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sexta-feira, 1 de agosto de 2014

...tarefa de viver...





"Tenho duas armas para lutar
contra o desespero, a tristeza e até a morte:
o riso a cavalo e o galope do sonho.
É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver." 

Ariano Suassuna

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Poema Almas Perfumadas


Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta. De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver. 

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar quando a água é quente e o céu é azul. Ao lado delas, a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga pra isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã de Natal do tempo em que a gente acordava e encontrava o presente do Papai Noel. 

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Ao lado delas, a gente se sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda. Tocando com os olhos os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra no nosso coração. 

Tem gente que tem cheiro de cafuné sem pressa. Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta. De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo. Corre em outras veias. Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que no instante em que rimos Deus está dançando conosco de rostinho colado. E a gente ri grande que nem menino arteiro. 

Costumo dizer que algumas almas são perfumadas, porque acredito que os sentimentos também têm cheiro e tocam todas as coisas com os seus dedos de energia. Minha avó era alguém assim. Ela perfumou muitas vidas com sua luz e suas cores. A minha, foi uma delas. E o perfume era tão gostoso, tão branco, tão delicado, que ela mudou de frasco, mas ele continua vivo no coração de tudo o que ela amou. E tudo o que eu amar vai encontrar, de alguma forma, os vestígios desse perfume de Deus, que, numa temporada, se vestiu de Edith, para me falar de amor.

Por Ana Cláudia Saldanha Jácomo (Para minha avó Edith) 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Dica para insônia ou dificuldade para dormir


Passamos cerca de um terço da nossa vida dormindo. 

Dormir bem é essencial não apenas para ficar acordado durante o dia seguinte, mas para manter-se saudável, melhorar a qualidade de vida e até aumentar a longevidade. Nosso desempenho físico e mental está diretamente ligado a uma boa noite de sono. 

Foi pensando nos anjinhos e nos carneirinhos da noite que resolvi escrever algumas dicas de como ter uma boa noite de sono e afastar o pesadelo da insônia. 

Na medicina tradicional chinesa, a insônia abrange vários e diferentes problemas: 
  • a dificuldade de adormecer, 
  • acordar várias vezes durante a noite, 
  • sono inquieto e agitado, 
  • sono perturbado pela a presença de muitos sonhos. 
Apresento alguns pontos de auto massagem (Do-in) para manipular em nosso corpo antes de dormir. 

A quantidade e a qualidade do sono dependem do estado da mente (Shen) que é abrigada no Coração. 

O ponto C7, chamado de Shenmen ou Porta do Coração, localiza-se na prega de flexão anterior do punho como mostra a figura abaixo. 


 A técnica consiste em pressionar o ponto de maneira profunda e contínua com a polpa do polegar (sedação) por até cinco minutos com pequenos intervalos. 

É aconselhável aproveitar este momento de auto massagem antes de dormir para fazer uma pequena meditação. A pessoa pode escolher uma posição confortável, colocar uma música relaxante, acender um incenso e aplicar a auto massagem juntamente com exercícios de respiração. Florais também podem ajudar a ter uma boa noite de sono.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Quase...


"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. 

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. 

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. 

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. 

A resposta eu sei decorada, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. 

Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. 

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. 

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. 

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. 

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. 

Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. 

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. 

Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. 

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. 

Desconfie do destino e acredite em você. 

Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Sarah Westphal

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Por que os sonhos nos ajudam a viver melhor


A ciência revela que sonhar deixa a memória afiada, ajuda a lidar com as emoções e nos treina para os obstáculos da vida real


Fechar os olhos, relaxar, dormir, sonhar. Um ritual comum, diário, banal até. E que, no entanto, como começam a revelar as mais recentes pesquisas da neurociência, é vital para nossa sobrevivência e tem impacto profundo na qualidade de vida. De acordo com os estudos, para viver melhor, é preciso sonhar. Os sonhos exercem funções biológicas fundamentais na evolução da nossa espécie: eles aprimoram a memória, ajudam no aprendizado, nos auxiliam a resolver nossa vida emocional e servem como treino para nos preparar para os desafios do dia a dia.

Na história da humanidade, é a primeira vez que os sonhos alcançam uma dimensão dessa magnitude. Desde as primeiras civilizações, buscamos entender o significado das imagens e das emoções experimentadas durante o sono – às vezes prazerosas, às vezes apavorantes. Explicações variadas já surgiram, inclusive. Grande parte delas relaciona-se a interpretações místicas, colocando o sonho como uma forma de nos relacionarmos com o divino. Também já são conhecidos episódios famosos que o colocam como fonte de inspiração para a criação. A escritora britânica Mary Shelley idealizou o personagem Frankenstein depois de sonhar com ele. O químico russo Dmitri Mendeleiev organizou os elementos químicos na tabela periódica depois de vê-la em um sonho. Paul McCartney sonhou com a música “Yesterday” e a compôs assim que acordou. E o pintor surrealista espanhol Salvador Dali desenvolveu uma técnica em que usava seus sonhos para fazer seus quadros. Não por acaso, o tema estimula mentes criativas e aparece com frequência em todos os tipos de arte, como no recente sucesso cinematográfico “A Origem”.

Porém, o entendimento mais profundo dos sonhos só começou a ganhar fôlego a partir de Sigmund Freud. Seu livro “A Interpretação dos Sonhos”, lançado há 110 anos, representou um marco e lançou as bases da psicanálise. Pelo entendimento do médico austríaco, os sonhos eram um modo de manifestação dos desejos reprimidos.

Somente agora, no entanto, com os progressos da neurociência, compreende-se muito mais seu papel real na vida cotidiana – a prática e a emocional. O primeiro passo para a guinada foi a descoberta, por meio de eletroencefalogramas, de que durante o sono a atividade cerebral não se mantém constante. Ondas cerebrais lentas são sucedidas por curtos períodos de ondas mais aceleradas, acompanhadas por rápidos movimentos involuntários dos olhos. É o chamado sono REM (do inglês “movimento rápido dos olhos”). Constatou-se, posteriormente, que, durante esse período mais agitado, o fluxo sanguíneo cerebral se intensifica e uma série de imagens toma conta do cérebro. É o nascimento dos sonhos.

