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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Parábola: sorte ou azar?







"No passado remoto de uma pobre aldeia da longínqua China, havia um menino que desejava fortemente ser dono de um cavalo. Porém os seus pais eram tão desprovidos de recursos, assim como todos naquela aldeia e, por isso, jamais poderiam realizar o sonho do pequeno filho. Embora soubesse daquela situação, e consciente da sua vida simples, o menino mantinha aceso o seu desejo ao longo dos anos.

Em uma manhã passou pela estrada uma tropa, cujo dono era um generoso nobre que rumava para o norte levando consigo seus pertences, ouros e cavalos, inclusive um potro puro sangue que estava atrapalhando a marcha. A tropa necessitava de uma parada de descanso, dar água e alimento aos cavalos, e acabaram recebidos na humilde propriedade dos pais do menino. Foi quando o nobre senhor soube da história e, comovido, deu ao garoto o potro. A notícia espalhou-se rapidamente e toda aldeia foi à cabana do jovem, para cumprimentar seu pai, dizendo:

– Seu filho tem muita sorte. Sonhou tanto que conseguiu realizar o seu sonho. É, seu filho tem muita sorte: ganhar um potro puro sangue de um senhor tão generoso!

– Pode ser sorte, pode ser azar... - Filosofou o pai.

Durante os dois anos que se seguiram o jovem cuidou do proto até se tornar um belo garanhão, com o qual todos o viam galopar pela região. O jovem certamente era muito feliz... Contudo, numa tarde primaveril passou por aquelas bandas uma égua fogosa e o garanhão a seguiu, desaparecendo com ela em meio à pradaria. O povo da aldeia, novamente sem demora alguma, disse ao pai do garoto:

– Seu filho tem muito azar! Sonhou tanto com o cavalo, conseguiu um, tratou com esmero durante dois anos completos e, de repente, o cavalo foge! Seu filho tem muito azar!

O pai do jovem respondeu mais uma vez em tom reflexivo:

– Pode ser sorte, pode ser azar... Um ano e meio depois voltam ao pasto do rapaz o cavalo, a égua e mais um potrinho, fruto da união dos dois. Reza a lei das aldeias chinesas que, ao adentraram um campo, os animais pertencem ao dono da propriedade em que se encontram. Portanto, naquele momento o jovem tornou-se o dono dos três belos equinos. E pela terceira vez, a população inteira da aldeia diz ao pai quão grande é a sorte de seu filho. O pai do jovem diz:

– Pode ser sorte, pode ser azar... Mais uma vez o jovem cuida com amor e carinho do outro potrinho. Outros dois longos e prósperos anos passam seguindo e aumentando a cada dia a felicidade do rapaz. Todos os aldeões podiam ver ao longe o jovem cavalgando pelas pradarias... Num desses momentos, uma cobra aparece no meio do pasto assustando o cavalo, e provocando a abrupta queda do rapaz, que fratura as duas pernas! Antes mesmo que ele fosse socorrido e acomodado em sua casa, o povo da aldeia já contava com pesar o infortúnio do jovem: “Este rapaz tem muito azar! Quebrar logo as duas pernas de uma única vez?! E logo desta triste forma, caindo do cavalo que foi tratado com tanto carinho!” Sem abalar-se o pai responde como sempre: “Pode ser sorte, pode ser azar...”

Na semana seguinte é declarada uma guerra civil entre as aldeias do lugar e todos os jovens, senhores e meninos devem servir à defesa de suas terras. Todavia, para aquele garoto a história seria outra, pois, com as duas pernas quebradas, não pode alistar-se. Mesmo em meio à guerra, os aldeões correm a dizer ao pai que seu filho tinha uma sorte danada!"


Pode ser sorte... Pode ser azar...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Estamos separados? Não!


"Não estamos separados, como tantas vezes sentimos. É fantástico ter olhos para ver a amorosa rede de conexões que cada vida representa. Quando tratamos uma pessoa com gentileza, respeito, cuidado, não é somente ela que está sendo tocada, mas toda a infinidade de inter-relações envolvidas com a sua passagem pelo mundo, as que já existem e as que poderão vir a existir. Tocamos, em desdobramento, outras tantas histórias e possibilidades vinculadas àquela vida, única e intransferível. Cada pessoa é muita gente, além da preciosidade de ser simplesmente quem é."

Ana Jácomo

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

História de uma Canção de Natal



Era a véspera de Natal do ano de 1818. Em Hallein, nos Alpes austríacos, o padre Joseph Mohr lia a Bíblia.

Quando se detinha nos versículos que se referiam às palavras do visitante celeste aos pastores de Belém: Eis que vos trago uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: hoje nasceu o Messias, o Esperado..., bateram à porta.

Uma camponesa pedia que fosse abençoar o filho de uns pobres carvoeiros, que acabara de nascer. O padre colocou as botas de neve, vestiu seu abrigo. Atravessou o bosque, subiu a montanha. Em pobre cabana de dois cômodos, cheia de fumaça do fogão, encontrou uma mulher com seu filho nos braços. A criança dormia. O padre Mohr deu sua bênção ao pequeno e à mãe. 

Uma estranha emoção começou a tomar conta dele. A cabana não era o estábulo de Belém, mas lhe fazia lembrar o nascimento de Jesus. Ao descer a montanha, de retorno à paróquia, as palavras do Evangelho pareciam ecoar em sua alma. Aproximando-se da aldeia, pôde observar os archotes que brilhavam na noite, disputando seu brilho com o das estrelas. Era o povo que seguia para a igreja, a fim de celebrar, ali, em oração, o aniversário do Divino menino. A milenária promessa de paz vibrava no silêncio do bosque e no brilho das estrelas.

Padre Mohr não conseguiu dormir naquela noite. Febricitante, ergueu-se do leito, tomou da pena e escreveu um poema, externando o que lhe ía na alma.

