Mostrando postagens com marcador Percepção Sensorial. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Percepção Sensorial. Mostrar todas as postagens
quarta-feira, 18 de abril de 2012
quinta-feira, 5 de abril de 2012
Ser humano é... estar encarnado
“Ser humano é estar encarnado, e isto significa penetrar no reino da substância, penetrar no material, passar pelo sensorial e , às vezes, permanecer vidas e vidas nesse processo.
Procurar a terapia é de alguma forma estar disposto e consentir a descer aos “ infernos” – visceral, sombrio – dessa experiência, e compreender o que acontece ali, acolhendo, completando o que ficou inacabado, redimindo a sombra, encontrando o perdão e voltando a fluir, evitando a permanência nesse lugar. Não é bom que a consciência se fixe no sensorial. O Ser aprisionado nos bloqueios do sensorial se esquece de quem é, torna-se presa de padrões habituais que, por muitas vezes, cronificam atitudes, dificultando o fluxo livre e criativo da vida.
Chilton Pearce diz que:
Habituar-se é o inimigo do crescimento. Perturbação ou distúrbio dos padrões estabelecidos supera essa tendência à inércia. No momento em que nós estabelecemos um padrão nós descansamos nele, não fosse o impulso para variação inerente ao ciclo de aprendizagem.
A dinâmica entre nosso sistema emocional e nosso cérebro mamiferiano tende à criação formação de hábitos e irá evitar novidades, pois esse sistema límbico-reptiliano não foi construído para lidar com novidades.
A dinâmica entre nosso cérebro emocional e nosso cérebro intelectual , entretanto, nos impele para novidades. Nossa constante tensão entre nossa natureza inferior e superior é parte dessa tensão entre antigas e novas estruturas neurais, entre evitar e buscar novidades, entre equilíbrio e desequilíbrio. Mesmo quando nós escolhemos a novidade, queremos descansar a cada ponto conseguido e habituarmo-nos ao novo estado.
O ponto mais alto da vida pode ser viver em um estado de puro fluir, um estado de agora sem passado e sem futuro, no qual predições e controle não entram – um estado de contínua (instante-a-instante) adaptação ao desconhecido, que está tão distante do estado reptiliano. Quanto se possa imaginar. Este é um estado em que a criança ativa , que está sempre aprendendo, vive (por nossa falta, caímos nos hábitos) e o qual devemos reaprender no desenvolvimento espiritual.”
In “Corporificando a Consciência”
Teoria e Prática da Dinâmica Energética do Psiquismo
Theda Basso e Aidda Pustilni
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Olho de Hórus / El Ojo de Hórus
Os antigos egípcios usavam um sistema de frações baseado em caracteres distintos, tipo 1/2 era um símbolo, 3/4 era outro, etc, mas tinham alguma regra geral.
Em particular, as frações do tipo 1/2^n (que seriam tipo 1/2, 1/4, 1/8, 1/16, 1/32...) tinham símbolos especiais, e, adivinham, a associação desses símbolos, do 1/2 até o 1/64 é o olho de Hórus.
1/2 representa o olfato.
1/4 representa a visão.
1/8 representa o pensamento, que seria a sobrancelha.
1/16 representa a audição.
1/32 representa o paladar, uma lingua bem comprida.
1/64 representa o tato, que seriam as duas perninhas em contato com o mundo embaixo.
Hoje em dia, o Olho de Hórus adquiriu também outro significado e é usado para evitar o mal e espantar inveja (mau-olhado), mas continua com a idéia de trazer proteção, vigor e saúde.
Assista:
http://sandralage.blogspot.com.br/2010/09/o-olho-de-horus-el-ojo-de-horus-la.html
Assista:
http://sandralage.blogspot.com.br/2010/09/o-olho-de-horus-el-ojo-de-horus-la.html
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
domingo, 25 de setembro de 2011
domingo, 18 de setembro de 2011
Teoria das Cores de Goethe
O interesse de Johann Wolfgang von Goethe pelas cores foi instigado pela natureza ótica do fenômeno e pela tradição colorística das pinturas da Renascença com as quais teve contato em sua primeira viagem à Itália entre os anos de 1786 e 1788.
A Teoria das Cores (Zur Farbenlehre) de Goethe foi originalmente publicada em 1810. Com seu tratado sobre as cores de 1400 páginas, Goethe reformulou a teoria das cores de uma maneira inteiramente nova, sendo o primeiro a ousar confrontar as idéias de Newton sobre luz e cor. Newton via as cores como um fenômeno puramente físico, envolvendo a luz que atinge objetos e penetra nossos olhos.
Goethe concebeu a ideia de que as sensações de cores que surgem em nossa mente são também moldadas pela nossa percepção – pelos mecanismos da visão e pela maneira como nosso cérebro processa tais informações.
O trabalho de Goethe continuou a fascinar cientistas por muitos anos, dentre eles podemos destacar grandes nomes como Hermann von Helmholtz, Werner Heisenberg, Walter Heitler e Carl Friedrich von Weizsäcker.
Recentemente, o teórico do Caos, Mitchell Feigenbaum, consultando o trabalho de Goethe, surpreendeu-se ao descobrir que “Goethe já tinha realizado um extraordinário conjunto de experimentos investigando as cores” e estava correto em suas observações.
Para sustentar a sua visão na qual as principais característica das cores são a simetria e a complementaridade, Goethe propôs modificar o círculo de Newton que possuia sete cores sustentadas sob ângulos desiguais. Cria um círculo simétrico, onde as cores complementares localizam-se em posições diametralmente opostas no círculo.
Epígrafe utilizada na introdução da Teoria das Cores de Goethe. “Se nossas coisas são verdadeiras ou falsas, assim serão, ainda que a defendamos por toda a vida. Após nossa morte, as crianças, que agora brincam, serão nossos juízes.”
Para Newton, apenas as cores do espectro poderiam ser consideradas como fundamentais. Goethe, baseando-se em seus experimentos, conclui que cores, como o magenta, uma cor não espectral, possuem um importante papel para completar o círculo das cores, o que é sustentado até nos sistemas de cores mais modernos.
Artistas que lidavam com cores sentiram-se mais atraidos pela proposta de Goethe do que pela de Newton.
Um pintor fortemente influenciado pelas idéias de Goethe foi J. M. W. Turner (1775-1851), cuja pintura “Luz e Cor (Teoria de Goethe)” é exposta no ‘Tate Britain’ em Londres.
Teoria de Aristóteles
Os primeiros estudos sobre cores foram feitos na Grécia antiga por Aristóteles. Segundo ele as cores existiam na forma de raios enviados por Deus. Sua teoria não foi contestada até a Renascença quando sistemas de cores mais sofisticados foram desenvolvidos por Aguilonius e Sigfrid Forsius.
Para Aristóteles, as cores mais simples seriam aquelas dos elementos: terra, ar, fogo e água.
Sua visão era baseada na sua concepção de cor, na observação de que a luz do sol, ao atravessar ou refletir em um objeto, tem sua intensidade reduzida, escurece.
Através desse processo a cor seria produzida, ou seja, a cor seria derivada de uma transição do claro para o escuro, ou ainda, de outra forma, Aristóteles as via como uma mistura, uma composição, uma sobreposição de preto e branco.
Essa visão, que permaneceu até a época de Newton (1642 a 1727), tem a luz do sol como luz pura e portanto sem cor, a cor deve ser algum tipo de constituinte permitindo objetos e meios serem opacos ou transparentes, sendo capazes de degradar a pureza da luz incidente.
