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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012
sábado, 24 de dezembro de 2011
Meditação de Natal: As 12 Noites Santas (Antroposofia): Preparação para os 12 Meses do Ano Novo
É o assim denominado período que vai do Natal (25 de Dezembro) até a noite anterior (5 de Janeiro) ao dia dos Reis (6 de Janeiro) quando, segundo a antiga tradição cristã, bênçãos divinas se derramam sobre nós através dos portais das 12 Constelações do Zodíaco, o Cinturão de Estrelas em volta do espaço sideral no qual existimos.
As 12 badaladas da meia noite do Natal anunciam a vigília que é um preparo espiritual como se as Noites Santas fossem uma prévia dos 12 meses do ano que se inicia.
As virtudes recebidas das hierarquias espirituais nesta época através da meditação injetam suas forças no nosso desenvolvimento espiritual ao longo do novo ano.
Uma atenção especial deveria ser dada aos sonhos como mensageiros do espírito.
A tradição das 12 Noites Santas e o Zodíaco
Podemos associar esta tradição à sabedoria antiga do Oriente através do relato da Jornada dos Reis Magos do Evangelho de Mateus (2.2 a 10).
Na noite em que nasceu o Salvador uma estrela se iluminou e este era o sinal há muito esperado pelos Iniciados do Oriente que durante 12 noites seguintes seguiram o brilho da estrela que os precedia até alcançar a criança que havia sido anunciada como o Messias.
O relato do Evangelho de Mateus nos remete para os mistérios espirituais da antiguidade etapa do desenvolvimento da humanidade da época do assentamento na região do Mediterrâneo quando aqueles que eram iniciados desenvolviam a visão clarividente através da qual o que hoje é considerado pela astronomia como corpos siderais eram vistos por eles como a manifestação de seres espirituais em atividade constante e transmutação contínua.
A este antigo estado de consciência clarividente está associado o surgimento da astrologia, esta sabedoria baseada na analogia do movimento e posição dos astros com o destino humano.
Ao fazermos a vigília das Noites Santas podemos retomar a jornada dos Reis Magos através da ligação interior com este sabedoria a respeito das 12 Constelações do Zodíaco.
Quem são os Seres que vamos encontrar na jornada das 12 Noites Santas?
Rudolf Steiner refere-se às hierarquias espirituais em muitas de suas palestras. Inicialmente ele lhes dedica um capítulo na Ciência Oculta (1905) descrevendo a atuação delas na evolução do universo e do ser humano.
As nove hierarquias espirituais podem ser contempladas como esculturas no portão sul da Catedral de Chartres desde o século XIII. Chartres foi a mais importante catedral gótica da idade média e neste portão chamado de Portão da Transubstanciação as hierarquias formam uma escada ascendente que representa o ensino espiritual da Escola de Chartres. O aluno deveria de degrau em degrau (gradualmente) adquirir consciência destes seres espirituais que representavam diferentes estados de consciência. Neste aprendizado o pensamento era considerado um instrumento necessário para a percepção do espiritual desde que fosse casado com a vivência dos sentimentos e assim tornavam-se ambos, pensar e sentir, órgãos de compreensão e de participação no mundo espiritual.
Os nomes das hierarquias se originaram de um manuscrito de Dionísio, o Aeropagita que fundou a primeira escola esotérica cristã da antiguidade. Dionísio um iniciado dos antigos centros de mistérios gregos renomeou os seres divinos que era chamados na antiguidade como os seres de Vênus, os seres de Mercúrio,etc. a partir da revelação do Cristo feita a ele por Paulo de Damasco em Atenas.
O manuscrito sobreviveu ao longo de séculos até ir parar em Chartres e é intitulado Os Nomes divinos e a Teologia Mística descrevendo dramaticamente os nove níveis de seres divinos associados em grupos de três hierarquias que participaram da evolução da terra e do ser humano.
A primeira hieraquia inclui os Serafins, Querubins e Tronos que iniciaram a evolução estando tanto no seu início como no seu fim – no Alfa e no Omega,
Eles atuam a partir do divino, da esfera macrocósmica que é denominada como a esfera do Pai, de Deus, de Alá, do amor divino, da doação cósmica. Eles são seres de um estado evolutivo anterior ao nosso, tão avançados em sua evolução que foram capazes de fazer fluir de si a sua própria substância dando nascimento ao atual estado do nosso sistema solar.
A segunda hierarquia é formada pelos Kyriotetes, Dynamis e os Exusiai. Enquanto no processo de configuração do nosso Cosmos a primeira hierarquia atuou de fora eles de dentro do processo acolheram os planos divinos transformando-os em sabedoria, dando-lhe movimento e forma.
E por último a terceira hierarquia os Arqueus, Arcanjos e Anjos próximos ao seu humano porque desenvolveram a sua essência nesta etapa evolutiva em que nós Anthropos nos encontramos e na qual estamos destinados a nos tornamos co-criadores da evolução.
Primeira hierarquia
Serafins Kyriotetes Arqueus
Segunda hierarquia
Querubins Dynamis Arcanjos
Terceira hierarquia
Tronos Exusiai Anjos
Já nos últimos anos de sua vida em uma palestra intitulada a Palavra Cósmica e o Homem Individual (2/05/1923) Rudolf Steiner chama a atenção para o fato de que o homem auto consciente deveria re-aprender a vivenciar as hierarquias na sua vida interna como realidades.