Pela manhã procurou o maestro Franz Gruber, seu amigo. Mostrou-lhe os versos. O maestro leu o poema e disse, entusiasmado: Padre, esta é a canção de Natal de que necessitamos! Compôs a música para duas vozes e guitarra, porque o órgão da igreja, o único na localidade, estava estragado.

No dia de Natal de 1818, as crianças se reuniram, debaixo da janela da casa paroquial, para ouvir o padre Mohr e o maestro Gruber cantar. Era diferente de tudo quanto haviam escutado. 

Noite de paz, noite de amor...

Dias depois, chegou ao povoado o consertador de órgão. Consertado o instrumento da igreja, o maestro Gruber tocou a nova melodia, acompanhado pela voz do padre. O técnico em consertos de órgão era também um excelente musicista e bem depressa aprendeu letra e música da nova canção. Consertando órgãos por todos os povoados do Tirol, como gostasse de cantar, foi divulgando a nova Canção de Natal. Não sabia quem a tinha composto pois nem o padre Mohr, nem o maestro Gruber lhe tinham dito que eram os autores. Entre muitos que aprenderam a Canção, quatro crianças, os irmãos Strasser passaram a cantá-la.

O diretor de música do Reino da Saxônia, em ouvindo-lhes as vozes claras e afinadas, se interessou por eles e os levou a se apresentarem, num concerto. A fama dos pequenos cantores se espalhou por toda a Europa e a Canção apaixonava os corações. Mas ninguém sabia dizer quem era o autor.

Foi um maestro de nome Ambrose quem conseguiu chegar até Franz Gruber. Haviam se passado mais de trinta anos. E a história do surgimento da Canção de Natal foi escrita em 30 de dezembro de 1854.

Não são conhecidas outras músicas de Franz Gruber. A Noite de paz parece ter sido sua única produção. Não será possível crer que as vozes do céu, que se fizeram ouvir na abençoada noite do nascimento de Jesus, tivessem inspirado os versos e a primorosa melodia para que nós, os homens, pudéssemos cantar com os mensageiros celestes, dizendo da nossa alegria com a comemoração, a cada ano, do aniversário do nosso Mestre e Senhor?

Redação do Momento Espírita, com dados colhidos no livro Remotos Cânticos de Belém, de Wallace Leal Rodrigues.
CD Momento Espírita Especial de Natal, v. 15.

Fonte: Blog Olivia Espírita


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O Homem que Plantava Árvores / Parte 1/3

"O Homem que Plantava Árvores" é um belíssimo conto alegórico escrito por Jean Giono, em 1953, que conta a história de um pastor que faz crescer uma floresta onde antes era uma região árida e inóspita. Uma mensagem atemporal que nos lembra que podemos deixar um mundo mais belo e promissor do que aquele que herdamos.


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Espetáculo: Hino Nacional Brasileiro / 6 Pianos / 12 Mãos




Apresentação nos Jogos Mundiais Militares de 2011, no Engenhão, Rio de Janeiro (RJ), Brasil. Executado a 12 mãos e 6 pianos e uma interpretação emocionante com: Wagner Tiso, Arthur Moreira Lima, João Carlos de Assis Brasil, Nelson Ayres, Amilton Godoy e Antonio Adolfo tocando juntos ao piano. Sensacional !!!

domingo, 31 de julho de 2011

Tzolkin / O Calendário Maia





A extraordinária civilização pré-colombiana denominada Maia, desaparecida há 300 anos do continente americano, legou-nos maravilhas e conhecimentos que são, até hoje, objetos de investigação de historiadores do mundo inteiro. Sua vasta cultura é muito similar à do antigo Egito, não só pela precisão matemática de seus monumentos (templos e pirâmides), mas pela maneira como interpretavam o sentido da vida.


Os maias concebiam a Terra como um ser vivo orgânico, antecipando o pensamento dos ecologistas de nosso século. E entendiam o tempo da mesma forma que o conceito de Noosfera de Teilhard de Chardin e o Num dos egípcios, oceano cósmico de onde tudo flui e de onde plasmam todas as formas vivas. Outra característica importante da concepção maia do tempo é a ênfase na sua manifestação quadridimensional, onde a matemática e a física aproximam-se bastante dos insights de Planck e Einstein, obviamente sem a atual sofisticação tecnológica. Compreendiam o tempo mais que qualquer outra cultura, percebendo que ele é a quarta dimensão, assim como afirmou Einstein. E entendiam que o tempo não é uma medida linear (presente, passado e futuro), mas uma série de ciclos que se repetem, da mesma forma que afirmava Pitágoras de Samos, no século V a.C.

O antropólogo norte-americano, Dr. José Argüelles, e sua mulher, Lloydine, após muitos anos de pesquisa e estudos, decifraram os códigos maias do tempo, "descobrindo"o Tzolkin, seu precioso calendário sagrado de treze luas - 28 dias. Segundo o Dr. Argüelles, "somos a única espécie que vive impulsionada por uma freqüência de tempo artificial, que nos torna criaturas divorciadas da natureza e, portanto, suicidas". Artificial porque em nossa sociedade de 12 meses (do calendário) e 60 minutos (do relógio), o que podemos chamar freqüência 12:60, ficamos condicionados a um cotidiano irregular onde "time is money". As atividades mais elementares da vida passaram a ser ditadas pelo relógio mecânico, a terem duração prevista e predeterminada. "Essa freqüência artificial de uma certa forma ajudou a impulsionar o avanço científico, industrial e tecnológico, mas petrificou o homem, o desumanizou, criou as condições do terror, do medo, das fobias que conhecemos hoje" completa Argüelles.