Algumas dúvidas com relação à teoria de Aristóteles começaram a ser levantadas no inicio do século XVII devido à descoberta das cores interferentes – cores de películas muito finas, tais como uma bolha de sabão – que mudam drasticamente conforme o ângulo de observação. Essas películas pareciam possuir todas as cores em si ao mesmo tempo e degradar a luz solar incidente de diferentes maneiras dependendo do ângulo de observação.
Leonardo da Vinci, como Aristóteles, acreditava que as cores são propriedade dos objetos. Em seu tratado sobre pintura escreveu: “A primeira de todas as cores simples é o branco, embora os filósofos não irão aceitar tanto branco como preto como cores porque branco é a causa ou receptor de todas as cores, e o preto é a privação total delas. Mas como os pintores não podem ficar sem ambas, as colocaremos dentre as demais. (...) Podemos colocar o branco como representante da luz sem o qual nenhuma cor pode ser vista, amarelo para a terra, verde para água, azul para o ar, vermelho para o fogo e preto para a escuridão.”
A maior dificuldade com a abordagem da percepção proposta por Aristóteles é a afirmação de que as faculdades sensoriais relevantes dos sentidos tornam-se semelhantes aos objetos a que percebem. “O conhecimento sensível, a sensação, pressupõem um fato físico, a saber, a ação do objeto sensível sobre o órgão que sente, imediata ou à distância, através do movimento de um meio. Mas o fato físico transforma-se num fato psíquico, isto é, na sensação propriamente dita, em virtude da específica faculdade e atividade sensitivas da alma. O sentido recebe as qualidades materiais sem a matéria delas, como a cera recebe a impressão do selo sem a sua matéria. A sensação embora limitada é objetiva, sempre verdadeira com respeito ao próprio objeto; a falsidade, ou a possibilidade da falsidade, começa com a síntese, com o juízo. O sensível próprio é percebido por um só sentido, isto é, as sensações específicas são percebidas, respectivamente, pelos vários sentidos; o sensível comum, as qualidades gerais das coisas tamanho, figura, repouso, movimento, etc. são percebidas por mais sentidos. O senso comum é uma faculdade interna, tendo a função de coordenar, unificar as várias sensações isoladas, que a ele confluem, e se tornam, por isso, representações, percepções.”
Teoria de Newton
O conhecimento atual sobre luz e cor iniciou-se com os trabalhos de Isaac Newton (1642-1726), uma série de experimentos cujos resultados foram publicados na chamada “Nova Teoria da Luz e Cores”, em 1672, numa carta formal à Royal Society of London. O principal experimento realizado consistiu em dispor um prisma próximo a sua janela, projetando um espectro, criado pela refração de um raio circular de luz branca, em uma parede, mostrando as cores componentes:
vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.
Principiando pela observação de que a imagem criada não era circular, como o raio original, Newton inferiu os princípios de sua nova teoria: a luz solar seria formada de uma mistura de raios de diferentes “refratabilidade”.
Para mostrar que o prisma não estava colorindo a luz, a luz refratada foi colimada novamente, obtendo assim o branco.
Os artistas ficaram fascinados com a demonstração de Newton de que apenas a luz seria a responsável pela cor e criaram uma disposição das cores em círculo de conceitos, permitindo dispor as cores primárias (vermelho, amarelo, azul) em posições diametralmente opostas às suas complementares (por exemplo, o vermelho ficaria em oposição ao verde), de maneira a mostrar que as cores complementares ficariam opostas umas às outras através de um efeito de contraste óptico.
Newton foi o primeiro a organizar as cores em um círculo. Seu círculo possuía sete cores principais que estava relacionadas aos sete planetas e às sete notas musicais da escala diatônica: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil, violeta. A teoria das três cores primárias: vermelho, amarelo e azul foi proposta originalmente um século depois pelo francês Jean C. Le Bon, sobre a qual foi publicado um tratado de mistura de pigmentos. Essa teoria tornou-se a partir de então a base para qualquer trabalho envolvendo pigmentos coloridos.
Teoria de Goethe
Goethe defende que o olhar é sempre crítico. Apenas olhar não seria um estímulo, um estímulo é uma experiência que vai além do simples observar, cria um vínculo teórico e leva o observador a tirar suas próprias conclusões.
Jedes Ansehen geht ¨uber in ein Betrachten, jedes Betrachten in ein Sinnen, jedes Sinnen in ein Verkn¨upfen, und so kann man sagen, daß wir schon bei jedem aufmerksamen Blick in die Welt theoretisieren. Dieses aber mit Bewußtsein, mit Selbstkenntnis, mit Freiheit, und um uns eines gewagten Wortes zu bedienen, mit Ironie zu tunund vorzunehmen, eine solche Gewandtheit ist n¨otig, wenn die Abstraktion, vor der wir uns f¨urchten, unsch¨adlich und das Erfahrungsresultat, das wir hoffen, recht lebendig und n¨utzlich werden soll. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Vorwort - Goethe)
Cada olhar envolve uma observação, cada observação uma reflexão, cada reflexão uma síntese: ao olharmos atentamente para o mundo já estamos teorizando. Devemos, porém, teorizar e proceder com consciência, autoconhecimento, liberdade e – se for preciso usar uma palavra audaciosa – com ironia: tal destreza é indispensável para que a abstração, que receiamos, não seja prejudicial, e o resultado empírico, que desejamos, nos seja útil e vital. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Para Goethe a sensibilidade não é apenas receptividade, mas também impulsividade.
As cores devem ser interpretadas duplamente como Leiden (paixão) e como Tat (ação) da luz.
Die Farben sind Taten des Lichts, Taten und Leiden. In diesem Sinne k¨onnen wir von denselben Aufschl¨usse ¨uber das Licht erwarten. Farben und Licht stehen zwar untereinander in dem genausten
Verh¨altnis, aber wir m¨ussen uns beide als der ganzen Natur angehorig denken: denn sie ist es ganz, die sich dadurch dem Sinne des Auges besonders offenbaren will.(Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Vorwort - Goethe)
As cores são ações e paixões da luz. Nesse sentido, podemos esperar delas alguma indicação sobre a luz. Na verdade, luz e cores se relacionam perfeitamente, embora devamos pensá-las como pertencendo à natureza em seu todo: é ela inteira que assim quer se revelar ao sentido da visão. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
A natureza é algo construído pelos nossos olhos, e que existe apenas quando se revela aos sentidos.
“As leis naturais são feitas e relacionadas umas com as outras como se a Faculdade de Julgar as houvesse produzido para o seu próprio uso.”
A cor não é apenas a luz, mas também a impulsividade que nasce na paixão, no olhar como forma de criar a natureza.
A luz não só está dentro de cada um, como acaba se identificando com o próprio sujeito.
Nesse ponto, Goethe parece se aproximar da obra de Kant. Em sua Crítica do Juízo a natureza é colocada de forma “estetizada”, pois o homem julga a natureza da mesma maneira que interpreta uma obra de arte.
O estilo dessa obra de Goethe é alternadamente um discurso rigorosamente científico ou um discurso poético, sendo as vezes chamado de uma literatura científica. Por um lado a obra mostra-se como um relato de um escritor versátil, poeta ábil e investigador da natureza, herdeiro do Aufklarung, por outro é um relato tortuoso, fruto de uma longa investigação que perdurou por mais de vinte anos e que jamais pareceu estar concluída sendo chamada de ein Entwurf (um esboço).
O trabalho de Goethe é uma tentativa de ordenar e combinar os fenômenos cromáticos para entender os princípios que os regem e como essa ordenação nos leva a uma diferenciação em termos de estética.