Nesta palestra ele diz que estes seres espirituais vem ao nosso encontro quando nos preparamos para conhecê-los e falarão a nossa alma primeiramente como pensamentos e sentimentos e só então o perceberemos como realidades
Em um texto intitulado O Zodíaco e as Hierarquias Espirituais, Sergej Prokoffiev atualmente um dos dirigentes mundiais da Antroposofia, inspirado por diversas palestras de Rudolf Steiner descreve o ensino espiritual de Chartres nesta tradição da vigília das 12 noites santas.
Ele delinea a escada de expansão da consciência que ajuda a dar nascimento no último degrau ao ser divino em cada um de nós.
O primeiro degrau da escada se assenta na esfera humana terrena e cada degrau no leva gradualmente à esfera macrocósmica à esfera divina.
Prokoffiev faz uma analogia entre este caminho de transformação e o processo de desenvolvimento descrito por Rudolf Steiner como o caminho de Jesus a Cristo.
Jesus nasce como a criança arquetípica destinada a se desenvolver como um ser humano de tal forma que possa acolher em si o Eu do Cosmo no Batismo do Jordão. Este acontecimento místico derramará sua influência por sobre toda a história humanidade como um grande arquétipo de desenvolvimento espiritual.
PRIMEIRA NOITE SANTA (Dia 25 de Dezembro)
Soam as 12 badaladas da meia noite anunciando o Natal. Vem a aurora, atravessamos o dia, cai a noite e uma luz se acende no céu irradiando um brilho que emana da Constelação de Peixes e ilumina a primeira vigília santa.
Estamos no primeiro degrau da escada que está assentada na esfera humana terrena na dimensão da existência do anthropos – o ser da liberdade.
A liberdade é uma das duas principais forças espirituais que nos foram destinadas conquistar ao longo da vida. A outra força será ao final da escada, o amor.
A sabedoria antiga nos conta que foram as forças espirituais de Peixes que configuraram os pés humanos. Quando observamos os pés verificamos que eles são formados em forma de uma abóboda que vai propiciar simultaneamente com a verticalização da coluna o andar ereto, primeiro grande aprendizado da vida. Quando criança nos arrastamos, engatinhamos e finalmente nos erguemos e nos apoiamos nos próprios pés superando as forças da gravidade significando isto uma grande conquista e a condição para o desenvolvimento do pensamento, sendo o pensar o que diferencia o Humano dos outros reinos da natureza.
Ao longo da vida seguidamente fazemos uma analogia íntima com este fato: “andar nos meus próprios pés, saber por onde ando,”, seguir os meus próprios passos,” “não vou andar nos passos de ninguém” são expressões que expressam uma correta relação com a terra e com o destino em termos de liberdade pessoal.
Nesta primeira Noite Santa recebemos da constelação de Peixes os impulsos para se firmar nos próprios pés e se erguer, condições básicas para alcançar a liberdade individual, meta ao qual nos destinamos como seres individualizados.
SEGUNDA NOITE SANTA (Dia 26 de Dezembro)
Nasce o Sol, atravessamos o segundo dia, cai a noite e uma nova luz brilha no céu irradiando da Constelação de Aquário o segundo degrau desta escada espiritual. Deste portal emanam para nós as forças espirituais dos Anjos.
Os anjos são representados pela figura de um ser que derrama a água, o símbolo da vida e assim eles também são chamados de “Filhos da Vida”.
Eles são os seres espirituais imediatamente superior a nós mantendo conosco uma relação próxima. O encontramos logo cedo no nascimento quando “parecemos anjos” nosso corpo vital ainda muito latente, cheio de vida.
Na infância ele é chamado de “Anjo da Guarda” e é sempre representado em todas as culturas protegendo a criança dos perigos sendo o seu guia e como guia ele permanece ao longo de toda a nossa vida.
“Pergunte ao seu anjo da guarda” frequentemente escutamos quando estamos em dúvida em relação ao caminho a seguir, a que decisão tomar.
Na vida adulta ele se transforma em nosso Guia Espiritual, nosso verdadeiro Self . “Assim deverás ser” nos fala no íntimo transmutando contínuamente forças vitais em forças de consciência fazendo surgir nos pensamentos as imagens orientadoras para a nossa vida.
Nesta segunda Noite Santa recebemos através do Portal da Constelação de Aquário os impulsos dos Anjos para que possamos enxergar e permanecer fieis aos nossos ideais. Os nossos ideais iluminam e protegem o nosso caminho e apontam para onde devemos seguir.
TERCEIRA NOITE SANTA (Dia 27 de Dezembro)
Atravessamos mais um dia, cai a noite e uma nova luz brilha no céu irradiando da Constelação de Capricórnio o terceiro degrau nesta escada espiritual e deste portal emanam para nós as forças espirituais dos Arcanjos. Os Arcanjos são denominados de seres da luz. Rudolf Steiner os descreve na Ciência Oculta como aqueles seres que durante a evolução acordaram ao enxergar o seu próprio reflexo no exterior. Quando eles doaram sua própria essência esta sua essência era a própria luz que irradiou para os quatro cantos do universo. A luz dos arcanjos é representada hoje em nós pela nossa inteligência que irradia para o meio ambiente e torna consciente para nós mesmos e para o mundo a nossa própria existência.