O calendário de treze luas - 28 dias, possui 4 semanas de 7 dias e é biologicamente preciso, pois baseia-se no ciclo de 28 dias dos seres humanos e das fases da lua. Se dividirmos este ciclo pelo número da perfeição (4), obteremos 7. Isto corresponde a 4 semanas perfeitas por lua. Em segundo lugar, já que estamos tratando do tempo biológico, nossos corpos estão também codificados com os números sagrados 13 e 20 em que se baseia o calendário (13 números e 20 símbolos ou selos), já que temos 20 dedos nos pés e nas mãos e são 13 as nossas principais articulações. Assim, vemos que o nosso corpo contém o 13 e o 20, cuja diferença é o 7. Sete também é o centro místico de treze. Com uma semana de 7 dias, temos 52 semanas perfeitas por ano, o que é também um número sagrado: 4x13=52. Cada lua possui exatamente 28 dias, sempre, não variando como no atual calendário gregoriano onde existem meses de 28, 30 e 31 dias. No atual sistema, segundo o Dr. Vandir Natal Casagrande, porta-voz no Brasil do calendário de treze luas, a medida do tempo é irregular, arbitrária e irracional. Além disso, ele lembra que "o calendário em uso foi instituído pelo papa Gregório XIII, no século XVI, quando a Igreja achava que a Terra era o centro do universo".

A adoção do Calendário Maia, faz parte de um importante Plano de Paz para o planeta, também desenvolvido pelo Dr. Argüelles, chamado Pax Cultural - Pax Biosférica, que segundo o casal Argüelles, levará cinco anos para ser implementado. Os adeptos do Movimento Mundial de Paz e de Mudança para o Calendário de 13 Luas enviaram sua proposta aos governantes das mais importantes nações, inclusive a deputados, senadores e ao presidente do Brasil, e também para a ONU e o Vaticano. E o Dr. Vandir Casagrande afirma que "hoje somos 200 mil em todo o mundo. Quando formos cerca de 2 milhões, vamos ter a massa crítica necessária para empurrar os outros. O resto da população entraria em sintonia pelo processo da ressonância".

O propósito do calendário é conectar as pessoas com os ciclos naturais do tempo quadridimensional. Isto também nos conecta às outras pessoas e ao planeta Terra. O resultado é a nossa harmonização com a Terra. Os maias, com seu Tzolkin, além de estabelecerem uma extraordinária contagem do tempo, reuniram os conteúdos referenciais indispensáveis para que possamos alcançar o verdadeiro equilíbrio interior, a dimensão altruísta necessária para a auto-realização e a paz. Através do calendário, aprendemos a trocar a expressão "tempo é dinheiro" por "tempo é arte". E, além de harmonizarmos a nós mesmos, estaremos participando da elevação da humanidade, do planeta e do processo de harmonização do sistema solar.

Por Norma Estrella

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O Espelho Perfeito / Essênios



Tenho ouvido falar dos Essênios, sobretudo através dos Manuscritos do Mar Morto.
O que se pode extrair dos seus ensinamentos?

Quatorze Arquétipos Essênicos

Falar dos Essênios não é coisa fácil, pois há muita controvérsia sobre o que teria sido seu modo de vida e sua cosmovisão.

A começar por sua origem, pois muitos não os vêem unicamente como um dos quatro ramos semitas existentes na época de Jesus, juntamente com os Zelotes, os Fariseus e os Saduceus.

Há os que afirmam que a base do “essenismo” já era ensinada por Hermes Trimegisto, no Egito, cuja teoria poderia ser resumida através da sua própria fórmula:

“O que está no alto é como o que está embaixo”.

Muitos estudiosos distingüem assim claramente a prática mística dos essênios da religião hebréia.

Poderíamos abordar aqui precisamente essa especificidade essênica.

No entanto, tentarei evitar toda polêmica, pois discutir e comparar as inúmeras interpretações dos documentos sobre os essênios não é o objeto da sua questão, muito menos da minha competência!

Mas é possível nós nos basearmos aqui no que há de mais consensual sobre o que teriam sido as práticas essênicas.

Analisando a questão sob o ponto de vista “arquetípico”, poderíamos dizer que os essênios buscavam uma comunicação direta, sem a intermediação de xamãs ou sacerdotes, com o que o ocidente chamaria de: “forças da natureza”.

Para eles, todas essas forças eram vivas e conscientes, eles viam nelas a manifestação, o “corpo” dos anjos.

Creio que a maioria dos estudiosos concordaria em dizer que os essênios viviam em função de uma agenda semanal, estabelecida por eles mesmos.

Na base dessa dinâmica situavam-se suas vinte e uma meditações semanais, três para cada dia da semana, a serem realizadas pela manhã, ao meio-dia e à noite.

Nessas meditações, os essênios desenvolviam sua capacidade de comunicar-se e aprender dessas “forças”, tais como a água, o sol, a terra, o ar, etc.

Esses “anjos” estariam a serviço do “Deus Pai” e da “Deusa Mãe”, ambos reunidos em uma noção mais ampla de “Deus absoluto”, entidade global, também conhecida como o “Sem Nome”, ou o “Todo em Tudo”.

Para evitar toda polêmica, proponho que os que têm dificuldade com o conceito de anjo considerem-no aqui sob o seu aspecto de arquétipo (há um estudo a esse respeito no livro “Arcanjos e Arquétipos, entre a crença e a razão”, ainda não publicado).

Poderíamos então perfeitamente resumir o ensinamento essênico descrevendo a maneira como eles concebiam e praticavam essas meditações, das quais abordaremos apenas as quatorze principais, da manhã e da noite, para não extrapolar demais o conteúdo dessa resposta.

Os “anjos do dia”, sete ao todo, eram associados à “Deusa Mãe” e à nutrição, que dependia dela.

Ela mesma era um deles, contatada na meditação/comunhão do sábado.

Já os anjos da noite, igualmente sete, eram associados ao “Deus Pai” e aos seus ensinamentos. Ele também era objeto de uma comunicação direta na sexta-feira à noite.

