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terça-feira, 26 de novembro de 2013

Ilha cercada do desconhecido...





"Eu estou muito interessado hoje em dia
na questão do conhecimento,
o quanto a gente pode conhecer sobre o mundo.
E uma maneira de você representar isso, 
metaforicamente, é você pensar
que tudo que a gente conhece está numa ilha
e essa ilha é cercada pelo desconhecido,
E à medida em que o conhecimento vai avançando,
e a gente vai desenvolvendo novos instrumentos, novas teorias,
essa ilha vai crescendo 
e à medida que ela cresce, 
cresce também a margem que ela faz, a fronteira,
que ela faz com o desconhecido,
ou seja, quanto mais a gente conhece sobre as coisas,
mais a gente desconhece também, mais perguntas surgem,
e essa questão está ligada profundamente
com quanto a gente pode conhecer do mundo,
porque o ponto é que esse oceano do desconhecido,
em princípio é infinito.
Mesmo que o conhecimento humano aumente com o tempo,
a gente nunca vai poder conhecer tudo sobre o mundo
e temos que viver com essa sabedoria,
a de que a gente nunca vai poder ter uma visão completa do mundo,
o que não nos torna menos humanos, 
na verdade nos torna mais humanos e menos deuses."


 Marcelo Gleiser

(Filme Eu Maior)


sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Uma Ecologia Espiritual Por Marcelo Gleiser





Uma ecologia espiritual



O respeito à vida como verdade universal leva a um estado em que agimos como os guardiões dela





Está na hora de irmos em frente e deixar para trás o desgastado embate entre a ciência e a religião, que já não rende nada. É preciso encontrarmos um novo rumo, ir além da polarização linear que vem caracterizando as discussões do papel da fé e da razão na vida das pessoas por mais de cem anos. A ciência não se propõe a roubar Deus das pessoas, e nem toda prática religiosa é anticientífica. Existe uma outra dimensão a ser explorada, ortogonal a esse eixo em torno do qual giram os argumentos mais comuns.

Um caminho possível é explorar valores morais de caráter universal que desafiem a linearidade do cabo de guerra entre a ciência e a religião.

Bem sei que, para muita gente, a proposta de encontrar valores morais universais representa já um beco sem saída. Relativistas culturais, por exemplo, argumentarão que esses valores universais não existem, que o que é certo para um pode ser errado para outro. Por exemplo, culturas nas quais a poligamia é aceita.

Para encontrar valores morais universais, precisamos ir mais fundo. Não podem ser valores que variem de cultura para cultura ou em épocas diferentes, como a ideia do casamento. Sugiro que o valor mais efetivo que podemos explorar vem da única certeza universal que temos: a morte.

A morte não é recebida com prazer em nenhuma cultura. Claro, alguns veem a morte como uma transição para uma nova vida, ou um mero aspecto de uma existência sem fim. Outros podem até vê-la como um ato heroico de martírio. Mas, tirando fundamentalistas radicais, ninguém em boa saúde física e mental escolhe morrer. Portanto, de todos os valores morais que podemos imaginar, proponho que o mais universal seja a preservação da vida.

Não me refiro apenas à vida humana. Quando percebemos o quanto nossas vidas dependem do planeta que habitamos, damos-nos conta de que precisamos agir para preservar todas as formas de vida. É óbvio que temos que garantir nossa existência, e que isso requer que consumamos alimentos. Mas esse consumo não precisa ser predatório. Pode ser planejado para que mantenha um equilíbrio saudável entre o que é produzido e o que é consumido.

Quanto mais saudável o planeta, mais saudável a economia. Isso pode não ser óbvio a curto prazo, mas em intervalos de décadas é. Este é o século em que finalmente iremos entender que precisamos estabelecer uma relação simbiótica com a Terra. Talvez essa seja a lição mais importante que a ciência moderna tem a ensinar.

O respeito à vida como moral universal leva a uma ecologia espiritual na qual nós, como espécie dominante do planeta, agimos como guardiões da vida. Com isso, a dimensão espiritual que nos é tão importante ganha expressão na devoção ao planeta e às suas formas de vida.

Esse senso de conexão espiritual com a natureza é celebrado tanto na ciência quanto na religião. De Einstein a Santa Teresa de Ávila (grato a Frei Betto, por me chamar atenção para esta obra), o mundo é festejado como sacro. As palavras variam, mesmo a motivação pode variar; mas, em sua essência, a mensagem é a mesma. Acho difícil encontrar uma moral universal mais básica do que o respeito à vida e ao planeta que a abriga de forma tão generosa. Ao menos, é um começo.


Fonte:
Jornal Folha de São Paulo
Por Marcelo Gleiser
15/agosto/2010

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Quão rara é a vida? Por Marcelo Gleiser



Quão rara é a vida?



Estamos aqui não porque o Universo seja propício à existência, mas apesar de sua hostilidade a nós



NO DOMINGO PASSADO, escrevi sobre as recentes afirmações de Stephen Hawking. Para ele, a ciência demonstrou que Deus não é necessário para explicar a criação. Outro argumento que Hawking usou é que o Universo é especialmente propício à vida, em particular à vida humana. Mais uma vez vejo a necessidade de apresentar um ponto de vista contrário. Tudo o que sabemos sobre a evolução da vida na Terra aponta para a raridade dos seres vivos complexos. Estamos aqui não porque o Universo é propício à vida, mas apesar de sua hostilidade.

Note que, ao falarmos sobre vida, temos de distinguir entre vida primitiva (seres unicelulares) e vida complexa. Vida simples, bactérias de vários tipos e formas, deve mesmo ser abundante no Cosmos.

Na história da Terra -o único exemplo de vida que conhecemos-, os primeiros seres vivos surgiram tão logo foi possível. A Terra nasceu há 4,5 bilhões de anos e sua superfície se solidificou em torno de 3,9 bilhões de anos atrás. Os primeiros sinais de vida datam de pelo menos 3,5 bilhões de anos, e alguns cientistas acham que talvez possam ter 3,8 bilhões de anos. De qualquer modo, bastaram algumas centenas de milhões de anos de calma para a vida surgir. Não é muito em escalas de tempo planetárias.

Esses primeiros seres vivos, os procariontes, reinaram durante 2 bilhões de anos. Só então surgiram os eucariontes, também unicelulares, mas mais sofisticados. Os primeiros seres multicelulares (esponjas) só foram surgir em torno de 700 milhões de anos atrás.

Ou seja, por cerca de 3,5 bilhões de anos, só existiam seres unicelulares no nosso planeta. O que aprendemos com esses estudos é que a vida coevoluiu com a Terra. O oxigênio que existe hoje na atmosfera foi formado quando os procariontes descobriram a fotossíntese em torno de 2 bilhões de anos atrás. Estamos aqui porque oxigenaram o ar.