Die Lust zum Wissen wird bei dem Menschen zuerst dadurch angeregt, daß er bedeutende Ph¨anomene gewahr wird, die seine Aufmerksamkeit an sich ziehen. Damit nun diese dauernd bleibe, so muß sich eine innigere Teilnahme finden, die uns nach und nach mit den Gegenst¨anden bekannter macht. Alsdann bemerken wir erst eine große Mannigfaltigkeit, die uns als Menge entgegendringt. Wir sind gen¨otigt zu sondern, zu unterscheiden und wieder zusammenzustellen, wodurch zuletzt eine Ordnung entsteht, die sich mit mehr oder weniger Zufriedenheit ¨ubersehen l¨aßt. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
O homem só é levado ao desejo de conhecer se fenômenos notáveis lhe chamam a atenção. Para que esta perdure, é preciso haver um interesse mais profundo, que nos aproxime cada vez mais dos objetos. Observamos então uma grande diversidade diante de nós. Somos obrigados a separá-la, distingui-la e recompô-la, daí resultando uma ordenação que pode ser apreciada com maior ou menor satisfação. (Doutrina das Cores. Esbo¸co de uma Doutrina das Cores - Introdução- Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Os estímulos incidentes são primeiramente analisados, e assim separando, decompondo a multitude do mundo que observamos. Após esse processo de desagregação inicia-se a etapa de síntese, montagem, através da qual extraímos informações, características e significados, tornando possível a memorização, a comparação e a apreciação.
A natureza se revela ao sentido da visão através da luz e das cores e assim é possível distinguir um objeto de outro, ou as várias partes de um objeto. O mundo visível é re-construído, e cria-se uma dissociação entre o queé e o que aparenta ser. Goethe retoma, nesse ponto, a idéia de Kepler 3, quem define o olho humano como um produtor mecânico de pinturas, definindo o “ver” como “pintar”, e a pintura como formativa de imagem retiniana não-linear. Kepler foi o primeiro a separar o problema físico da formação das imagens retinianas (o mundo visto) dos problemas psicológicos da percepção (o mundo percebido).
Iluminismo
Kepler foi uma figura marcante na revolução científica. Nascido na Alemanha, tornou-se astrônomo, matemático e astrólogo. É mais conhecido pelas suas leis de movimentação dos planetas. As vezes é referenciado como o primeiro astrofísico teórico, embora Carl Sagan prefira chamá-lo de o último astrólogo cientista.
Und so erbauen wir aus diesen dreien die sichtbare Welt und machendadurch zugleich die Malerei m¨oglich, welche auf der Tafel eine weit vollkommner sichtbare Welt, als die wirkliche sein kann, hervorzubringen vermag. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
E assim construímos o mundo visível a partir do claro, do escuro e da cor, e com eles também tornamos possível a pintura, que é capaz de produzir, no plano, um mundo visível muito mais perfeito que o mundo real.(Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Introdução- Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Goethe estava convencido de que a totalidade da natureza se revela, como através de um espelho, ao sentido da visão, através da dialética entre dividir e fundir, intensificar e neutralizar. É pois através da oposição e da transposição para o mundo da percepção que nascem os conceitos, e resulta assim a apreciação e cria-se a estética como objeto.
Die Farbe sei ein elementares Naturph¨anomen f¨ur den Sinn des Auges, das sich, wie die ¨ubrigen alle, durch Trennung und Gegensatz, durch Mischung und Vereinigung, durch Erh¨ohung und Neutralisation, durch Mitteilung und Verteilung und so weiter manifestiert und unter diesen allgemeinen Naturformeln am besten angeschaut und begriffen werden kann. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
(...) a cor é um fenômeno elementar da natureza para sentido da visão, que, como todos os demais, se manifesta ao se dividir e opor, se misturar e fundir, se intensificar e neutralizar, ser compartilhado e repartido, podendo ser mais bem intuído e concebido nessas fórmulas gerais da natureza. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Introdução - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
“Para Goethe o princípio vital da natureza é, ao mesmo tempo, o da própria alma humana, ambas tendo a mesma igualdade de direitos, mas procedentes da unidade do ser, que, na diversidade de suas configurações, desenvolve a igualdade do princípio criador, de sorte que o homem pode encontrar em seu próprio coração todo o segredo do ser, e talvez também a solução.” (Simmel)
“Outro aspecto importante a ser mencionado é o fato de que a divergência de Goethe em relação a Newton não se reduz a uma disputa pessoal, pois acabou envolvendo uma polêmica entre o idealismo alemão e os físicos newtonianos. Na verdade, o que estava por trás dessa dissensão é o confronto de dois modos completamente distintos de pensar a natureza. O idealismo alemão recusa a ótica mecanicista, já que interpreta tanto a natureza quanto a arte a partir da idéia de organismo, de uma finalidade interna. A cor não pode ser simplesmente causada pela luz, devendo ser pensada na sua relação com o órgão específico.”(Marco Giannotti)
As três primeiras seções da obra de Goethe trata das cores sobre o ponto de vista fisiológico, físico e químico: Cores Fisiológicas (Physiologische Farben), Cores Físicas (Physische Farben) e Cores Químicas (Chemische Farben).
Wir betrachteten also die Farben zuerst, insofern sie dem Auge angeh¨oren und auf einer Wirkung und Gegenwirkung desselben beruhen; ferner zogen sie unsere Aufmerksamkeit an sich, indem wir sie an farblosen Mitteln oder durch deren Beih¨ulfe gewahrten; zuletzt aber wurden sie uns merkw¨urdig, indem wir sie als den Gegenst ¨anden angeh¨orig denken konnten. Die ersten nannten wir physiologische, die zweiten physische, die dritten chemische Farben. Jene sind unaufhaltsam fl¨uchtig, die andern vor¨ubergehend, aber allenfalls verweilend, die letzten festzuhalten bis zur sp¨atesten Dauer. (Zur Farbenlehre. Didaktischer Teil - Einleitung - Goethe)
Consideremos, em primeiro lugar, as cores na medida em que pertencem ao olho e dependem de sua capacidade de agir e reagir. Em seguida, despertam a atenção na medida em que as percebemos através dos meios incolores ou com o auxílio destes. Por fim, são dignas de nota na medida em que podemos pensá-las como fazendo parte do objeto. Chamamos as primeiras de fisiológicas, as segundas de físicas e as terceiras de químicas. As primeiras são constantemente fugidias, as segundas são passageiras, embora tenham uma certa permanência. As últimas têm longa duração. (Doutrina das Cores. Esboço de uma Doutrina das Cores - Introdução - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
A quarta seção é uma perspectiva geral das relações internas sendo abordados os aspectos do surgimento e determinação das cores. Segundo Goethe, um jogo de cores é criado pela incidência da luz sobre a retina, o que é uma reação legítima devido à sensibilidade do olho à luz. As cores podem ser determinadas pela oposição, polaridade entre azul e amarelo; ação e privação; luz e sombra; força e fraqueza; claro e escuro; quente e frio; proximidade e distância; repulsão e atração; afinidade com ácidos e afinidade com álcalis.