A partir dessa descoberta, outras foram surgindo, associando o sono à consolidação das memórias. Observava-se, por exemplo, que a privação de sono atrapalhava o aprendizado, mas não se explicava exatamente como. Ainda foram necessárias muitas outras pesquisas para se chegar à equação que relaciona a memória aos processos desencadeados no cérebro durante as duas fases do sono.

Para resolver esse enigma, os cientistas precisaram entender o modo como o cérebro define, em meio ao turbilhão de novos conteúdos ao qual é exposto diariamente, o que será guardado. Uma nova informação só se torna uma memória de longa duração se passar pelo crivo de nossa mente, que precisa considerar aquilo significativo e, portanto, digno de ser lembrado. “O que não é importante é esquecido”, explica o psicólogo Rafael Scott, doutorando em psicobiologia pelo Instituto Internacional de Neurociência de Natal (IINN), no Rio Grande do Norte. Selecionado o que deverá permanecer, essas lembranças começam a ser ligadas a outras, mais antigas. É esse processo que lhes garante permanência. “Nossa memória funciona por meio da formação de redes associativas de significado”, diz o cientista Sidarta Ribeiro, um dos fundadores do IINN. “Quando você era criança, aprendeu que rosa era uma flor. Depois descobriu que também era uma cor. Quando foi para a escola, teve uma coleguinha chamada Rosa. Mais tarde, descobriu o escritor Guimarães Rosa e que essa mesma palavra também poderia ser o nome de um livro de Umberto Eco – “O Nome da Rosa”, exemplifica.

Mas o que o sonho tem a ver com esse processo? “É nos sonhos que as experiências importantes vividas durante o dia estão sendo associadas às memórias passadas”, explicou à IstoÉ Robert Hoss, presidente da Associação Internacional para o Estudo dos Sonhos e diretor-fundador da Fundação DreamScience. Ou seja: o sonho é fundamental para que essa rede de associações seja tecida. Ele permite a migração daquilo que aprendemos durante o dia e que está no hipocampo – região do cérebro responsável pela aquisição de novos conhecimentos – para o córtex cerebral, onde é armazenado. “É como se fosse o movimento das marés”, compara Ribeiro. A maré cheia corresponde à fase em que as memórias atingem o córtex e, ao “esvaziar”, deixa o hipocampo livre para novos aprendizados. Ao construir essa teia, símbolos diferentes se mesclam de acordo com sua significação ou com as emoções a eles associadas. “É por isso que, no sonho, a pessoa Rosa pode aparecer significada como o escritor: todos estão dentro da mesma rede de associações”, esclarece o cientista brasileiro.

Por que os sonhos nos ajudam a viver melhor - Parte 2

A ciência revela que sonhar deixa a memória afiada, ajuda a lidar com as emoções e nos treina para os obstáculos da vida real

É por causa dessa ligação com a memória que o sonho acaba ajudando também no aprendizado. O psicólogo Scott está pesquisando o tema entre alunos universitários. Na primeira etapa do estudo, realizada durante seu mestrado, dividiu um grupo de 94 vestibulandos entre os que relataram ter sonhado com a prova e os que não. Ele percebeu que aqueles que sonharam com o teste iam melhor. “Mas não era qualquer tipo de sonho”, adianta Scott. Quando o relato dizia respeito a recompensas – como festas após a aprovação – ou a situações-problema – como perder a prova ou estar impossibilitado de fazê-la –, não era observado um melhor desempenho do candidato. O aumento no índice de aprovação acontecia entre os alunos que diziam sonhar com o conteúdo das provas. “É como se, nesses casos, a memória do que foi estudado estivesse mais consolidada na rede neural e houvesse um melhor bloqueio das influências emocionais que bombardeiam o estudante na hora do vestibular”, relata.

O achado da pesquisa de Scott corrobora outros estudos que mostram como sonhar pode ajudar o ser humano a encontrar as melhores soluções para seus problemas. Muitos sonhos, como no caso dos alunos que anteveem o vestibular, atuam como simuladores de realidades futuras. “É o que chamamos de sonhos antecipatórios”, afirma Scott. “Eles funcionam de maneira probabilística: como se o cérebro estivesse simulando uma série de situações para tentar prever qual delas acontecerá no futuro.” É o mecanismo biológico encontrado por nós para treinar várias respostas a um determinado evento antes mesmo que ele aconteça.

É por essa razão que muitos especialistas começam a investir mais nesse poder. “Os sonhos podem ser um manancial de soluções para as questões do dia a dia”, disse à ISTOÉ a psicóloga Deirdre Barrett, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e autora do livro “Tudo Começou com um Sonho”. “Basta prestar atenção no que eles querem nos dizer”, completa. Em um de seus experimentos, Deirdre pediu a 47 pessoas que, durante uma semana, pensassem em um problema pouco antes de dormir. Ao fim do período, metade do grupo relatou ter sonhado com aquilo que havia sido mentalizado. “A maior parte disse que o sonho continha a solução para o problema”, conta.

A pesquisa captou uma maior quantidade de soluções para conflitos de natureza emocional do que para aqueles de origem mais objetiva. Uma explicação para isso reside no fato de que o sonho facilita nosso mergulho em compartimentos mentais jamais acessados durante o dia, como pregava Freud. “Eles guardam relação direta com o que acontece quando estamos acordados”, diz a psicóloga americana. “Só que nesse estado diferente de consciência nosso cérebro pensa de um modo muito mais intuitivo e visual, contrapondo-se à maneira lógica e verbal do estado de vigília”, explica. Por meio dos sonhos, portanto, a razão sai de cena, dando lugar a conteúdos mais relacionados à emoção – e que muitas vezes são sufocados pelo nosso lado racional. É como se o sonhador trocasse as lentes com as quais enxerga o mundo. Essa substituição pode ser capaz de lhe trazer respostas que não conseguiria encontrar por meio da razão.