Devemos lembrar que seres multicelulares são mais frágeis, precisando de condições estáveis por longos períodos. Não é só ter água e a química correta. O planeta precisa ter uma órbita estável e temperaturas que não variem muito. Só temos as quatro estações e temperaturas estáveis porque nossa Lua é pesada.

Sua massa estabiliza a inclinação do eixo terrestre (a Terra é um pião inclinado de 23,5), permitindo a existência de água líquida durante longos períodos. Sem a Lua, a vida complexa seria muito difícil.

A Terra tem também dois "cobertores" que a protegem contra a radiação letal que vem do espaço: o seu campo magnético e a camada de ozônio. Viver perto de uma estrela não é moleza. Precisamos de seu calor, mas ele vem com muitas outras coisas nada favoráveis à vida.

Quem afirma que o Universo é propício à vida complexa deve dar uma passeada pelos outros planetas e luas do nosso Sistema Solar.

Ademais, o pulo para a vida multicelular inteligente também foi um acidente dos grandes. A vida não tem um plano que a leva à inteligência. A vida quer apenas estar bem adaptada ao seu ambiente. Os dinossauros existiram por 150 milhões de anos sem construir rádios ou aviões. Portanto, mesmo que exista vida fora da Terra, a vida inteligente será muito rara. Devemos celebrar nossa existência por sua raridade, e não por ser ordinária.


Fonte:
Jornal Folha de São Paulo
Texto de Marcelo Gleiser
19/setembro/2010

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Por Marcelo Gleiser: Hawking e Deus, relação íntima







Hawking e Deus: relação íntima


É lamentável que físicos como Hawking divulguem teorias especulativas; ele está querendo ser Deus



Stephen Hawking, o famoso físico da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, está mais uma vez ocupando manchetes e blogs pelo mundo afora. A razão é a publicação de seu livro "O Grandioso Design" ("The Grand Design"), com Leonard Mlodinow, do Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia).



A atenção é consequência da afirmação feita por Hawking de que a física resolveu a questão da origem do Universo e que, portanto, Deus não é necessário. Na verdade, isso não passa de mais uma batalha numa guerra um tanto longa e inútil.



Em seu bestseller "Uma Breve História do Tempo", publicado em 1988, Hawking escreveu: "Se o Universo é contido em si mesmo, sem borda ou fronteira, não teria começo ou fim: simplesmente seria. Neste caso, qual o lugar de um criador?"



Mais adiante: "Se descobrirmos uma teoria completa, filósofos, cientistas e o público leigo tomariam parte na discussão de por que o Universo e nós existimos. Se encontrarmos a resposta, seria o grande triunfo da razão humana, pois, então, conheceríamos a mente de Deus".



Hawking afirma que tem novos argumentos que colocam Deus para escanteio de vez. Será?



A ideia dele, que já circula de formas diferentes desde os anos 70, vem do casamento da relatividade e da mecânica quântica para explicar a origem do Universo, isto é, como tudo veio do nada.



Primeiro, usamos as propriedades atrativas da gravidade para mostrar que o cosmo é uma solução com energia zero (o "nada" de onde tudo vem) das equações que descrevem sua evolução.



Segundo, como na mecânica quântica (que descreve elétrons, átomos etc.) tudo flutua, o Universo pode ser resultado de uma flutuação de energia nula a partir de uma entidade que "contêm" todos os Universos possíveis, o multiverso.



Nosso Universo é o que tem as propriedades certas para existir por tempo suficiente -quase 14 bilhões de anos- para formar estrelas, planetas e também vida.



Em meu livro "Criação Imperfeita", publicado em março, argumento exatamente o oposto. Descrevo como afirmações que defendem a existência de uma "teoria de tudo" são incompatíveis com a física.



As teorias que Hawking e Mlodinow usam para basear seus argumentos -teorias-M, vindas das supercordas- têm tanta evidência empírica quanto Deus.



É lamentável que físicos como Hawking estejam divulgando teorias especulativas como quase concluídas. A euforia na mídia é compreensível: o homem quer ser Deus.



O desafio das teorias a que Hawking se refere é justamente estabelecer qualquer traço de evidência observacional, até agora inexistente. Não sabemos nem mesmo se essas teorias fazem sentido. Certas noções, como a existência de um multiverso, não parecem ser testáveis.



Ademais, a existência de uma teoria final é incompatível com o caráter empírico da física, baseado na coleta gradual de dados. Não vejo como poderemos ter certeza de que uma teoria final é mesmo final.
Como nos mostra a história da ciência, surpresas ocorrem a toda hora. Talvez esteja na hora de Hawking deixar Deus em paz.



Leitores interessados podem ver uma comparação entre meu livro e o de Hawking no blog do jornal "New York Times"(http:ideas blogs nytimes com).

Fonte:
Jornal Folha de São Paulo
Texto de Marcelo Gleiser
12/setembro/2010

domingo, 18 de julho de 2010

O Universo Acelerado (Por Marcelo Gleiser)




Poucos físicos imaginariam uma teoria em que o cosmo é dominado pela energia do espaço vazio



Quando alguém me diz que não existem surpresas em ciência, penso sempre na descoberta da aceleração cósmica. Em 1998, dois grupos de astrônomos pesquisavam supernovas em galáxias distantes. Supernovas, é bom lembrar, são explosões extremamente dramáticas que marcam os momentos finais de estrelas com massas muito altas (as de tipo II) ou as que existem em pares, onde uma absorve a massa da outra (as de tipo I).

As supernovas que interessavam aos astrônomos eram as de tipo I. Essas explosões são todas parecidas, como se fossem o mesmo tipo de fogos de artifício: quando se vê uma se vê todas. Isso permite aos astrônomos determinar distâncias até as estrelas e, portanto, até as galáxias que as abrigam. Supernovas são como marcos cósmicos que podem ser usados para determinar distâncias de milhões de anos-luz.

Ao examinar a luz proveniente das supernovas, ambos os grupos determinaram que as galáxias se afastavam de nós com velocidades bem maiores do que o esperado.

Claro, sabia-se já que o Universo em expansão implica no afastamento das galáxias. Mas até então, este afastamento ocorria com uma velocidade proporcional à distância. O que se observou foi um distanciamento acelerado, bem mais rápido do que o esperado. O Universo, parece, está com pressa de crescer.

Qual poderia ser a causa disso?

Einstein, em 1917, havia mostrado que era possível criar uma aceleração cósmica com a inserção de um termo extra em suas equações que descrevem a geometria do Universo.

Ele não explicou de onde vinha esse termo, que ficou conhecido como "constante cosmológica".
Seu efeito, literalmente, é criar uma espécie de repulsão no espaço, que cresce exponencialmente rápido.