Anjos do Dia:
1. Deusa Mãe
2. Terra (Solo)
3. Vida
4. Alegria (Beleza)
5. Sol
6. Água
7. Ar


Anjos da Noite:
1. Deus Pai
2. Eternidade
3. Criatividade (Trabalho criativo)
4. Paz
5. Força
6. Amor
7. Pensamento (o Novo)

Antes de iniciarmos sua descrição, lembremos que os essênios destacavam o conceito de “Ser Interior” como sendo o guia interno, ou o “anjo da guarda” intrínseco a cada ser humano, que se comunica com a “personalidade terrestre” de cada um deles, mais conhecida hoje como “ego”.

Vamos agora ao estudo destes quatorze anjos-arquétipos.

Começaremos com um dos mais representativos deles:

A Paz

O Essênios viam a paz como a autêntica geradora do tempo.

Tentemos seguir esse raciocínio nos aproximando o máximo que pudermos do que poderia ser sua maneira de apreender a realidade.

Para que essa reflexão fique mais fluida e menos descritiva, adotarei, sempre que possível, um estilo próximo do que poderemos imaginar que seria sua pedagogia, adaptando, no entanto, a idéia aos nossos conceitos atuais.

Continuando sobre a paz:

Já notaram como “sem calma” não há tempo para nada?

Tudo parece agoniado, malfeito, incompleto, cansativo, insatisfatório.

Não é à-toa que falamos da “paciência” como sendo a “ciência da paz”.

Por isso é que a PAZ será a base desses quatorze “arquétipos” básicos, já que só sobre ela pode-se erigir a noção de tempo, e sem tempo não se faz nada na Terra.

Comecemos então nossa meditação ativa com esse primeiro tópico:

1. A PAZ GERA O TEMPO, QUE GERA A HARMONIA, QUE GERA A BELEZA, QUE GERA A ALEGRIA.

Embora haja aí cinco conceitos (paz/tempo/harmonia/beleza/alegria), considerem que eles são redutíveis a dois: PAZ E ALEGRIA.

A PAZ GERA ALEGRIA.

O tempo, a harmonia e a beleza são etapas que unem esses dois sentimentos.

Situaremos essa meditação sobre a paz na segunda-feira à noite, para que a meditação sobre o “Pai” situe-se na sexta-feira à noite, como era o costume dos povos semitas.

Seguindo essa seqüência, a terça-feira será o dia da alegria, já que a noite anterior, a da segunda-feira, que a gerou, será a noite da paz.

Mas não vejam um “acaso” nisso, pois assim procediam os essênios, eles utilizavam os dias e as noites como suportes de suas meditações contínuas, assim eles sempre estavam meditando sobre um desses quatorze arquétipos básicos.
As noites eram para eles as geradoras dos dias, ou seja, forças internas “espirituais” que desenvolviam sua mente, no sentido o mais amplo dessa palavra.

Eles as utilizavam para cultivar seu espírito, elegendo (livre-arbítrio) deixar seu inconsciente “sonhar” com uma dessas forças a cada noite.

E pela manhã eles sempre tinham aprendido algo mais sobre a “força” em questão.

Geralmente, antes de dormir e ao amanhecer, eles pensavam na força da noite que estava em evidência, em estudo/meditação, e era geralmente aí que aspectos até então pouco utilizados dela começavam a ficar mais claros nas suas mentes, a fazer mais sentido, podendo assim ser melhor aplicados.

Quanto aos dias, os essênios os utilizavam sobretudo para se “nutrir” dos elementos da terra.

Já vimos o exemplo da terça-feira, gerada na paz da noite da segunda-feira.

Nesse dia, eles “comungavam” (esse era o termo utilizado por eles) com a harmonia e a beleza que está em todas as partes na natureza, nutrindo seu corpo delas.

Corpo? Poderíamos perguntar aqui. Mas a beleza não nutre sobretudo o espírito??

Não, diriam os essênios, a beleza e a harmonia (sinônimos) nutrem sobretudo seu corpo, pois se você deixá-las penetrarem sua alma, elas vão impregnar, literalmente, sua estrutura corporal, celular, delas.

Mesmo que os essênios desconhecessem a genética como a concebemos hoje, eles a praticavam a um nível “psicossomático” próximo do absoluto:

“Somos o que pensamos”, ensinava sua medicina.

Visão essa precursora da idéia “holística”, que extrapola nossa concepção atual do alcance da medicina psicossomática.

Assim, a beleza era sua alimentação básica. E eles davam à contemplação das belezas da natureza um peso muito maior em suas vidas do que comer ou beber.

Eles sabiam que só a beleza/harmonia pode realmente curar.

Sabiam que de nada adiantava “jogar” comida ou líquido no estômago se o espírito estivesse fechado, incapaz de assimilar a beleza externa da natureza:

Como iria essa harmonia converter-se em saúde, em energia, através de alimentos, se a mente estivesse indiferente a isso?

Eles sabiam que alimentar-se com o espírito cerrado só gerava veneno, tóxicos e seus conseqüentes desequilíbrios (desarmonia), com o seu cortejo de enfermidades.

A terça-feira era então o dia que eles usavam para nutrir seus corpos da beleza/harmonia que viam e sentiam no céu e na terra.

E eles sabiam que só estavam bem alimentados de harmonia/beleza quando sua observação delas lhes causava um sentimento de alegria:

Sabiam assim que haviam se carregado com a energia da beleza.

Usavam então essa alegria para preparar a viagem/meditação dessa noite da terça-feira:

2. A ALEGRIA DÁ ENERGIA, ENERGIA É FORÇA E FORÇA É VONTADE

Nesta terça-feira à noite os essênios buscavam então contato com a idéia mais pura de energia que pudessem assimilar e deixavam que esta se convertesse em força em seus espíritos.

Em seguida, eles convertiam essa força em vontade própria.