Quando se sonha, dá-se continuidade a questões emocionais importantes não resolvidas enquanto o indivíduo está acordado, e seu cérebro continua tentando resolvê-las. “Isso acontece mesmo que não nos lembremos do sonho no outro dia”, assegura Robert Hoss. Um achado interessante, porém, indica que, se o que vivemos durante o dia alimenta nossos sonhos, o inverso também é verdade. A psicóloga americana Rosalind Cartwright dedica-se há algumas décadas a pesquisar como o sonho influencia o humor e as emoções. Neste ano, publicou o livro “The Twenty Four Hour Mind: The Role of Sleep and Dreaming in our Emotional Lives” (A mente vinte e quatro horas: o papel do sono e dos sonhos em nossas vidas emocionais, numa tradução livre), resultado de seus últimos trabalhos na área. Rosalind observou que, normalmente, as pessoas têm um primeiro sonho em que predominam sensações negativas e que, ao longo da noite, os demais vão neutralizando esses sentimentos e tornando-os positivos. Assim, ao acordar o indivíduo terá mais fresco em sua memória o “sonho bom”, que cronologicamente aconteceu por último. Isso vai influenciar seu humor pela manhã.

A primeira vez que a pesquisadora percebeu essa função reguladora do humor foi durante estudos com casais recém-separados que estavam em depressão. Quem acordava se lembrando de sensações negativas relacionadas ao ex-parceiro – como sonhar que estava sendo punido ou rejeitado pelo outro – demorava mais tempo para superar o trauma. Além disso, Rosalind notou que a mudança de comportamento nos sonhos também ajudava a superar a depressão. “Quem, nos sonhos, abandonava uma atitude passiva para se tornar mais ativo também melhorava mais rápido”, afirma.

Nas investigações sobre os aspectos emocionais associados aos sonhos, os pesquisadores deram-se conta de outro benefício. Ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, sonhar repetidamente com um evento traumático não reforça as sensações negativas vinculadas ao episódio. “As pessoas sonham muito com um trauma após sofrê-lo para que a mente tente dominar esse estímulo desagradável”, diz Elie Chenieux, professor de psiquiatria da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Cada vez que o episódio traumático reaparece, novas associações são criadas, tentando torná-lo mais aceitável. Isso vale para qualquer trauma, seja uma separação, seja um assalto ou um ataque de um cão. “O sonho é terapêutico por si só”, afirma o professor.

Na realidade, até mesmo os pesadelos clássicos têm o poder de nos ajudar a ter uma vida melhor. Eles são os elementos principais da “Teoria da Simulação do Perigo”, criada pelo cientista Antti Revonsuo, da Universidade de Skövde, na Suécia. “Os pesadelos mais típicos e universais que temos mostram que nós seguimos sonhando com os perigos de nossos ancestrais”, contou Revonsuo à IstoÉ. Assim, sonhar com uma fera faminta correndo atrás de você seria uma espécie de resquício de tempos passados. “Essas eram as situações de perigo mais comuns para os nossos ancestrais e o objetivo do pesadelo era que eles ensaiassem saídas para quando estivessem realmente diante delas”, analisa o cientista.

Esses riscos não fazem mais parte da vida moderna, mas nosso organismo ainda não foi capaz de se livrar dessas imagens – há outros pesadelos ancestrais que continuamos a ter, como cair de lugares altos, perder-se, ser pego por uma armadilha ou ficar exposto a fenômenos extremos da natureza, como tempestades ou dilúvios. Isso se deve em parte ao fato de que o sistema límbico, responsável pelo sono REM, é uma parte primitiva do nosso cérebro. “Essa região, conhecida como cérebro visceral, existe também em outros animais, até mesmo em aves”, diz Gilberto Xavier, professor de neurofisiologia da Universidade de São Paulo. “Por isso elas também sonham.”

No mundo atual, em que o ser humano está exposto a ameaças diferentes, os sonhos perderam a obviedade, mas não a importância. Os pesadelos continuam a nos ajudar na preparação para o enfrentamento dos obstáculos e do estresse do cotidiano. Até porque, embora distintos, perigos permanecem a nossa frente.

Para captar a mensagem que eles nos enviam, todavia, é preciso entender a linguagem dos sonhos – mais metafórica – e ter em mente que só o próprio sonhador compreende o conteúdo que sonhou. Nem gêmeos idênticos encontrarão o mesmo significado para os seus sonhos. “Cada pessoa é única. Elas são estimuladas pelo ambiente de forma diferente e têm seu próprio conjunto de símbolos, que acham mais ou menos significantes”, afirma Xavier. Para decifrar esse conteúdo, porém, nada de dicionários de sonhos. “Buscar o significado do seu sonho em um livro do tipo é o mesmo que tentar entender o amor por meio de textos”, brinca o psicoterapeuta Ascânio Jatobá, coordenador do Curso de Sonhos, em São Paulo. “É melhor se apaixonar, não é mesmo?”

Por Rachel Costa e André Julião

Fonte:
IstoÉ

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Poema Teus Olhos


A poesia dos teus olhos
é a poesia mais linda...
e mais colorida.

Tem métrica, tem rima,
tem a sonoridade da música
mais suave da vida.

Teus olhos encantam e vibram
como início de sonho.
Teus olhos dizem doçura,
um mel mais do que doce,...
e mais perfumado.

A poesia que brilha em teus olhos
tem luzes intensas,
é alegria espargindo sorrisos,...
coloridamente felizes.

Teus olhos encantam,
teus olhos seduzem,
teus olhos fascinam.
São dádivas do Amor!

Wanderlino Arruda

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Como gerar energia de uma frustração?


Muitas vezes, assim que acordamos nossa mente busca responder à pergunta: Que dia é hoje? O que eu tenho que fazer? Se surgir em nós um sentimento de dever e obrigação, logo nos sentiremos pesados e cansados. Mas se houver em nós curiosidade e interesse em aproveitar este dia como uma oportunidade única, sentiremos ânimo e alegria.