Com a física moderna, a origem desse termo ficou mais clara. Segundo a física quântica, que descreve o comportamento de átomos e partículas subatômicas, nada é absolutamente estável: tudo vibra, especialmente as menores partículas de matéria. Dado que o movimento está relacionado com a energia, essa vibração intrínseca implica que não existe uma energia zero: mesmo no espaço vazio existe uma vibração, onde partículas de matéria podem surgir do "nada" e retornar a esse nada como bolhas numa sopa em permanente ebulição. Ou seja,
na física moderna, o vácuo não é vazio.
Apesar de ainda não conhecermos a causa da expansão acelerada do Universo, temos um nome para ela: energia escura. Sabemos que ela corresponde à 73% da energia total que preenche o cosmo, sendo portanto sua contribuinte mais importante. Muito mais do que a matéria comum, feita de prótons e elétrons, que contribui em apenas 4%.

Seria realmente fascinante se a energia escura fosse de fato consequência da energia do vácuo: neste caso, o nada determinaria o comportamento do Universo.
Retornando ao tema inicial, antes de 1998 poucos físicos iriam supor que o Universo seria dominado pela energia do vazio ou algo semelhante. A descoberta foi submetida a um escrutínio detalhado, como deve sempre ocorrer em ciência. E tudo indica que a energia escura está aqui para ficar. O que prova que o cosmo é muito mais estranho do que poderíamos imaginar.






Fonte:
Jornal Folha de São Paulo
De 18/julho/2010

Marcelo Gleiser

terça-feira, 22 de junho de 2010

Poeira das Estrelas - Parte 01/12



O COMEÇO DE TUDO


Pelos quatro cantos do mundo, todas as culturas já tentaram, de alguma forma, explicar o início de tudo: a origem do Universo. Todos já se fizeram "a grande pergunta": De onde viemos?


A vontade de saber quem somos, de conhecer nossa origem, a origem do mundo, nasceu quando o primeiro homem olhou para o céu e se viu só, à mercê de uma natureza que tanto cria quanto destrói. Essa curiosidade hoje está mais viva do que nunca, alimentando a imaginação dos cientistas que tentam desvendar nossas origens.


O sítio arqueológico de Stonehenge, no interior da Inglaterra, guarda um conjunto de pedras de até 40 toneladas cada uma, dispostas em forma de círculo. A construção de Stonehenge foi um feito extraordinário para o ser humano. O lugar é um dos grandes mistérios da humanidade.


As pedras foram postas no local há mais de 3 mil anos, ninguém sabe exatamente por quem.

Também não se sabe como elas foram levadas e arranjadas de tal forma. A teoria mais aceita é de que foram os celtas. Os druidas, sacerdotes dos celtas, tinham adoração pelo Sol. Eles sabiam que a vida dependia dele. Sabiam também que o movimento do Sol pelos céus determinava a época da colheita, a época do plantio, a chegada das chuvas e a chegada do inverno.


Tudo indica que o monumento de Stonehenge era um gigantesco instrumento astronômico, um calendário, que ajudava os celtas a marcar o percurso do Sol ao longo do ano. Tanto é que, no dia 21 de junho, o Sol nasce exatamente sobre a pedra principal quando se olha de dentro do círculo. No Hemisfério Norte, 21 de junho é o solstício de verão, o dia mais longo do ano, em que o Sol aparece mais alto no céu.


Também se acredita que os druidas celtas que viveram na região, milhares de anos atrás, usavam o monumento como palco de celebrações pagãs. Até hoje, todo dia 21 de junho, muitas pessoas fantasiadas de druidas aparecem por lá para festejar -- nem sempre de forma pacífica.


Os druidas de Stonehenge -- os do passado -- também se perguntavam como surgiu o mundo.

Também se fizeram "a grande pergunta". E encontraram a explicação deles para a origem do Universo.


Os druidas acreditavam que o mundo foi criado por deuses, e que será destruído por eles também. Esse é o tipo mais comum de mito da Criação. Esse tipo de crença é familiar para nós, do mundo ocidental. A tradição judaico-cristã dá a mesma explicação no Gênesis, o primeiro livro do Antigo Testamento. Existem outras culturas que acreditam que o mundo foi criado por vários deuses, como os babilônios e os egípcios.


Mas também há quem acredite que ninguém criou o mundo: o Universo teria vindo do nada. Essa é a crença de duas culturas bem diferentes e distantes entre si: os índios ianomâmi, do Brasil, e os maori, da Nova Zelândia.


E existem ainda aqueles que acreditam que o Universo surgiu espontaneamente, sem a ação de um deus ou deuses. Segundo esse mito, o mundo veio do caos. A ordem, acredite ou não, pode nascer do caos. Essa é a crença do taoísmo, uma religião de origem chinesa.


Um deus ou muitos deuses, nenhum deus ou o caos criador. Todos esses mitos têm uma coisa em comum: o Universo surgiu em algum instante no passado. E foi nesse instante que nasceu o tempo. O relógio começou a bater ali, naquele momento. O Universo ou Cosmo teria, portanto, uma data de aniversário.



POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 02/12

O NASCIMENTO DA CIÊNCIA

Poeira das estrelas, a nova série do Fantástico que vai em busca da origem do universo, desembarca hoje na Itália. Seguindo os passos dos grandes cientistas, o físico Marcelo Gleiser esteve na famosa Torre de Pisa, para recriar uma experiência histórica.

Poeira das Estrelas, a nova série do Fantástico que vai em busca da origem do universo, desembarca hoje na Itália. Seguindo os passos dos grandes cientistas, o físico Marcelo Gleiser esteve na famosa Torre de Pisa, para recriar uma experiência histórica.

Domingo passado, na estréia da série "Poeira das Estrelas", nós aprendemos que tão antigo quanto a história da humanidade é o desejo de compreender as nossas origens.

De onde viemos? Como surgiu o universo? E o nosso planeta, como nasceu?

Cada cultura, cada religião buscou suas próprias respostas. Mas houve um momento na história da humanidade em que a curiosidade falou mais alto e os dogmas religiosos passaram a ser questionados.

O nascimento da ciência é o tema do capítulo de hoje. Os gregos antigos foram os primeiros a tentar entender a origem do universo sem a ajuda ou interferência da religião.

Em torno de 650 antes de Cristo, aquele que é apontado como o primeiro filósofo, Tales de Mileto, se perguntou: "Do que tudo é feito?". Repare: a indagação de Tales não era sobre a 'criação', a origem, mas dizia respeito à 'composição' das coisas.

Esse é um questionamento essencialmente científico. Tales de Mileto talvez não soubesse, mas, para entender a origem do mundo, cientificamente, é preciso antes desvendar a composição das coisas.

