com plena consciência, veremos que existem muitas sensações dolorosas, mas também vemos que também existem sensações de alegria e paz e muitas sensações neutras. E se olharmos mais profundamente, veremos que as sensações neutras podem se tornar sensações de alegria e que sofrimento e felicidade são interdependentes. O sofrimento é porque a felicidade é e a felicidade é porque o sofrimento é. Ao repetirmos “mente é impermanente”, nossa atitude ainda é dogmática. Se a mente é impermanente, então o corpo deve ser impermanente e assim também as sensações. O mesmo é verdadeiro para “dharmas são sem ego”. Se os dharmas são sem ego, assim também o são o corpo, a mente e as sensações.
Portanto, o ensinamento especial do Sutra Acerca dos Quatro estabelecimentos da Plena Consciência é observar todos os dharmas sem ter, sobre eles, nenhuma idéia fixa, apenas manter a observação consciente sem comentar, sem assumir nenhuma atitude em relação ao objeto que se está observando. Dessa maneira, a verdadeira natureza do objeto será capaz de revelar-se por si mesma à luz da observação consciente, e você poderá obter insight sobre descobertas maravilhosas tais como o não-nascimento, não-morte, nem puro nem impuro, nem crescente e nem decrescente, interpenetração e interser.
Traduzido do livro de Thich Nhat Hanh, Transformation and Healing – Sutra On The Four Establishments of Mindfulness, Capítulo VI. Tradução: Samuel Cavalcante
quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
Preparativos para o Natal (Antroposofia)
Na época de Advento tem-se notoriamente muito que fazer para preparar a festa de Natal. Limpamos e arrumamos a casa, penduramos enfeites natalinos. Escolhemos e compramos os presentes e os embrulhos festivamente, escrevemos as cartas anuais aos parentes e amigos. Depois há também a confecção de bolos e biscoitos com que tem de se haver as donas de casa e as mães.
Afinal, há tantas coisas que não podemos deixar de fazer antes de Natal, que em nós mesmos e na casa pode vir a se instalar uma disposição de ânimo de correria e desassossego. Esse estado de presa febril Friedrich Rittelmeyer denominou “febre de Natal”, e ele explicou que esta é uma das invenções mais sutis e bem sucedidas do 'diabo', que com isto quer afastar o ser humano do verdadeiro sentido da festa de Natal. Podemos verificar em nós mesmos, essa sensação de falta de tempo e pressa nos causa um mal-estar que acaba nos esgotando logo no início das doze Noites Santas.
Mas justamente porque intuímos o que quer vir ao nosso encontro nessas Noites Santas, justamente porque esse pressentimento vive em nós com tanta força, por isso é que sentimos quão importantes são os nossos preparativos. E então essa sensação de importância do nosso agir pré-natalino nos leva a fazer demais, de tal modo que não sobram forças para os preparativos interiores, que são efetivamente os mais importantes.
O que fazemos exteriormente agora no Advento certamente tem seu significado, mas apenas é uma imagem daquilo que poderíamos fazer em nosso íntimo para nos preparar convenientemente. A sensação de agora ser tempo para arrumar e embelezar a casa é, na verdade, uma transformação daquela outra sensação que nos diz: é hora de arrumar a minha consciência, preciso cultivar os pensamentos adequados. Essa preparação interior é o mais primordial e também o mais essencial, apesar da atividade exterior da época de Advento sempre dificultar a obtenção da calma necessária para refletir e ordenar o nosso íntimo.
E há também os presentes que compramos ou confeccionamos nós mesmos. Por trás disso se encontra a arque-imagem do presentear, que se aproxima a cada ano na época de Advento. Essa arque-imagem denomina-se sacrificar. No sacrifício se a si mesmo temos o presentear em sua forma mais genuína. Presentear objetos exteriores certamente pode proporcionar grande alegria, mas quando alguém está disponível para o outro, se dedica ao bem-estar de outros, este é o presentear interior é a verdadeira preparação para o Natal. Dar-se a si mesmo cria um espaço em que pode nascer o Cristo quando vem a Noite Santa.
James H. Hindes
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Voce já entrou em contato com o profundo sentido do seu Ser?