In dieser stetigen Reihe haben wir, soviel es m¨oglich sein wollte, die Erscheinungen zu bestimmen, zu sondern, und zu ordnen gesucht. Jetzt, da wir nicht mehr f¨urchten, sie zu vermischen oder zu verwirren, k¨onnen wir unternehmen, erstlich das Allgemeine, was sich von diesen Erscheinungen innerhalb des geschlossenen Kreises pr¨adizieren l¨aßt, anzugeben, zweitens, anzudeuten, wie sich dieser besondre Kreis an die ¨ubrigen Glieder verwandter Naturerscheinungen anschließt und sich mit ihnen verkettet. (Zur Farbenlehre. Vierte Abteilung - Allgemeine Ansichten nach Innen - Goethe)
Na medida do possível, procuramos determinar, separar e ordenar os fenômenos segundo essa série contínua. Já que agora não tememos misturá-los ou confundi-los, podemos empreender em primeiro lugar a tarefa de julgar, no círculo, o que é universal nos fenômenos, para em seguida apontar como esse círculo particular se encadeia e se une ao resto dos fenômenos naturais afins. (Doutrina das Cores. Quarta Seção - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Na quinta seção Goethe analisa as diferentes relações que a cor estabelece com as mais diversas disciplinas: Filosofia, Matemática, Técnica de Tingir, Fisiologia e Patologia, História Natural, Física Geral, Música, Linguagem e Terminologia.
Daß ein gewisses Verh¨altnis der Farbe zum Ton stattfinde, hat man von jeher gef¨uhlt, wie die ¨oftern Vergleichungen, welche teils vor¨ubergehend, teils umst¨andlich genug angestellt worden, beweisen. Der Fehler, den man hiebei begangen, beruhet nur auf folgendem. Vergleichen lassen sich Farbe und Ton untereinander auf keine Weise, aber beide lassen sich auf eine h¨ohere Formel beziehen, aus einer h¨ohern Formel beide, jedoch jedes f¨ur sich, ableiten. Wie zwei Fl¨usse, die auf einem Berge entspringen, aber unter ganz verschiedenen Bedingungen in zwei ganz entgegengesetzte Weltgegenden laufen, so daß auf dem beiderseitigen ganzen Wege keine einzelne Stelle der andern verglichen werden kann, so sind auch Farbe und Ton. Beide sind allgemeine elementare Wirkungen nach dem allgemeinen Gesetz des Trennens und Zusammenstrebens, des Auf- und Abschwankens, des Hinund Wiederw¨agens wirkend, doch nach ganz verschiedenen Seiten, auf verschiedene Weise, auf verschiedene Zwischenelemente, f¨ur verschiedene Sinne. M¨ochte jemand die Art und Weise, wie wir die Farbenlehre an die allgemeine Naturlehre angekn¨upft, recht fassen und dasjenige, was uns entgangen und abgegangen, durch Gl¨uck und Genialit¨at ersetzen,so w¨urde die Tonlehre nach unserer ¨ Uberzeugung an die allgemeine Physik vollkommen anzuschließen sein, da sie jetzt innerhalb derselben gleichsam nur historisch abgesondert steht. Aber eben darin l¨age die gr¨oßte Schwierigkeit, die f¨ur uns gewordene positive, auf seltsamen empirischen, zuf¨alligen, mathematischen,¨asthetischen, genialischen Wegen entsprungene Musik zugunsteneiner physikalischen Behandlung zu zerst¨oren und in ihre ersten physischen Elemente aufzul¨osen. Vielleicht w¨are auch hierzu auf dem Punkte, wo Wissenschaft und Kunst sich befinden, nach so manchen sch¨onen Vorarbeiten Zeit und Gelegenheit. (Zur Farbenlehre. Vierte Abteilung - Allgemeine Ansichten nach Innen - Goethe)
Sempre se percebeu que existe certa relação entre cor e som, como demonstram as frequentes comparações, por vezes passageiras, por vezes suficientemente pormenorizadas. O erro nelas cometido se deve ao seguinte: Cor e som de maneira alguma podem ser comparados, embora ambos remetam a uma fórmula superior, a partir da qual é possível deduzir cada um deles. Ambos são como dois rios que nascem na mesma montanha, mas devido a circunstâncias diversas correm sobre regiões opostas, de modo que em todo o percurso não há nenhum ponto em que possam ser comparados. Ambos são efeitos gerais e elementares segundo a lei universal que tende a separar e unir, oscilar, pesando ora de um lado, ora de outro lado da balança, mas conforme aspectos, maneiras, elementos intermediários e sentidos completamente distintos. (Doutrina das Cores. Quinta Seção - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Na última seção Goethe discorre a cerca dos efeitos sensíveis, morais e estéticos que surgem. Para cada cor, para cada tonalidade de uma cor, Goethe analisa suas características e os seus efeitos sobre nossos olhos. Estabelece relações de harmonia, totalidade e complementaridade entre as cores do círculo cromático.
Hier liegt also das Grundgesetz aller Harmonie der Farben, wovon sich jeder durch eigene Erfahrung ¨uberzeugen kann, indem er sich mit den Versuchen, die wir in der Abteilung der physiologischen Farben angezeigt, genau bekannt macht. Wird nun die Farbentotalit¨at von außen dem Auge als Objekt gebracht, so ist sie ihm erfreulich, weil ihm die Summe seiner eignen T¨atigkeit als Realit¨at entgegen kommt. Es sei also zuerst von diesen harmonischen Zusammenstellungen die Rede. (Zur Farbenlehre. Sechste Abteilung - Totalit¨at und Harmonie - Goethe)
Aqui reside a lei fundamental de toda harmonia cromática, a respeito da qual qualquer um poderá se convencer por experiência própria, ao travar conhecimento dos experimentos descritos na seção das cores fisiológicas.
Se a totalidade cromática se apresenta exteriormente ao olho como objeto, torna-se agradável para ele, pois o resultado de sua própria atividade lhe parece como realidade. Trataremos em primeiro lugar dessas composiçõees harmônicas. (Doutrina das Cores. Sexta Seção - Totalidade e Harmonia - Goethe (tradução de Marco Giannotti)
Por Leonardo Carneiro de Araújo
Teria das Cores de Goethe
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
A Natureza do Homem (Antroposofia) / Parte 2/2
Imagine-se o homem recebendo impressões de todos os lados.
É preciso imaginá-lo como fonte da mencionada atividade voltado, ao mesmo tempo, para todos os lados dos quais ele receba essas impressões.
Para todos os lados as sensações respondem às impressões.
Essa fonte de atividade deverá chamar-se alma da sensação.
Esta alma da sensação é tão real quanto o corpo físico.
Se um homem está diante de mim e eu faço abstração de sua alma da sensação, representando-o na mente meramente como corpo físico, é o mesmo que, de um quadro, eu representar mentalmente apenas a tela.
Quanto à percepção da alma da sensação, cabe também dizer algo similar ao que já foi dito sobre o corpo etérico.
Os órgãos físicos são ‘cegos’ com relação a ela; igualmente o é o órgão pelo qual a vida é percebida como vida.
Contudo, assim como o corpo etérico é visto por meio desse órgão, o mundo interior das sensações pode transformar-se, mediante um órgão ainda mais elevado, num tipo especial de percepções supra-sensíveis.
Então o homem não apenas recebe as impressões dos mundos físico e vital sob forma de sensações, mas vê as sensações.
Diante de uma pessoa dotada de tal órgão, o mundo das sensações de um outro ser se apresenta como uma realidade exterior.
E preciso distinguir entre vivenciar o próprio mundo das sensações e contemplar o mundo das sensações de um outro ser.
Perscrutar o próprio mundo das sensações é, naturalmente, possível a todo e qualquer ser humano; mas enxergar o mundo das sensações de um outro ser só é possível a umvidente com os ‘olhos espirituais’ abertos.
Sem ser vidente, o homem só conhece o mundo das sensações como experiências interiores, como as próprias vivências ocultas de sua alma; com os olhos espirituais’ abertos, reluz ante a visão espiritual externa o que normalmente só vive ‘no íntimo’ do outro ser.