Os arcanjos se tornaram na evolução guardiões da inteligência cósmica com a missão de proteger o amor divino contido nesta inteligência que criou e transformou tudo em sabedoria para o bem de todos .
Nesta terceira Noite Santa recebemos através do Portal da Constelação de Capricórnio os impulsos dos Arcanjos para o fortalecimento da nossa personalidade através da expansão da luz e autonomia da nossa inteligência
QUARTA NOITE SANTA (Dia 28 de Dezembro)
Atravessamos mais um dia, cai a noite e uma nova luz brilha no céu irradiando da Constelação de Sagitário de onde emanam as forças espirituais dos Arqueus, os Seres da Personalidade. Isto significa que eles não só possuem um Eu como sabem que o possuem e através desta consciência intensificada eles criam uma imagem de si no exterior. Eles projetam no exterior a força de sua luta interna que é a própria luta do centauro, do ser humano emancipado por um lado na sua inteligência mas por outro lado, em luta constante para superar suas forças animalescas, seus instintos selvagens, suas forças egoísticas.
Os arqueus são considerados os Espíritos do Tempo porque esta luta é a própria luta de desenvolvimento humano do nosso tempo abrangendo algo que ultrapassa todas as etnias e se torna uma influência cultural na nossa civilização.
Aqui a tarefa anterior dos Arcanjos que era proteger a sabedoria cósmica das intenções egoístas é ampliada pelos Arqueus estando expressa no desafio da nossa civilização moderna na luta entre o materialismo exarcebado e a preservação dos recursos naturais.
No portal sul da Catedral de Chartres a escultura de Micael preside as 3 hierarquias. Rudolf Steiner constantemente se refere a ele como o Regente desta nossa Época com a missão de dominar o dragão o ser mítico em cuja forma está representado o nosso intelecto onde a sabedoria cósmica foi apropriada através da compreensão das leis, através da ciência natural e precisa ser colocada no mundo de forma mais ampla para o bem de todos. Tanto no aspecto pessoal de construção da personalidade como neste aspecto temporal esta luta representa um cair e levantar constantes.
Nesta quarta Noite Santa recebemos através do Portal do Sagitário os impulsos espirituais dos Arqueus para o fortalecimento da personalidade de forma que tenhamos forças de estabelecer e sustentar impulsos mais abrangentes na nossa vida que nos orientem para o futuro e que contenham metas espirituais para a nossa existência.
QUINTA NOITE SANTA (Dia 29 de Dezembro)
Nasce de novo o sol, atravessamos um novo dia e cai a noite e uma nova estrela brilha no céu irradiando da Constelação de Escorpião através do qual emanam as forças espirituais dos Exusiai os Seres da Forma. Agora atingimos o âmbito da segunda hierarquia. Eles também foram seres de um estado evolutivo anterior tão avançados em sua evolução que podem acolher os planos divinos e torná-los manifestos de forma que haja uma concordância entre a esfera macrocósmica da consciência cósmica e o nosso sistema solar que é uma expressão microcósmica onde a nossa existência humana está inserida, onde a biografia humana transcorre.
Os Exusiai estão envolvidos nos processos de criação de um novo ser, na transformação de uma forma em outra, na metamorfose constante da substância,.
Na Bíblia eles são chamados de Elohins e no corpo humano as forças de Escorpião configuraram os genitais a partir dos quais é possível a procriação ou seja a criação de um novo ser físico.
Estamos no âmbito das forças sexuais que são as forças que oscilam tanto para o egoísmo mais absoluto, aquilo que pode ser caracterizado como o mal porque ao oferecer a possibilidade da maior satisfação imediata podem subjugar o humano ao nível do animalesco. Mas que também trazem uma das maiores possibilidades para a superação do egoísmo e transcendência de forças. Se em Sagitário tínhamos a imagem de um cair e levantar constantes entre o animalesco e o humano aqui temos a imagem de uma luta na nossa vida interior entre a morte e ressurreição. E esta é uma luta que ocorre em âmbito muito individual onde em liberdade oscilamos entre as sombras que obscurecem o nosso ser, os esconderijos onde vive o Escorpião venenoso e as forças de expansão do ser representadas pela águia que se eleva às alturas e de lá contempla o Todo.
O Escorpião é então o signo das forças duplas, tanto destrutivas, retrógadas que mudam constantemente de aparência e invadem a nossa alma caotizando a vida como é também portador de forças construtivas que tem a ver com transmutação constante e contínua superação para que a substância divina, o Espírito possa em nós ser plasmado de novo e sempre. No apocalipse esta característica de forças duplas é apresentada como a espada de dois gumes.
Nesta quinta Noite Santa recebemos através do portal de Escorpião os impulsos espirituais dos Exusiai para aceitar por um lado as nossas fraquezas, e por outro lado recebemos impulsos espirituais para a superação e transformação destas forças.