Em torno do ano 400 antes de Cristo, dois outros gregos, Leucipo e seu discípulo, Demócrito, disseram que tudo o que existe no mundo é feito de pequenas partículas indivisíveis, batizadas de átomos. Em grego, átomo quer dizer "aquilo que não pode ser cortado".

Para Leucipo e Demócrito, os átomos eram infinitos em número e podiam combinar-se para formar a matéria do mundo.

Hoje sabemos que existem muitas partículas menores que o átomo, como prótons, nêutrons e elétrons, para ficar só nas mais conhecidas.

Sabemos também que os átomos não são infinitos. Na escola, você já deve ter ouvido falar na tabela periódica dos elementos, que inclui os 92 tomos existentes naturalmente no universo.

Mesmo assim, a noção de que a matéria é composta por pequenos tijolos fundamentais foi uma sacada brilhante dos gregos, e essa idéia permanece viva até hoje.

O mais influente dos filósofos da antigüidade talvez tenha sido Aristóteles. Ele viveu em Atenas em torno do ano 340 A.C: cerca de 100 anos após a construção do Parthenon, o mais famoso templo grego, que existe até hoje.

Para os gregos, simetria e beleza eram sinônimos. Pensando nisso, Aristóteles propôs um modelo de mundo simétrico e perfeito. Um método elegante e intuitivo para explicar o universo.


POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 03/12






UMA NOVA ASTRONOMIA

O físico Marcelo Gleiser conta hoje como a ciência finalmente conseguiu provar que a Terra não é o centro do universo.

Nossa equipe desembarca em Praga, a bela capital da República Tcheca, para mais um episódio de Poeira das Estrelas. O físico Marcelo Gleiser conta hoje como a ciência finalmente conseguiu provar que a Terra não é o centro do universo.

No capítulo passado, nós conhecemos a história de dois grandes astrônomos do século XVI, um tempo turbulento para a ciência: Nicolau Copérnico, o polonês que teve a coragem de afirmar que a Terra não era o centro do universo; e o italiano Galileu Galilei, o primeiro homem a ter a idéia de apontar um telescópio para o espaço.

Com Galileu, a Ciência fez grandes descobertas e entrou na era das experiências - ver para crer se tornou muito mais importante do que crer para ver. No capítulo de hoje, a convivência tumultuada de dois gênios: Kepler e Brahe.

Praga, a bela capital da República Tcheca. Contra todas as expectativas, na cidade, aconteceu um encontro que mudou a história da astronomia. Duas cabeças que pensavam de maneira bem diferente acabaram provando que o modelo do cosmo proposto por Copérnico estava certo: não é o Sol que gira em torno da Terra, e sim, o contrário.

Em 1600, o maior astrônomo da Europa, um príncipe dinamarquês, convidou um jovem alemão brilhante para ser seu assistente. O príncipe queria a ajuda dele para provar de uma vez por todas que a Terra era o centro do cosmo. Mas essa história teve um fim muito diferente.

O príncipe se chamava Tycho Brahe. Ele ocupava o cargo de astrônomo imperial, no castelo de Benatky, nos arredores de Praga. Brahe era um homem de personalidade difícil e aparência assustadora. Em um duelo, havia perdido parte do nariz e usava uma prótese de metal.

Assim como os gregos antigos e a Igreja Católica, Brahe acreditava no modelo geocêntrico. Geo quer dizer terra e cêntrico, centro. Ou seja, que a Terra era o centro do universo. E ele queria provar que não se tratava apenas de uma crença, e sim, a verdade absoluta.

Brahe dispunha de meios para isso. Afinal, como maior astrônomo da Europa, havia medido com precisão inédita para a época as posições dos planetas no céu noturno.

Mas ele precisava de um arquiteto, alguém que soubesse matemática suficiente para transformar seus dados em um novo modelo do cosmo. Também não ajudava o fato de Brahe dedicar tempo demais às festas e à bebida.

Foi quando entrou em cena o jovem astrônomo alemão Johannes Kepler. Ele era uma espécie de Woody Allen da ciência: corpo franzino, tímido e neurótico, Kepler fugia de uma história de vida tumultuada. A mãe dele havia sido acusada de bruxaria e o pai era um mercenário de reputação duvidosa, que havia abandonado a família.

Em uma Europa dividida por conflitos entre católicos e protestantes, Kepler havia sido expulso da cidade onde morava na Áustria.

Em Praga, ele procurava não só a proteção que as muralhas do castelo de um príncipe podiam oferecer. Ele queria encontrar nos céus a ordem que não via na Terra.

Essa harmonia dos céus que Kepler enxergava era o oposto do que acreditava o príncipe. Para o jovem astrônomo, o modelo heliocêntrico de Copérnico é que era o certo. Em grego, helios quer dizer sol - o sol, no centro. Portanto, a Terra é que gira em torno do Sol.



POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 04/12

ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU

A série "Poeira das Estrelas" chega agora à Inglaterra para contar uma das histórias mais famosas da ciência. O físico Marcelo Gleiser vai explicar como uma simples maçã pode ter sido responsável por toda uma revolução na astronomia.


No capítulo passado, Poeira das Estrelas visitou Praga, capital da República Tcheca, para contar a história de dois astrônomos brilhantes do século 17: o dinamarquês Tycho Brahe e o alemão Johannes Kepler. Brahe foi quem fez o primeiro mapa preciso dos planetas no céu que vemos à noite. Kepler foi além: descreveu, com riqueza de detalhes as órbitas dos planetas. E provou que é a Terra que gira em torno do Sol, e não o contrário, como se acreditava até então. Brahe e Kepler, assim como o italiano Galileu Galilei, foram gigantes da ciência.


Décadas depois, um gênio inglês de temperamento difícil chegaria para promover uma revolução definitiva na astronomia. Ele resumiu numa frase a importância dos mestres Kepler, Brahe, Galileu e tantos outros: "Se enxerguei mais longe, foi porque me apoiei sobre os ombros de gigantes".


Trinity College, uma das muitas faculdades que integram a universidade de Cambridge, na Inglaterra -- no local, em 1661, chegou um estudante de 19 anos com um raro talento para a matemática, chamado Isaac Newton.


Assim como Kepler, Newton vinha de uma história familiar complicada. Ele nasceu prematuro, órfão de pai, e foi abandonado pela mãe quando tinha 3 anos. Criado pela avó, Newton cresceu evitando contato com outras pessoas, fossem homens ou mulheres. Ele jamais se casou, e muitos biógrafos afirmam que Newton morreu virgem.