"O privilégio de toda uma vida
é ser aquele que nascemos para ser.
Siga a sua bem-aventurança,
lá onde há um profundo sentido do seu ser,
lá onde seu corpo e sua alma querem ir.
Encontre a paixão da sua vida e siga-a,
siga o caminho que não é caminho.
Quando tiver essa sensação,
fique aí
e não deixe ninguém arrancá-lo desse lugar.
E portas se abrirão
onde antes não havia portas
e você sequer imaginava que pudesse haver."
Joseph Campbell
domingo, 25 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
Teoria das Cores de Goethe
O interesse de Johann Wolfgang von Goethe pelas cores foi instigado pela natureza ótica do fenômeno e pela tradição colorística das pinturas da Renascença com as quais teve contato em sua primeira viagem à Itália entre os anos de 1786 e 1788.
A Teoria das Cores (Zur Farbenlehre) de Goethe foi originalmente publicada em 1810. Com seu tratado sobre as cores de 1400 páginas, Goethe reformulou a teoria das cores de uma maneira inteiramente nova, sendo o primeiro a ousar confrontar as idéias de Newton sobre luz e cor. Newton via as cores como um fenômeno puramente físico, envolvendo a luz que atinge objetos e penetra nossos olhos.
Goethe concebeu a ideia de que as sensações de cores que surgem em nossa mente são também moldadas pela nossa percepção – pelos mecanismos da visão e pela maneira como nosso cérebro processa tais informações.
O trabalho de Goethe continuou a fascinar cientistas por muitos anos, dentre eles podemos destacar grandes nomes como Hermann von Helmholtz, Werner Heisenberg, Walter Heitler e Carl Friedrich von Weizsäcker.
Recentemente, o teórico do Caos, Mitchell Feigenbaum, consultando o trabalho de Goethe, surpreendeu-se ao descobrir que “Goethe já tinha realizado um extraordinário conjunto de experimentos investigando as cores” e estava correto em suas observações.
Para sustentar a sua visão na qual as principais característica das cores são a simetria e a complementaridade, Goethe propôs modificar o círculo de Newton que possuia sete cores sustentadas sob ângulos desiguais. Cria um círculo simétrico, onde as cores complementares localizam-se em posições diametralmente opostas no círculo.
Epígrafe utilizada na introdução da Teoria das Cores de Goethe. “Se nossas coisas são verdadeiras ou falsas, assim serão, ainda que a defendamos por toda a vida. Após nossa morte, as crianças, que agora brincam, serão nossos juízes.”
Para Newton, apenas as cores do espectro poderiam ser consideradas como fundamentais. Goethe, baseando-se em seus experimentos, conclui que cores, como o magenta, uma cor não espectral, possuem um importante papel para completar o círculo das cores, o que é sustentado até nos sistemas de cores mais modernos.
Artistas que lidavam com cores sentiram-se mais atraidos pela proposta de Goethe do que pela de Newton.
Um pintor fortemente influenciado pelas idéias de Goethe foi J. M. W. Turner (1775-1851), cuja pintura “Luz e Cor (Teoria de Goethe)” é exposta no ‘Tate Britain’ em Londres.
Teoria de Aristóteles
Os primeiros estudos sobre cores foram feitos na Grécia antiga por Aristóteles. Segundo ele as cores existiam na forma de raios enviados por Deus. Sua teoria não foi contestada até a Renascença quando sistemas de cores mais sofisticados foram desenvolvidos por Aguilonius e Sigfrid Forsius.
Para Aristóteles, as cores mais simples seriam aquelas dos elementos: terra, ar, fogo e água.
Sua visão era baseada na sua concepção de cor, na observação de que a luz do sol, ao atravessar ou refletir em um objeto, tem sua intensidade reduzida, escurece.
Através desse processo a cor seria produzida, ou seja, a cor seria derivada de uma transição do claro para o escuro, ou ainda, de outra forma, Aristóteles as via como uma mistura, uma composição, uma sobreposição de preto e branco.
Essa visão, que permaneceu até a época de Newton (1642 a 1727), tem a luz do sol como luz pura e portanto sem cor, a cor deve ser algum tipo de constituinte permitindo objetos e meios serem opacos ou transparentes, sendo capazes de degradar a pureza da luz incidente.