*** A fim de prevenir mal-entendidos, seja aqui expressamente dito que o vidente não experimenta em si a mesma coisa que o outro ser tem como conteúdo de seu mundo das sensações.
Esse outro ser experimenta as sensações do ponto de vista de seu interior — o vidente percebe uma revelação, uma exteriorização do mundo das sensações.
Com relação à sua atividade, a alma da sensação depende do corpo etérico — pois extrai dele o que fará luzir como sensação; e como o corpo etérico é a vida dentro do corpo físico, a alma da sensação também depende indiretamente deste último.
Só em olhos sadios e bem formados são possíveis sensações adequadas das cores.
É desse modo que a corporalidade atua sobre a alma da sensação.
Portanto, em sua atividade esta última é determinada e limitada pelo corpo; ela vive dentro dos limites que lhe são traçados pela corporalidade.
O corpo é, pois, construído com as substâncias minerais e vivificado pelo corpo etérico, sendo que ele próprio limita a alma da sensação.
Portanto, quem possui o já citado órgão para ‘ver’ a alma da sensação constata que esta é limitada pelo corpo.
Porém os limites da alma da sensação não coincidem com os do corpo físico.
Essa alma ultrapassa o corpo físico.
Disso se conclui que ela mostra ser mais potente do que ele.
Porém a força que lhe impõe os limites procede do corpo físico.
Com isso se interpõe entre os corpos físico e etérico, de um lado, e a alma da sensação, de outro, mais um componente especial da entidade humana: o corpo anímico ou corpo das sensações.
Poder-se-ia também dizer que uma parte do corpo etérico é mais sutil do que a outra, formando uma unidade com a alma da sensação, enquanto a parte mais densa forma uma espécie de unidade com o corpo físico.
Todavia, como já foi dito, a alma da sensação ultrapassa o corpo anímico.
O que aqui é denominado sensação é somente uma parte do ser anímico.
(O termo ‘alma da sensação’ foi escolhido a bem da simplicidade.)
Às sensações se juntam os sentimentos de prazer e desprazer, os impulsos, os instintos, as paixões.
Tudo isso traz o mesmo caráter de vida própria que as sensações, e depende, como elas, do corpo físico.
*** Tal qual com o corpo, a alma da sensação entra em interação também com o pensar, com o espírito.
Antes de tudo, ela é servida pelo pensar.
O homem elabora pensamentos sobre suas sensações, esclarecendo-se com isso sobre o mundo exterior.
A criança que se queimou reflete e chega ao seguinte pensamento: “Fogo queima.”
Tampouco aos seus impulsos, instintos e paixões o homem obedece de modo cego; sua reflexão proporciona a oportunidade para que ele possa satisfazê-los.
O que se denomina civilização material encaminha-se inteiramente nessa direção, consistindo nos serviços que o pensamento presta à alma da sensação.
Incomensuráveis quantidades de energias mentais são direcionadas para essa meta.
É a energia mental que tem construído navios, ferrovias, telégrafos, telefones; e tudo isso serve, em sua maior parte, à satisfação das necessidades das almas da sensação.
E similarmente ao modo como a força vital plasmadora impregna o corpo físico que a força pensante impregna a alma da sensação.
A força vital plasmadora liga o corpo físico a ascendentes e descendentes, situando-o assim num conjunto de leis que em nada concernem à simples mineralidade.
Da mesma maneira, a força pensante insere a alma num conjunto de leis ao qual ela, como simples alma da sensação, não pertence.
Por intermédio da alma da sensação, o homem é afim com os animais.
Também entre os animais observamos a existência de sensações, impulsos, instintos e paixões.
Porém o animal os segue imediatamente; aqui eles não estão entremeados porpensamentos autônomos, que ultrapassem a experiência imediata.
Na pessoa inculta esse também é, até certo ponto, o caso.
A simples alma da sensação é, portanto, diversa do membro anímico desenvolvido e superior que coloca o pensar a seu serviço.
Denomine-se alma do intelecto essa alma servida pelo pensar.
Poder-se-ia chamá-la também de alma da índole ou [simplesmente] índole.
A alma do intelecto permeia a alma da sensação.
Quem possui o órgão para ‘ver’ a alma observa a alma do intelecto como uma entidade especial diante da simples alma da sensação.
*** Pelo pensar o homem é alçado acima de sua vida própria, adquirindo algo que transcende sua alma.
Para ele, é evidente a convicção de que as leis do pensamento estão em sintonia com a ordem universal.
Pelo fato de essa sintonia existir, ele se considera cidadão do Universo.
Essa sintonia é um dos importantes fatos que propiciam ao homem o conhecimento de sua própria natureza.
Em sua alma, o homem busca a verdade; e por meio desta verdade exprimem-se não somente a alma, mas também as coisas do mundo.
O que é reconhecido como verdade pelo pensar possui um significado independente, relativo às coisas deste mundo, e não somente à própria alma.
A alegria que experimento ao contemplar o céu estrelado é algo subjetivo; mas os pensamentos que formo sobre as órbitas dos corpos celestes têm, para o pensar de qualquer outra pessoa, o mesmo significado que para mim.
Seria absurdo falar de minha alegria se eu próprio não existisse; mas não seria igualmente absurdo falar de meus pensamentos sem referência a mim — pois a verdade que eu hoje penso era tão verdadeira ontem quanto o será amanhã, embora somente hoje eu me ocupe dela.
Se um conhecimento me proporciona alegria, esta só tem significação enquanto vive em mim; a verdade do conhecimento tem seu significado totalmente independente dessa alegria.
Ao captar a verdade, a alma se liga a algo que tem seu valor intrínseco — e esse valor não desaparece com a sensação da alma, nem tampouco teve origem nela.
O que realmente é verdade não nasce nem perece; tem um significado que não pode ser destruído.
Isso não contradiz o fato de algumas ‘verdades’ humanas terem um valor transitório, por serem reconhecidas em apenas certo momento, como erros parciais ou totais.
Ora, o homem deve reconhecer que a verdade, afinal, consiste em si mesma, embora seus pensamentos sejam apenas formas perecíveis de manifestação das verdades eternas.
Quem — como Lessing — diz satisfazer-se com a eterna busca da verdade, já que a verdade plena e pura só poderia existir para um deus, tampouco nega o valor eterno da verdade, e sim o confirma com tal declaração pois só o que traz em si um significado eterno pode provocar uma aspiracão eterna em sua direcão.
Se a verdade não fosse autônoma por si, se recebesse seu valor e seu significado mediante a sensibilidade da alma humana, então não poderia constituir meta única para todos os homens.
Querendo aspirar à verdade, o homem lhe reconhece a natureza autônoma.
E o mesmo que sucede com o verdadeiro sucede também com o verdadeiramente bom.
O moralmente bom independe de inclinações e paixões na medida em que não se deixa dominar por elas, e sim as domina.
Agrado ou desagrado, desejo ou repulsa pertencem à alma individual do homem; o dever está acima de agrado e desagrado; pode situar-se tão alto para o homem que este sacrifique a vida por ele.
E o homem situa-se tanto mais alto quanto mais haja enobrecido suas inclinações, seu agrado e desagrado, a ponto de cumprir, espontaneamente, sem constrangimento e sem submissão, o que reconhece como seu dever.
O moralmente bom, tal como a verdade, traz inerente seu valor eterno, e não o recebe por meio da alma da sensação.
Fazendo reviver em seu próprio íntimo o que por si é verdadeiro e bom, o homem se eleva acima da mera alma da sensação.