Na reitoria do Trinity College, encontramos o homem que ocupa hoje o cargo mais importante da astronomia britânica: sir Martin Rees, o astrônomo real. Sir Martin nos conta que Newton tinha uma personalidade nada cativante. Era uma figura solitária, vingativa e reagia mal às críticas, principalmente, quando vinham de outros cientistas. Mas ele não mede palavras na hora de definir o lugar de Newton entre as grandes cabeças da humanidade.


"Na minha opinião, Newton foi o grande intelectual da ciência nos últimos mil anos", diz Rees.


Isaac Newton foi talvez o cientista mais importante de todos os tempos. O interessante é que ele nasceu em 1642, o mesmo ano da morte de Galileu. Foi como se um tivesse passado a coroa pro outro. O grande mérito de Newton foi ter explicado a física do nosso dia a dia. Pra ele, tudo no universo era uma conseqüência de ação de forças.


Você é capaz de já ter ouvido falar na história de que uma maçã caiu na cabeça de Newton enquanto ele tirava um cochilo debaixo de uma árvore. Se a história é verdadeira, não importa. O fato é que Newton concluiu que, se a maçã cai no chão, é porque existe algo que a puxa para baixo: uma força.


Na Grécia Antiga, quase 2 mil anos antes de Newton, o filósofo Aristóteles dizia que pesos diferentes caem com velocidades diferentes. Segundo esse raciocínio errado, uma maçã pequena cairia mais devagar que uma maçã grande.


Setenta anos antes de Newton, Galileu Galilei já havia demonstrado, numa experiência realizada na Torre de Pisa, na Itália, que dois objetos, quando jogados de uma certa altura, caem ao mesmo tempo, independentemente do peso. Aristóteles estava errado. Galileu e Newton, na verdade, estavam falando da mesma coisa: de uma força. Ou seja, a força que faz a maçã atingir a cabeça de Newton é a mesma que faz com que o elefante e a formiguinha caiam ao mesmo tempo da Torre de Pisa. Uma força que age de maneira igual sobre todos os objetos.

 

POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 05/12

COMO FOI QUE TUDO COMEÇOU?

Anos atrás, uma cidade brasileira deu uma contribuição fundamental para a obra do físico Albert Einstein, um dos maiores gênios da humanidade.


Anos atrás, uma cidade brasileira deu uma contribuição fundamental para a obra do físico Albert Einstein, um dos maiores gênios da humanidade.


Poeira das Estrelas conta hoje como foi feita essa e outras descobertas que nos levaram até a resposta para a grande pergunta: como foi que tudo começou?


No último episódio, poeira das estrelas esteve na Inglaterra para contar a história do homem que explicou a força da gravidade: Isaac Newton.


Pai de uma nova matemática, inventor de telescópios mais potentes, Newton foi tão importante que, depois dele, as descobertas da ciência passaram a acontecer cada vez mais rápido.


Olhando para o céu e enxergando mais longe, o ser humano finalmente chegou perto de uma resposta científica para a grande pergunta: como tudo começou? Afinal, de onde viemos? Esse é o tema do capítulo de hoje.


Gravidade: a força que nos mantém presos ao chão. Sem ela, sairíamos flutuando pelo espaço. Os planetas não girariam em torno do Sol. A Lua se desprenderia da Terra, e nunca mais veríamos uma noite de Lua cheia. Para Newton, a gravidade era algo que agia à distância.


Mais de 200 anos depois, no início do século 20, um físico alemão, talvez o cientista mais genial nascido depois de Newton, reinventou o conceito de gravidade. Seu nome: Albert Einstein.


Ele era o próprio retrato do cientista dos filmes em preto e branco: sotaque alemão, cabelos desgrenhados, tocava violino para buscar inspiração. Einstein não passava essa imagem por acaso. A verdade é que a figura do cientista excêntrico do cinema foi criada a partir dele.


A imagem mais famosa de Einstein, a foto com a língua de fora, foi uma tentativa do cientista de atrapalhar o trabalho dos fotógrafos que o perseguiam no dia do seu aniversário. Achou que, se mostrasse a língua, os jornais deixariam de publicar a foto. Nunca um gênio se enganou tanto: nascia ali uma das imagens mais marcantes do século 20.


A grande obra de Einstein é a teoria da relatividade. Quando pediram uma explicação simples sobre o assunto, ele se saiu com essa: "Se um homem se senta ao lado de uma moça bonita, uma hora se passa como se fosse um minuto. Mas se o homem se senta sobre um forno quente, um minuto parece uma hora. Isso é relatividade".


Claro que a teoria da relatividade é muito mais complicada. Nela, Einstein propôs uma nova maneira de se pensar sobre o espaço, sobre o tempo e sobre a gravidade: para ele, a gravidade é resultado da curvatura do espaço provocada pela massa dos corpos.


A idéia básica é simples. Imagine uma cama elástica. Sem a presença de um corpo com massa, a cama elástica não se curva. Mas se alguém pula sobre a cama elástica, ela afunda. E quanto mais pesada a pessoa, maior a curvatura. Em poucas palavras, essa era a nova explicação para a gravidade.






POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 06/12

O CIENTISTA ESQUECIDO

Neste capítulo da série "Poeira das Estrelas", o físico Marcelo Gleiser encontra o homem que o Prêmio Nobel esqueceu.

Imagine que você é cientista e descobre a resposta para uma das perguntas mais antigas da humanidade: como foi que tudo começou? E, quando chega a hora do reconhecimento, como você se sentiria se toda a glória e todos os prêmios fossem para outra pessoa? Essa história é verdadeira.

Em ciência, muitas vezes, grandes descobertas nascem por acaso. E nem sempre a comunidade científica reconhece o mérito daqueles que tiveram uma grande idéia primeiro. Para uns, a glória; para outros, o esquecimento.

O ano era 1929. No observatório de Mount Wilson, ao norte de Los Angeles, havia sido construído o telescópio mais potente de todos os tempos.

O astrônomo americano Edwin Hubble apontou o telescópio para o céu e viu gigantescos conjuntos de estrelas -- as galáxias -- se afastando umas das outras. Era o universo em expansão, crescendo cada vez mais.

As conseqüências dessa descoberta foram profundas. Se as galáxias estão se afastando, isso significa que, no passado, elas já estiveram mais próximas. E mais: em um passado muito distante, as galáxias -- e as estrelas que elas contêm -- estavam tão próximas que ocupavam todas o mesmo espaço. Trata-se de uma região minúscula, menor do que a cabeça de um alfinete. O universo, então, tinha uma origem. Mas que origem era essa?

Ironicamente, a primeira pessoa a buscar essa resposta, a sugerir um modelo científico para a origem do universo foi um padre, o belga Georges Lemaître. Segundo ele, no início, o universo não passava de um enorme núcleo, ou "átomo primordial", como ele chamou. Mas o próprio Lemaître admitia que sua teoria não explicava tudo em detalhes, o que é essencial em ciência.