SEXTA NOITE SANTA (Dia 30 de Dezembro)
Temos o nascer do sol, a passagem de mais um dia e o cair da sexta Noite Santa. Uma nova estrela brilha no céu irradiando da Constelação de Balança o portal através do qual emanam as forças espirituais dos Dynamis os Seres do Movimento. Continuamos no âmbito da segunda hierarquia. Na evolução os Dyamis acordaram ao perceber o que estava ocorrendo em volta deles e atuaram criando um equilíbrio dinâmico, uma correta relação, uma permanente reciprocidade entre as coisas. Estar em desequilíbrio significa estar separado, não está inserido na unicidade de todas as coisas. Suas forças configuraram a bacia que é responsável pelo equilíbrio no manter-se ereto.
Na biografia das nossas vidas estudamos a expressão da Balança por volta dos 28 anos que é o marco de mudanças entre as forças do passado que nos carregaram até aí e as forças do futuro que trazem a possibilidade de uma nova expressão da nossa individualidade através da nossa capacidade de transformar a herança da educação herdada. . Os Dynamis nos oferecem a possibilidade de colocar as influências do passado e as possibilidades do futuro, o dentro e o fora, os processos de fusão e de separação em uma correta relação de reciprocidade, em um equilíbrio dinâmico.
Na sexta Noite Santa através do portal da Balança recebemos dos Dynamis os impulsos espirituais para desenvolver o equilíbrio interior e conseguir conter as forças de dispersão para se ter uma vida coerente e harmoniosa.
SÉTIMA NOITE SANTA (Dia 31 de Dezembro)
De novo temos o nascer do sol que anuncia o novo dia e no final deste o cair da noite. Uma nova estrela brilha no céu emanando luz da Constelação da Virgem o portal do qual emanam as forças dos Kyriotetes os Seres da Sabedoria.
Na evolução eles acordaram ao perceber a existência de outros seres para os quais criaram então o espaço do acolhimento. Estamos ainda no âmbito da segunda hierarquia que acolhem e realizam os planos divinos.
As forças do Signo da Virgem configuraram o ventre que é um aspecto físico do feminino que pode receber e gerar outro ser. A alma, a nossa vida interna também tem esta qualidade do feminino de levar para dentro, de acolher no íntimo e de guardar a nossa essência, o nosso Eu.
A Virgem é a imagem terrestre da Alma cósmica, a Sofia e ela é considerada virgem porque corresponde a um aspecto de nossa alma que permanece intocada pelas necessidades terrestres e pode então acolher e gerar o Espírito individualizado em nós. Isto significa um estado de entrega e doação constantes, de cortesia e polidez.
Na sétima Noite Santa através do portal da Virgem recebemos os impulsos espirituais dos Kyriotetets que são capacidades de criar o espaço para algo novo ser gestado no íntimo e de encontrar forças a partir do seu próprio interior para fazer desabrochar a sua vida.
OITAVA NOITE SANTA (Dia 1 de Janeiro)
Nasce um novo Sol, atravessamos mais um dia e vem o cair da noite. Uma nova estrela brilha no céu emanando luz da Constelação de Leão, o portal do qual emanam as forças dos Tronos os Seres da Vontade .
Alcançamos a primeira hierarquia, de seres espirituais muito evoluídos que manifestam as intenções divinas atuando da esfera macrocósmica para dentro do nosso sistema solar.
Na evolução os Tronos eram seres tão completamente conscientes de si que seu querer era sua própria substância e este querer é tão exaltado que estes seres produziam calor e doaram sua própria substância.
As forças de Leão configuraram o coração humano e os dirigentes da antiguidade e os reis da idade média associavam sua realeza com este signo que era relacionado com a coragem e a prontidão de realizar no exterior o que é determinado a partir de dentro: a voz do coração.
Na oitava Noite Santa, a partir do portal do Leão recebemos os impulsos de entusiasmo e coragem para enfrentar as provas que o destino nos traz.
NONA NOITE SANTA (Dia 2 de Janeiro)
De novo sai o Sol, atravessamos um novo dia e vem o cair da noite. Uma estrela brilha no céu emanando o seu brilho da Constelação de Câncer o portal do qual emanam as forças espirituais dos Querubins os Seres da Harmonia.
Foi a ação dos Querubins no início da evolução que criou o cinturão protetor de estrelas em volta do nosso sistema separando-o da totalidade macrocósmica.
Esta ação está expressa na própria configuração do tórax: as forças de Câncer configuram os doze pares de costela, o invólucro protetor físico do coração, o órgão da vida.
Os Querubins trazem o impulso para que as transições de um ciclo para outro ocorram de forma harmoniosa. Eles atuam na forma da espiral cujas forças vem do ciclo anterior, criam um invólucro e se direcionam para o próximo ciclo – em uma seqüência repetitiva, harmoniosa. Podemos observar estas espirais cósmica também em ciclos menores da natureza . São os Querubins que cuidam por exemplo que a semente do outono renasça como uma nova planta na primavera.
Na nossa biografia de vida encontramos também estas transições no nosso desenvolvimento que às vezes se apresentam de forma dramática como crises .
Na nona Noite Santa através do portal de Câncer recebemos os impulsos espirituais dos Querubins que nos trazem força para nos harmonizarmos com o novo e cria aconchego para que os momentos de transição ocorram de forma harmoniosa.
DÉCIMA NOITE SANTA (Dia 3 de Janeiro)
De novo sai o sol, atravessamos um novo dia e vem o cair da noite. Uma estrela brilha no céu emanando seu brilho da Constelação de Gêmeos, o portal através do qual emanam as forças espirituais dos Serafins os Seres do Amor. Amor que não está mais assentado nos laços físicos, nos laços da paixão mas em laços espirituais. O amor fraterno.