E era essa vontade que eles utilizavam para dirigir absolutamente tudo em suas vidas.

Os essênios tinham uma visão extremamente positiva da criação, devido à sua absoluta confiança no “Deus Pai”.

Assim, eles viam cada obstáculo como uma etapa rumo a uma felicidade ainda maior.

Poderíamos imaginar que eles possuíam um lema, uma divisa, um pensamento básico, ao qual aderiam e que repetiam mentalmente para si mesmos em toda situação, “boa” ou “ruim”, que chamasse sua atenção:

QUE ÓTIMO É ISSO!!!

Esse pensamento pode nos parecer insensato, haja vista nossas dúvidas sobre o porquê dos eventos, sobretudo os que julgamos trágicos.

Mas, repito, sua confiança na criação era sem falhas.

Imagine só, no nosso mudo atual, um de nós pronunciar tal frase para quem acaba de receber uma péssima notícia, sofreu um acidente, presenciou uma injustiça, ou uma catástrofe, ou tudo aquilo que repugna o julgamento das nossas emoções, que cataloga o que sentimos em “bom” ou “ruim”.

Mas, se entendemos que os essênios cultivavam sempre a VONTADE DE SEMPRE CRIAR HARMONIA E UNIDADE, entendemos que eles não se referiam ao fato em si, nem ao que este provocava neles ou em quem ali estava, mas este “que ótimo é isso!!” deles referia-se simplesmente à sua vontade inabalável de criar harmonia de tudo, com tudo, a partir de tudo.

Assim, desde que algo era julgado “ruim” pelos seus sentidos, vindo assim perturbar sua mente, gerando medo, revolta e seus tóxicos físicos (excesso de adrenalina, etc.), eles simplesmente reafirmavam a mesma ordem de harmonia para seu corpo:

AINDA ESTAMOS NO COMANDO!!!

Este “que ótimo é isso” significava que uma felicidade maior do que a de antes estava em preparação.

Era a sua maneira de dizer ao corpo (corpo esse considerado como outro anjo-arquétipo contatado por eles, na comunhão do meio-dia):

“Não se preocupe, nossa vontade inabalável continua sendo a de criar harmonia, não há desorientação do comando central mental em relação a esse novo fato, ele está aqui, a postos, nessa situação, como em qualquer outra, para utilizar esse fato novo para criar mais harmonia ainda do que já havia antes. Todas as células podem continuar seu trabalho normal, os hormônios não precisam se “desesperar” e sobrecarregar o corpo, ainda é a vontade que orienta a cabeça, vontade essa sempre de harmonia, apesar das sensações, que apenas descrevem e alertam para o evento, mas as decisões serão tomadas por esta invariável, singular e única vontade de harmonizar.”

Mandando esta mensagem clara e uníssona ao seu corpo através do pensamento “que ótimo é isso”, os essênios ficavam com a cabeça absolutamente livre para restabelecer a harmonia, ali onde ela foi rompida, a um nível maior que o anterior, pois eles sabiam que, para dar “saltos quânticos” na sua evolução, eles teriam de aceitar a mudança, ou seja, o fim da velha situação de harmonia, que às vezes se rompia/evoluía de modo doloroso.

E era com essa energia/força/vontade cultivada todas às terças-feiras à noite que eles ancoravam esse arquétipo a cada semana mais profundamente em si mesmos, aprendendo, a cada nova terça-feira, aspectos até então desconhecidos, logo, inexplorados, da energia/força/vontade.

Da terça-feira eles seguiam para a nutrição corporal da quarta-feira:

3. A VONTADE TRAZ CLAREZA

Os essênios percebiam perfeitamente a relação entre o termo “clareza”, no sentido mental, e “claridade”, no sentido físico.

A quarta-feira era então o dia que eles utilizavam para se alimentar de luz.

Eles sabiam que a luz física vem do sol e que ela é um dos nutrientes básicos do corpo.

Era então com o sol que eles “comungavam” na quarta-feira.

Eles realizavam nesse dia a relação entre a energia do fogo e da luz, pois sabiam que luz é fogo “alquimisado”.

E que esse “fogo” é o mesmo que habitava seus espíritos e que alimenta tudo o que vive.

Eles passavam então esse dia mandando mentalmente luz para seu corpo, para suas células, diríamos hoje.

Aproveitavam a presença do sol, ou das nuvens, quando eram as nuvens as “portadoras do sol” daquele dia, para reforçar esse “banho interior de luz” assim como haviam se lavado de beleza/harmonia no dia anterior.

Mentalizavam bem sua intenção de deixar a energia da luz penetrar todo seu corpo, sobretudo aquelas partes doloridas ou enfermas, que eles sabiam ser as que estavam recebendo menos a luz mental, que hoje substituiríamos por noções como “descarga elétrica adequada das sinapses e outros reguladores neuro-hormonais” (hormônios e nervos também formam um todo, como corpo/mente e espaço/tempo).

Devidamente nutridos de clareza, os essênios preparavam-se para a importantíssima noite da quarta-feira, na qual iriam encontrar a UNIDADE:

4. AMOR: A CLAREZA MANTÉM A UNIDADE

Os essênios sabiam que o que está obscuro está “corrompido”, ou seja, rompido em sua unidade, sem possibilidade de se integrar consigo mesmo, logo, mais dificilmente ainda com o que o cerca, com o fundo de todas as coisas que o nutre.

Eles meditavam então sobre este conceito de “unidade mantida pela clareza”.

E assim como eles sabiam que haviam se nutrido de harmonia/beleza quando sentiam alegria, eles sabiam que haviam se nutrido de clareza/unidade quando sentiam amor, pois eles sabiam que esse sentimento nada mais era que a presença, a manifestação na sua mente, deste arquétipo-anjo da unidade que habita e une tudo em todo cosmo.