Algumas dúvidas com relação à teoria de Aristóteles começaram a ser levantadas no inicio do século XVII devido à descoberta das cores interferentes – cores de películas muito finas, tais como uma bolha de sabão – que mudam drasticamente conforme o ângulo de observação. Essas películas pareciam possuir todas as cores em si ao mesmo tempo e degradar a luz solar incidente de diferentes maneiras dependendo do ângulo de observação.
Leonardo da Vinci, como Aristóteles, acreditava que as cores são propriedade dos objetos. Em seu tratado sobre pintura escreveu: “A primeira de todas as cores simples é o branco, embora os filósofos não irão aceitar tanto branco como preto como cores porque branco é a causa ou receptor de todas as cores, e o preto é a privação total delas. Mas como os pintores não podem ficar sem ambas, as colocaremos dentre as demais. (...) Podemos colocar o branco como representante da luz sem o qual nenhuma cor pode ser vista, amarelo para a terra, verde para água, azul para o ar, vermelho para o fogo e preto para a escuridão.”
A maior dificuldade com a abordagem da percepção proposta por Aristóteles é a afirmação de que as faculdades sensoriais relevantes dos sentidos tornam-se semelhantes aos objetos a que percebem. “O conhecimento sensível, a sensação, pressupõem um fato físico, a saber, a ação do objeto sensível sobre o órgão que sente, imediata ou à distância, através do movimento de um meio. Mas o fato físico transforma-se num fato psíquico, isto é, na sensação propriamente dita, em virtude da específica faculdade e atividade sensitivas da alma. O sentido recebe as qualidades materiais sem a matéria delas, como a cera recebe a impressão do selo sem a sua matéria. A sensação embora limitada é objetiva, sempre verdadeira com respeito ao próprio objeto; a falsidade, ou a possibilidade da falsidade, começa com a síntese, com o juízo. O sensível próprio é percebido por um só sentido, isto é, as sensações específicas são percebidas, respectivamente, pelos vários sentidos; o sensível comum, as qualidades gerais das coisas tamanho, figura, repouso, movimento, etc. são percebidas por mais sentidos. O senso comum é uma faculdade interna, tendo a função de coordenar, unificar as várias sensações isoladas, que a ele confluem, e se tornam, por isso, representações, percepções.”
Teoria de Newton
O conhecimento atual sobre luz e cor iniciou-se com os trabalhos de Isaac Newton (1642-1726), uma série de experimentos cujos resultados foram publicados na chamada “Nova Teoria da Luz e Cores”, em 1672, numa carta formal à Royal Society of London. O principal experimento realizado consistiu em dispor um prisma próximo a sua janela, projetando um espectro, criado pela refração de um raio circular de luz branca, em uma parede, mostrando as cores componentes:
vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.
Principiando pela observação de que a imagem criada não era circular, como o raio original, Newton inferiu os princípios de sua nova teoria: a luz solar seria formada de uma mistura de raios de diferentes “refratabilidade”.
Para mostrar que o prisma não estava colorindo a luz, a luz refratada foi colimada novamente, obtendo assim o branco.
Os artistas ficaram fascinados com a demonstração de Newton de que apenas a luz seria a responsável pela cor e criaram uma disposição das cores em círculo de conceitos, permitindo dispor as cores primárias (vermelho, amarelo, azul) em posições diametralmente opostas às suas complementares (por exemplo, o vermelho ficaria em oposição ao verde), de maneira a mostrar que as cores complementares ficariam opostas umas às outras através de um efeito de contraste óptico.
Newton foi o primeiro a organizar as cores em um círculo. Seu círculo possuía sete cores principais que estava relacionadas aos sete planetas e às sete notas musicais da escala diatônica: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil, violeta. A teoria das três cores primárias: vermelho, amarelo e azul foi proposta originalmente um século depois pelo francês Jean C. Le Bon, sobre a qual foi publicado um tratado de mistura de pigmentos. Essa teoria tornou-se a partir de então a base para qualquer trabalho envolvendo pigmentos coloridos.
Teoria de Goethe
Goethe defende que o olhar é sempre crítico. Apenas olhar não seria um estímulo, um estímulo é uma experiência que vai além do simples observar, cria um vínculo teórico e leva o observador a tirar suas próprias conclusões.