Os gregos tem um mito através do qual podemos saber do que se trata. O mito do Kastor e do Polydeukes irmãos que eram filhos da mesma mãe com pais diferentes sendo que Castor era mortal e o Polydeukes imortal. Ocorreu que Castor morreu e o seu irmão foi até Zeus e pediu que a sua imortalidade fosse retirada e concedida ao Castor e Zeus comovido tornou-os ambos imortais e os colocou no céu na forma de uma constelação. Ou seja elevou-os a condição macrocósmica e o que os tornou imortais não foram os laços de sangue mas o abrir mão de si que resultou numa forma ainda mais elevada de amor.
No Evangelho temos a sentença desta forma de amor: “onde dois estiverem reunidos em meu nome eu estarei no meio deles” – ou seja abre-se mão do próprio Eu e ganha-se um outro Eu que é eterno.
A fraternidade é o mais poderoso impulso para a vida social porque ela pode quebrar as barreiras de status, de etnia e de crenças.
Na décima Noite Santa através do portal de Gêmeos os impulsos espirituais dos Serafins ajudam a vencer a barreira do individualismo e da solidão.
DÉCIMA PRIMEIRA NOITE (Dia 4 de Janeiro)
De novo vem o Sol e um novo dia e ao cair da noite uma estrela brilha no céu emanando seu brilho da Constelação de Touro, portal por onde adentra à esfera do Zodíaco vindo das regiões macrocósmicas o sopro do espírito.
Se lembrarmos dos Reis Magos estava próximo o lugar onde se encontrava a criança e iluminando a noite o brilho da estrela que os precedia ampliava enormemente a dimensão do deserto. A alma se elevou tocando outra dimensão que não é terrena e o Espírito Santo adentra a dimensão humana manifestada no Batismo de João sob a forma de uma pomba.
É uma noite de grande expansão da alma, os horizontes se ampliam e a nossa alma pode se elevar a um estado anímico cósmico alcançando a dimensão da alma do Cosmos, da Sofia divina e sentir a presença do espírito . No Antigo Egito isto era representado nas esculturas que portavam os chifres do Touro com o espaço entre eles preenchido por um disco solar coroando a cabeça do faraó considerado o descendente direto de Deus.
Foram as forças do Touro que configuraram a laringe, o órgão da fala que segundo o Steiner está em transformação e que nos estágios evolutivos futuros do ser humano a palavra terá de novo a força plasmadora referida nas Gênesis de todas as religiões. No princípio era o verbo e o verbo estava em Deus.
A palavra será como uma lança sagrada de expressão do amor divino.
Na décima Noite Santa através do portal do Touro o Espírito Santo emana a plenitude do amor divino inspirada como persistência em relação ao que se pretende alcançar.
DÉCIMA SEGUNDA NOITE (Dia 5 de Janeiro)
Um novo Sol e um novo dia e no cair da última noite desta ascenção através das hierarquias espirituais. Alcançamos o último degrau desta escada que já nos transportou para as fronteiras do universo: Constelação de Áries.
Este é o portal por onde o filho de Deus, o Eu Cósmico adentrou da esfera macrocósmica, da esfera do Brama, de Javé, de Alá, da esfera do divino para a nossa existência. Através deste portal ressoa no nosso cosmos vindo das regiões macrocósmicas além do zodíaco a voz do Pai:
“Este é o meu filho muito amado, hoje eu o engendrei.”
Como um eco longínquo é feito o Reconhecimento a síntese de todo o caminho unindo o Natal ao Batismo. O Natal como o nascimento da criança natural e o Batismo como o posterior nascimento da criança divina o Cristo como uma luz brilhando no interior, como um Sol interno na alma livre e plenamente consciente.
A voz de Deus é a voz da consciência humana que eleva o Eu de uma condição terrena, inferior a uma condição cósmica, superior trazendo para o ser humano a possibilidade de se tornar o ser da liberdade e do amor – a décima hierarquia espiritual .
Bibliografia
A Ciência Oculta – R. Steiner – Ed. Antroposófica/O Zodíaco e as Hierarquias Espirituais – Sergei Prokoffiev/The Golden Age of Chartres – René Querido – Floris Books
Texto de Edna Andrade
Palestra proferida por Edna Andrade na Clínica Tobias em São Paulo no Natal de 2006
O texto pode ser reproduzido desde que citada a autoria.
Fonte da Imagem: A Adoração dos Reis, Carlo Dolcci (1616-1686), National Gallery, Londres.
Atenção Leitores !!!
A próxima postagem é:
Como fazer a Meditação das 12 Noites Santas
para a Preparação para os próximos 12 Meses
do Ano Novo de 2012 na sua Vida!
Veja aqui:
http://sandralage.blogspot.com.br/2011/12/meditacao-das-12-noites-santas.html
Veja aqui:
http://sandralage.blogspot.com.br/2011/12/meditacao-das-12-noites-santas.html
sábado, 17 de dezembro de 2011
sábado, 10 de dezembro de 2011
...além da Terra... além do Céu...
Além do Céu,
no trampolim do sem-fim das estrelas,
no rastro dos astros,
na magnólia das nebulosas.