Só em 1948, inspirado pelas idéias de Lemaître, um dissidente soviético naturalizado americano pôs as mãos à obra. Ele se chamava George Gamow. Era um homem que não tinha medo de grandes desafios. Nascido na Ucrânia, Gamow chegou a tentar fugir duas vezes da antiga União Soviética, atravessando o mar negro em um barquinho a remo.

Para ajudá-lo na gigantesca tarefa de finalmente explicar a origem do universo, Gamow convocou dois alunos de doutorado, Robert Hermann e Ralph Alpher. Dos três, apenas Alpher está vivo. Encontramos com ele em um asilo para aposentados em Tampa, no estado americano da Flórida.

Alpher sofreu um derrame anos atrás e se movimenta com dificuldade, mas continua lúcido. Ele conta como era trabalhar com Gamow. "Ele era uma grande figura", diz Alpher. "Fechando os olhos, consigo imaginá-lo na sua motocicleta, um belo cachecol de lã no pescoço, voando ao vento", conta o cientista.

Gamow sabia das descobertas de Edwin Hubble, de que o universo está em expansão. Sabia também que o universo é extremamente frio. Gamow tinha um palpite: se voltasse no tempo, poderia contar a história do início de tudo.

E isso foi o que ele propôs: se o universo -- que está em expansão -- hoje, é frio e gigantesco, no seu início devia ser exatamente o contrário: muito quente e muito denso. Por isso, ele apostou que o universo começou comprimido, ao máximo, em uma única região.



POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 07/12

O NASCIMENTO DAS ESTRELAS

De onde vieram o Sol, a Lua e as estrelas? E nós, habitantes de um planeta tão pequeno diante da imensidão do Universo? Como foi que nós surgimos e hoje podemos estar aqui, tentando entender a origem de tudo?

Domingo passado, a série Poeira das Estrelas terminou de contar a história de uma das descobertas mais importantes de todos os tempos: a origem do Universo. De acordo com a teoria mais aceita pela ciência, o Universo surgiu há 13,7 bilhões de anos. Esse é o modelo do Big Bang: a história moderna da criação.

Foi depois dessa grande explosão que surgiu tudo o que existe no Universo, inclusive o tempo. Nesse momento, o relógio começou a bater. Mas essa é apenas uma parte da história.

De onde vieram o Sol, a Lua e as estrelas? E nós, habitantes de um planeta tão pequeno diante da imensidão do Universo? Como foi que nós surgimos e hoje podemos estar aqui, tentando entender a origem de tudo? O nascimento das estrelas é o nosso assunto de hoje.

Berçários cósmicos

Uma das descobertas mais bonitas da Ciência moderna é de que tudo o que existe na Terra, na Lua e nos outros planetas foi gerado nas estrelas. As pedras, os metais, o carbono dos seres vivos, o oxigênio que a gente respira, tudo. É por isso que somos todos "poeira das estrelas". Mas como isso aconteceu?

Para começar a entender, pense numa fundição: um lugar onde metais são derretidos para assumir novas formas. O ouro, um dos metais mais nobres, é líquido a uma temperatura de pouco mais de 1000ºC. Nessas condições, não tem forma fixa. Mas quando se resfria, pode tomar a forma de barras. Com o Universo, foi parecido.

Imediatamente após o Big Bang, tudo o que existia era uma sopa muito quente de partículas chamadas elétrons, quarks e glúons. Aos poucos, essa matéria começou a esfriar.

Quatrocentos mil anos depois do Big Bang, a matéria já estava fria o suficiente para começar a se agrupar e formar os primeiros elementos: o hidrogênio, que pode ser encontrado na água, e o hélio, o gás que é usado para encher balões.

Formaram-se, então, gigantescas nuvens compostas principalmente de hidrogênio. Durante quase 1 bilhão de anos, isso foi tudo o que existiu no Universo. Ondas de choque do Big Bang ainda ecoavam. A matéria girava, como numa dança cósmica.

Mas chegou um momento em que as nuvens de hidrogênio sucumbiram ao próprio peso e entraram em colapso. A matéria foi ficando cada vez mais quente e densa. E, então, algo incrível aconteceu: nasceram as primeiras estrelas. O nosso Sol é uma estrela, e surgiu há cerca de 4,5 bilhões de anos.

Estrelas como o Sol brilham durante bilhões de anos, gerando luz e calor. Mas, um dia, elas também entram em colapso e morrem. É durante esse fim da vida das estrelas que são formados os outros elementos da natureza, além do hidrogênio e do hélio: o carbono, que está em todos os seres vivos -- no carvão mineral, nos diamantes --, o cálcio dos nossos ossos, o ferro. Tudo isso nasceu nas estrelas.

Você já parou para pensar para onde vão as estrelas durante o dia? Elas não vão para lugar nenhum. Elas estão aí. Só que elas estão ofuscadas pela luz do Sol.

Quando a noite cai, e o céu está limpo, podemos contar as estrelas visíveis: por incrível que pareça, não conseguimos enxergar mais do que 3 mil. Mas, para se ter uma idéia de como o Universo é grande, só na nossa galáxia, a Via Láctea, existem pelo menos 200 bilhões de estrelas.

E em todo o Universo conhecido pelo homem existem 70 sextilhões de estrelas. Ou seja: 70.000.000.000.000.000.000.000. Se lembrarmos que todas as estrelas visíveis no céu não passam de 3 mil, podemos ter uma idéia da imensidão do Universo.

 

POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 08/12

A CRATERA DE UM VULCÃO ATIVO

A série Poeira das Estrelas agora convida você para fazer uma viagem no tempo: vamos conhecer um lugar igualzinho ao nosso planeta de 4,5 milhões de anos atrás.

África e Brasil. Duas terras separadas por um oceano gigante, o Atlântico. Dois lugares distantes, mas com tanta coisa em comum. Nossos povos, nossa música e as tradições. África e Brasil têm ligações profundas, bem mais antigas do que muita gente imagina.

Você já notou que, se recortarmos os mapas, África e Brasil se encaixam perfeitamente, como se fossem irmãos separados pelo tempo? Qualquer semelhança não é mera coincidência.

A formação do nosso planeta é o tema do capítulo de hoje. Domingo passado, Poeira das Estrelas contou a história do nascimento do sol, a estrela que dá luz, calor e energia para todos os seres vivos.

Cerca de 4,5 bilhões de anos atrás, ao mesmo tempo em que surgiu o sol, formaram-se os planetas do nosso sistema solar, como a Terra. Mas a Terra naquele tempo era bem diferente do que estamos acostumados a ver hoje:

Terra vista do espaço, seres vivos, água, continentes, um planeta azul, 70% coberto de água, 30% de terra firme distribuída em continentes definidos e milhões de espécies vivas.