Jedes Ansehen geht ¨uber in ein Betrachten, jedes Betrachten in ein Sinnen, jedes Sinnen in ein Verkn¨upfen, und so kann man sagen, daß wir schon bei jedem aufmerksamen Blick in die Welt theoretisieren. Dieses aber mit Bewußtsein, mit Selbstkenntnis, mit Freiheit, und um uns eines gewagten Wortes zu bedienen, mit Ironie zu tunund vorzunehmen, eine solche Gewandtheit ist n¨otig, wenn die Abstraktion, vor der wir uns f¨urchten, unsch¨adlich und das Erfahrungsresultat, das wir hoffen, recht lebendig und n¨utzlich werden soll. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Vorwort - Goethe)
Cada olhar envolve uma observação, cada observação uma reflexão, cada reflexão uma síntese: ao olharmos atentamente para o mundo já estamos teorizando. Devemos, porém, teorizar e proceder com consciência, autoconhecimento, liberdade e – se for preciso usar uma palavra audaciosa – com ironia: tal destreza é indispensável para que a abstração, que receiamos, não seja prejudicial, e o resultado empírico, que desejamos, nos seja útil e vital. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Para Goethe a sensibilidade não é apenas receptividade, mas também impulsividade.
As cores devem ser interpretadas duplamente como Leiden (paixão) e como Tat (ação) da luz.
Die Farben sind Taten des Lichts, Taten und Leiden. In diesem Sinne k¨onnen wir von denselben Aufschl¨usse ¨uber das Licht erwarten. Farben und Licht stehen zwar untereinander in dem genausten
Verh¨altnis, aber wir m¨ussen uns beide als der ganzen Natur angehorig denken: denn sie ist es ganz, die sich dadurch dem Sinne des Auges besonders offenbaren will.(Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Vorwort - Goethe)
As cores são ações e paixões da luz. Nesse sentido, podemos esperar delas alguma indicação sobre a luz. Na verdade, luz e cores se relacionam perfeitamente, embora devamos pensá-las como pertencendo à natureza em seu todo: é ela inteira que assim quer se revelar ao sentido da visão. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
A natureza é algo construído pelos nossos olhos, e que existe apenas quando se revela aos sentidos.
“As leis naturais são feitas e relacionadas umas com as outras como se a Faculdade de Julgar as houvesse produzido para o seu próprio uso.”
A cor não é apenas a luz, mas também a impulsividade que nasce na paixão, no olhar como forma de criar a natureza.
A luz não só está dentro de cada um, como acaba se identificando com o próprio sujeito.
Nesse ponto, Goethe parece se aproximar da obra de Kant. Em sua Crítica do Juízo a natureza é colocada de forma “estetizada”, pois o homem julga a natureza da mesma maneira que interpreta uma obra de arte.
O estilo dessa obra de Goethe é alternadamente um discurso rigorosamente científico ou um discurso poético, sendo as vezes chamado de uma literatura científica. Por um lado a obra mostra-se como um relato de um escritor versátil, poeta ábil e investigador da natureza, herdeiro do Aufklarung, por outro é um relato tortuoso, fruto de uma longa investigação que perdurou por mais de vinte anos e que jamais pareceu estar concluída sendo chamada de ein Entwurf (um esboço).
O trabalho de Goethe é uma tentativa de ordenar e combinar os fenômenos cromáticos para entender os princípios que os regem e como essa ordenação nos leva a uma diferenciação em termos de estética.