Além, muito além do sistema solar,
até onde alcançam o pensamento e o coração,
vamos!
Vamos conjugar
o verbo fundamental essencial,
o verbo transcendente,
acima das gramáticas
e do medo e da moeda e da política,
o verbo sempreamar,
o verbo pluriamar,
razão de ser e de viver."
Carlos Drummond de Andrade
domingo, 4 de dezembro de 2011
O Arco-Íris: Um Mistério do Advento (Antroposofia)
O arco-íris é uma das manifestações mais maravilhosas que a natureza produz. A criança contempla toda encantada e também para o adulto do nosso presente ele não deixe de ser tocante.
O arco-íris é uma imagem geral humana, luzindo por sobre justos e injustos, falando ao puro sentimento humano independentemente de povos e raças. Sentimo-nos melhores e elevados, e fortalecidos em nossa confiança no mundo, sempre que sobre um, banco escuro de nuvens vemos estendido o reconciliador arco de cores.
Nele, a luz e a treva se interpenetram, levando ambas a harmonizar-se, criando um espelho onde, em beleza singela, se refletem profundos mistérios da vida. E a cada vez suas cores brilham magníficas como nos primórdios da criação.
Não é de se admirar que os povos de todos os tempos tenham visto no arco-íris um sinal dos deuses. Se abrirmos o Antigo Testamento, no capítulo 9 do Gênesis, lemos sobre o “sinal da aliança” que Jeová estabeleceu após o dilúvio. E Jeová falou: ”Assentei meu arco nas nuvens; ele deve ser sinal de aliança entre mim e a terra. E quando acontecer de eu conduzir nuvens por sobre a terra, será visto meu arco nas nuvens. Então lembrarei da aliança entre mim e vós e todas as almas viventes”.
Se olharmos para o arco-íris com os olhos dos antigos gregos, precisamos estar especialmente abertos para sua natureza cromática, seu esplendor e sua plenitude de cores. Ele era para os gregos a fonte de onde os deuses alimentavam a terra com cores. Nele, se constituía toda manifestação colorida que de maneira tão diversificada se encontra difundida pela terra. Onde o arco-íris toca a terra, por ali suas cores jorram para ela, assim pensavam eles. Ele era a paleta líquida dos deuses, da qual todas as coisas obtinham sua cor.
Para os antigos germanos o arco-íris era a ponte que levava ao Walhalla. As almas bem-aventuradas dos guerreiros de escol que habitavam o Walhalla, cavalgavam por ele para a terra, através dele os heróis tombados na luta alcançam o castelo dos deuses. Bem alto, ele se estendia por sobre a existência comum, simbolizando o fato de que Deus e o homem não estão separados para sempre.
As três imagens lendárias dão prova da crença na natureza divina da luz, que se revela no arco de cores e mostra sua amplitude. Todas as três contêm um maravilhoso cerne de verdade. O mesmo Deus que fala ao ouvido do homem: Eu sou o 'A' e o 'O', - a soma e o resumo de todos os sons, a palavra universal, o Logos – fala também aos olhos do homem: Vê, Eu sou o vermelho e o azul – soma e resumo de todas as manifestações coloridas, a luz universal. No formar-se e extinguir-se o arco-íris, é a palavra de mistérios de Deus: Vê, Eu sou o Alpha e o Omega, traduzida para a linguagem da luz.
É interessante notar, como a revelação divina se misturava com o respectivo caráter do povo. Os antigos hebreus, que por primeiro na humanidade desenvolveram o pensamento intelectual, revestiam sua vivência com a linguagem do direito. Esse povo, o qual tinha o elemento jurídico no sangue desde o princípio, considerou a revelação de deus como uma aliança, como um contrato.
Os gregos, que olhavam para o mundo com uma alma infinitivamente sensível, abarcam a verdade que contemplavam com sentimento artístico. Expressavam-na em imagens de contos artísticos.
Os antigos germanos eram dos três povos o mais jovem, que com ingente vontade juvenil, ingressam na História. Assim também abarcam a revelação cósmica divina com sua natureza volitiva.
O arco-íris tornou-se a ponte pela qual se podia tomar o céu, de assalto. Mas no cristianismo, onde é o lugar para o arco das cores?
Podemos deixar-nos conduzir a ele por meio das orações da época do Advento do Ato de Consagração do homem. Essas orações mencionam as imagens da natureza que profeticamente falaram aos olhos dos antigos sábios. Elas também se referem ao luzir do arco-íris que se estende pelo céu. Mas elas também nos ensinam a entender, que a antiga vivência do arco de cores a certa altura começou a extinguir-se, os poderes divino-espirituais deixaram de estar presentes nele.
Embora ainda hoje seja tão belo quanto antes, o é, todavia, como obra de Deus. Ainda hoje admiramos a sua beleza com olhar pensativo, mas seria inadequado cair de joelhos e adorá-lo.
Nos tempos antigos isto era diferente, pois os seres divinos habitavam nele. Estes o abandonaram. E para onde foram? Encontraram no envoltório de um homem. O A e o O que dantes falava ao homem pelo sussurrar da floresta, pelo murmúrio da águas, pelo sopro do vento, pelo rugir da flama, quando chegou a virada dos tempos passou a soar na boca de um homem: Eu sou o A e o O e a luz cósmica espiritual, da qual jorrava a sabedoria para o homem a partir do carro solar e do esplendoroso arco de cores, quando o tempo se cumpriu, jorrou de um ser humano: Eu sou a luz do mundo.