Se observarmos nossa conversa interior assim que acordamos, poderemos nos dar conta de uma atitude paranóica, baseada no medo constante de que talvez não nos adequemos às situações, e que, portanto, seremos rejeitados ou punidos. Como essa atitude mental já se tornou um hábito, não nos damos conta do quanto nos fechamos na tentativa de nos proteger do mundo, caso as coisas não ocorram como nos programamos para elas.


Lidar com a vida tal como ela é nos exige coragem, abertura e disponibilidade para o desconhecido. Olhar a vida como uma grande oportunidade de crescimento é abandonar o medo de que as coisas não venham a funcionar como gostaríamos.

Às vezes, estamos demasiadamente introspectivos e nos fechamos para olhar para os fatos da vida tais como eles são. A ênfase excessiva no mundo interno pode nos impedir de ter uma comunicação saudável, aberta e relaxada com o mundo externo.

Abrir-se para o mundo significa aceitá-lo tal como ele se apresenta, e na grande maioria das vezes isso significa enxergar o que não gostaríamos de ver. Na tentativa de olhar para o mundo como gostaríamos que ele fosse, nos iludimos. O antídoto da auto-ilusão é reconhecer nossas frustrações como auto-enganos e simplesmente trabalhar com os fatos da vida com abertura e curiosidade em conhecê-los mais profundamente.


Quando enfrentamos os limites impostos pela realidade externa nos deparamos automaticamente com nossos limites internos.

A cada interferência externa, podemos nos dar conta onde estamos internamente. Como diz Judith Viorst em Perdas Necessárias: Sonhar é bom, mas não basta. Desejar algo é o começo de uma idéia, mas traduzi-la em realidade é lidar com os impedimentos e as frustrações ao coloca-la em prática. Equilibrar os sonhos com as realidades exige tempo. Podemos levar muito tempo para aprender que a vida é, na melhor das hipóteses, um sonho sob controle e que a realidade é feita de conexões imperfeitas.


Quando aceitamos tais imperfeições sentimos calma e serenidade. Este sentimento revela nosso senso de realidade: o equilíbrio que rege a percepção de nosso mundo interior em relação ao mundo exterior. Quanto maior for a sensação de sermos iguais dentro e fora de nós, mais poderemos desfrutar desta coerência geradora de confiança e bem-estar.


Não precisamos nos cindir. Podemos perceber a realidade externa ao mesmo tempo em que reconhecemos nossas necessidades e prazeres internos.

No entanto, quando nos tornamos vítimas de nossas frustrações, aumentamos as chances de repetí-las logo mais. Da próxima vez em que as coisas não acontecerem conforme sua expectativa, diga simplesmente: Ok, hoje não deu certo, mas o que eu posso aprender com isso agora mesmo? Lembre-se: o fracasso não existe. O fracasso é uma idéia, uma maneira momentânea de perceber a realidade sob um olhar estreito, imediatista e limitado.


Como dizem os ditados populares: 'Nada dá certo de primeira vez' ou 'Só quem errou muito é que tem chance de acertar'.

Podemos ouvir conselhos sábios e animadores, mas a capacidade de se auto-estimular é uma habilidade que temos que treinar todos os dias. Em geral somos pessimistas. Temos o hábito interno de nos lamentar. Se passássemos um dia gravando nossos pensamentos cotidianos, iríamos nos surpreender do quanto estamos familiarizados em nos desestimular. Como gatos escaldados, temos medo do sucesso. Desconfiamos da felicidade. O importante é lembrar: somente nós podemos nos estimular interiormente a superar os bloqueios interiores.

Os bloqueios interiores surgem quando somos dominados pela opinião alheia ou não assumimos nossa própria opinião como possível e verdadeira. É preciso se arriscar novamente para superar o condicionamento de um bloqueio. Susto só passa com susto. Ou seja, muitas vezes temos que nos ver repetidas vezes frente ao que tememos para reconhecer que já somos capazes de enfrentar tal situação.

Um antídoto para esse tipo de bloqueio é treinar-se para encontrar soluções sem pedir tantos conselhos. Podemos exercitar a sensação de gerar para nós mesmos o que necessitamos saber. Por exemplo, muitas vezes buscamos testemunhas no ato de nossas decisões, quando na realidade já tomamos nossa decisão. Outras vezes buscamos pessoas que estão tão pouco envolvidas com a questão em si, que suas opiniões pouco nos importam. Desta forma, nossa comunicação é unidirecional: não estamos abertos para escutar o que os outros têm para nos dizer, apesar de consultá-los.

Temos uma lição a aprender: sem autêntico engajamento interior, nada muda. Podemos nutrir a disposição interior para agir de verdade. Se nos treinarmos em pequenas situações, aparentemente sem importância, nossa mente estará apta a reagir positivamente quando necessitarmos uma força maior. Desta forma, o que quer que digamos para nós mesmos terá muita importância. Estaremos nos levando a sério e nos divertindo ao mesmo tempo.

Não temos porque deixar que as frustrações nos paralisem. Por de trás de cada frustração há uma nova intenção que espera por ser vista, organizada e expressa. Há um pensamento que pede por um novo olhar, um novo ajuste, uma nova ordem. O caos pode ser uma boa notícia, pois nos anuncia que algo novo está por vir, uma nova chance.

Bel Cesar 

terça-feira, 3 de julho de 2012

Felicidade



Para você, desejo o sonho realizado. 
O amor esperado.
A esperança renovada. 

Para você, desejo todas as cores desta vida. 
Todas as alegrias que puder sorrir.
Todas as músicas que puder emocionar. 

Para você desejo que os amigos sejam mais cúmplices, 
que sua família esteja mais unida, 
que sua vida seja mais bem vivida. 

Gostaria de lhe desejar tantas coisas...
Mas nada seria suficiente...
Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. 
Desejos grandes...e que eles possam te mover a cada minuto, 
ao rumo da sua felicidade!

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 22 de junho de 2012

...a força da sua alma...


"Quando 
uma criatura humana 
desperta para um grande sonho 
e sobre ele 
lança toda a força de sua alma, 
todo o universo conspira a seu favor."