Die Lust zum Wissen wird bei dem Menschen zuerst dadurch angeregt, daß er bedeutende Ph¨anomene gewahr wird, die seine Aufmerksamkeit an sich ziehen. Damit nun diese dauernd bleibe, so muß sich eine innigere Teilnahme finden, die uns nach und nach mit den Gegenst¨anden bekannter macht. Alsdann bemerken wir erst eine große Mannigfaltigkeit, die uns als Menge entgegendringt. Wir sind gen¨otigt zu sondern, zu unterscheiden und wieder zusammenzustellen, wodurch zuletzt eine Ordnung entsteht, die sich mit mehr oder weniger Zufriedenheit ¨ubersehen l¨aßt. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
O homem só é levado ao desejo de conhecer se fenômenos notáveis lhe chamam a atenção. Para que esta perdure, é preciso haver um interesse mais profundo, que nos aproxime cada vez mais dos objetos. Observamos então uma grande diversidade diante de nós. Somos obrigados a separá-la, distingui-la e recompô-la, daí resultando uma ordenação que pode ser apreciada com maior ou menor satisfação. (Doutrina das Cores. Esbo¸co de uma Doutrina das Cores - Introdução- Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Os estímulos incidentes são primeiramente analisados, e assim separando, decompondo a multitude do mundo que observamos. Após esse processo de desagregação inicia-se a etapa de síntese, montagem, através da qual extraímos informações, características e significados, tornando possível a memorização, a comparação e a apreciação.
A natureza se revela ao sentido da visão através da luz e das cores e assim é possível distinguir um objeto de outro, ou as várias partes de um objeto. O mundo visível é re-construído, e cria-se uma dissociação entre o queé e o que aparenta ser. Goethe retoma, nesse ponto, a idéia de Kepler 3, quem define o olho humano como um produtor mecânico de pinturas, definindo o “ver” como “pintar”, e a pintura como formativa de imagem retiniana não-linear. Kepler foi o primeiro a separar o problema físico da formação das imagens retinianas (o mundo visto) dos problemas psicológicos da percepção (o mundo percebido).
Iluminismo
Kepler foi uma figura marcante na revolução científica. Nascido na Alemanha, tornou-se astrônomo, matemático e astrólogo. É mais conhecido pelas suas leis de movimentação dos planetas. As vezes é referenciado como o primeiro astrofísico teórico, embora Carl Sagan prefira chamá-lo de o último astrólogo cientista.
Und so erbauen wir aus diesen dreien die sichtbare Welt und machendadurch zugleich die Malerei m¨oglich, welche auf der Tafel eine weit vollkommner sichtbare Welt, als die wirkliche sein kann, hervorzubringen vermag. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
E assim construímos o mundo visível a partir do claro, do escuro e da cor, e com eles também tornamos possível a pintura, que é capaz de produzir, no plano, um mundo visível muito mais perfeito que o mundo real.(Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Introdução- Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Goethe estava convencido de que a totalidade da natureza se revela, como através de um espelho, ao sentido da visão, através da dialética entre dividir e fundir, intensificar e neutralizar. É pois através da oposição e da transposição para o mundo da percepção que nascem os conceitos, e resulta assim a apreciação e cria-se a estética como objeto.
Die Farbe sei ein elementares Naturph¨anomen f¨ur den Sinn des Auges, das sich, wie die ¨ubrigen alle, durch Trennung und Gegensatz, durch Mischung und Vereinigung, durch Erh¨ohung und Neutralisation, durch Mitteilung und Verteilung und so weiter manifestiert und unter diesen allgemeinen Naturformeln am besten angeschaut und begriffen werden kann. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
(...) a cor é um fenômeno elementar da natureza para sentido da visão, que, como todos os demais, se manifesta ao se dividir e opor, se misturar e fundir, se intensificar e neutralizar, ser compartilhado e repartido, podendo ser mais bem intuído e concebido nessas fórmulas gerais da natureza. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Introdução - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
“Para Goethe o princípio vital da natureza é, ao mesmo tempo, o da própria alma humana, ambas tendo a mesma igualdade de direitos, mas procedentes da unidade do ser, que, na diversidade de suas configurações, desenvolve a igualdade do princípio criador, de sorte que o homem pode encontrar em seu próprio coração todo o segredo do ser, e talvez também a solução.” (Simmel)
“Outro aspecto importante a ser mencionado é o fato de que a divergência de Goethe em relação a Newton não se reduz a uma disputa pessoal, pois acabou envolvendo uma polêmica entre o idealismo alemão e os físicos newtonianos. Na verdade, o que estava por trás dessa dissensão é o confronto de dois modos completamente distintos de pensar a natureza. O idealismo alemão recusa a ótica mecanicista, já que interpreta tanto a natureza quanto a arte a partir da idéia de organismo, de uma finalidade interna. A cor não pode ser simplesmente causada pela luz, devendo ser pensada na sua relação com o órgão específico.”(Marco Giannotti)
As três primeiras seções da obra de Goethe trata das cores sobre o ponto de vista fisiológico, físico e químico: Cores Fisiológicas (Physiologische Farben), Cores Físicas (Physische Farben) e Cores Químicas (Chemische Farben).