O que antigamente falava ao homem lá fora no cosmos, através do arco colorido, hoje fala ao homem através da auréola de Glória do Cristo. Na aura do Cristo, na Glória do Cristo, fala de um novo modo. Assim o vemos até pintado no quadro dos nossos altares.
E agora, o homem, que em si abrigou o Cristo, deve irradiá-lo para a natureza exterior.
Agora, o homem, em amor e conhecimento, deve devolver a palavra que o Cristo lhe trouxe das alturas do céu. Agora a luz espiritual deve responder dentro do homem, quando a beleza do arco-íris encanta seus olhos sensoriais. Então o mundo voltará a ser um, como era no princípio.
Texto: Comunidade de Cristãos
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Deusas Celtas: Soberanas da Terra e da Guerra
“A morte nasce conosco e conosco caminha por todos os instantes da vida, mesmo que tentemos ignorá-la.” John O’Donoghue (Escritor Irlandês)
Do grande tronco indo-europeu faziam parte os vários povos celtas estabelecidos em diferentes lugares do continente europeu. Considerados pelos romanos como bárbaros valentes, jamais formaram um império pois lhes faltava uma liderança única, as diversas tribos sempre guerreando entre si. Apesar da sua diversidade étnica, entre os séculos VIII e V a.C. houve uma cristalização da cultura celta com a uniformização dos sepultamentos (os mortos passaram a ser enterrados com armas e pertences e não mais cremados), a construção de fortificações com paliçadas e melhor elaboração dos conceitos e costumes sobre vida e morte. A sociedade celta era dividida em clãs e os laços familiares eram muito valorizados. As mulheres celtas se assemelhavam aos homens não apenas pela sua estatura e altivez, mas também com respeito à coragem e participação ativa nas batalhas, conforme comprovam centenas de relatos de mulheres poderosas e rainhas deificadas como Boudicca e Maeve.
Os celtas respeitavam profundamente a Natureza, honrando a Terra e suas criaturas como elos sagrados na teia da criação e na magia da vida. Esta reverência e o culto de inúmeras divindades ligadas às forças da natureza mantiveram-se intactos mesmo depois da romanização das terras celtas e do sincretismo com os deuses romanos. Porém, a erradicação e perseguição agressiva e opressiva da religião pagã aconteceram com a chegada do cristianismo, que conseguiu impor seus dogmas e proibições apesar da resistência dos druidas e do povo, principalmente o irlandês. Para erradicar a religião pagã e suas tradições os monges cristãos começaram a registrar lendas, mitos, crenças e costumes com as devidas correções e inevitáveis distorções, introduzindo elementos e conceitos cristãos. Mesmo assim, uma boa parte do legado ancestral foi preservada e o substrato original pode ser distinguido se usarmos um “filtro” corretor, olhando além das incongruências conceituais e sobreposições cristãs.
Um dos conceitos celtas mais difíceis de compreender e aceitar - pela nossa cultura cristã e a mentalidade atual - é a associação dos arquétipos sagrados femininos com a guerra. Para transpormos barreiras conceituais devemos conhecer o princípio celta da soberania da terra, sempre representado por uma Deusa Mãe com características protetoras e defensoras. A vida e a sobrevivência dependiam da terra e por isso ela devia ser preservada e protegida, pois desrespeitar a terra e a soberania de um povo significava ofender e ameaçar a própria natureza criadora da vida. A soberania – o verdadeiro poder de quem governava e conduzia os destinos de um povo – pertencia a um arquétipo feminino, a própria Deusa da Terra, com a qual o rei ou governante devia se casar simbolicamente para garantir a prosperidade e paz. O casamento do rei com a Deusa da terra representava as condições indispensáveis para que a soberania se manifestasse: respeito, igualdade, confiança, parceria e solidariedade. A representante da Deusa soberana era uma sacerdotisa ou rainha imbuída de poderes especiais, que até mesmo podia ser divinizada, como se conclui das lendas de Macha, Maeve e Boudicca. Nos mitos aparece de forma metafórica o alerta sobre as conseqüências da opressão, violência e exploração da natureza e da mulher com os inerentes desequilíbrios, a falta de prosperidade e do convívio pacífico.
Em várias lendas, Macha (pronuncia-se Maha) é descrita como uma típica deusa celta tendo um caráter ambíguo: ora generosa e gentil, ora terrível e implacável guerreira.Ela - assim como Maeve – é uma divindade ctônica, ligada às dádivas da terra e à sua necessária defesa e proteção. Maeve (ou Medb) representava o espírito feminino arcaico, existente em cada mulher e que é expresso em grau maior ou menor como comportamento instintivo, impulsivo, corajoso, combativo, sedutor e fértil. Outras fontes citam Macha como sendo uma das faces de Morrighan, a formidável deusa tríplice da guerra, morte e sexualidade (o meio natural para garantir a fertilidade). As faces de Morrighan chamadas de Morrigna eram conhecidas como: Nemain, o frenesi combativo que infundia o terror nos inimigos, Morrighan, a “Grande Rainha” que planejava o ataque e incitava o heroísmo e a valentia dos combatentes, Macha ou Badb, o corvo que se alimentava dos cadáveres dos mortos em combate e que era associada aos sangrentos troféus da batalha (as cabeças decapitadas dos inimigos, consideradas “sua colheita”). Esta triplicidade também era conhecida com os nomes de Banba, Fotla, Eriu, as ancestrais padroeiras da Irlanda.