Johann Wolfgang Goethe

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A Vida


Para os erros há perdão;
para os fracassos, chance;
para os amores impossíveis, tempo...

Não deixe que a saudade sufoque,
que a rotina acomode,
que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e
acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando,
fazendo que planejando,
vivendo que esperando
Porque, embora quem quase morre esteja vivo,
quem quase vive já morreu.

Sarah Westphal

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Não me interessa...


"Não me interessa saber o que você faz para ganhar a vida.

Quero saber o que você deseja ardentemente, se ousa sonhar em atender aquilo pelo qual seu coração anseia.

Não me interessa saber a sua idade.

Quero saber se você arriscará a parecer um tolo por amor, por sonhos, pela aventura de estar vivo.

Não me interessa saber que planetas estão em quadratura com sua lua.

Quero saber se tocou o âmago da sua dor, se as traições da vida o abriram ou se você se tornou murcho e fechado por medo de mais dor!

Quero saber se pode suportar a dor, minha ou sua, sem precisar escondê-la, reprimi-la ou narcotizá-la.

Quero saber se você pode aceitar alegria, minha ou sua; se pode dançar com abandono e deixar que o êxtase o domine até as pontas dos dedos das mãos e dos pés, sem nos dizer para termos cautela, sermos realistas, ou nos lembrarmos das limitações de sermos humanos.

Quero saber se consegue desapontar outra pessoa para ser autêntico consigo mesmo, se pode suportar a acusação de traição e não trair a sua alma.

Quero saber se você pode ver beleza mesmo que ela não seja bonita todos os dias, e se pode buscar a origem de sua vida na presença de Deus.

Quero saber se você pode viver com o fracasso, seu e meu, e ainda, à margem de um lago, gritar para a lua prateada: “Eu Posso!”

Não me interessa onde você mora ou quanto dinheiro tem.

Quero saber se pode levantar-se após uma noite de sofrimento e desespero, cansado, ferido até os ossos, e fazer o que tem que ser feito pelos filhos.

Não me interessa saber quem você é e como veio parar aqui.

Quero saber se você ficará comigo no centro do incêndio e não se acovardará.

Não me interessa saber onde, o quê, ou com quem você estudou.

Quero saber o que o sustenta a partir de dentro, quando tudo mais desmorona.

Quero saber se consegue ficar sozinho consigo mesmo e se, realmente, gosta da companhia que tem nos momentos vazios."

The Invitation, inspirado por Sonhador da Montanha Oriah, ancião índio americano

terça-feira, 1 de maio de 2012

É fácil... Difícil é...


"É fácil trocar as palavras,
Difícil é interpretar os silêncios!

É fácil caminhar lado a lado,
Difícil é saber como se encontrar!

É fácil beijar o rosto,
Difícil é chegar ao coração!

É fácil apertar as mãos,
Difícil é reter o calor!

É fácil sentir o amor,
Difícil é conter sua torrente!

Como é por dentro outra pessoa?

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa,

As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,

Com a suposição
De qualquer semelhança no fundo."

Fernando Pessoa

terça-feira, 10 de abril de 2012

Sonhos...


" Há sonhos 
que devem permanecer nas gavetas,
nos cofre, 
trancados até o nosso fim.

E por isso 
passíveis 
de serem sonhados 
a vida inteira."

Hilda Hilst

quinta-feira, 8 de março de 2012

Ser mulher...



Ser mulher...
É viver mil vezes em apenas uma vida.
É lutar por causas perdidas e
sempre sair vencedora.
É estar antes do ontem e depois do amanhã.
É desconhecer a palavra recompensa
apesar dos seus atos.

Ser mulher...
É caminhar na dúvida cheia de certezas.
É correr atrás das nuvens num dia de sol.
É alcançar o sol num dia de chuva.

Ser mulher...
É chorar de alegria e muitas vezes
sorrir com tristeza.
É acreditar quando ninguém mais acredita.
É cancelar sonhos em prol de terceiros.
É esperar quando ninguém mais espera.

Ser mulher...
É identificar um sorriso triste e uma lágrima falsa.
É ser enganada, e sempre dar mais uma chance.
É cair no fundo do poço, e emergir sem ajuda.

Ser mulher...
É estar em mil lugares de uma só vez.
É fazer mil papeis ao mesmo tempo.
É ser forte e fingir que é frágil...
Pra ter um carinho.

Ser mulher...
É se perder em palavras e
depois perceber que se encontrou nelas.
É distribuir emoções
que nem sempre são captadas.

Ser mulher...
É comprar, emprestar, alugar,
vender sentimentos, mas jamais dever.
É construir castelos na areia,
vê-los desmoronados pelas águas.
E ainda assim amá-los.

Ser mulher...
É saber dar o perdão...
É tentar recuperar o irrecuperável.
É entender o que ninguém mais conseguiu desvendar.

Ser mulher...
É estender a mão a quem ainda não pediu.
É doar o que ainda não foi solicitado.

Ser mulher...
É não ter vergonha de chorar por amor.
É saber a hora certa do fim.
É esperar sempre por um recomeço.

Ser mulher...
É ter a arrogância de viver
apesar dos dissabores,
das desilusões, das traições e
das decepções.

Ser mulher...
É ser mãe dos seus filhos...
Dos filhos de outros.
É amá-los igualmente.

Ser mulher...
É ter confiança no amanhã e
aceitação pelo ontem.
É desbravar caminhos difíceis
em instantes inoportunos.
E fincar a bandeira da conquista.

Ser mulher...
É entender as fases da lua
por ter suas próprias fases.

Flavio Costa

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

O Sonho...


Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

Clarice Lispector

Sonhar... Sonho... Sonhos...


"Sonhar permite que cada um
e todos de nós sejamos loucos,
silenciosamente e com segurança,
cada noite de nossas vidas."

William C. Dement 
(Pesquisador de sono e sonhos)

Ao longo de sua história, a humanidade tenta entender o significado dos sonhos. Desta questão cuidaram os filósofos, místicos e cientistas, chegando eles às mais diferentes respostas. Diversas culturas antigas e mesmo muitas atuais, interpretam os sonhos como inspirações, sinais divinos, visões proféticas, fantasias sexuais, realidade alternativa, e diversas outras crenças, medos e conjecturas, dada a sua natureza intrigante e enigmática.