Wir betrachteten also die Farben zuerst, insofern sie dem Auge angeh¨oren und auf einer Wirkung und Gegenwirkung desselben beruhen; ferner zogen sie unsere Aufmerksamkeit an sich, indem wir sie an farblosen Mitteln oder durch deren Beih¨ulfe gewahrten; zuletzt aber wurden sie uns merkw¨urdig, indem wir sie als den Gegenst ¨anden angeh¨orig denken konnten. Die ersten nannten wir physiologische, die zweiten physische, die dritten chemische Farben. Jene sind unaufhaltsam fl¨uchtig, die andern vor¨ubergehend, aber allenfalls verweilend, die letzten festzuhalten bis zur sp¨atesten Dauer. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
Consideremos, em primeiro lugar, as cores na medida em que pertencem ao olho e dependem de sua capacidade de agir e reagir. Em seguida, despertam a atenção na medida em que as percebemos através dos meios incolores ou com o auxílio destes. Por fim, são dignas de nota na medida em que podemos pensá-las como fazendo parte do objeto. Chamamos as primeiras de fisiológicas, as segundas de físicas e as terceiras de químicas. As primeiras são constantemente fugidias, as segundas são passageiras, embora tenham uma certa permanência. As últimas têm longa duração. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Introdução - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
A quarta seção é uma perspectiva geral das relações internas sendo abordados os aspectos do surgimento e determinação das cores. Segundo Goethe, um jogo de cores é criado pela incidência da luz sobre a retina, o que é uma reação legítima devido à sensibilidade do olho à luz. As cores podem ser determinadas pela oposição, polaridade entre azul e amarelo; ação e privação; luz e sombra; força e fraqueza; claro e escuro; quente e frio; proximidade e distância; repulsão e atração; afinidade com ácidos e afinidade com álcalis.
In dieser stetigen Reihe haben wir, soviel es m¨oglich sein wollte, die Erscheinungen zu bestimmen, zu sondern, und zu ordnen gesucht. Jetzt, da wir nicht mehr f¨urchten, sie zu vermischen oder zu verwirren, k¨onnen wir unternehmen, erstlich das Allgemeine, was sich von diesen Erscheinungen innerhalb des geschlossenen Kreises pr¨adizieren l¨aßt, anzugeben, zweitens, anzudeuten, wie sich dieser besondre Kreis an die ¨ubrigen Glieder verwandter Naturerscheinungen anschließt und sich mit ihnen verkettet. (Zur Farbenlehre. Vierte Abteilung - Allgemeine Ansichten nach Innen - Goethe)
Na medida do possível, procuramos determinar, separar e ordenar os fenômenos segundo essa série contínua. Já que agora não tememos misturá-los ou confundi-los, podemos empreender em primeiro lugar a tarefa de julgar, no círculo, o que é universal nos fenômenos, para em seguida apontar como esse círculo particular se encadeia e se une ao resto dos fenômenos naturais afins. (Doutrina das Cores. Quarta Seção - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Na quinta seção Goethe analisa as diferentes relações que a cor estabelece com as mais diversas disciplinas: Filosofia, Matemática, Técnica de Tingir, Fisiologia e Patologia, História Natural, Física Geral, Música, Linguagem e Terminologia.