O espírito eterno penetra-a com seu esplendor, e nela se acende uma luz que é imperecível.
Na medida em que vive nesta luz, a alma participa de algo eterno, ligando a este sua própria existência.
O que a alma traz em si de verdadeiro e bom é imortal nela.
O que refulge dentro da alma como algo eterno será denominado aqui alma da consciência.
De consciência também se pode falar ao referir os impulsos inferiores da alma.
A mais corriqueira sensação é objeto da consciência.
Nessa medida, a consciência também compete aos animais.
O cerne da consciência humana — portanto, a alma dentro da alma — é sub entendido aqui como alma da consciência.
A alma da consciência é diferenciada aqui da alma do intelecto como mais um membro anímico autônomo.
Esta última está ainda entrosada nas sensações, nos impulsos, afetos e assim por diante.
Toda pessoa sabe o quanto, para ela, inicialmente vale como verdadeiro aquilo tem preferência em suas emoções, etc.; contudo, só é permanente aquela verdade que se desprendeu de todo e qualquer resquício de tais simpatias e antipatias das emoções e assim por diante.
A verdade é verdadeira mesmo quando todos os sentimentos pessoais se levantam contra ela.
A parte da alma onde vive esta verdade deve ser denominada alma da consciência.
Tal como no corpo, caberia, portanto, distinguir na alma três componentes:
a alma da sensação,
a alma do intelecto e
a alma da consciência;
e assim como, de baixo para cima, a corporalidade exerce sobre a alma uma açãol imitante , a espiritualidade atua de cima para baixo exercendo sobre ela uma ação ampliadora; pois quanto mais a alma se preenche de verdade e bondade, tanto mais o eterno se torna, nela, amplo e abrangente.
Para quem consegue ‘enxergar’ a alma, o esplendor que emana do homem devido ao crescimento de sua parte eterna é tão real quanto o é, para os olhos, a luz que irradia de uma chama.
Para o ‘vidente’, o homem corpóreo é somente uma parte do homem total.
O corpo é a mais densa configuração em meio a outras, que o permeiam e se interpenetram mutuamente.
Como uma forma vital, o corpo físico preenche o corpo astral; ultrapassando este último em todas as direções, reconhece-se o corpo anímico (figura astral); e por sua vez, ultrapassando este último, a alma da sensação e depois a alma do intelecto, que se torna tanto maior quanto mais tenha assimilado de verdade e bondade.
É que essa parcela de verdade e bondade ocasiona a ampliação da alma do intelecto.
Uma pessoa que vivesse meramente para atender às suas inclinações, seus agrados e desagrados, teria uma alma do intelecto cujos limites coincidiriam com os de sua alma da sensação.
Essa figura em meio à qual o corpo fisico aparece como que numa nuvem - pode ser designada como aura humana.
É em função dela que a ‘essência do homem’ se enriquece ao ser observada conforme procuramos descrever neste livro.
Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781). (N.T.)
*** No decorrer da evolução infantil, surge na vida do homem o momento em que pela primeira vez ele se sente um ser autônomo perante todo o resto do mundo.
Para pessoas sensíveis, esta é uma vivência significativa.
O poeta Jean Paul relata, em sua autobiografia:
Jamais esqueço o fenômeno ocorrido comigo - e ainda não relatado a ninguém - no momento em que assisti ao nascimento de minha autoconsciência, e até sei precisar a data e o lugar.
Certa manhã, em minha tenra infância, eu me encontrava sob a porta fronteira de minha casa e olhava para um monte de lenha à esquerda quando, repentinamente a visão interior “eu sou um eu” me golpeou como um relâmpago dos céus e desde então permaneceu indelevelmente impressa: meu eu havia visto a si mesmo pela primeira vez e para sempre.
Dificilmente se pensaria aqui em ilusões da memória, pois nenhum relato estranho poderia mesclar-se a um evento ocorrido simplesmente no mais sagrado recôndito do homem, evento que só por sua novidade pudesse ficar na memória, com todos os detalhes secundários das circunstâncias do momento.
É sabido que as crianças pequenas dizem de si mesmas “Carlos é bonzinho”, “Maria quer isto”.
Acha-se natural que elas falem de si tal qual falam de outros, pois ainda não se tornaram conscientes de sua entidade autônoma, ainda não nasceu nelas a autoconsciência.
Pela autoconsciência o homem se designa como um ser autônomo, separado de tudo o mais, como “eu”.
No ‘eu’ o homem concentra tudo o que ele vivencia como entidade corpórea e anímica.
Corpo e alma são portadores do eu; é neles que o eu atua.
Assim como o corpo físico tem seu centro no cérebro, a alma tem seu ponto central no eu.
Para as sensações, o homem é estimulado de fora; os sentimentos se fazem valer como efeitos do mundo exterior; a vontade relaciona-se com o mundo de fora, pois se realiza em ações exteriores.
O eu, como a genuína entidade do homem, permanece totalmente invisível.
É por isso que Jean Paul, bem a propósito, denomina a conscientização do eu como “um evento ocorrido simplesmente no mais sagrado recôndito do homem”, pois com seu eu o homem está completamente só.
Esse eu é o próprio homem.
Isto lhe dá direito a considerar esse eu como sua verdadeira entidade.
Portanto, ele pode chamar seu corpo e sua alma de ‘invólucros’ dentro dos quais vive, podendo designá-los como condições corpóreas para seu agir.
No decorrer de seu desenvolvimento, ele aprende cada vez mais a utilizar esses instrumentos como servidores do seu eu.
A palavrinha ‘eu’, como, por exemplo, é empregada na língua alemã [Ich], é um nome que se distingue de todos os demais.
Quem reflete adequadamente sobre a natureza desse nome tem, com isso, acesso ao conhecimento da entidade humana num sentido mais profundo.
Todas as pessoas podem aplicar, de maneira igual, cada nome ao objeto correspondente.
Cada uma pode chamar a mesa de ‘mesa’, a cadeira de ‘cadeira’.
O mesmo já não ocorre com o nome ‘eu’.
Ninguém pode utilizá-lo para designar outra pessoa; cada um só pode chamar a si mesmo de ‘eu’.
Nunca a palavra ‘eu’ pode chegar de fora ao meu ouvido quando esta designação se refere a mim.
Só de dentro para fora, por si própria, a alma pode denominar-se ‘eu’.
Portanto, quando o homem diz ‘eu’ referindo-se a si, começa a falar dentro dele algo que nada tem a ver com nenhum dos mundos dos quais procedem os ‘invólucros’ mencionados até agora.
O eu torna-se cada vez mais senhor do corpo e da alma.
Também isso se expressa na aura.
Quanto mais o eu é senhor de seu corpo e de sua alma, tanto mais complexa, multifária, multicolorida é a aura.
O efeito do eu sobre a aura pode ser observado pelo ‘vidente’.
O eu propriamente dito também é invisível para ele, pois está realmente no “no mais sagrado recôndito do homem”.
Porém o eu absorve os raios da luz que refulge no homem como luz eterna.
Assim como este concentra no eu as vivências do corpo e da alma, ele também faz afluir para o eu os pensamentos de verdade e bondade.
Por um lado manifestam-se ao eu os fenômenos sensoriais, e, por outro, o espírito.
O corpo e a alma se entregam ao eu para servi-lo; o eu, porém, entrega-se ao espírito para que este o preencha.
O eu vive no corpo e na alma, mas o espírito vive no eu; e o que de espírito existe no eu é algo eterno pois o eu recebe essência e valor daquilo a que está ligado.