Em 1900, em seu livro "A Interpretação dos Sonhos", Sigmund Freud defendia a idéia de que os sonhos refletiam a experiência inconsciente. Ele teorizou que o pensamento durante o sono tende a ser primitivo ou regressivo e que os efeitos da repressão são reduzidos. Para ele, os desejos reprimidos, particularmente aqueles associados ao sexo e à hostilidade, eram liberados nos sonhos quando a consciência era diminuída.

Entretanto, naquela época, a fisiologia do sono e sonhos era desconhecida, restando a Freud apenas a sua interpretação psicoanalítica dos sonhos.

Somente na década dos 50, com a descoberta de que os movimentos rápidos dos olhos (o chamado sono REM, ou Rapid Eyes Movement sleep), eram frequentemente um indicativo de que o indivíduo estava sonhando, uma nova era da pesquisa sobre sonhos emerge, e alguns elementos da psicanálise tiveram que ser modificados ou abandonados.

Hoje sabemos que os sonhos são entendidos como parte do ciclo do sono determinado biologicamente. Diversas teorias tem sido descritas, baseadas em achados neurofisiológicos e comportamentais, seja através do registro de ondas cerebrais, seja por estudos com lesão e estimulação de estruturas no cérebro (de animais) que são acreditadas estarem envolvidas com os sonhos.

Por que o cérebro sonha?

De natureza muitas vezes bizarra, irreal e confusa, os sonhos são especulados por alguns estudiosos do sono e sonhos como sendo um meio pelo qual o cérebro se livra de informações desnecessárias ou erradas durante o período em que o indivíduo está acordado - um processo de "desaprendizagem" ou aprendizagem reversa, proposta por Francis Crick e Graeme Mitchison, em 1983. Estes pesquisadores postularam que o néocortex, uma complexa rede de associação neural, poderia se tornar carregado por grandes quantidades de informações recebidas. O neocórtex poderia desenvolver, então, pensamentos falsos ou "parasíticos", pensamentos estes que comprometeriam o armazenamento verdadeiro e ordenado da memória.

Isto explicaria porque as crianças, cujo ritmo de aprendizagem é intenso, apresentam mais sono REM que os adultos. Elas necessitariam, segundo esta ideia, esquecer as diversas associações erradas ou sem sentido que se formam durante a sua aprendizagem quando estão acordadas, favorecendo, desta forma, o armazenamento das associações ou informações que são verdadeiramente importantes.

Em linha semelhante de pensamento, outros estudiosos teorizaram que os sonhos consistem de associações e memórias eliciadas da parte frontal do cérebro, em resposta a sinais randômicos do tronco encefálico. Estes autores, sugeriram que os sonhos são o melhor "ajuste" que o cérebro frontal poderia fornecer a este bombardeamento randômico do tronco cerebral. Nesta proposição, os neurônios da ponte, via tálamo, ativariam várias áreas do córtex cerebral eliciando imagens bem conhecidas ou mesmo emoções, e o córtex então, tentaria sintetizar as imagens disparadas. O sonho "sintetizado" pode ser completamente bizarro e mesmo sem sentido porque ele está sendo desencadeado por uma atividade semi-randômica da ponte (veja Substrato Neural dos Sonhos).

William Dement nos chama a atenção para o fato de que cada um de nós somos "loucos", quando, ao sonhar, manifestamos as mais bizarras situações. Outros pesquisadores predizem que falhas na habilidade em processar o sono REM, podem causar fantasias, alucinação e obsessão. Outros ainda, afirmam que a falta de sonhos (de sono REM) induz psicoses alucinatórias e outros distúrbios mentais.

Com base em tais achados e teorias, podemos pensar que sonhos são mecanismos de defesa e adaptação, e a "loucura" manifestada durante este estado silencioso e inconsciente, parece ser necessária para que nos mantenhamos "sãos" durante o nosso agitado estado de consciência.

Nós precisamos sonhar?

Ainda não se sabe se precisamos sonhar ou não, mas é evidente que o corpo requer sono REM. Kelly argumenta que a privação de REM não causa psicoses, comportamentos bizarros, ansiedade ou irritabilidade, como foi afirmado por muitos pesquisadores, desde que ele observou que sujeitos privados do sono REM por um período de 16 dias não mostraram sinais de distúrbios patológicos sérios.

De acordo com o pesquisador, o efeito mais importante da privação de REM, é uma mudança dramática em padrões subsequentes quando o sujeito é permitido dormir sem interrupção. Um encurtamento do sono REM por várias noites, é seguido por início prematuro, longa duração e frequência aumentada de períodos REM. Quanto maior a privação, maior e mais amplo será o efeito REM. A existência de um mecanismo compensatório ativo para a recuperação de sono REM perdido ou suprimido sugere que o sono REM é fisiologicamente necessário.

Webb (1985) encontrou que perda de mais que 48 horas de sono tiveram pouco efeito sobre a precisão dos atos e tarefas de processamento cognitivo, enquanto que medidas de atenção foram afetadas. A performance pode ser devido mais a fatores motivacionais do que componentes cognitivos.

Lugaresi (1986) reporta um o caso de um homem que, gradualmente, começou a dormir menos e menos; ele apresentava inabilidade em se concentrar, falhas intelectuais, desorientação. Quando ele morreu, seu cérebro foi verificado e foi encontrado que ele tinha uma condição herdada que causou uma degeneração do tálamo.

Por que não Atuamos Durante os Sonhos?

Imagine que 'catástrofe' não seria, quando, ao dormirmos e sonharmos, não tivessemos mecanismos cerebrais que inibissem nossos movimentos e ação!

Quando estamos dormindo, nós possuímos um mecanismo adaptativo que nos protege de injúria contra nós mesmos e contra outras pessoas. Os mesmos mecanismos do tronco encefálico que controlam os processos do sono na parte frontal do cérebro, também inibem os neurônios motores espinhais, prevenindo assim, a atividade motora descendente, de expressar movimentos.