Daß ein gewisses Verh¨altnis der Farbe zum Ton stattfinde, hat man von jeher gef¨uhlt, wie die ¨oftern Vergleichungen, welche teils vor¨ubergehend, teils umst¨andlich genug angestellt worden, beweisen. Der Fehler, den man hiebei begangen, beruhet nur auf folgendem. Vergleichen lassen sich Farbe und Ton untereinander auf keine Weise, aber beide lassen sich auf eine h¨ohere Formel beziehen, aus einer h¨ohern Formel beide, jedoch jedes f¨ur sich, ableiten. Wie zwei Fl¨usse, die auf einem Berge entspringen, aber unter ganz verschiedenen Bedingungen in zwei ganz entgegengesetzte Weltgegenden laufen, so daß auf dem beiderseitigen ganzen Wege keine einzelne Stelle der andern verglichen werden kann, so sind auch Farbe und Ton. Beide sind allgemeine elementare Wirkungen nach dem allgemeinen Gesetz des Trennens und Zusammenstrebens, des Auf- und Abschwankens, des Hinund Wiederw¨agens wirkend, doch nach ganz verschiedenen Seiten, auf verschiedene Weise, auf verschiedene Zwischenelemente, f¨ur verschiedene Sinne. M¨ochte jemand die Art und Weise, wie wir die Farbenlehre an die allgemeine Naturlehre angekn¨upft, recht fassen und dasjenige, was uns entgangen und abgegangen, durch Gl¨uck und Genialit¨at ersetzen,so w¨urde die Tonlehre nach unserer ¨ Uberzeugung an die allgemeine Physik vollkommen anzuschließen sein, da sie jetzt innerhalb derselben gleichsam nur historisch abgesondert steht. Aber eben darin l¨age die gr¨oßte Schwierigkeit, die f¨ur uns gewordene positive, auf seltsamen empirischen, zuf¨alligen, mathematischen,¨asthetischen, genialischen Wegen entsprungene Musik zugunsteneiner physikalischen Behandlung zu zerst¨oren und in ihre ersten physischen Elemente aufzul¨osen. Vielleicht w¨are auch hierzu auf dem Punkte, wo Wissenschaft und Kunst sich befinden, nach so manchen sch¨onen Vorarbeiten Zeit und Gelegenheit. (Zur Farbenlehre. Vierte Abteilung - Allgemeine Ansichten nach Innen - Goethe)
Sempre se percebeu que existe certa relação entre cor e som, como demonstram as frequentes comparações, por vezes passageiras, por vezes suficientemente pormenorizadas. O erro nelas cometido se deve ao seguinte: Cor e som de maneira alguma podem ser comparados, embora ambos remetam a uma fórmula superior, a partir da qual é possível deduzir cada um deles. Ambos são como dois rios que nascem na mesma montanha, mas devido a circunstâncias diversas correm sobre regiões opostas, de modo que em todo o percurso não há nenhum ponto em que possam ser comparados. Ambos são efeitos gerais e elementares segundo a lei universal que tende a separar e unir, oscilar, pesando ora de um lado, ora de outro lado da balança, mas conforme aspectos, maneiras, elementos intermediários e sentidos completamente distintos. (Doutrina das Cores. Quinta Seção - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Na última seção Goethe discorre a cerca dos efeitos sensíveis, morais e estéticos que surgem. Para cada cor, para cada tonalidade de uma cor, Goethe analisa suas características e os seus efeitos sobre nossos olhos. Estabelece relações de harmonia, totalidade e complementaridade entre as cores do círculo cromático.
Hier liegt also das Grundgesetz aller Harmonie der Farben, wovon sich jeder durch eigene Erfahrung ¨uberzeugen kann, indem er sich mit den Versuchen, die wir in der Abteilung der physiologischen Farben angezeigt, genau bekannt macht. Wird nun die Farbentotalit¨at von außen dem Auge als Objekt gebracht, so ist sie ihm erfreulich, weil ihm die Summe seiner eignen T¨atigkeit als Realit¨at entgegen kommt. Es sei also zuerst von diesen harmonischen Zusammenstellungen die Rede. (Zur Farbenlehre. Sechste Abteilung - Totalit¨at und Harmonie - Goethe)
Aqui reside a lei fundamental de toda harmonia cromática, a respeito da qual qualquer um poderá se convencer por experiência própria, ao travar conhecimento dos experimentos descritos na seção das cores fisiológicas.
Se a totalidade cromática se apresenta exteriormente ao olho como objeto, torna-se agradável para ele, pois o resultado de sua própria atividade lhe parece como realidade. Trataremos em primeiro lugar dessas composiçõees harmônicas. (Doutrina das Cores. Sexta Seção - Totalidade e Harmonia - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Por Leonardo Carneiro de Araújo
Teria das Cores de Goethe
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