Claro que eles não utilizavam este termo que aqui emprego – “arquétipo” – para falar dessas energias básicas; como vimos, eles utilizavam o conceito de “anjos”, ou energias divinas vivas.

A “comunhão” essênica da quarta-feira à noite era então com o “anjo do amor”.

E eles aproveitam esse estudo/meditação semanal para descobrir sempre novos aspectos ainda não aplicados da idéia de “unidade”, que eles traduziam em prática desde a manhã seguinte.

E a manhã seguinte era a do seu encontro com a idéia de “circulação”.

Eles iriam então neste dia nutrir-se de tudo que circula:

5. A UNIDADE DO AMOR (pleonasmo) CIRCULA

Os essênios sabiam que o amor nada mais pode fazer do que circular, mover-se, dirigir-se em todas as direções, até tornar-se uma expansão.

Mas os essênios nutriam-se da idéia de circulação antes de levá-la ao seu auge, a expansão, no dia seguinte, pois usavam a noite para fundamentar a expansão deste amor/unidade sobre a idéia de “pensamento em si”, pois para eles esse conceito era vital a essa expansão, como veremos em seguida.

Mas vejamos antes mais alguns detalhes sobre essa meditação da quinta-feira, na qual eles se nutriam de “CIRCULAÇÃO”.

Elas ligavam esta idéia à água, pois nada circula na terra melhor e mais visivelmente que ela.

Para eles, água, vinho (bebidas) e sangue eram a mesma coisa:

O sangue da Terra Mãe.

Há, inclusive, uma alusão indireta na bíblia a essa associação, pois o primeiro milagre realizado por Jesus foi o de transformar água em vinho, a pedido da sua mãe, em um “casamento” ao qual os dois foram convidados. E seu último milagre, antes da ressurreição, foi o de transformar vinho em sangue, “Este é o meu sangue, bebei-o”, durante a última ceia.

Para alguns analistas da questão, as bodas de Canaã, como é conhecido o primeiro milagre, faz alusão à “comunhão espiritual” entre Cristo e sua Mãe.

Eles supõem uma possível ligação entre o primeiro milagre, onde há uma transformação do “sangue” da Mãe Terra (representado pela água) no vinho retirado da fermentação de uvas e o último deles, a futura “eucaristia”, onde Jesus indica claramente que seu sangue agora é vinho.

Transformando, no primeiro milagre, a água, o “sangue” da Mãe Terra, em vinho, Jesus já anunciava sua intenção de transformá-lo, finalmente, em seu próprio sangue, associando-se assim à Mãe Terra em seu próprio seio.

Assim seria visto o texto bíblico segundo a concepção dos essênios, para os quais o Messias viria transmitir todo o ensinamento “cósmico” dessa alquimia, ou química que leva em conta todos os elementos, unindo deste modo a Terra ao Céu.

Segundo sua crença, isso faria com que o Messias estivesse em seguida plenamente disponível a eles no corpo da Mãe Terra, onde sua “idéia”, seu “espírito”, estaria presente para sempre nessa viagem com eles:

“Assim na Terra como no Céu”.

A quinta-feira era então o dia de eles nutrirem-se de CIRCULAÇÃO.

E como já vimos, eles associavam a circulação à água e observavam sua fluidez na natureza, sua presença em todos os líquidos, alimentado-se assim dessa visão, vivendo muito mais do que vivenciavam, do que “comiam com o espírito”, do que com a boca.

A famosa frase de Jesus:

“Nem só de pão vive o homem, mas da palavra do Pai Celeste”,

seria por certo aprovada por todo essênio.

Pois a “palavra do Pai Celeste”, para todos os essênios, estava escrita em qualquer fenômeno natural. Assim, eles buscavam entender a informação que continha cada forma do universo, percebido como um livro vivo.

Poderíamos dizer que esse cuidado em recolher a informação veiculada por cada forma fazia deles, de uma certa forma, os precursores da informática, da cibernética e do uso dos computadores com suas memórias.

Na quinta-feira, então, os essênios enviavam a idéia de “circulação” para suas células, assim como as tinham nutrido de harmonia/beleza/alegria na terça-feira, e de luz na quarta-feira.

Eles deixavam que a circulação fosse seu alimento-curador desse dia.

E devidamente nutridos de água/sangue/circulação, eles sentiam-se prontos para, à noite, meditar/aprofundar a idéia de RENOVAÇÃO/RENASCER:

6. A CIRCULAÇÃO ESTIMULA O CO-NASCIMENTO

Os essênios concebiam o ato de conhecer como um “co-nascer”.

A língua francesa ainda mantém o traço semântico desse vínculo entre as idéias de “conhecer” e “co-nascer” (renascer com o que nasce), pois a palavra “connaissance” (conhecimento) se escreve literalmente como co-nascimento.

E os essênios conheciam “co-nascendo” com o evento que desejavam compreender.

SER, co-nascer, para eles, era então pensar.

E pensar para eles era buscar o novo, o desconhecido dos nossos esquemas mentais habituais.

Os essênios renasciam assim literalmente mentalmente toda quinta-feira à noite, dia que eles dedicavam ao conhecer, ao co-nascer, ao pensamento, ao novo.

Eles dirigiam-se mentalmente às estrelas mais longínquas, buscavam o que estava mais longe do seu dia-a-dia e deixavam que o fundo arquetípico do seu inconsciente lhes presenteasse com maneiras novas de perceber o “velho”, já morto, pois convertido em “memória”.

A “comunhão” da quinta-feira à noite era então com o “anjo do pensamento”.

Mas é preciso entender o que eles concebiam como “pensar”, pois esse ato para eles estava longe do que seria simplesmente uma troca de informações ou a repetição de antigos padrões, de esquemas mentais memorizados e automatizados.

Pensar tinha para eles uma conotação “socrática” poderíamos dizer aqui à guisa de comparação.