Muito tempo atrás, o mundo era o próprio inferno. Um planeta ainda em formação. A superfície era toda líquida, não de água, mas de rocha incandescente e atmosfera de gases sufocantes.

Partes da terra permanecem desse jeito até hoje: são os vulcões. Vulcões ativos nos remetem diretamente à infância da Terra. É como fazer uma viagem ao passado, mais precisamente 4,5 bilhões de anos atrás, quando a Terra, os planetas e o sol tinham acabado de nascer.

O vulcão Kilauea fica na ilha que dá nome ao arquipélago do Havaí. Nesta parte da Terra, existem tantos vulcões que a região é chamada de Círculo de Fogo do Pacífico. Mas nenhum é tão ativo quanto o Kilauea. Ele entrou em erupção em janeiro de 1983. E não parou mais.

Se pudéssemos viajar no tempo e ver como era a Terra no começo, as imagens não seriam muito diferentes dessas, que mostram os períodos de atividade mais intensa do Kilauea.

No início, era o caos. A Terra era uma bola incandescente de metais e rochas liquidas. A atmosfera, uma massa de gás ultra-aquecida. Era como se mergulhássemos dentro da cratera de um vulcão. Durante os primeiros 700 milhões de anos, a Terra era assim, como um vulcão gigante. A especialidade de um vulcão é cuspir lava.

A lava é pedra líquida. Ela é ejetada das profundezas da terra. Mais ou menos 100 quilômetros de profundidade. Isso não é nada quando comparado com o centro da Terra, que fica a 6,5 mil quilômetros de profundidade.

Sobrevoando o Kilauea, dá pra ver nitidamente como a lava expelida pelo vulcão se resfria em contato com a água do mar, se solidifica e faz aumentar o tamanho da ilha.

No nosso planeta é assim. Em lugares onde não há nada além de mar aberto, pode surgir uma ilha, desde que seja uma região de atividade vulcânica.

Aos poucos, a lava se resfria e fica sólida. Foi isso o que aconteceu com a Terra em sua infância. Só que para a superfície da Terra ficar sólida, se passaram 600 milhões de anos.




POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 09/12

A INFÂNCIA VIOLENTA DA TERRA

O físico Marcelo Gleiser vai contar a incrível história do nascimento da nossa companheira inseparável: a Lua.

A série "Poeira das estrelas" chega hoje ao deserto do Arizona, um lugar que já foi testemunha do passado violento do nosso planeta. O físico Marcelo Gleiser vai contar a incrível história do nascimento da nossa companheira inseparável: a Lua.


Você pode até não acreditar, mas o nosso planeta já foi um lugar muito mais perigoso para se viver. E, se hoje estamos vivos para contar essa história, devemos muito à sorte. A infância violenta da Terra é o tema do capítulo de hoje.


Depois que o primeiro homem foi ao espaço, em 1961, descobrimos algo incrível sobre o nosso planeta: "A Terra é azul". Foi o que disse o cosmonauta soviético Iuri Gagarin, ao retornar da primeira viagem orbital tripulada.


Desde então, essa é a imagem que temos da Terra: um planeta azul, coberto de nuvens, flutuando calmamente na imensidão do espaço. Mas nem sempre foi assim.


Muito tempo atrás, há quatro bilhões e meio de anos, logo depois da formação do sistema solar, a Terra vivia sob um intenso bombardeio de asteróides. Rochas de todos os tamanhos caíam constantemente sobre o nosso planeta.


Por causa da erosão e do tempo, os vestígios desse período desapareceram quase todos - quase. O deserto do Arizona, Estados Unidos, é a melhor testemunha que existe do passado violento da Terra. Lá, fica a maior cratera visível do nosso planeta, provocada pela queda de um asteróide. É tão grande que só há uma maneira de vê-la por inteiro: do alto, de balão.


Na Terra, justamente por causa da erosão, são poucas as crateras que ainda são visíveis. A mais famosa é a cratera de Barringer, no Arizona. Ela é tão sensacional que vale a pena ver de cima. Para isso, nada melhor do que ir de balão.


Pouco mais de 5h é a hora ideal para um vôo de balão. Bem cedo, os ventos são mais favoráveis, e a luz do sol é a melhor possível para as filmagens.


De cima, podemos ver toda a beleza da cratera de Barringer. Ela tem esse nome por causa do geólogo americano Daniel Barringer. Ele comprou as terras na esperança de que restos do asteróide que caiu contivessem ouro ou outros metais preciosos.


Estava errado. Sobrou muito pouca coisa do asteróide. O que restou mesmo foi uma cratera gigante, que ainda está aqui por um motivo: essa cratera pode ser vista porque ela é bem recente.

Foi formada há 50 mil anos, quando um meteorito de cerca de 50 metros de diâmetro caiu no local. Recente, claro, em termos históricos. Cinqüenta mil anos atrás, nossos antepassados ainda viviam nas cavernas.


Os cientistas que estudaram a cratera acreditam que o meteorito caiu a uma velocidade de 40 mil quilômetros por hora. O impacto liberou energia comparável à explosão de uma bomba de hidrogênio, a arma de destruição em massa mais poderosa que existe.


O resultado: uma cratera de dois quilômetros de extensão e 20 campos de futebol e 200 metros de profundidade. Se esse meteorito tivesse caído em uma cidade grande, como o Rio de Janeiro ou em São Paulo, milhões de pessoas teriam morrido. E olha que esse era um dos pequenos...


O terreno onde fica a cratera de Barringer hoje é propriedade particular. Essa foi a primeira vez que seus donos autorizaram um vôo de balão pelo local.


Quando estávamos quase pousando, o piloto avisa que a aterrissagem vai ser complicada porque o vento está forte. Opa! Nada grave para balonistas de primeira viagem.



POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 10/12

ORIGEM DA VIDA

O físico Marcelo Gleiser vai em busca da explicação científica para a origem da vida na Terra. Será possível que os primeiros organismos vivos tenham chegado ao nosso planeta de carona num asteróide?


A busca pela origem do Universo é apenas uma das muitas dúvidas existenciais que já nos fizeram perder noites de sono. Se hoje aceitamos a teoria do Big Bang como a versão da Ciência para o princípio de tudo, ainda esperamos por respostas para muitas outras perguntas. Uma das que mais tem intrigado cientistas ao longo dos tempos é o tema do capítulo deste domingo.


A Terra é um planeta cheio de vida. É impressionante a variedade de animais que vemos vê na terra, no mar, no ar. Quem é que nunca se perguntou de onde veio isso tudo? De onde surgiu a vida e quando?


Vida é uma dessas coisas que é mais fácil identificar do que explicar. Até hoje, não existe uma definição única para vida.