Enquanto vive no corpo físico, ele está sujeito às leis minerais; por meio do corpo etérico, às leis da reprodução e do crescimento; por meio das almas da sensação e do intelecto, às leis do mundo anímico; e na medida em que acolhe o espiritual, subordina-se às leis do espírito.
Jean Paul é pseudônimo do escritor alemão Johann Friedrich Richter (1763—1825). A experiência a seguir foi descrita pela primeira vez em Wahreit aus Jean Pauls Leben. Kindheitsgescchicht von ihm selbst geschrieben [3 cadernos em 2 volumes] (Breslau, 1826—1828), cad. 1, p. 53) (N.E. orig.)
O que é plasmado pelas leis minerais, pelas leis vitais, nasce e perece; o espírito, porém, nada tem a ver com nascimento e perecimento.
*** O eu vive na alma.
Embora a mais elevada manifestação do eu pertença à alma da consciência, ainda assim se deve dizer que esse eu, irradiando de lá, inunda a alma inteira e, por meio dela, exterioriza seu efeito sobre o corpo; e é no eu que o espírito é vivo e atuante.
O espírito irradia para dentro do eu fazendo dele seu ‘envoltório’, do mesmo modo como o eu vive no corpo e na alma tendo-os como seus ‘envoltórios’.
O espírito forma o eu de dentro para fora e o mundo mineral de fora para dentro.
Denomine-se ‘identidade espiritual’ o espírito que forma um eu e vive como tal, porque ele se manifesta como ‘eu’ ou self do homem.
A diferença entre a ‘identidade espiritual’ e a ‘alma da consciência’ pode ser definida do seguinte modo: a alma da consciência toca a verdade, existente por si mesma e independente de qualquer antipatia e simpatia; a identidade espiritual contém em si a mesma verdade, porém assimilada e encerrada pelo eu individualizada por ele e acolhida na entidade autônoma do homem.
É pelo fato de a verdade se individualizar assim e vincular-se ao eu, formando uma entidade única, que o próprio eu alcança a eternidade.
A identidade espiritual é uma revelação do mundo espiritual no interior do eu, da mesma forma como dentro dele a impressão sensorial é uma manifestação do mundo físico.
No que é vermelho, verde, claro, escuro, duro, mole, quente ou frio, reconhecem-se as manifestações do mundo corpóreo; no que é verdadeiro e bom, as manifestações do mundo espiritual.
No mesmo sentido em que a manifestação do mundo corpóreo é chamada de sensação, seja a manifestação do mundo espiritual denominada intuição.
O mais simples pensamento já contém intuição, pois não se pode apalpá-lo com as mãos nem vê-lo com os olhos: é preciso receber sua revelação vinda do espírito, através do eu.
Quando um homem pouco evoluído e outro evoluído contemplam uma planta, o que se passa no eu de um é totalmente diverso do que se passa no eu do outro, embora as sensações de ambos sejam despertadas pelo mesmo objeto.
A diferença reside no fato de um poder formar pensamentos muito mais perfeitos do objeto do que o outro.
Se os objetos só se manifestassem pela sensação, não poderia haver progresso algum na evolução espiritual.
Um selvagem também é sensível à natureza; porém as leis da natureza só se descortinam aos pensamentos fecundados pela intuição, próprios do homem superiormente [espiritualmente] evoluído.
A criança também sente os estímulos do mundo exterior como impulsos da vontade, mas os imperativos do que é moralmente bom só lhe ficam patentes no decorrer de seu desenvolvimento, à medida que ela aprende a viver no espírito e a compreender sua revelação.
Assim como sem olhos não haveria sensações de cores, sem o pensamento superior da identidade espiritual não haveria intuições; e do mesmo modo como a sensação não cria a planta em que se manifesta a cor, tampouco a intuição cria o espiritual: o que ela faz é, muito mais, anunciá-lo.
Pelas intuições, o eu do homem que desponta na alma capta as mensagens do alto, do mundo espiritual, do mesmo modo como, por meio das sensações, recebe as mensagens do mundo físico.
Com isso integra o mundo espiritual na vida própria de sua alma do mesmo modo como, por meio dos sentidos, integra o mundo físico.
A alma, ou o eu que nela refulge, abre suas portas para dois lados: para o lado do corpóreo e para o do espiritual.
Ora, assim como o mundo físico só pode anunciar-se ao eu por construir, com suas próprias substâncias e forças, um corpo em que a alma consciente possa viver e dentro do qual ela possua seus órgãos para a percepção do mundo físico exterior, assim também o mundo espiritual constrói, com suas forças e substâncias espirituais, um corpo espiritual em que o eu possa viver e perceber o mundo espiritual por meio de intuições.
(É evidente que os termos substância espiritual e corpo espiritual, tomados literalmente, contêm uma contradição. Eles só devem ser utilizados para evocar no pensamento o que no mundo espiritual corresponde ao corpo físico.)
Da mesma maneira como dentro do mundo físico os corpos humanos individuais são formados como entidades distintas, assim o são dentro do mundo espiritual os corpos espirituais.
Também ali, tal qual no mundo físico, existe para o homem um ‘fora’ e um ‘dentro’.
Do mesmo modo como assimila as substâncias do ambiente físico e as elabora em seu corpo físico, o homem absorve o elemento espiritual no ambiente espiritual e o transforma em seu próprio.
Al. Geistselbst, usualmente traduzido também, em textos antroposóficos, como ‘personalidade espiritual’. (N.T.)
O espiritual é o alimento eterno do homem; e do mesmo modo como nasceu do mundo físico, o homem nasce igualmente do espírito por meio das eternas leis do verdadeiro e do bom.
Ele se acha separado do mundo espiritual circundante tal qual, como ser autônomo, está separado de todo o mundo físico.
Chamemos esta identidade espiritual independente de ‘homem-espírito’.
Examinando o corpo físico do homem, encontraremos nele as mesmas substâncias e forças que existem fora dele no restante do mundo físico.
O mesmo se dá com o homem-espírito.
Os elementos do mundo espiritual circundante pulsam dentro dele, e em seu interior atuam as forças do mundo espiritual restante.
Tal como na derme física se acha encerrado um ser vivo e sensível, assim também ocorre no mundo espiritual.
Chamemos a derme espiritual que separa o homem-espírito do mundo espiritual unitário - tornando-o, lá dentro, um ser autônomo que vive por si e intuitivamente percebe o conteúdo espiritual do mundo — de envoltório espiritual (envoltório áurico); mas é preciso fixar na mente que essa ‘derme espiritual’ se expande continuamente com o progressivo desenvolvimento do homem, de modo que a individualidade espiritual do homem (seu envoltório áurico) é capaz de um crescimento ilimitado.
Dentro desse envoltório espiritual vive o homem-espírito.
Este é construído pela força vital espiritual no mesmo sentido em que o é o corpo físico pela força vital física.
Do mesmo modo como se fala de um corpo etérico, deve-se, pois, falar de um espírito etérico com relação ao homem espiritual.
Chamemos esse espírito etérico de espírito vital.
A entidade espiritual do homem consiste, pois, em três partes: homem-espírito, espírito vital e identidade espiritual.
Para o ‘vidente’ nas esferas espirituais, essa entidade espiritual do homem, com o parte superior — genuinamente espiritual — da aura, é uma realidade perceptível.
Ele ‘vê’, dentro do envoltório espiritual, o homem-espírito como espírito vital; e ‘vê’ também como esse espírito vital vai crescendo à medida que absorve o alimento espiritual do mundo espiritual circundante.
Além disso vê como, por meio dessa assimilação, o envoltório espiritual se expande continuamente — como o homem-espírito vai-se tornando cada vez maior.