A natureza das deusas celtas é multifuncional e com complexos significados, mesclando elementos ancestrais dos pacíficos povos pré-celtas (maternidade, fertilidade) com os dos combativos celtas, onde prevaleciam atributos de guerra, morte e sexo, acrescidos de soberania.Várias divindades representam uma paradoxal união de extremos: amor e guerra, guerra e fertilidade, guerra e soberania. Não existe uma deusa do amor no panteão celta, as deidades - deusas e deuses- simbolizam as forças da natureza e a eterna roda da vida/ morte/renascimento, início/ fim/recomeço, em que os opostos se seguem em círculos evolutivos e tem o mesmo peso.
Na filosofia celta não existia vida sem morte, nem paz sem guerra. Cada ser traz em si estes elementos e pela sua percepção vemos a necessidade do seu equilíbrio, que pode ser desestabilizado pela supervalorização de uma característica em detrimento de outra. Nosso desenvolvimento espiritual depende da compreensão e harmonização de todos os elementos que fazem parte do nosso ser. Somente conhecendo a face escura e selvagem e “domando-a”, poderemos tomar consciência da nossa divina complexidade, conhecendo assim a verdadeira e completa natureza. É possível unir as qualidades maternais e femininas com os aspectos guerreiros, os dons da arte, magia e sedução.
Em muitas referências míticas, iconográficas e literárias vê-se a forte ligação entre as deusas da guerra e a presença de mulheres nas batalhas. Indo além das interpretações tendenciosas romanas e as difamações cristãs, percebemos esta ligação como uma associação simbólica entre guerra e ritual. Para os celtas a caça era uma atividade que envolvia rituais para assegurar o sucesso, da mesma forma como as mulheres celtas vestidas de preto, com os braços elevados e proferindo maldições contra os conquistadores romanos tinham um forte componente ritualístico.As sacerdotisas que atuavam nos campos de batalha usavam encantamentos para atrair poderes sobrenaturais e direcioná-las contra os inimigos, fortalecendo seus companheiros para não recuar perante o inimigo. Os historiadores romanos descreveram as mulheres celtas como bruxas ferozes e ameaçadores, altas, robustas, com pele alva e olhos azuis e longos cabelos ruivos, sacudindo os punhos com raiva e gritando maldições. Em outras situações, as mulheres ficavam com seus filhos na retaguarda e incentivavam seus homens com gritos e orações para que lutassem melhor e não desistissem.
Das inúmeras mulheres guerreiras, sacerdotisas e rainhas poderosas sobressaem-se duas famosas rainhas: Cartimandua, dirigente dos Brigantes, sacerdotisa da deusa Brigantia eBoudicca governante dos Iceni, que se tornou famosa por venerar a deusa Andraste ou Andarta, a deusa da guerra citada por várias fontes. O nome Boudicca ou Boadiceia se origina na palavra celta bouda que significa vitória. A sua história é repleta de atos de coragem nas batalhas e crueldade com as prisioneiras, que eram empaladas vivas e mutiladas como oferendas sangrentas para a deusa Andraste e uma vingança pelo estupro das suas filhas e a conquista da terra pelos romanos. Existe um forte elo entre Boudicca e Andraste, podendo serem vistas como aspectos de uma mesma entidade, uma residindo no mundo sobrenatural e a outra sendo uma valente dirigente e cruel guerreira humana, ao mesmo tempo servindo como sacerdotisa da deusa da guerra.
Andraste ou Andred cujo nome significa ”A Invencível’ era uma deusa irlandesa equiparada com Andarte cultuada na Gália e com características semelhantes à Morrighan, sendo evocada na véspera das batalhas para garantir a vitória.Os romanos diminuíram seu status para uma deusa lunar (por ser a lebre seu totem) e a associaram ao amor e fertilidade. No entanto, o arquétipo original de Andraste é de uma deusa escura e ceifadora, invocada apenas nos momentos de extrema necessidade, pois ela exigia sacrifícios de sangue humano, considerado o mais potente substrato mágico.Ela controlava os fios da vida de cada ser humano, do nascimento até a morte, pois a morte era parte inevitável da vida. O seu lado sombrio (da anciã) era amenizado pelos seus atributos de deusa lunar, regente do amor e da fertilidade (como mãe criadora da vida) e regente da caça (na sua face de donzela).
O aparente paradoxo entre os aspectos e naturezas das deusas celtas reflete a profunda compreensão do processo de dar/receber, nascer/morrer, começo/fim. Muitas deusas aparecem como figuras promíscuas e destrutivas, mas elas personificavam aspectos da natureza, como a fertilidade e a soberania da terra, que tinham que ser defendidas a qualquer preço para assegurar a sobrevivência dos descendentes. A criação e a destruição são processos interdependentes, existe uma ausência de vida na escuridão da terra que recebe os mortos, mas também é a terra escura que abriga e promove o desabrochar das sementes, que renascem - assim como os mortos nela enterrados - para uma Nova Vida.
Mirella Faur
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