Mas sabemos que:

- seres vivos interagem com o mundo à sua volta, absorvendo nutrientes e energia;
- seres vivos crescem e se reproduzem;
- ao se reproduzir, passam suas características de geração para geração;
- características podem mudar acidentalmente. Essas mudanças são as mutações genéticas. São elas que permitem que seres vivos se adaptem a ambientes novos.


Portanto, a vida está ligada à transformação e à reprodução. Mas, se olharmos à nossa volta, e procurarmos pelo que existe de mais antigo na história da Terra, encontraremos matéria sem vida. Pedras são feitas de minerais, como o silício e o quartzo, que compõem a areia da praia. Água é feita de hidrogênio e oxigênio. Nada disso é vivo. Como, então, que num passado distante, durante a infância da Terra, essa matéria se agrupou e veio a dar origem a seres vivos? Essa passagem do inanimado ao animado é o grande mistério da origem da vida.


"Frankenstein", clássico da literatura tantas vezes adaptado para o cinema, conta a história do médico louco que queria dar vida a um cadáver usando eletricidade. A ciência moderna mostrou que o doutor Frankenstein não era tão louco assim.


Em 1953, um jovem químico americano da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, tentou reproduzir em laboratório as condições iniciais para a vida. Ele juntou compostos químicos que se acreditava existir na Terra primitiva com um ingrediente fundamental: eletricidade. O cientista é Stanley Miller, hoje com 76 anos, e muita dificuldade para falar por causa das seqüelas de um derrame.


Marcelo Gleiser pergunta a Stanley Miller o que ele pôs dentro dos tubos que simulavam a atmosfera primitiva da Terra. Ele conta que misturou água, hidrogênio, amônia, gás metano e gás carbônico. Era o que existia em abundância nos primórdios do nosso planeta. Apenas matéria inorgânica. Stanley Miller imaginou um mundo primitivo com tempestades elétricas constantes. Por isso, aplicou uma corrente elétrica à mistura.


O resultado da experiência foi surpreendente. A corrente elétrica fez com que os compostos se reagrupassem, dando origem a aminoácidos. Aminoácidos são compostos essenciais que existem em todos os seres vivos. Vinte e dois aminoácidos compõem a matéria-prima da vida, o código da vida, presente em cada célula de cada ser vivo: o DNA.


Com essa experiência, Stanley Miller demonstrou que é possível, no laboratório, formar as moléculas que compõem todos os seres vivos.


O químico inglês Leslie Orgel, do Instituto Salk, também em San Diego, é um dos maiores especialistas do mundo em origem da vida. Ele diz que, graças à experiência pioneira de Stanley Miller, hoje cientistas são capazes de reproduzir em laboratório -- senão todos -- os mais importantes aminoácidos. Mas Leslie Orgel lembra que ainda há muito por explicar.


 





POEIRA DAS ESTRELAS - PARTE 11/12

EM BUSCA DE NOVOS MUNDOS

Do alto de um vulcão extinto no Havaí, cientistas olham para o céu e descobrem novos mundos bem longe de nós. É lá que ficam os maiores telescópios da Terra: cenário de hoje da série "Poeira das Estrelas", com o físico Marcelo Gleiser.


Desde que o italiano Galileu Galilei teve a idéia de apontar seu telescópio para o céu, no século 17, a astronomia evoluiu muito. Nos tempos de Galileu, as lentes mal eram capazes de enxergar todos os planetas do nosso Sistema Solar.


Hoje, telescópios gigantes estão descobrindo novos mundos, bem longe de nós. Esses observatórios privilegiados ficam no alto de um vulcão extinto no Havaí. É o cenário do capítulo deste domingo.


De nada adianta ter lentes poderosas, capazes de enxergar longe, se o tempo não colabora. Em noites de céu nublado, astrônomos não têm o que fazer. Por isso, desde o início do século passado, cientistas começaram a montar telescópios em montanhas cada vez mais altas.


Os maiores observatórios do mundo, hoje, ficam no topo do Monte Mauna Kea, no Havaí, a 4,2 mil metros de altitude. Apenas 10% do vapor que existe na atmosfera da Terra se encontra a essa altura. E olha que as nuvens nem são o único obstáculo. Isso porque a atmosfera da Terra bloqueia a luz que vem das estrelas e de outros objetos celestes. Portanto, quanto mais alto você estiver, menos interferência da atmosfera e mais clara a imagem que a gente pode construir dos céus.


Quem pensa em Havaí, lembra logo de praia e mar. Mas a partir de certa altitude, a paisagem do Mauna Kea fica bem diferente do Havaí de cartão postal. A cerca de 3 mil metros de altura, a vegetação já vai morrendo porque não tem oxigênio suficiente para as plantas.


O Mauna Kea é um vulcão considerado extinto porque sua última erupção aconteceu 2400 anos antes de Cristo. A montanha tem uma característica muito interessante: ela é a maior do mundo se for medida da base ao topo. A base do Mauna Kea fica nas profundezas do Oceano Pacífico, quase 6 mil metros abaixo do nível do mar. Se somarmos essa medida aos 4,2 mil metros que são visíveis do lado de fora, o total é de 10,2 mil metros, mais até que o Monte Everest, o ponto culminante da Terra, que tem 8.850 metros.


Só quando se chega ao topo é que se entende porque os nativos do Havaí deram esse nome à montanha: Mauna Kea quer dizer "Monte Branco". No dia da nossa chegada, o Mauna Kea estava totalmente coberto de neve. A montanha é a casa do Observatório Gemini.


O Observatório Gemini tem esse nome porque é composto de dois telescópios que são irmãos gêmeos. Um fica no Havaí, o outro, igualzinho, fica no Chile, na Cordilheira dos Andes, mas a uma altitude menor.


"Esse é um telescópio de verdade. Um espelho de 8,3 metros", conta o astrônomo Scott Fisher, o anfitrião nessa visita. Fisher explica que o espelho, a parte do telescópio que capta as imagens, tem 8,3 metros, mas que a estrutura toda tem 30 metros, a mesma altura da estátua do Cristo Redentor.


Fisher lembra que o Gemini pertence a um consórcio internacional. "O Brasil é um dos sete países parceiros do Gemini. Do total, 8% do tempo de observação é exclusivo de astrônomos brasileiros", explica Fish.


Qualquer que seja a nacionalidade, os astrônomos que usam o Gemini estão fazendo descobertas importantes sobre o universo. Do observatório eles podem testemunhar o nascimento e a morte de estrelas, a muitos bilhões de anos-luz da Terra.


Um ano-luz é a distância que a luz leva um ano para percorrer. Como a luz viaja a 300 mil quilômetros por segundo, dá para entender que estamos falando de objetos muito, mas muito distantes da Terra.