A visão espacial desse ‘crescimento’ constitui, naturalmente, apenas uma imagem da realidade.
Não obstante, a alma, ao ter a representação dessa imagem, direciona-se para a realidade espiritual correspondente.
A diferença existente no homem entre a entidade espiritual e a física é que esta última possui um tamanho limitado, ao passo que a primeira pode crescer ilimitadamente.
O que é assimilado como alimento espiritual possui, na verdade, valor eterno.
Portanto, a aura humana se compõe de duas partes que se interpenetram; uma delas recebe sua cor e sua forma da existência humana física e a outra da vida espiritual do homem.
O eu marca a separação entre ambas, porque o físico tem a característica deentregar-se e construir um corpo capaz de fazer despontar em si um na alma; o eu, por sua vez, entrega-se fazendo surgir em si o espírito, que de seu lado permeia a alma e lhe indica a meta no mundo espiritual.
Por meio do corpo, a alma encontra-se confinada no mundo físico; por meio do homem- espírito, crescem-lhe asas para a movimentaçao no mundo espiritual.
*** Querendo-se compreender o homem inteiro, deve-se concebê-lo integrado pelas partes mencionadas.
O corpo se constrói utilizando substâncias do mundo físico, de modo que esta construção fica subordinada ao eu pensante.
Ele é permeado por força vital, transformando-se assim em corpo etérico ou vital.
Como tal, abre-se para o mundo exterior nos órgãos sensíveis e transforma-se em corpo anímico.
Este é permeado pela alma da sensação, que passa a formar uma unidade com ele.
A alma da sensação não se limita a receber, sob forma de sensações, as impressões do mundo exterior; ela tem sua própria vida, que é fecundada pelo pensamento tanto quanto pelas sensações, transformando-se assim em alma do intelecto.
Ela é capaz disso porque ‘se abre tanto para cima, às intuições, quanto para baixo, às sensações — sendo, assim, alma da consciência.
Isso é possível porque o mundo espiritual esculpe nela o órgão da intuição, tal como o corpo físico lhe forma os órgãos dos sentidos.
O espírito transmite as intuições pelo órgão intuitivo tal qual os sentidos transmitem as sensações pelo corpo anímico.
Assim sendo, o homem-espírito encontra-se unido à alma da consciência do mesmo modo como o corpo físico se acha ligado à alma da sensação no corpo anímico.
Alma da consciência e identidade espiritual formam uma unidade.
E nesta unidade que vive o homem-espírito como espírito vital, da mesma forma como o corpo etérico constitui, para o corpo anímico, a base vital corpórea.
E assim como o corpo físico é confinado na derme física, o homem-espírito o é no envoltório espiritual.
A constituição do homem completo resulta, pois, no seguinte:
A. Corpo físico
B. Corpo etérico ou vital
C. Corpo anímico
D. Alma da sensação
E. Alma do intelecto
F. Alma da consciência
G. Identidade espiritual
H. Espírito vital
I. Homem-espírito
Corpo anímico (C) e alma da sensação (D) constituem uma unidade no homem terreno; do mesmo modo, a alma da consciência (F) e a identidade espiritual (G). —
Com isto resultam, pois, sete partes no homem terreno:
1. O corpo físico
2. O corpo etérico ou vital
3. O corpo anímico-sensitivo
4. A alma do intelecto
5. A alma da consciência plenamente espiritualizada
6. O espírito vital
7. O homem-espírito
É na alma que o eu lampeja, recebendo o impacto do espírito e tornando-se, portanto, veículo do homem-espírito.
Com isso o homem participa dos ‘três mundos’ (físico, anímico e espiritual).
Ele se acha arraigado no mundo físico pelos corpos físico, etérico e anímico, desabrochando no mundo espiritual com a identidade espiritual, o espírito vital e o homem-espírito.
Porém o tronco, que por um lado se arraiga e por outro floresce, é a própria alma.
É possível, em coerente harmonia com esta constituição do homem, apresentá-la também numa forma mais simples.
Embora o eu do homem resplandeça na alma da consciência, nem por isso ele deixa de impregnar todo o ser anímico.
As partes desse ser anímico não são nitidamente separadas, como os membros corpóreos; elas se interpenetram num sentido mais elevado.
Compreendendo-se as almas do intelecto e da consciência como dois envoltórios interdependentes do eu, e este como cerne delas, o homem pode ser articulado em:
corpo físico,
corpo vital,
corpo astral e
o eu.
Com a expressão ‘corpo astral’ fica indicado o conjunto representado pelo corpo anímico e a alma da sensação.
O termo é encontrado já na literatura mais antiga, sendo aqui aplicado à parte do ser humano que transcende a natureza acessível aos sentidos.
Embora a alma da sensação seja, de certo modo, fortalecida pelo eu, ela se acha em tal relação com o corpo anímico que para ambos, tomados em conjunto, bem se justifica um termo único.
Ora, quando o eu se faz permear pela identidade espiritual, esta se manifesta de modo que o corpo astral seja transformado a partir do campo anímico.
No corpo astral atuam inicialmente, na medida em que são experimentados, os instintos, cobiças e paixões do homem; aí atuam também as percepções sensórias.
Estas surgem por intermédio do corpo anímico como uma parcela do homem advinda do mundo exterior.
Os instintos, cobiças, paixões, etc. nascem na alma da sensação na medida em que esta é revigorada por seu interior antes que esse interior se haja entregue à identidade espiritual.
Se o eu se faz permear pela identidade espiritual, a alma, por sua vez, fortalece o corpo astral com essa identidade espiritual.
Isso se expressa no fato de os instintos, cobiças e paixões serem ‘transiluminados’ pelo que o eu recebeu do espírito.
Em virtude de sua participação no mundo espiritual, o eu torna-se, portanto, senhor do mundo dos instintos, cobiças, paixões, etc.
A medida que isso ocorre, a identidade espiritual vai despontando no corpo astral; e este, por sua vez, é transformado por esse processo.
O próprio corpo astral aparece, então, como uma entidade dupla, em parte não-transformada e em parte transformada.
Assim, pode-se designar a identidade espiritual, tal qual se manifesta no homem, como sendo o corpo astral transformado.
Algo semelhante se processa no homem quando este acolhe no próprio eu o espírito vital.
Então o corpo vital se transforma, sendo permeado pelo espírito vital.
Este se manifesta de modo que o corpo vital passe a ser outro.
Daí se poder dizer também que o espírito vital é o corpo vital transformado.
E o eu, ao absorver o homem-espírito, recebe com isso a poderosa força para permear com ele o corpo físico.
É natural que a porção do corpo físico que esteja assim transformada não possa ser percebida com os sentidos físicos.
É justamente essa porção espiritualizada que, no corpo físico, se tornou homem-espírito.
Agora ela existe, para a percepção sensorial, como algo sensório; e na medida em que esteja espiritualizado, esse algo deve ser percebido por faculdades cognitivas espirituais.
Aos sentidos externos, também a parte física impregnada pelo espiritual só se manifesta sensorialmente.
Com base em tudo isso, pode-se também apresentar a seguinte composição do homem:
1. Corpo físico
2. Corpo vital
3. Corpo astral
4. Eu, como cerne da alma
5. Identidade espiritual, como corpo astral transformado
6. Espírito vital, como corpo vital transformado
7. Homem-espírito, como corpo físico transformado.
Fonte:
Teosofia
Rudolf Steiner
Tradução:
Daniel Brilhante de Brito
Jacira Cardoso
scribd
Fonte da Imagem:
Human Nature by cyKoe
Assinar:
Postagens (Atom)