Sistemas que inibem o movimento durante o sono REM. 

A. No sono REM normal, a ponte inibe o feixe lateral motor. O resultado é uma paralisia completa. 

B. No sono REM sem paralisia (em casos de lesão ou tumor), as lesões quebram as conexões da ponte ao feixe locomotor lateral e centro medular. 

Tradução: Brain stem= tronco encefálico. Pons= Ponte. Medulla=Bulbo. Excitate= Excitam. Medullary Inhibitory Area= área Inibitória Medular. Muscles=Músculos.

No sono REM, a ponte é ativada, excitando a área inibitória medular por projeções (trato tegmento reticular), o qual conecta a ponte ao centro inibitório. O centro medular inibe os neurônios motores e promove a atonia (paralização dos movimentos).

O feixe locomotor lateral, abaixo da parte externa do tronco encefálico, exibe um importante papel na redução do drive motor. Ele é conectado às estruturas da medula espinhal. No sono REM, a ponte estimula a zona inibitória, desligando o feixe locomotor e impedindo a ação do movimento. 

Tradução: Cerebral Cortex= Córtex Cerebral. Thalamus= Tálamo. Pons= Ponte. Medulla= Bulbo. Tegmento-reticular tract= Trato tegmento-reticular. Motor neurons= Neurônios motores. Lateral Locomotor Strip= Feixe Locomotor Lateral

Pessoas que atuam durante seus sonhos, apresentam um raro distúrbio conhecido como Distúrbio do Sono REM. Estas pessoas frequentemente se injuriam a si próprias ou pessoas próximas a elas. A base para este distúrbio parece ser a desconecção de sistemas no tronco encefálico que medeiam a atonia (Bear e al).

Lesões experimentais em certas partes da ponte podem causar uma condição similar em gatos. Durante os períodos REM, eles parecem estar caçando camundongos, ou investigando intrusos invisíveis.

Neurobiologia dos Sonhos: Atividade Elétrica

As evidências neurofisiológicas indicam que o sono não se constitui apenas em uma espécie de repouso cerebral, mas também em estágios distintos de atividade neuronal.

Aproximadamente 90 minutos após o início do sono, várias mudanças fisiológicas abruptas podem ocorrer. O EEG se torna dessincronizado, mostrando baixa-voltagem, um padrão de atividade rápido, similar, mas não idêntico, àquele do estado de alerta. Como resultado, este estado de sono tem também sido chamado de sono paradoxal, sono ativo, e sono dessincronizado.


Os estágios básicos do sono, por convenção, são divididos em dois tipos principais: 



  • REM (Rapid Eyes Movement, o sono dos sonhos) e 
  • Não REM (NREM). 



Estes dois tipos são geralmente quebrados em cinco estágios: um, dois, três, quatro e REM. Em cada estágio, as ondas cerebrais se tornam progressivamente maiores e mais lentas, e o sono se torna mais profundo. Após alcançar o estágio 4, o período mais profundo, o padrão se reverte e o sono se torna progressivamente mais leve até o sono REM, o período mais ativo, ocorrer.

Este ciclo ocorre tipicamente aproximadamente uma vez a cada 90 minutos. Aproximadamente 75% do sono total é gasto em sono não-REM. Uma boa noite de sono depende do equilíbrio apropriado destes componentes.

Quando o indivíduo torna-se sonolento, as ondas alfa e beta vão gradualmente cedendo espaço para outras ondas de baixa amplitude conhecidas como ondas teta (quatro a sete por segundo). No sono leve, as ondas teta predominam e há o aparecimento dos chamados fusos do sono (feixes de atividade elétrica sincronizada de 12 a 17 HZ).

À medida que as fases se sucedem, o sono torna-se cada vez mais profundo, e o indivíduo torna-se cada vez menos reativo aos estímulos sensoriais.

Electrophysiological Activity of Sleep

O que são "ondas" cerebrais?

No cérebro, a somatória da atividade elétrica de milhões de neurônios, principalmente no córtex, podem ser observadas no eletroencefalograma (EEG), um aparelho que registra a atividade elétrica das células do cérebro durante os diversos estados em que se encontra uma pessoa, desde a vigília até o sono profundo.

As células nervosas apresentam diferenças de potencial elétrico em relação ao líquido em que está mergulhada. Potencial de ação refere-se a uma breve flutuação de cargas elétricas na membrana do neurônio, causada pela rápida abertura e fechamento de canais iônicos dependentes de voltagem (fluxo de íons).

Potenciais de ação percorrem como ondas os axônios dos neurônios, para transferir informação de um lugar a outro no sistema nervoso. Uma onda pode ser de alta ou baixa amplitude (voltagem) e alta ou baixa frequência (regularidade).

Ondas beta (baixissima amplitude, alta frequência; 13 a 30 ondas/seg). Pessoa acordada e ativa (em estado de vigília). São as ondas mais rápidas e sinaliza um córtex ativo e intenso estado de atenção. Registro irregular (dessincronizado).

Ondas Alfa
(baixa amplitude, 8 a 13 ondas /seg) Pessoa acordada e relaxada, com os olhos fechados. Os neurônios estão disparando em tempos diferentes. Registro regular (sincronizado).

Ondas Teta
(baixa-média amplitude, spike-like waves; 3-7 ondas/seg) Pessoa sonolenta ou adormecida, sono de transição. It can be observed in hippocampus. Theta rythm is also oberved in REM sleep. Because the hippocampus is involved in memory processing, the presence of theta rythm during REM sleep in that region of the brain might be related to that activity.

Ondas Delta
(alta amplitude, baixa frequência; 3 ondas /seg) Pessoa em sono profundo. Os neurônios, os quais não estão engajados no processamento de informação, estão disparando todos ao mesmo tempo, portanto a atividade está sincronizada. As ondas são grandes e lentas.

Rem
60 a 70 ondas/seg. Maximal retraction of the pupil and nictating membrane accompany the volleys of ocular movements

Estágios do sono durante uma noite, dividido em ciclos.