Bem que eles poderiam dizer “Só sei que nada sei”, já que para eles pensar, “co-nascer”, era entregar-se ao desconhecido, deixar-se guiar por ele.

Eles tentavam, assim, na quinta-feira à noite, liberar suas mentes do “velho” para que o “novo” pudesse emergir.

Eles acreditavam estabelecer um contato com as estrelas longínquas, imaginando que elas poderiam brindá-los com idéias novas, abordagens antes ignoradas, deixando em seguida que o sono e o inconsciente fizessem seu trabalho de ir buscar os arquétipos no fundo da mente.

E agora sim, armados do novo, que só poderia traduzir-se em “desconhecido”, eles ativavam a circulação exercitada na quinta-feira e a transformavam em expansão na comunhão da sexta-feira de dia.

Expansão esta não do “velho” mas do novo que busca suas formas e seus caminhos:

7. O CO-NASCIMENTO/PENSAMENTO CRIA A EXPANSÃO

Já sabemos que esse pensamento não utiliza a memória mas o silêncio, a escuta do nada.

Já sabemos também que os essênios atingiam essa profunda meditação simplesmente projetando suas mentes, antes de dormir, aos confins das estrelas.

Eles passavam então todo o dia da sexta-feira nutrindo-se de “expansão”, associando-a ao elemento “ar”.

Sexta-feira os essênios nutriam-se então de ar, mas bem menos do ar físico que respiramos do que da noção de “atma”, ou do “prana” dos hindus, já que era a idéia que eles ingeriam, bem mais que seu suporte físico.

Durante todo este dia eles enviavam este “ar” para os confins das suas “células”, pois eles percebiam os diferentes órgãos do seu corpo como sendo a realidade interna equivalente ao que eles viam como estrelas no céu.

Creio que seria mais fácil, em vez de nos perdermos aqui em conceitos como “atma” ou “prana”, se considerássemos que o ar nos traz sobretudo oxigênio.

E que o oxigênio, além de ser a “droga” e principal alimento do cérebro (suporte material do sistema nervoso, ligado ao pensamento e à expansão da nossa consciência no corpo), é também o melhor agente “antioxidante” apesar de ser ele oxigênio, já que ele queima, literalmente, toda energia velha e parada no corpo.

Creio então que não trairemos a idéia essênica de “expansão” associada ao ar se utilizarmos o conceito moderno de “oxigenação” para veicular essa expansão do ar em nosso interior, levando-o a todos os recônditos celulares.

Chegando então à nutrição através da expansão, durante todo o dia da sexta-feira, os essênios chegavam ao máximo de “distância” possível e a reconheciam em sua essência:

8. A EXPANSÃO É O TODO E O TODO É UMA UNIDADE (Eu e o Pai somos UM)

Chegando aí, os essênios chegavam à sua aspiração maior:

Expandir-se a si mesmos, a partir da sua base na Mãe Terra, a fim de estender-se até os céus e unir-se novamente com o “Todo”, com essa “unidade de tudo com tudo”, com esse “Tudo em Tudo”, a quem eles chamavam, carinhosamente de Pai Celeste.

Durante toda essa noite da sexta-feira, início do sábado, ou “Shabat” como chamam os hebreus, os essênios concentravam-se mentalmente nessa idéia de “Todo”, concebendo uma “unidade” entre tudo, em estado de expansão, em renovação permanente.

E através dessa meditação eles se dirigiam à sua aspiração única e última:

SER UM COM O PAI.

“Eu e o Pai somo UM” era o lema dessa comunhão essênica da sexta-feira, frase essa que ficou famosa, proferida pelo Cristo.

E ao despertarem, depois de terem sidos instruídos durante seu sono na “escola da expansão renovada” dessa sexta-feira, expansão essa sempre desconhecida mas sempre coesa, coerente, harmônica, unida e uníssona, os essênios recomeçavam um novo ciclo semanal, voltavam ao berço, às raízes, ao útero, “comungando” com a Mãe Terra.

9. A UNIDADE É MEU ÚNICO ALIMENTO

Completamente unidos, logo, em harmonia, com tudo em torno de si, através dessa união com a “unidade expansão de tudo” os essênios fixavam essa idéia de unidade e de alimento na Mãe Terra.

Eles “comungavam” com a idéia de receber dela todos os seus frutos:

1.   O solo (veremos na “comunhão” do domingo);
2.   A vida (veremos na “comunhão” da segunda-feira de dia);
3.   A harmonia/beleza/alegria;
4.   O fogo/luz;
5.   A água/sangue em circulação e
6.   O ar em expansão.

Para os essênios, esses seis elementos, mais a comunhão do sábado de dia com a Mãe Terra que lhes proporcionava os seis citados, sete ao todo, eram os elementos nutritivos do seu corpo, que eles renovavam semanalmente.

O sábado era para eles um dia de muita alegria, dia em que pensavam em receber toda nutrição da sua Mãe Terra, tal como um feto é nutrido pelo útero da sua mãe.

Lembro que essa nutrição NÃO se dava principalmente no aspecto físico, mas sim nesse reconhecimento do corpo da mãe no que ingeriam (“este é o meu corpo, comei-o”).

E era esta força da terra que eles tentavam captar para si.

Tratava-se aqui bem mais de uma busca de reconforto e de carinho terrestre, tão em falta hoje em dia para nós todos, do que buscar simplesmente afogar medos e angústias em “comes e bebes”.

Eles sentiam-se gratos à terra, pensavam nela com carinho, tentando retribuir-lhe um pouco o tanto que recebiam dela: “Grato minha mãe, pela vida”.

Esta era a “comunhão” do sábado de dia dos essênios.

Nutridos a nível celular desta idéia, eles ingressavam na noite do sábado com uma só idéia em mente:

10. A VIDA É ETERNA

O fato de terem se nutrido de tudo que a terra dá, o fato de vê-la nutrindo-se de tudo que “vem do céu”, como sol e chuva, permitia-lhes se projetar na eternidade da vida fora do tempo.

Nesta noite do sábado eles buscavam utilizar a força da nutrição da terra para lançar-se além do seu campo gravitacional.

Mas eles não buscavam projetar-se mentalmente tão longe quanto na quinta-feira à noite, no âmbito das estrelas, eles ficavam “por ali”, no sistema solar mesmo.

No sábado eles davam só um primeiro passo rumo à eternidade, concebendo-se não unicamente como “filhos da terra”, mas também do sol, ou seja, do sistema solar.

Eles iam então mentalmente visitar seus “tios”, ou seja, outros planetas, como Marte, Vênus ou a Lua, assim como também seus “primos”, ou toda forma de vida que lá existia, pois para os essênios tudo estava vivo, tudo era vida.

E na manhã seguinte eles traziam essa “força planetária”, que eles concebiam perfeitamente em sua “astrologia/astronomia” através da observação da relação entre a Lua, as marés, ou as estações do ano, segundo a posição do Sol e o crescimento das plantas, e se dedicavam inteiramente ao solo:

11. EU SOU O SOLO PERMANENTEMENTE FÉRTIL E EM CONSTANTE “RE-GENERAÇÃO” POR TODA A ETERNIDADE

E para “ancorar” essa idéia em si, eles passavam o equivalente ao nosso “domingo”, nosso “dia de repouso”, regenerando-se celularmente em “comunhão” com o “solo”, ou com a camada fértil da terra.

É impossível para nós imaginarmos hoje a suma importância que essa camada tinha para eles.

Eles a simbolizavam através da relva, humilde, rasteira, mas forte e tenaz, que sempre renasce e se regenera demonstrando em si a força vital em todo o seu esplendor.

A relva era o símbolo dessa regeneração. Assim como vamos aos nossos parques e o que resta dos nossos bosques buscar a relva para deitarmos, descansarmos ou jogarmos futebol, eles a cultuavam como a mais digna e humilde demonstração de/da vida. Eles expunham mesmo seus órgãos genitais, centro de regeneração, especialmente à luz solar nesse dia, como nossas garotas vão pegar aquele bronzeado dominical na praia deixando o sol esquentar seus corpos.

Completamente assim regenerados, nossos irmãos essênios encaminhavam-se para mais um encontro com um dos “Anjos do Pai”, pois eles viam seu encontro meditativo noturno como um encontro com as forças/anjos do Céu Pai e as comunhões do dia como um encontro com os anjos fisicamente reconhecíveis da Mãe Terra: ela mesma, sua beleza, o ar, o sol, a água, o solo e a vida.

E o encontro deste domingo à noite era com outro arquétipo-anjo que eles veneravam muito: a criatividade.

Esta “comunhão” era então:

12. SÓ A REGENERAÇAO CRIA E SÓ A CRIAÇAO É UM DOM DO AMOR

Eles dedicavam então seus pensamentos dessa noite a todas as obras que eles conheciam, todos os escritos “sagrados”, todos os conhecimentos a eles transmitidos e à sua vontade de aperfeiçoá-los e legá-los ainda mais belos, harmoniosos e úteis à próxima geração.

Eles associavam o (anjo do) trabalho criativo às abelhas, que sempre criam riqueza para sua comunidade.

E amanheciam então cheios de novas idéias sobre seu próprio trabalho, cheios de vontade de executá-lo e oferecê-lo à comunidade humana, fazendo de cada ato um autêntico dom de amor universal.

E para executá-lo com vigor e amor, eles associavam cada ato seu ao trabalho que a vida executa na terra, ao trabalho da sua Mãe Terra.

Sua comunhão desse dia, o equivalente da nossa segunda-feira era então:

13. A VIDA É UM DOM DO AMOR

A tônica dessa frase está na palavra DOM, CRIAÇÃO.

Eles viam na vida todo o trabalho criativo da natureza para propiciar-nos tudo que necessitamos.

Para eles, a consagração desse trabalho da vida eram as imponentes árvores, que crescem regeneradas e nutridas pelo solo e pelo trabalho da humilde relva.

Neste dia eles buscavam ver, abraçar, acariciar as árvores, mas qualquer outra planta também.

Eles nutriam assim suas células o dia todo de tudo que vive na terra, sobretudo das árvores.

Eles enviavam a ENERGIA VITAL que estas lhe inspiravam a todas as suas células, estimulando-as a captarem e desenvolverem em si toda a força, toda essa energia vital que a terra colocava à sua disposição.

E depois de um dia de labor, de “dever cumprido”, bem “vivido”, o quê mais importante do que um descanso, na…

Paz.

Pois é, amigos, esta segunda-feira à noite era o tempo que os essênios se davam Tempo:

14. A PAZ É A MÃE DO TEMPO

Eles passavam então todo o tempo dessa noite a enviar paz, calma, ou seja, tempo, aos quatro cantos do mundo.

Prontos para, a partir dela, no dia seguinte dar-se todo o tempo necessário para criar toda harmonia necessária.

Harmonia que produz beleza.

Beleza que dá alegria.

Alegria que energiza.

Energia que aclara.

Clareza que unifica.

Unidade que se traduz em amor.

Amor que circula.

Circulação que gera o movimento do pensamento, criando o novo, o desconhecido.

Desconhecido esse que se expande “no ar” e se une a tudo que sempre existiu e existirá.

“Expansão unitária” que, por sua vez, nutre, tal qual uma mãe, tudo que a compõe, levando a vida à sua dimensão eterna.

Eternidade que se ancora no solo fértil de toda coisa viva, fazendo dom de seu trabalho criativo, que é visível na exuberância do que vive, que, em paz, se dando todo o tempo do mundo de viver, se transforma em beleza, harmonia e alegria.

Texto de Austro Queiroz



Fonte: austro