Uma noite típica de sono consiste da repetição de 90 a 110 minutos do ciclo do sono REM e não-REM. O tempo gasto no sono REM é representado pela barra azul-clara. O primeiro período REM é geralmente curto (5 a 10 min), mas ele tende a aumentar nos ciclos sucessivos. Da mesma forma, os estágios 3 e 4 , os quais, juntos, são frequentemente chamados como "sono delta", é onde dominam o período de sono de ondas baixas no primeiro terço da noite, mas frequentemente são completamente ausentes durante os últimos ciclos ocorridos de manhã. (Baseado em Kelly).

O eletroencefalograma (EEG) mostra os padrões de atividade elétrica durante os diferentes estágios do sono. As ondas cerebrais de uma pessoa alerta e de uma pessoa com sono REM - Rapid Eye Movement (quando os sonhos ocorrem) são similares em frequência e amplitude. No sono não-REM (estágios 1, 2, 3 e 4), as ondas têm uma amplitude maior e uma frequência mais baixa, indicando que neurônios no cérebro estão disparando mais lentamente em um rítmo sincronizado.

Neurobiologia dos Sonhos: Mecanismos Neurais

A formação reticular do tronco endefálico. Em rosa: Parte da formação reticular do tronco encefálico cuja estimulação induz excitação. Vias sensoriais ascendem da medula espinhal e tronco encefálico para áreas somestésicas do córtex. A formação reticular contém projeções que influenciam o hipotálamo, e, ao nível do tálamo, diverge para distribuir impulsos difusamente através de todas as áreas do córtex. A formação reticular, recebendo impulsos sensoriais visuais, auditivos táteis, olfativos - suficientes do ambiente, estimula o córtex cerebral com impulsos ativadores que são necessários para alertá-lo. Lesão da formação reticular pode induzir ao estado de sono. (Modificado de Levingston, 1967). Nos animais superiores e no homem, a alternância dos estados de vigília e sono se dá em virtude da existência de estruturas nervosas especiais.

Rem sleep, o "sono dos sonhos", é completamente diferente do sono não-REM. O córtex neste estado é tão ativo quanto no estado de alerta. O córtex não é necessário para a produção de REM, mas certamente é requerido para a elaboração dos sonhos.

A atividade cerebral durante o sono REM começa na ponte, uma estrutura no tronco encefálico e regiões mesencefálicas circundantes. A ponte envia sinais aotálamo e ao córtex cerebral, o qual é responsável pela maioria dos processos do pensamento. Ela também envia sinais à medula espinhal para "desligar" neurônios motores ali localizados, causando uma paralisia temporária que previne o movimento.

Alguns pesquisadores usaram tomografia por emissão de pósitrons (PET) para estudar o estado cerebral associado com sono REM em humanos (Maquet et al, 1996 - da Internet). Os resultados mostram que o fluxo sanguíneo localizado está correlacionado com o sono REM nas seguintes estruturas:

tegmento pontino (fibras nervosas que são contínuas com a formação reticular da medula e mesencéfalo)


  • tálamo esquerdo (uma grande massa ovóide localizada no diencéfalo)
  • complexo amigdalóide (massa cinzenta situada na porção medial do lobo temporal)
  • córtex cingulado anterior (massa cinzenta localizada na margem medial do hemisfério cerebral)

Dado o papel do complexo amigdalóide na aquisição de memórias influenciadas emocionalmente, o padrão de atividade na amígdala e áreas corticais fornece uma base biológica para o processamento de alguns tipos de memória durante o sono REM.

Mecanismos Bioquímicos do Sono REM

Cientistas encontraram que a fase REM é estreitamente relacionada à atividade de certos grupos de células nervosas liberando substâncias químicas cerebrais que permitem a comunicação de um neurônio com outro. Pesquisas sobre estes grupos de células especializadas está ajudando cientistas a desenvolver tratamentos específicos com drogas para distúrbios do sono.

O cérebro tem várias coleções de neurônios, cada um usando um neurotransmissor particular e fazendo conexões difusas. Estas células executam funções regulatórias influenciando um grande número de neurônios pós-sinápticos na medula espinhal, tálamo, córtex cerebral, e assim por diante, tal que eles podem se tornar mais ou menos excitáveis.

Diferentes sistemas (tais como noradrenérgico, serotonérgico and colinérgico) parecem ser essenciais para o estado metabólico, motivação, controle motor, memória, etc.

Em seu artigo, Hobson (bear, 1996) escreveu que a mais surpreendente observação que ele e seus colaboradores fizeram, foi que o locus coeruleus noradrenérgico e os neurônios da rafe serotonérgicos "desligam" no sono REM. Este achado foi uma surpresa porque sempre se pensou o contrário. Para ele, estava claro que estes dois sistemas aminérgicos sustentavam o alerta e não o sono, como tinha sido teorizado. O sono REM poderia ser desencadeado por estimulação colinérgica da formação reticular.

*Atividade diferencial de subsistemas neuroquímicos do tronco encefálico no estado de alerta e no sono REM. As taxas de disparo dos dois grandes sistemas na parte superior do tronco encefálico, o locus ceruleus e o núcleo da rafe, "desligam" o sono REM, isto é, diminuem para quase nada durante o sono REM. Entretanto, existe um aumento de disparos de neurônios contendo acetilcolina na ponte, e algumas evidências sugerem que os neurônios colinérgicos induzem sono REM. É provavelmente a ação da acetilcolina durante o sono REM que promova uma ação do tálamo e do córtex muito similar àquela durante o estado de alerta (Bear44). Períodos REM são terminados quando a noradrenalina e a acetilcolina começam a disparar novamente.

Entendendo os Sonhos
Por Dra. Silvia Helena Cardoso
Psicobióloga, com mestrado e doutorado pela Universidade de São Paulo e pós-doutorado pela Universidade da Califórnia em Los Angeles. É professora convidada e pesquisadora associada do NIB/UNICAMP , editora-chefe e idealizadora da Revista "Cérebro e Mente".